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3 A TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO INSTRUMENTO PARA A INCLUSÃO

7. Acompanhar o uso  Verificar se as condições do aluno mudam com o passar do tempo e se há necessidade de fazer

3.2 Dispositivos para a mobilidade

A mobilidade é considerada fundamental para o desenvolvimento global e a funcionalidade nas atividades de autocuidado, trabalho, lazer e pode ser dividida em funcional e comunitária. A mobilidade funcional envolve a possibilidade de nos transferirmos de uma postura a outra, de nos locomovermos no espaço e transportarmos objetos. Já a Mobilidade Comunitária é a possibilidade de nos movermos na comunidade e utilizarmos transportes públicos ou privados (WRIGHT- OTT; EGILSON, 2001). Dessa forma, é uma parte importante da nossa vida cotidiana, por permitir o acesso, a participação, a exploração e a interação nos diversos ambientes em que vivemos.

Ao compreendermos a mobilidade como uma função humana que permite a interface entre o nosso corpo e o espaço físico em que vivemos, podemos inferir que pessoas com limitações motoras e, portanto, com diminuição ou prejuízo da sua mobilidade, perdem diversas oportunidades de conhecer e aprender por meio destas interações desencadeadas por essa função. Considerando o desenvolvimento infantil como um processo integral, entendemos que a restrição em uma de suas áreas, neste caso a motora, pode comprometer as demais, como a sensorial, a cognitiva ou a afetiva e gerar problemas secundários de percepção, autoestima e motivação.

No caso de pessoas com Paralisia Cerebral (PC), que primordialmente apresentam alterações neuromotoras que afetam os padrões de postura e de movimento voluntário, tornando-os desordenados, estereotipados e limitados, na maior parte dos casos a mobilidade encontra-se ausente ou reduzida, restringindo

as suas possibilidades de exploração e interação com o ambiente (FINNIE, 2000; GAUZZI; FONSECA, 2004).

Devido a essas limitações, é comum que as pessoas com PC vivenciem o mundo por meio das ações de outros, tornando-se, muitas vezes, expectadores de suas próprias vidas, por não terem a oportunidade de tentar fazer as suas atividades diárias, lúdicas e escolares de formas diferentes das usuais. Na escola, a mobilidade reduzida acarreta privação ao acesso e à participação dos alunos nas diversas atividades sociais e pedagógicas, o que interfere no seu processo de aprendizagem e construção do conhecimento (GIACOMINI; SARTORETTO; BERSCH, 2010).

Para minimizar essas privações, tanto na escola como nos demais ambientes de convivência das pessoas com PC, é necessário mais uma vez recorrer à Tecnologia Assistiva.

Os Auxílios à Mobilidade compõem uma das áreas da TA que se destina a oportunizar as transferências e o deslocamento das pessoas quando a deficiência traz limitações ao alcance, conforto, segurança e resistência nessas funções (REIS, 2004; BERSCH, 2007).

Os dispositivos que auxiliam a mobilidade podem variar de acordo com a necessidade de apoio que a pessoa apresente; a sua idade, tamanho e peso; as suas habilidades e limitações, além dos locais onde serão utilizados. Vão desde um corrimão ou uma barra de apoio, que permitem subir um batente ou permanecer sozinho no banheiro, até os sistemas mais elaborados de automação de cadeira de rodas motorizadas, passando pelas bengalas, muletas, andadores, pranchas com rodas, carrinhos e cadeiras de rodas convencionais, que ampliam a possibilidade de autonomia e independência na locomoção (GIACOMINI; SARTORETTO; BERSCH, 2010).

A escolha de um dispositivo para auxiliar a mobilidade depende de fatores, como o propósito do uso do dispositivo, os ambientes internos e externos nos quais será utilizado, o esforço que demandará o seu uso, além das necessidades de posicionamento e postura (WRIGHT-OTT; EGILSON, 2001).

Para as pessoas com PC, além dessas questões, Finnie (2000) chama a atenção de que os dispositivos devem aumentar a possibilidade de exploração

ambiental de forma segura e desafiar a sua aptidão em melhorar a independência, sem que isso ocasione o aumento do tônus e de padrões posturais inapropriados e potencialmente prejudiciais ao seu desenvolvimento global. Mello, Capanema e Luzo (2004) acrescentam que é essencial à funcionalidade do dispositivo que o usuário tenha a oportunidade de aprender a utilizá-lo.

A escolha apropriada e o domínio do dispositivo pelo usuário podem, de acordo com Wright-Ott e Egilson (2001), aumentar as oportunidades de iniciativa e desenvolvimento das crianças com disfunções físicas, oportunizando sua participação ativa nas experiências das atividades diárias.

Um estudo desenvolvido no estado de Alagoas corrobora essa afirmativa. Ao pesquisar o impacto da qualidade de vida de crianças com PC após a aquisição de dispositivos para a mobilidade, Generino (2006) identificou que um terço delas teve acesso à escola devido ao dispositivo. Das que já estudavam, 74% teve sua participação estendida nas atividades escolares, com 13% tendo também ampliado a sua independência para atividades como ir ao banheiro, pegar o seu lanche, circular pela escola e brincar com as demais crianças na hora do recreio.

Esses resultados ajudam-nos a perceber o quanto pode ser importante para a inclusão escolar de crianças com PC, a possibilidade de movimentar-se de forma mais independente ou ativa. No entanto, essa participação está diretamente associada às condições de acessibilidade arquitetônica e urbanística que a escola oferece em seus diferentes espaços.

A acessibilidade é definida na Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004, p.02), como “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. De acordo com essa Norma, um espaço acessível é aquele que contemple esses aspectos e possa ser utilizado na sua totalidade por todas as pessoas, inclusive as com mobilidade reduzida.

A NBR 9050 determina parâmetros antropométricos e de comunicação para a concepção e viabilização de espaços passíveis de utilização por todos, a partir de definições das dimensões mínimas de áreas de circulação, transferência, aproximação e alcance manual; dos padrões de sinalização e uso de símbolos e

mensagens; regras para o ajuste dos acessos e áreas de circulação como portas e rampas; adequação dos sanitários e vestiários, assim como dos equipamentos urbanos e mobiliários. Todas essas definições são pautadas no desenho universal, visando atender o maior número de pessoas, com suas diversas combinações de características antropométricas e sensoriais (ABNT, 2004).

O Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004, que estabelece as normas gerais e a NBR 9050-2004 que define os critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida são os instrumentos para normatizar o direito universal de ir e vir previsto na nossa Constituição de 1988. Esse Decreto determina que: os espaços públicos – inclusive os educacionais - devam ser construídos, reformados e ampliados a partir das suas definições e parâmetros e os já existentes adequados em trinta meses de modo a garantir a acessibilidade25 (BRASIL, 2004).

O Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limites, instituído pelo Decreto nº 7.612/2011, ratifica como diretriz nacional a garantia de espaços educacionais acessíveis às pessoas com deficiência, inclusive com transporte adequado às suas necessidades26 (BRASIL, 2011c).

Nessa perspectiva de promover e garantir a acessibilidade, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), mantém o Programa Escola Acessível, com a disponibilização de recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) para a reforma e adequação arquitetônica dos espaços físicos e para a aquisição de dispositivos de mobilidade e de mobiliários acessíveis27. Além disso, o Programa Caminho da Escola disponibilizará entre 2012 e 2014, 2.609 veículos acessíveis a 1.530 municípios brasileiros. Maceió será

25

Decreto nº 5.296/2004 - Art. 19. A construção, ampliação ou reforma de edificações de uso público deve garantir, pelo menos, um dos acessos ao seu interior, com comunicação com todas as suas dependências e serviços, livre de barreiras e de obstáculos que impeçam ou dificultem a sua acessibilidade. § 1o No caso das edificações de uso público já existentes, terão elas prazo de trinta meses a contar da data de publicação deste Decreto para garantir acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

26 Decreto 7.612/2011 - Art. 3o São diretrizes do Plano Viver sem Limite: I - garantia de um sistema educacional

inclusivo; II - garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte adequado.

27 Maiores detalhes no quadro 01 do Apêndice A, que traz o resumo dos programas da SECADI, ou no site

contemplado com 24 veículos dos 104 que serão disponibilizados para Alagoas (MEC, 2011).

Mesmo com a garantia legal e com os programas nacionais para a acessibilidade em todos os espaços públicos, fica claro, inclusive nas publicações do próprio MEC, que as escolas brasileiras ainda não estão adequadas arquitetonicamente para receber as pessoas com deficiência. Dessa forma, as barreiras arquitetônicas persistem nesses espaços, dificultando e muitas vezes impedindo o acesso e/ou a participação de alunos com mobilidade reduzida nas escolas (MACHADO, 2007; GIACOMINI; SARTORETTO; BERSCH, 2010).

As autoras chamam a atenção que esses ajustes espaciais são essenciais para que a inclusão de pessoas com deficiência na escola seja efetivada. Enfatizam também que, apesar de não haver um modelo único de adequação física, é possível idealizar e executar projetos arquitetônicos que viabilizem a presença e a participação de pessoas com deficiência na escola regular com base no conceito de desenho universal e mediante parceria entre os profissionais da escola, engenheiros e arquitetos (MACHADO, 2007; GIACOMINI; SARTORETTO; BERSCH, 2010).

Considerando que os ambientes acessíveis contemplam não apenas as pessoas com deficiência, mas proporcionam bem-estar e segurança a todas as pessoas por atender a diversas combinações de necessidades humanas, o conceito de acessibilidade se combina com o da inclusão: beneficia e permite a participação de todos os que usufruem dos ambientes escolares.

Mesmo considerando a acessibilidade física e o uso de equipamentos de auxílio à mobilidade como fatores importantes para o sucesso da inclusão, concordamos com Melo (2008) de que não é o suficiente para eliminar as barreiras pedagógicas que envolvem o processo educacional dos alunos com deficiência. O item a seguir explorará outra interface das muitas envolvidas na inclusão: as adaptações dos materiais e procedimentos pedagógicos.