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ME sob perspectiva de diversos autores

No documento Manufatura enxuta e desempenho de negócio (páginas 31-37)

Há ampla literatura relacionada aos conceitos e aplicações da ME. A seguir, fez-se uma contextualização a partir de uma coletânea de artigos de vários autores que estudaram o tema. Abordou-se a implantação da ME, a ME no ambiente automotivo como também o uso de ME em diversas indústrias não automotivas. Há ainda autores que estudam a ME no contexto de Supply Chain desenvolvendo-se nova discussão sobre Manufatura Ágil e, finalmente, há trabalhos sobre aspectos de gestão de pessoas na implementação de ME.

Como exemplos de emprego de ME na indústria automotiva, Braiden e Morrison (1996) relataram as dificuldades e o trabalho de organização do setor automobilístico para aumento da capacidade produtiva usando métodos da ME na Delphi; enquanto Kochan e Lansbury (1997) demonstraram a utilização de técnicas enxutas em uma fábrica europeia da Mercedes-Benz produtora do modelo Classe A.

Shahmanesh (1999) estudou o emprego de Kaizen, dentro da ME, em uma empresa automobilística. Entretanto, de acordo com Spear e Bowen (1999), são raras as empresas que têm alcançado o sucesso conquistado pela Toyota. De acordo com os autores, isso acontece porque alguns princípios não estão claros no Sistema Toyota de Produção. Tais princípios foram denominados por Spear e Bowen (1999) de DNA do Sistema Toyota de Produção.

Juliard (1997) mostrou que os princípios da ME podem ser utilizados em larga variedade de situações e empresas. Billesbach (1994) relatou como alguns princípios da ME inseridos em uma fábrica têxtil da DuPont em Camden, Carolina do Sul (EUA), auxiliam na melhoria de vários aspectos da manufatura, inclusive reduzindo em 96% o nível de estoque e melhorando a qualidade dos produtos. Na mesma linha, há muitos exemplos de emprego de ME em diversos setores: Lang e Hugge (1995) estudaram a ME na indústria aeroespacial americana; Wardt (1995) verificou a aplicação de práticas enxutas na indústria de perfuração de poços; Storch e Lim (1999) analisaram a gestão da ME no ramo de navios, focalizando o trabalho na metodologia para manutenção do fluxo do valor nesta espécie de empresa.

Ainda num ambiente amplo de manufatura, ou seja, não especificamente automotivo, James-Moore e Gibbons (1997) investigaram a adoção de métodos e práticas da ME em empresas

com alta variedade de produtos, reduzido volume de produção unitária (indústria aeroespacial e civil) e realizando a comparação com os métodos e práticas enxutas clássicas (indústria automobilística). Por sua vez, White e Prybutok (2001) desenvolveram estudo em que se relaciona ME e o tipo de sistema produtivo. Zayko, Broughman e Hancock (1997) comprovaram evidências de que nas pequenas empresas a ME produz grandes melhorias para a manufatura.

Alguns autores têm estudado a relação entre ME e obtenção de competitividade. Lewis (2000), por meio da realização de três estudos de caso, concluiu que o desenvolvimento da ME não é individualizado nas empresas, isto é, cada empresa deve caminhar para a própria trajetória enxuta, e a vantagem competitiva procede do aumento de produtividade que a ME proporciona, mas, por outro lado, pode trazer diminuição de flexibilidade em longo prazo. Bamber e Dale (2000) questionaram principalmente a ME como best practice em gestão de operações. Os autores realizaram a avaliação da aplicação dos métodos enxutos em uma empresa aeroespacial, concluindo que diversos dos métodos enxutos não demonstravam eficiência como na indústria automotiva em função das características da demanda e da posição da empresa no mercado.

Centralizando aspectos da implantação da ME, Ahlström e Karlsson (1996) analisaram uma sequência otimizada de gestão de ME em que determinadas atividades devem ser realizadas em paralelo. Allen (2000) concluiu que cada implantação da ME é única, sendo que a empresa deve escolher qual princípio enfatizar, partindo de objetivos estratégicos.

Muitos autores têm investigado o uso de elementos característicos de implantação de ME como emprego do mapeamento de fluxo de valor, eliminação de desperdício e realização de Kaizen entre outros. Dennis et al. (2000) estudaram a análise da cadeia de valor para identificar as ineficiências no processo na realização da avaliação de programas de melhoria e desenvolvimento de futuros cenários de negócios para a indústria de telecomunicações inglesa. Ainda no tema cadeia de valor, Sullivan, McDonald e Van Aken (2002), em pesquisa sobre o problema de substituição de equipamento dentro da esfera da ME, indicaram, a partir de um estudo de caso, como o mapeamento do fluxo de valor pode ser utilizado para conhecer o estado da atualidade de uma linha de produção e também para projetar o estado almejado. Sobre Kaizen, Vincenti (2002) realizou inúmeras considerações inseridas em um contexto de ME, demonstrando melhorias que tal programa produziu na cadeia de suprimentos do setor automobilístico. Sohal (1996) fez estudo sobre a implantação de alguns princípios enxutos numa

empresa australiana, chegando à conclusão de maior lucratividade e mais competitividade após a aplicação dos princípios de ME.

Há ainda muitos estudos relatados na literatura sobre implantação de ME. Dong (1995) comparou ME e engenharia de produção em um estudo de caso numa indústria chinesa, concluindo que a aplicação de alguns princípios enxutos, baseados em técnicas de engenharia de produção, ocasiona uma gama de melhorias na empresa. Kosonen e Buhanist (1994) enfocaram a pesquisa na transformação de uma empresa em ME, respondendo a questões como quais características são necessárias para a mudança, o que isso requer e qual o papel do pesquisador durante o processo de transformação.

Há também quem tenha buscado formas de desenvolver modelamentos matemáticos e, muitas vezes, com suporte de tecnologia de informação para estudar a ME e sua implantação. Bicheno, Holweg e Niessmann (2001) desenvolveram uma espécie de algoritmo de programação da produção, levando em consideração inúmeros elementos de ME como o Kanban, a manutenção produtiva total, assim como a redução nos tempos de setup. Em outro estudo, Barker (1994) propôs um modelo para o projeto de sistemas de ME por meio de um método baseado no tempo e na capacidade de agregação de valores. São referenciados estudos de caso para exemplificar o modelo.

A abordagem sobre a interação de ME e Supply Chain é outro tema abordado por diversos autores. Alguns estudos avaliaram como elementos da ME podem ajudar as atividades de Supply Chain; por outro lado, alguns autores vêm buscando compreender como as atividades de Supply Chain podem restringir-se à atuação da ME. No estudo da interação entre ME e Supply Chain, Erridge e Murray (1998) analisaram, em três estudos de caso distintos, a probabilidade de introdução do fornecimento enxuto em instituições governamentais, concluindo ainda que a maioria dos aspectos do fornecimento enxuto é aplicável, deixando de lado algumas características que devem ser adaptadas a esse tipo de instituição. Na mesma linha de análise, Arkader (2001) estudou o fornecimento enxuto, demonstrando as perspectivas atuais dos fornecedores com relação à indústria automobilística. Macduffie e Helper (1997) demonstraram exemplos práticos da difusão de aspectos enxutos na cadeia de suprimentos de uma empresa automobilística.

Já na análise de restrições que a Supply Chain pode trazer para a ME, Gulyani (2001) centralizou estudo na indústria automobilística, no caso, da Índia. O autor demonstrou que as precárias formas de transporte do país dificultam o uso do fornecimento enxuto, entretanto, as montadoras, para tentar diminuir o problema, optam pela formação de clusters industriais.

Abordando fatores externos à empresa (relação com fornecedores), mas pertencentes às atividades de Supply Chain, a função de suprimentos também foi abordada por alguns autores. Nellore, Chanaron e Södrequist (2001) enfatizaram a ligação entre fornecimento enxuto e compras mundiais inseridas na cadeia de suprimentos. Os resultados do estudo demonstraram que o fornecimento enxuto é afetado de forma negativa por meio de compras globais embasadas em preço, sendo que tal estratégia não deve ser utilizada no fornecimento de peças complexas que necessitam de forte cooperação cliente–fornecedor. Já Panizzolo (1998) acompanhou 27 empresas que implantaram ME com o relacionamento externo, integrando as distintas empresas da cadeia de valor para manter a excelência dos produtos e serviços, o que pode ser um item crítico.

Katayama e Bennett (1996) analisaram o papel assim como a importância da ME no contexto da então economia recessiva japonesa. Em experiências em quatro empresas distintas, os autores chegaram à conclusão de que os métodos enxutos eram competitivos no momento que a economia japonesa estava em expansão. Em um cenário recessivo, as empresas japonesas não podem mais possuir total confiança nos mesmos conceitos; por esse motivo, os autores encontraram um novo sistema, que denominaram Manufatura Ágil (MA), que parece trabalhar melhor com alterações/reduções de demanda do que a ME. Em outro artigo, os mesmos autores (1999) compararam a ME com conceitos envolvidos com gestão de agilidade e adaptabilidade, ou seja, além da busca de eliminação de desperdício, o fluxo de produção tem rápida e adaptável capacidade de resposta a variações de demanda.

MA como ME têm definições não convergentes na literatura. Por essa razão, Reis e Johansen (2001) detectaram a existência de duas abordagens com relação à distinção entre ME e MA, sendo que uma delas considera os dois conceitos distintos e norteados para objetivos diferentes; enquanto a outra defende que ambas são conceitos que se complementam, sendo que a ME é norteada para a procura de eficiência no chão de fábrica e a MA é preocupada com a empresa.

Prince e Kay (2003) estudaram a relação entre ME e MA conforme definição já vista. Os autores demonstraram a proposta de uma metodologia em que certos princípios enxutos e ágeis trabalham em conjunto. Naylor, Naim e Berry (1999) sugeriram um novo conceito sobre a questão, o leagility, que significa a utilização do conjunto ME e MA. O novo conceito foi trabalhado por meio de um estudo de caso realizado na cadeia de suprimentos de empresas de produtos eletrônicos. Mason-Jones, Naylor e Towll (2000) complementaram o trabalho mostrando que a aplicação de princípios enxutos, ágeis e do conceito leagility são dependentes das necessidades específicas de cada uma das cadeias de suprimentos. Stratton e Warburton (2003) salientaram a integração de técnicas para fornecimento de MA e ME perante a cadeia de suprimentos. Por meio de um survey, Yusuf e Adeleye (2002) utilizaram a comparação da ME e da MA e chegaram à conclusão que, diante de um ambiente em mudança crescente, a ME pode sofrer ameaças, ao passo que a MA nasce como forte opção.

O papel da organização do trabalho na implantação e efeitos da ME tem sido abordado também em artigos, muitos deles baseados em surveys. Forza (1996) procurou identificar as práticas de organização de trabalho aplicadas na ME a fim de testar algumas hipóteses com relação a interação, organização do trabalho e ME. Os resultados do estudo comprovaram que empresas que tiveram melhores resultados com a adoção de ME mostraram ter maior interesse em aspectos relacionados à organização do trabalho e de pessoas que as demais empresas.

Kochan (1998) avaliou a organização do trabalho dentro da esfera da ME na indústria automobilística de diversos países e concluiu que, mesmo com a difusão das técnicas enxutas ao redor do mundo, existe diferença entre os países no modo de gerenciamento e modo de os sindicatos se adaptar às mudanças.

A importância da liderança e trabalho em equipe também foi estudada. Brown (1998) realizou um estudo de múltiplos casos acerca das relações entre qualidade, comprometimento da gerência e estratégia. O autor concluiu, prioritariamente, que uma ótica estratégica e considerável comprometimento da gerência otimizam o desempenho das técnicas e ferramentas da qualidade dentro do contexto da ME. Schuring (1996) fez análise do papel do trabalho em equipe na ME; enquanto Detty e Yingling (2000) simularam a quantificação dos benefícios da adoção de várias técnicas da ME.

Ahlström e Karlsson (1996) demonstraram um inovador sistema de remuneração com base nos objetivos da ME, modelo analisado por meio de estudo de caso, e concluíram que tal sistema tem papel fundamental na introdução e otimização da eficiência da ME.

Os mesmos autores analisaram, em outra obra (1996), a função do sistema de contabilidade gerencial na ME, chegando à conclusão de que este é fundamental para estabelecer uma estratégia enxuta nas empresas.

Niepce e Molleman (1996) realizaram uma pesquisa sobre o papel do trabalhador na ME e em sistemas sociotécnicos, estabelecendo, por meio de estudos de caso, distinções e semelhanças para os dois fatores. Boyer (1996) trabalhou com foco no estudo da ligação existente entre o comprometimento da empresa com a ME e as ações tomadas pela gerência para o desenvolvimento de habilidades, treinando trabalhadores. Os resultados do estudo demonstraram que o investimento no treinamento e no desenvolvimento dos trabalhadores é fator primordial para obter ganhos de produtividade com a ME.

Pérez e Sánchez (2000) tabularam os resultados de um survey efetivado com 28 fornecedores de empresas automobilísticas da Espanha. A pesquisa teve como intuito a análise acerca dos aspectos humanos e a relação cliente-fornecedor dentro da ME. A conclusão foi que a rotatividade de tarefas e o trabalho em equipe são ligados de modo positivo por meio do treinamento com a utilização de componentes comuns e, no relacionamento cliente-fornecedor, na prática existe cooperação entre ambos para otimizar os processos produtivos, assim como na entrega.

Dos estudos apresentados, pode-se depreender que a gestão de MA, tanto quanto ME, tem sido utilizada com sucesso em inúmeros setores da produção industrial, em que os elementos enxutos são aplicados em maior ou menor número, intensidade e estendido a uma ou mais áreas da empresa, sempre com sucesso.

Recebendo aqui e ali denominações diferentes ou mesmo acréscimo de metodologia e elementos que ampliam ou restringem a forma de gestão, tem-se que a ME é comprovadamente fator diferencial nos resultados positivos nos estudos realizados.

No documento Manufatura enxuta e desempenho de negócio (páginas 31-37)