Análise dos dados e resultados

A análise de dados das entrevistas foi estruturado de maneira a evidenciar a cobertura dos seguintes pontos: validação do constructo ME e constructo geral, concordância com a proposta de

indicadores operacionais e de negócio (entre eles os financeiros), interpretação das assertivas e comentários gerais de pontos relevantes ou não cobertos na proposta de pesquisa apresentada.

O Quadro 3 resume os resultados da pesquisa que, de forma geral, ratificaram o constructo proposto, como também os indicadores de desempenho operacional (não-financeiro) e de negócio que fizeram parte da pesquisa, além da forma como as assertivas foram elaboradas.

respondente Validação do constructo _{ME e constructo geral} Indicadores de desempenho presentes _{no estudo (operacionais e de negócio)} Interpretação _{das assertivas}

Entrevistado A suportado suportado suportado

Entrevistado B suportado suportado suportado

Entrevistado C suportado suportado suportado

Quadro 3. Resumo dos resultados suportados da pesquisa Fonte: dados da pesquisa

Mesmo com o suporte dos entrevistados sobre os constructos e indicadores de desempenho que a proposta de pesquisa visou cobrir, faz-se importante resgatar comentários que sustentaram essas posições e também evidenciar pontos que os entrevistados citaram, mas não fizeram parte do conteúdo da pesquisa.

A) Validação do constructo ME e constructo geral

Sobre o constructo ME, os entrevistado trouxeram contribuições importantes baseadas em vivências e experiências. O entrevistado A resumiu ME como: “o que o cliente quer no momento em que ele quer”. Nesse sentido, destacou a importância do estabelecimento de fluxo, foco no cliente e eliminação de desperdício como pontos fundamentais do constructo ME e ainda acrescentou os times multifuncionais e o emprego de técnicas de set up rápido.

Eliminação de desperdício foi colocado como tema central da caracterização da ME pelos entrevistados B e C. O entrevistado B chegou a colocar a eliminação de desperdício como a própria ME: “A eliminação de desperdícios, eu acho que é a própria definição do lean”.

Sobre eliminação de desperdício, o entrevistado C citou: “desperdício é tudo aquilo que não agrega valor do ponto de vista do cliente. Esta é a base de tudo”. E enfatizou que, na caracterização do ME, um efeito prático fundamental a ser identificado num ambiente foi o estabelecimento de fluxo, definindo isso também como definição de ME:

“(...) então você tem que vir tentar criar fluxo. Desse fluxo, tentar torná-lo contínuo. E depois de torná-lo fluxo contínuo, você tem que fazer com que esse fluxo contínuo seja puxado, não empurrado, seja puxado por um sinal de demanda lá na frente. Na medida em que vai saindo lá, esse processo puxa, esse puxou, esse puxou, até aqui. Então, esse é o lean, o sistema lean. Então, quando você entra no sistema lean, pega um processo desde o início até o final...”

Sobre o constructo geral, os entrevistados deram suporte à proposta apresentada. O entrevistado A mencionou a importância de realizar a investigação, pois quando se avaliaram os efeitos do emprego do ME somente pela visão contábil muitas vezes ficou difícil identificar os resultados. Nesse mesmo sentido, o entrevistado C comentou sobre a importância em fazer desdobramento de objetivos na implantação de ME, pois isso facilitaria reconhecer como os indicadores operacionais podem ter efeito nos indicadores de negócio (indicadores financeiros). O entrevistado C falou da dificuldade que a alta gerência tem em reconhecer os benefícios da ME no desempenho operacional e de negócio: “E é coisa simples, que as empresas não conseguem enxergar [inaudível], a alta direção não entende que é uma ferramenta para eles ali”.

B) Indicadores de desempenho presentes no estudo (operacionais e de negócio)

Quando avaliados os indicadores de desempenho que fizeram parte do estudo, os entrevistados concordaram com o que foi apresentado e eventualmente deram algumas sugestões de indicadores dentro dos temas cobertos (qualidade, flexibilidade, desempenho de entregas, custo e desempenho de negócio).

O entrevistado A citou com muita ênfase a importância em cobrir o tema qualidade. Trouxe o conceito de Jidoka com o objetivo de reforçar que o “defeito não pode ser gerado”, ou seja, o objetivo não é gerenciar o defeito depois de existente. Também mencionou os indicadores de performance de entrega: “entrega, o on time delivery, o on time in full. Esse é um indicador importante que, combinado com esses, eu diria, com o estoque e mesmo produtividade, tem uma boa visão da questão não financeira”.

O entrevistado B mencionou a necessidade de pensar em flexibilidade e não somente em indicadores que maximizem e utilização de ativos como, por exemplo, o Overall Equipment Effectiveness (OEE).

O entrevistado C também citou a importância da flexibilidade e confiabilidade como fundamental para dar resposta ao mercado: “Você tem um sistema altamente flexível, completamente (...) do tradicional, que começou com o Henry Ford lá. (Mas já começa...) O mercado externo muda [inaudível] e cada vez mais rápido, em função do crescimento da informática, essas coisas todas”.

Sobre flexibilidade e confiabilidade citou mais:

“Hoje, na verdade, mesmo na Toyota e todas as outras empresas já estão nesse modelo, ela não tem lean. Vai olhar a linha de montagem deles, cada carro é diferente do outro. E toda logística, a entrega no horário, tudo isso chega na hora certa, aquela peça que vai para determinado carro, o cara dá lá na hora”.

Sobre os indicadores de desempenho de negócio, o entrevistado B indicou Custo, um indicador de desempenho operacional, uma ligação entre operações e desempenho de negócio e também mencionou de aumento de vendas quando perguntado sobre os efeitos da ME:

“É, eu acho que ele reduz custo, sabe? E, aí, ele vai impactar, de alguma forma, todos esses aqui. Mas eu acho que ele... Eu acho que através do custo. Se eu tivesse que ranquear, eu acho que através do custo. E, em segundo plano, através da venda. Aumentando venda”.

O entrevistado C confirmou que todos os esforços em gestão de manufatura têm de afetar indicadores econômicos de negócios: “Então, tudo que você faz aqui, na verdade, realmente tem que impactar, para que ela atinja realmente os objetivos financeiros”. E colocou aumento de vendas como o melhor indicador para medir o efeito de ME no desempenho de negócio: “Talvez o melhor indicador para medir os efeitos do lean (ME) seja o incremento de vendas”.

C) Interpretação das assertivas

Os entrevistados tiveram oportunidade de ler as assertivas desenvolvidas e não manifestaram problemas de interpretação na forma como foram elaboradas.

D) Comentários gerais sobre as entrevistas

Importante trazer pontos que os entrevistados mencionaram sobre ME que não fizeram parte do escopo deste trabalho. Estes itens não afetaram a validade do estudo realizado, mas pode ter importante menção pela possível relevância em trabalhos futuros.

A importância do comprometimento da alta gerência e o moral dos funcionários foram mencionados pelo entrevistado C como itens fundamentais para a implantação com sucesso da ME. Já o entrevistado A, sobre o mesmo tema, comentou sobre a possibilidade de avaliar o mind set da gestão. O entrevistado C citou que quesitos ligados a saúde e segurança também podem fazer parte do constructo do ME, pois de nada adianta na prática a existência de um ambiente com ME implementada onde não haja segurança e higiene.

4.2.6 Conclusões

A Etapa 1 cumpriu o objetivo de validar a relevância do problema de pesquisa e as hipóteses estudadas. As entrevistas com os peritos em ME validaram o constructo da ME de forma em que se referendaram os achados da literatura e se evitou abuso no uso de termos relacionados ao tema.

As entrevistas foram validaram dos indicadores operacionais e de desempenho de negócio e também na interpretação das assertivas elaboradas. Nesse sentido, com as contribuições e validações dos peritos, a pesquisa com as assertivas foi considerada apta a ser aplicada no campo.