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Análise dos Dados: da empiria a um novo conhecimento

Observação Colaborativa

5.5 Análise dos Dados: da empiria a um novo conhecimento

Entendemos que a escolha dos procedimentos de análise do material empírico produzido na pesquisa seja uma etapa crucial por determinar a qualidade dos resultados apresentados, uma vez que é nesse processo que são geradas as contribuições do pesquisador para a compreensão da realidade do objeto estudado. Nessa perspectiva, concordamos com Gómez, Flores e Jiménez (1996) quando afirmam que a análise é o processo mais fecundo de uma investigação, por permitir o aprofundamento do conhecimento acerca da realidade do objeto estudado.

No entanto, entendemos também que em uma pesquisa como esta, em que ocorre a produção de um denso e vasto material empírico, fruto de observações, entrevista e autoconfrontações, corremos o risco de buscar o real no que parece transparente nesse material e de não conseguirmos aproximação com o nosso

corpus teórico (MINAYO, 1996).

Com essa preocupação e baseando-nos no princípio da Psicologia Sócio- Histórica de que não basta descrever os fenômenos, mas avançar para a sua interpretação e explicação, definimos como estratégia para esse momento, a utilização da Análise Temática.

A análise por temas é uma das possibilidades da técnica de Análise do Conteúdo, desenvolvida no início do século XX nos Estados Unidos, como parte de um esforço para o desenvolvimento de técnicas que permitissem superar o senso- comum e a subjetividade do pesquisador que interpreta os dados, em rumo a um

34 Os princípios teóricos adotados como referência para o uso dos recursos da Tecnologia Assistiva no processo

olhar mais crítico para o material produzido nas pesquisas de campo (MINAYO, 1996).

De acordo com Bardin (2011), a análise de conteúdo pode ser definida na atualidade como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 2011, p. 48).

A autora ainda complementa que a finalidade dessa técnica é a de “[...] efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das mensagens [...] e que o pesquisador, por sua vez, “[...] possui a sua disposição (ou cria) todo um jogo de operações analíticas, mais ou menos adaptadas à natureza do material e à questão que procura resolver” (BARDIN, 2011, p. 48).

Nessa perspectiva, Minayo (1996) afirma que a análise de conteúdo permite ao pesquisador a superação dos significados manifestos em primeiro plano (aparentes e superficiais) e a busca da sua articulação com os fatores sociais, culturais e históricos que o produziram. Esses significados, de acordo com Franco (2008), são parte de um contexto no qual está inserido o produtor da mensagem, ser situado histórica e socialmente, que a constrói por meio da objetividade do seu discurso. Na análise, essa objetividade pode ser desconstruída diante de um processo dialético, que tem por finalidade o desenvolvimento da consciência.

Para alcançar esses objetivos e fazer uso da inferência no material estudado, na busca dos significados manifestos e latentes, Minayo (1996) descreve algumas técnicas de análise de conteúdo, das quais destacaremos a análise temática, nossa opção metodológica para o tratamento dos dados desta pesquisa.

No contexto da análise, o tema é compreendido como uma asserção sobre determinado assunto, que pode ser representada por meio de palavras, frases ou expressões (MINAYO, 1996; FRANCO, 2008). Nas palavras de Bardin (2011, p. 135):

[...] o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura [...] Fazer uma análise temática consiste em descobrir os “núcleos do sentido” que compõem a comunicação e

cuja presença, ou frequência de aparição, podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.

Com essa definição, percebemos que a análise temática pode ser direcionada a uma vertente quantitativa de análise, mediante de uma busca pela frequência das unidades de análise, mas também, permite o direcionamento analítico qualitativo (MINAYO, 1996).

De acordo com Franco (2008) e Bardin (2011), a análise temática é a técnica de eleição para tratar material oriundo de instrumentos abertos, como as entrevistas e observações, principalmente se estes expressarem valores, atitudes e crenças. No entanto, para que aconteça de forma a alcançar o seu propósito, a análise temática deve obedecer a três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação (MINAYO, 1996). Vejamos como se constitui cada uma delas.

A pré-análise, de acordo com a autora, é o momento em que escolhemos ou organizamos os documentos a serem estudados, retomamos as nossas hipóteses e objetivos iniciais, para reformulá-los diante do material coletado e elaborarmos os indicadores que orientarão nossa interpretação final.

Uma tarefa de destaque, na pré-análise, é a leitura flutuante do material, definida por Bardin (2011), como um momento de aproximação com o texto, que permite uma primeira “impregnação” do pesquisador pelo seu conteúdo (MINAYO, 1996). À medida que vamos familiarizando-nos com o texto, a leitura vai se tornando mais sugestiva em função de relações com hipóteses emergentes e com a teoria relacionada ao tema.

Aguiar e Ozella (2006) ao descreverem os procedimentos para construção de uma outra forma de análise, os Núcleos de Significação, afirmam que é nessa fase da leitura que podemos identificar o que esses autores chamam de pré-indicadores, que aqui consideraremos como pré-indicadores temáticos35. Nela emergirão temas diversos caracterizados pela repetição ou reiteração, assim como “[...] pela importância enfatizada nas falas dos informantes, pela carga emocional presente,

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Apesar da nossa opção por trabalharmos com a Análise Temática em detrimento dos Núcleos de Significação, consideramos importante identificar as suas fases iniciais, devido às mesmas terem servido de inspiração para a pré-análise do nosso material empírico.

pelas ambivalências ou contradições, pelas insinuações não concretizadas, etc.” (p.230).

Nessa direção, selecionamos os pré-indicadores temáticos na medida em que eles se relacionam ao nosso objeto de estudo, considerando a palavra como unidade mínima de análise, com base no que nos dizem Aguiar e Ozella (2006, p. 230,231):

Consideramos que a palavra com significado seja a primeira unidade que se destaca no momento ainda empírico da pesquisa. Partimos dela sem a intenção de fazer mera análise das construções narrativas, mas com a intenção de fazer uma análise do sujeito. Assim, temos que partir das palavras inseridas no contexto que lhes atribui significado, entendendo aqui como contexto desde a narrativa do sujeito até as condições histórico-sociais que o constituem.

Assim, é a partir dessa leitura a da identificação dos pré-indicadores temáticos, que podemos, ainda na pré-análise, a partir do seu conteúdo, validá-los e formular novas hipóteses.

A segunda etapa da análise temática – a exploração do material, de acordo com Bardin (2011, p.133), consiste em operações de codificação, ou seja, de uma transformação “[...] dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão; susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que pode servir de índice”.

Identificamos, nessa fase, aquilo que na perspectiva dos Núcleos de Significação de Aguiar e Ozella (2006), caracteriza-se pela aglutinação de pré- indicadores para montar os indicadores de análise, aqui chamados de subtemas. Essa aglutinação pode ser efetuada por similaridade, complementaridade ou contraposição e ajudam-nos a reduzir a diversidade de informações, nos guiando para um processo de análise mais próximo da subjetividade do sujeito pesquisado.

É nessa perspectiva que descrevemos a terceira etapa da análise temática – o tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Essa etapa, que pode ser formal e caracterizada pela quantificação dos enunciados para a sua interpretação, pode também assumir um caráter qualitativo, ao priorizar a dimensão dos significados em detrimento da estatística. Nas palavras de Bardin (2011), o que

caracteriza a análise qualitativa nessa fase é a sua ancoragem no indicador, no nosso caso, o subtema, e não na frequência da sua aparição.

Foi por perceber, nos princípios e etapas da análise temática, uma possibilidade de explorar o nosso material empírico sem perder de vista o referencial teórico da Psicologia Sócio-Histórica e da Clínica da Atividade e as suas respectivas categorias, que procedemos com essa análise para trabalhar todo o material coletado na nossa pesquisa. No tópico a seguir descreveremos como se deu esse processo.

5.5.1 O processo da análise: buscando os temas e as suas relações

Após algumas considerações acerca de qual seria a melhor forma de analisar os dados coletados na pesquisa e da aplicação de diferentes técnicas para a sua organização, decidimos pela análise temática, por acreditar que essa é a melhor estratégia para nos ajudar a explicar os fenômenos e captar a dimensão processual que vivenciamos com a consultoria colaborativa.

Dessa forma, iniciamos o processo de pré-análise transcrevendo na íntegra a entrevista, os episódios e as autoconfrontações e procedendo com a leitura flutuante desse material, acrescido das observações relatadas no diário de campo.

Após essa etapa, voltamos à leitura com o objetivo de encontrar pré- indicadores temáticos que pudessem denotar temas relacionados aos nossos objetivos e questões de pesquisa: analisar as significações constituídas pela professora quanto a sua atividade docente e à inclusão escolar e analisar a utilização da Consultoria Colaborativa como processo de formação de professores para a inclusão escolar.

Assim, procedemos com a análise das transcrições da entrevista e das autoconfrontação simples (ACS) efetuando uma seleção de trechos a partir dos conteúdos que emergiam. Em seguida montamos um quadro para cada procedimento e geramos um código para cada excerto, o que gerou um material consistente para a aglutinação por temas, o nosso passo seguinte.

De posse de 35 trechos da Entrevista, 14 da ACS Contando as Sílabas e 24 da ACS Com a Cabeça nas Nuvens, iniciamos o processo de aproximação por similaridade, complementaridade e contraposição já citados anteriormente, com o qual montamos 09 subtemas constituídos por pré-indicadores temáticos provenientes das três bases de dados, que foram posteriormente agrupados em três categorias temáticas. A figura abaixo ilustra o processo de transformação do texto.

Figura 02 – Processo de transformação do texto em categorias temáticas

Fonte: Autora

No quadro a seguir, podemos visualizar os subtemas e categorias temáticas que produzimos a partir do texto e que analisaremos no próximo capítulo.

Quadro 03 – Subtemas e Categorias temáticas

Subtemas Categorias Temáticas

Subtema 1 – A inclusão é possível. Eu não tenho mais medo.

1 – Inclusão: construindo possibilidades para uma atividade real

Subtema 2 – É difícil lidar com as necessidades específicas das crianças com deficiência.

Subtema 3 – Sem ajuda não dá para oferecer atenção a todos.

Subtema 4 – A inclusão foi empurrada, sem suporte.

2 – A formação e as condições de trabalho – A inclusão acontece pela

metade Subtema 5 – Há um descaso dos

gestores com a inclusão.

Subtema 6 – Cada criança tem o seu momento, o professor deve variar as atividades.

3 – Inclusão: do desafio ao desenvolvimento profissional Subtema 7 – As atividades podem ser

modificadas e adaptadas de diferentes formas.

Subtema 8 – Adaptar-se às necessidades das crianças é um desafio.

Subtema 9 – Eu me realizo com o sucesso das crianças.

Fonte: Autora Texto (entrevista e ACS) Pré - Indicadores temáticos Subtemas Categorias Temáticas

6 ANÁLISE: DA APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS À EXPLICAÇÃO DOS