• Nenhum resultado encontrado

2.3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO

2.3.1 O que diz a legislação

A atual legislação brasileira sobre educação (LDB/96) estabelece obrigatoriedade de períodos de continuidade, aperfeiçoamento, períodos dedicados para os estudos, carga horária que priorize horários específicos agregados à carga horária de trabalho total remunerada, determinando ainda que a administração realize programas de capacitação para todos os professores em exercício.

Na LDB/96, a formação continuada recebe destaque, por exemplo, no art. 67, onde lemos que:

Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes:

[...] II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim.

A preocupação com a forma, a maneira como deve constituir-se essa formação aparece no art. 61, no qual diz que:

Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:

[...] II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; [grifo meu]

Quanto às formas de financiamento para operacionalização desses processos de formação continuada, podemos observar essa questão no artigo 70 da LDB/96, o qual coloca que as despesas com o aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação deverão ser consideradas como de manutenção e desenvolvimento do ensino. Nesse sentido, o FUNDEB - Fundo para a Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação19, vinculado ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) prevê a capacitação de profissionais do magistério com recursos da parcela de 40%, destinada às despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE):

19 Instituído pela Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb é um fundo de natureza contábil, regulamentado pela Medida Provisória nº 339, posteriormente convertida na Lei nº 11.494/2007. Sua implementação foi iniciada em 1º de janeiro de 2007, de forma gradual, com previsão de ser concluída em 2009, quando estará funcionando com todo o universo de alunos da educação básica pública presencial e os percentuais de receitas que o compõem terão alcançado o patamar de 20% de contribuição. O Fundeb substituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - Fundef, que só previa recursos para o ensino fundamental. Os recursos do Fundo destinam-se a financiar a educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos). Sua vigência é até 2020, atendendo, a partir do terceiro ano de funcionamento, 47 milhões de alunos. (Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=fundeb.html>. Acesso em: 10 ago. 2009).

O conjunto de despesas com MDE nas quais essa parcela de 40% do Fundeb deve ser aplicada,compreende:

a) Remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e dos profissionais da educação, contemplando [grifo do documento]: remuneração e capacitação, sob a forma de formação continuada, de trabalhadores da educação básica... (FUNDEB – MANUAL DE ORIENTAÇÃO, 2007, p.24)

Essa formação poderá ser tanto na perspectiva da atualização e no aprofundamento dos conhecimentos profissionais (formação continuada), a partir de programas de aperfeiçoamento profissional, assegurado nos planos de carreira do magistério público, quanto para fins de formação inicial, de professores em serviço, na perspectiva da habilitação desses profissionais, de forma compatível com a LDB/96.

Questões referentes ao modo como devem ser organizadas as ações de formação continuada também são previstas na legislação, a qual dá especial destaque para modalidade à distância:

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.

[...]

Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei.

[...]

§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletivamente,

a União, devem: [...]

III - realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância.

Esse destaque que a formação continuada recebe na LDB/96, é reafirmado no Plano Nacional de Educação de 2001, onde o governo salienta que a melhoria da qualidade do ensino, somente poderá ser alcançada com a valorização do magistério, a qual, segundo o documento: “só pode ser obtida por meio de uma política global de magistério, a qual implica, simultaneamente, a formação profissional inicial; as condições de trabalho, salário e carreira; e a formação continuada”. Na parte em que trata das diretrizes para a qualificação dos profissionais da educação, o referido documento traz que:

A implementação de políticas públicas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação é uma condição e um meio para o avanço científico e tecnológico em nossa sociedade e, portanto, para o desenvolvimento do país... (p.77)

O papel da formação continuada é expresso no texto como parte essencial da estratégia de melhoria permanente da qualidade da educação e esse tipo de formação deverá visar “à abertura de novos horizontes na atuação profissional” e terá como finalidade “a reflexão sobre a prática educacional e a busca de seu aperfeiçoamento técnico, ético e político”. Dentre os princípios, nos quais as organizações das ações de formação continuada (e também da formação inicial) devem estar baseadas, no documento, destaca-se, entre outros: a atividade docente como foco formativo; a pesquisa como princípio formativo; o trabalho coletivo interdisciplinar; o desenvolvimento do compromisso social e político do magistério, etc. O Plano também aponta como deverá ser garantida a formação continuada: “pelas secretarias estaduais e municipais de educação, cuja atuação incluirá a coordenação, o financiamento e a manutenção dos programas como ação permanente e a busca de parceria com universidades e instituições de ensino superior”. (p. 79).

Quanto às políticas mais recentes, merece destaque o Decreto n.º 6.755 de janeiro de 2009, o qual institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, disciplina a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES no fomento a programas de formação inicial e continuada, e dá outras providências, onde a importância da formação continuada, como forma de atualização e reflexão sobre o trabalho docente é reafirmada.

Porém, quanto ao modo como essa deverá ser garantida, isto é, quanto à parcela de responsabilidade de cada uma das entidades da federação, podemos perceber certa mudança de pensamento do governo. De uma atuação de caráter supletivo, observamos a intenção do governo federal, de “puxar” para si a responsabilidade pela formação continuada. Um dos princípios expresso pela Política de Nacional de Formação de Professores da Educação Básica é:

[...] a colaboração constante entre os entes federados na consecução dos objetivos da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, articulada entre o Ministério da Educação, as instituições formadoras e os sistemas e redes de ensino (BRASIL, DECRETO N.º 6.755, 2009)

E no art. 8, o qual aborda como se dará o atendimento às necessidades de formação continuada de profissionais do magistério, temos que:

[...] § 3º Os cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização serão fomentados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior - CAPES, deverão ser homologados por seu Conselho Técnico- Científico da Educação Básica e serão ofertados por instituições públicas de educação superior, preferencialmente por aquelas envolvidas no plano estratégico de que tratam os arts. 4º e 5º. (BRASIL, DECRETO N.º 6.755, 2009)

Esse objetivo de atuar não mais em regime supletivo, mas sim em regime de colaboração nas ações de formação continuada, pode ser confirmado a partir das próprias palavras do atual ministro da educação, Fernando Haddad, que em entrevista dada à revista Nova Escola (Ano XXII/2008), defende que a responsabilidade de formação do magistério seja dividida entre União, Estados e Municípios de forma igualitária. O ministro argumenta que, tendo em vista o governo federal manter a maioria das universidades do país, o mais produtivo é que a formação seja realizada em parceria, com estados e municípios, na qual o governo federal tenha o mesmo peso que os sistemas estaduais e municipais. Como expressão dessa ideia defendida pelo ministro, podemos citar a proposta da REDE (programa foco de estudo dessa dissertação) e a recente Plataforma Freire, sistema desenvolvido pelo MEC para que o professor faça pré-inscrição em cursos de graduação e pós-graduação, ofertados gratuitamente por mais de 90 instituições de ensino em todo o país, o qual faz parte do Sistema Nacional de Formação Continuada, instituído pelo Decreto antes referido, e que, agora, também engloba a proposta da REDE. (Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: out. de 2009)