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3.4 POSSIBILIDADES E LIMITES DO MODELO ADOTADO PELO CAEF

3.4.2 O Desenvolvimento das Ações

O Centro tem revisto sua maneira de conduzir as atividades, passou-se de um a proposta que previa 16 horas presenciais e 24 horas a distância, num formato de oficina, focado mais na questão prática, em que o curso era pensado a partir de objetos didáticos já desenvolvidos pelo Centro, para uma organização dos cursos num período maior: 60 horas, que prevê dois momentos presenciais: um de abertura das atividades, discussões iniciais e outro de fechamento. Agora, também, os materiais didáticos desenvolvidos pelo Centro servem somente de apoio, durante os cursos, permitindo uma maior flexibilidade na organização das ações, e função das necessidades dos professores. Outro aspecto revisto pelos professores do Centro foi a questão da necessidade de relacionar teoria e prática, o que levou à organização de ações que tivessem esses três momentos: em que professores discutissem a teoria, falam sobre casos práticos; depois colocam em prática as atividades, a partir daquilo que foi discutido no primeiro momento do curso; e, novamente, refletem sobre as concepções, práticas e resultados dos projetos por eles desenvolvidos.

Antes se apontou, tendo como referência a discussão que Marcelo (1999) faz da proposta de formação continuada por meio de cursos, aspectos importantes de serem considerados nessas ações, a fim de que o que foi trabalhado possa ser posto em prática pelos professores cursistas, isto é, afim de que essas resultem em mudança da prática, foram esses: demonstração, prática e apoio profissional. O autor também destacou a importância de, no momento de planificação das ações, considerar a heterogeneidade dos percursos formativos dos professores (etapa da carreira, desenvolvimento cognitivo...) e, ainda, ressaltou a necessidade de ter em conta as experiências, vivências e o conhecimento prático que os professores trazem para a situação de formação, de uma necessidade de orientação prática dos conteúdos de tal formação, da necessidade de implicar os professores no processo de planificação das ações do desenvolvimento profissional, aspectos que também aparecem na argumentação dos autores antes referidos, como Tardif (2002), Nóvoa (1995), Candau (1998), Perrenoud (2002).

O CAEF parece estar no caminho de desenvolver uma proposta que atenda a esses aspectos salientados pelos estudiosos, que discutem a formação de professores. No âmbito das ações desenvolvidas no período de implementação da REDE, o Centro parecia trabalhar com uma visão bem mais restrita de formação, focando no aprendizado questões práticas, para a sua aplicação em sala de aula, sem uma maior preocupação com a reflexão dessas ações. Além disso, a proposta dos cursos era mais fechada, em função dos materiais didáticos, os quais serviam como referência para as ações, e não como apoio.

O diagnóstico das necessidades dos professores era feito por intermédio da secretaria de educação dos municípios, o que continua a acontecer, porém, com a expansão da carga horária do curso, agora é possível ter uma maior flexibilidade nas ações, visando ao atendimento daquilo que o grupo de professores cursistas está precisando, escutando, diretamente deles aquilo o lhes interessa.

O Centro ainda preocupou-se em oferecer uma formação que tivesse uma perspectiva interdisciplinar, visando colaborar para a construção de uma visão mais sistêmica, por parte dos professores cursistas. Na proposta da REDE, era um curso de Artes, um de Música e um de Educação Física, agora, é um curso de Artes, Música e Educação Física na escola, em que os professores discutem essas áreas de forma articulada, pensam em propostas que contemplem esses três campos. Com a permanência das comunidades virtuais, o Centro tem podido acompanhar os anseios, os interesses dos professores, o que lhe dá uma importante fonte para pensar na elaboração das ações futuras, podendo, dessa forma, implicar os professores no processo de planificação dos cursos.

O acompanhamento dessas ações, e avaliação dos resultados dessas, é um aspecto que, ainda, parece estar faltando ser mais bem desenvolvido na proposta do CAEF. No que concerne ao acompanhamento das ações, o papel do tutor deveria melhor ser discutido, pensado pelos Centros. A proposta da REDE previa que a execução dos cursos de formação, envolvesse a formação de tutores ou coordenadores de atividades, definido no documento, que traz as orientações gerais da REDE, da seguinte maneira:

[...] é o profissional da área de formação, cabendo-lhe organizar e coordenar os grupos de estudo. É importante que seja uma pessoa com reconhecimento profissional, receba orientação programada pelos Centros e com eles mantenha contato permanente. Sua atuação é no sentido de dinamizar a discussão nos grupos de estudo, incentivar a participação e

garantir a interlocução com os Centros sobre questões de fundamentos/conteúdo ou organização das atividades. Sua atuação é formativa e não pode ser confundida com o de um repassador de conteúdo ou multiplicador de cursos (ORINETAÇÕES GERAIS..., 2005, p.32).

No entanto, o Centro encontrou dificuldades nessa parte do modelo. De acordo com o relatório das ações realizadas pelo CAEF, no período de implementação da REDE, o modelo acabou se alterando para o atendimento direto ao professores “da ponta”, isso ocorreu, conforme consta no documento,

porque grande parte dos pretendidos tutores não apresentou condições de atuarem sozinhos, num modelo de multiplicação de conhecimentos adquiridos. Para minimizar este prejuízo, um mesmo grupo de professores formadores se responsabilizou em atender também os professores da ponta, com vistas a garantir a meta final. (p.10)

A meta final que refere o trecho acima, diz respeito ao número de professores que deveria ser atendido: 3.370. A ideia original era, por intermédio da formação de 370 tutores, alcançar 3.370 professores “da ponta”. O que ainda fala-se no relatório das ações do CAEF, é que não foi possível a formação de tutores na escala prevista: 337, porque o despreparo dos candidatos a tutores, encaminhados pelos SPE, era muito grande.

Algo que chama a atenção é o fato de no relatório dizer que não foi possível formar tutores para que atuassem sozinho, num modelo de multiplicação de conhecimentos adquiridos, pois, conforme pode-se observar no documento do MEC, sobre as orientações gerais da REDE, a ideia, ou pelo menos a intenção não era essa mesmo. Parece não estar claro qual é o papel desse tutor para o Centro. E, na realidade, nem o MEC especifica exatamente.

O que, talvez, seja possível inferir é que, como a proposta da REDE propõe que os cursos sejam organizados em formato semipresencial, a figura do tutor seria a de auxiliar na fase a distância, posto que os professores cursistas só teriam acesso aos professores formadores de maneira virtual. Então, a função desse tutor seria acompanhar, de maneira mais próxima, as ações desses professores, auxiliá- los, incentivá-los, dinamizando esse processo.

Apesar da confusão quanto ao papel desse tutor, isso não quer dizer que essa figura precise ser descartada, quer dizer, que essa parte do modelo está equivocada. É interessante, porém, que MEC, IES e SPE pensem de que maneira essa figura poderia ser útil nas ações de formação. Caso seu papel fosse a de um

dinamizador das atividades, uma espécies de assessor, que ajudasse os professores na implementação daquilo que aprenderam no curso, na sua prática, é possível que esse tutor acabasse por se tornar peça fundamental, para que houvesse transferência da aprendizagem do curso para a prática, que, ao fim ao cabo, é o objetivo final da proposta, pois conforme argumenta Marcelo (1999) uma das características fundamentais para que o que foi aprendido dentro desse modelo de formação por meio de cursos venha a ser posto em prática (transferência da aprendizagem) é o acompanhamento ou assessoria, quer entre colegas que tenham assistido o curso, quer por especialistas (professores que já tenham conhecimento e competência nas metodologias em questão, assessores, etc.). Por isso, seria interessante que, apesar das dificuldades encontradas pelo Centro, quanto a esse aspecto, essa formação dos tutores e do seu papel na estruturação do curso fosse mais bem pensado.