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Institucionalização da Formação Continuada: garantia de

2.3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO

2.4.3 Institucionalização da Formação Continuada: garantia de

propostas?

A possibilidade de continuidade das ações de formação foi também um dos pontos salientados como aspecto positivo do projeto da REDE, conforme já se pôde notar nas falas destacadas no tópico 2.4.1, cujo objetivo é institucionalização da formação continuada. Avaliou-se que a institucionalização da formação continuada criou condições para que as ações deixassem de ser desarticuladas, pontuais, descontínuas, como vemos na fala a seguir:

“Quando se apresentou uma formação de professores pelo CAEF, eu achei fantástico. Assim, porque como eu já tinha atuado várias vezes, pela minha instituição e também já tinha sido contratada pra trabalhar com a formação de professore por empresas particulares, que se formavam, iam lá nos municípios, ofereciam um trabalho, cobravam um tanto e, depois, se desfaziam, não continuavam o trabalho. Isso acontecia porque os municípios eram obrigados, a oferecer essa formação continuada. Então, o que acontecia? A gente ia lá, dava o curso e depois não tinha um apoio, não tinha um acompanhamento. Então, quando eu vi a proposta do CAEF, que era como um centro... Meu Deus! É isso, é isso que tem que ser regulamentado, regularizado, uma continuidade! E séria.” (P. Form./ Coord. da área de EDUCAÇÃO FÍSICA).

Nos estudos realizados pela academia sobre os processos de formação continuada, vimos que essa questão da descontinuidade das propostas é um dos fatores destacados como aspecto que dificulta o alcance de resultados positivos, de efetiva melhoria da qualidade da prática pedagógica, uma vez que não há um acompanhamento, uma preocupação em dar suporte para que os professores consigam implantar inovações em suas práticas. Nesse sentido, a proposta da REDE pode ser vista como algo que vem para romper com essa lógica, no entanto, as mudanças no cenário político podem comprometer essa possibilidade, conforme destaca a coordenadora do CAEF:

“O edital de 2003 se referia a uma REDE que se implantaria em quatro anos, só depois, se sairia trabalhando normalmente. Só que acabaram os quatros dessa fase, e mudou o cenário. A formação continuada de professores, naquele tempo, era pensava dentro da SEB, com essa Rede Nacional, formada por 20 universidades, que buscariam parcerias e construiriam parcerias com os sistemas públicos e as universidades...” (P. Coord. do Projeto e Form. – ARTES).

O que mudou agora? Não sabemos exatamente ao certo, mas o fato é que um novo edital da REDE, que estava previsto para 2008, não saiu até hoje, meados de 2009. Embora alguns centros que compunham a REDE, como o CAEF, ainda continuem a desenvolver cursos de formação continuada em pareceria com o MEC e os SPE, porém agora no âmbito da chamada Demanda PAR24. Portanto, o programa da REDE acabou em 2008, mas grande parte dos Centros continuaram funcionando, na mesma perspectiva de organização prevista para a execução desse programa, atendendo a uma nova demanda. O que parece estar modificando é a política e não exatamente o modelo.

A partir de 2007, com a adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, os estados e municípios elaboraram seus respectivos Planos de Ações Articuladas (PAR), onde puderam refletir suas necessidades e aspirações, em termos de ações, demandas, prioridades e metodologias, visando assegurar a formação exigida na LDB para todos os professores que atuam na educação básica. Os Planejamentos Estratégicos foram aprimorados com o Decreto 6.755, de janeiro de 2009, que instituiu a Política Nacional de Formação dos Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a finalidade de organizar, em regime de colaboração da União com os estados, Distrito Federal e municípios, a formação inicial e continuada desses profissionais.

Segundo informações presentes no site da Plataforma Freire, o Plano Nacional de Formação é destinado aos professores em exercício das escolas

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O PAR (Plano de Ações Articuladas) está relacionado ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, instituído pelo Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007, o qual é um programa estratégico do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), e inaugura um novo regime de colaboração, que busca concertar a atuação dos entes federados sem ferir-lhes a autonomia, envolvendo primordialmente a decisão política, a ação técnica e atendimento da demanda educacional, visando à melhoria dos indicadores educacionais. A partir da adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, os estados e municípios elaboram seus respectivos Planos de Ações Articuladas. Entre os elementos constitutivos do PAR está a Formação de Professores e dos Profissionais de Serviço e Apoio Escolar. (Disponível em: <http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php> Acesso em: 21 abr. 2009). Para atender a essa demanda gerada pelo PAR, o MEC chamou algumas das universidades que compunham a REDE.

públicas estaduais e municipais sem formação adequada à LDB, oferecendo cursos superiores públicos, gratuitos com a oferta cobrindo os municípios de 21 estados da Federação, por meio de 76 Instituições Públicas de Educação Superior, das quais 48 Federais e 28 Estaduais, com a colaboração de 14 universidades comunitárias. Por meio deste Plano, o docente sem formação adequada poderá se graduar nos cursos de 1ª Licenciatura, com carga horária de 2.800 horas mais 400 horas de estágio para professores sem graduação, de 2ª Licenciatura, com carga horária de 800 a 1.200 horas para professores que atuam fora da área de formação, e de Formação Pedagógica, para bacharéis sem licenciatura. Todas as licenciaturas das áreas de conhecimento da educação básica serão ministradas no Plano, com cursos gratuitos para professores em exercício das escolas públicas, nas modalidades presencial e a distância. O professor fará sua inscrição nos cursos por meio de um sistema desenvolvido pelo MEC denominado Plataforma Paulo Freire. (Disponível em: <http://freire.mec.gov.br/index/principal>. Acesso em: 5 dez. 2009).

Na coletiva de imprensa sobre a Plataforma Freire, em que participaram João Carlos Teatini (Diretor de Educação Básica da CAPES), Maria do Pilar Lacerda (Secretária de Educação Básica) e Carlos Bielschowsky (Secretário de Educação à Distância) e o Ministro Fernando Haddad, concedida em 15/10/2009, temos algumas pistas que podem indicar como ficará a questão da formação continuada de professores da educação básica. Segundo a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, a Plataforma Freire será o grande lócus de oferta de toda a formação. A disponibilização da formação continuada será feita em função do levantamento realizado pelos municípios, dentro do Plano de Ações Articuladas. A disponibilização dos cursos para formação continuada iniciaria em 1/11/09. Serão cursos de 40 a 300 horas. A secretária menciona a REDE, dizendo que essa será responsável pelos cursos de atualização.

A partir dessas informações, o que se pode inferir é que o MEC continuará com a ideia de institucionalizar a formação continuada de professores, por meio de parcerias com as universidades (principalmente as públicas) e o SPE, todavia dentro de outra política, mais abrangente, cotando com um número maior de universidades, a fim de alcançar um maior número de professores. Por enquanto, são muitos os questionamentos: serão todas as universidades, que hoje compõem a Plataforma Freire, que oferecerão os cursos de atualização? Ou haverá um edital para a seleção de algumas? A experiência anterior, isto é, a proposta da REDE, o Centros

que se formaram, que já construíram um caminhada nesse sentido, serão chamados?

Collares, Moyses e Geraldi (1999), ressaltam que um dos aspectos que caracterizam a política da descontinuidade nas ações de formação continuada é justamente essas alterações de formatação de programas e projetos e forma de organização de órgãos públicos responsáveis pela execução dos planejamentos, geralmente levando a um eterno recomeçar do “zero”. Sobre esse aspecto é interessante destacar um trecho da fala da coordenadora do Centro, em que ela demonstra essa preocupação de que, no fim, apesar de inicialmente a iniciativa do MEC, com a proposta da REDE, ter se mostrado como uma interessante maneira de dar continuidade às ações de formação continuada, o que pode acabar acontecendo é:

“[...]de, mais uma vez, como é muito comum nesse país, se começar tudo do zero. E isso seria realmente uma lástima, porque tem um percurso, inclusive, bem-sucedido. Os coordenadores dos atuais Centros se manifestaram formalmente ao MEC, com relação a isso. [...] Assim, digamos que a UFRGS não entre no edital, ou que entre e não ganhe. Bem... mas uma outra universidade que ganhe vai ter que beber nessa fonte anterior, para que isso não seja um esforço, completamente posto fora e que a outra universidade não comece de novo a inventar a roda [...] Mas aí, existe um problema que vai contra lei, porque não pode ter uma reserva de aprovados em edital público, e que não sei o quê... bom, enfim... Mas, que pelo menos essa produção e esses profissionais sejam contemplados numa continuidade do processo, para que, de alguma forma, tenham a oportunidade de permanecer contribuindo no processo... Isso tinha, tem que ser pensado! Porque, se não, vai ser perdido o trabalho que está aí feito, nesses últimos anos. E ele é muito bom pra ser perdido.” (P. Coord. do Projeto e Form. – ARTES).

Quanto à perspectiva de continuidade do trabalho com o CAEF, percebemos na fala da coordenadora, que além do problema da descontinuidade das propostas emanadas do poder público, ainda há a posição da própria universidade, que também pode não levar em conta a necessidade de colaborar para a consolidação das ações:

“Nós estamos, há dois anos já, agora 2008 e 2009, atendendo a Demanda PAR, simplesmente, porque fomos selecionados em 2003. O projeto aquele do edital acabou, em 2008, que era quatro, cinco, seis e sete. Em 2008, deveria ter saído um novo edital, como não saiu; por isso, os antigos permanecem atendendo a essa nova demanda, sem edital. Agora, já existe um outro que anda por aí sendo discutido há horas...ameaçando sair a qualquer momento. E aí, nós, como qualquer outra universidade, teremos que nos candidatar a esse novo edital. Evidentemente, que a gente tem um percurso, tem argumentos, tem mais

chances de vences esse edital, de estarmos entre aqueles que serão selecionados oficialmente. A chance pode ser até muito grande, mas... nada nos garante, né? Nada nos garante. A gente ainda está trabalhando, porque ainda não saiu o edital que dá continuidade oficial à Rede. A gente ainda é da leva anterior, por assim dizer; mas é só isso. Estamos prestando esse serviço temporariamente, assim... No que sair o novo edital, suspende tudo e nós nos candidatamos, juntos com outros tantos. Em 2003, foram quase 200 universidades, das quais 20 foram selecionadas, e nós estávamos entre esses 20. Evidente que, agora, que a Rede cresceu, que a ideia é mais conhecida, serão muito mais que 200 universidade. As expectativa é que o número seja muitas vezes isso. E quanto vão ser apoiados? Já se escutou em torno de 60 universidades, 60 e poucas, não sabem. Ninguém sabe; a gente só vai saber, quando o edital sair. Em todo caso, a UFRGS ainda vai ter que decidir se vai querer entrar nesse edital, e isso também não depende da equipe do CAEF. Evidente que a equipe do CAEF vai ser consultada se quer trabalhar nisto, mas se a UFRGS vai entrar, e vai entrar com o CAEF, ou com qualquer outro projeto da Universidade... isso também a gente não sabe. Então, continuidade garantida, a gente não tem nenhuma. Por isso mesmo que se tem que fazer direito o trabalho que está agora sendo feito.” (P. Coord. do Projeto e Form. – ARTES). Assim vemos que o comprometimento, em prol de ações consistentes, que tenham continuidade na formação continuada de professores parece ser um problema presente não só na esfera política, mas também na academia. Quanto a essa última, isso chama mais atenção, pois afinal, a universidade deve assumir essa responsabilidade pela formação continuada dos professores. Se entendemos o desenvolvimento profissional como um continuum, que não se limita ao momento de formação inicial, mas que continua ao longo da carreira do professor, o trabalho das instituições não se encerra ao conceder o diploma de graduação, é preciso que as universidades tenham essa percepção muito clara.