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EFEITOS DA ME NOS INDICADORES NÃO-FINANCEIROS (OPERACIONAIS) E DE NEGÓCIO

No documento Manufatura enxuta e desempenho de negócio (páginas 48-53)

Os estudos sobre o efeito da ME no desempenho operacional têm resultados não convergentes. Shah e Ward (2007) fizeram extenso estudo de como caracterizar os indicadores de ME e como eles se relacionam entre si, mas não trazem análise de como tais indicadores podem afetar o desempenho operacional da empresa.

Kaynak (2003) afirmou que, nos estudos disponíveis, a pergunta “quais práticas de ME têm efeito sobre desempenho operacional, mercado e finanças?” não é propriamente respondida e comenta três diferenças significativas entre os estudos. Primeiro, em alguns desses estudos, como o realizado por Douglas e Judge (2001), a ME foi caracterizada por um constructo único para analisar sua relação e o desempenho das empresas; enquanto em outros, como de Samson e Terziovski (1999), por exemplo, colocou-se a ME como constructo multidimensional. Segundo, os níveis de desempenho medidos variam entre os estudos – alguns estudos avaliaram o desempenho no plano operacional, como fizeram Samson e Terziovski (1999); enquanto outros, como Douglas e Judge (2001), seguiram apenas medidas financeiras e operacionais. Em terceiro lugar, o quadro analítico utilizado para investigar a relação entre ME e o desempenho também

difere entre os estudos – Cua, Mckone e Schroeder (2001) desenvolveram um modelo de ME que combina elementos de gestão de qualidade, manutenção e JIT. No estudo, os autores afirmaram que combinações distintas entre elementos da ME têm efeito sobre específico indicador de desempenho operacional e confirmam a hipótese de que empresas com alto desempenho operacional têm elevados níveis de utilização de elementos de ME, porém alertam para efeitos contextuais (tipo de produto, plantas monoproduto), que podem incidir no efeito das práticas de ME sobre o desempenho.

Nahm, Vonderembse e Koufteros (2003) verificaram a relação entre a estrutura organizacional (níveis de hierarquia e comunicação), práticas de ME e desempenho operacional em estudo desenvolvido em empresas de manufatura norte-americanas. Os autores afirmaram que efeitos significativos da estrutura de organização em práticas de fabricação ligadas à ME podem ser medidos no desempenho da planta. Estrutura de organização inclui a formalização de relacionamentos, camadas da hierarquia, nível de integração horizontal, centralização da autoridade, ou locus da tomada de decisão, e dos testes padrão de uma comunicação. No estudo, confirmaram-se as hipóteses de que o aumento de formalização tem efeito positivo sobre a facilidade de comunicação e também que, quanto mais efetiva a comunicação, melhor será o desempenho operacional.

Huson e Nanda (1995) desenvolveram estudo sobre o comportamento de indicadores de desempenho ante e pós-implantação de práticas de ME em um grupo de empresas norte- americanas. Foram selecionados resultados de 55 empresas adeptas de práticas de ME na base de dados Compustat. Num espaço de tempo de oito anos – quatro anos antes da implantação e outros quatro anos pós-implantação –, são monitorados indicadores de desempenho não só operacionais como também de negócios. Os resultados do estudo, na amostra estudada, apresentam evolução no comportamento dos indicadores giro de inventário e vendas por funcionário e, por outro lado, aumento de custos operacionais. Os autores argumentaram que o aumento de custos operacionais pode ser explicado por acréscimo de capacidade num ambiente de alta competitividade e alta e crescente variedade de produtos. Importante citar que os resultados financeiros estudados mostram que, apesar de queda nas margens de contribuição, houve ganho de dividendos por ações, o que denota aumento na geração de valor da empresa, e associam esse fato à implantação de práticas de eliminação de desperdício.

De modo geral, na literatura, há evidências de efeitos positivos entre a implantação de ME e os resultados no desempenho operacional, porém não se encontra convergência sobre os indicadores monitorados, Além disso, os estudos têm metodologias muito distintas, que proporcionam grande pluralidade de resultados e interpretações.

Os benefícios de negócios da implantação de ME devem ser reais e de longa duração para dar sustentação à aplicação dados os custos e desafios envolvidos (FULLERTON; MCWATTERS; FAWSON, 2003). Menor custo de produção, maior e mais rápida produtividade, melhor qualidade e melhora do desempenho de entrega podem ser benefícios do emprego de ME (GOYAL; DESHMUKH, 1992; NAKAMURA; SAKAKIBARA; SCHROEDER, 1998; ORTH; HYBIL; KORZAN, 1990).

Melhora em resultado de negócio é com frequência atribuída como benefício da ME até ao considerar que é frequente a disparidade entre melhora no desempenho operacional e o resultado financeiro (JOHNSON; KAPLAN, 1989).

Estudos empíricos que examinam a relação entre ME e resultado financeiro têm reportado resultados controversos (BALAKRISHNAN; LINSMEIER; VENKATACHALAM, 1996; KINNEY; WEMPE, 2002; CALLEN; FADER; KRINSKY, 2000). Entretanto, estudos em manufaturas japonesas indicam que praticantes de ME têm menor rentabilidade no curto prazo quando comparadas com os pares norte-americanos (NAKAMURA; SAKAKIBARA; SCHROEDER, 1998). Estes autores ainda informaram que os resultados da ME não são observáveis imediatamente devido à natureza da implantação ser de longo prazo. Tal fato pode dar uma explicação à não evidente relação empírica entre implantação de ME e resultado financeiro. Fullerton, McWatters e Fawson (2003) reforçaram que a falta de definição amplamente aceita sobre o que é a ME também traz dificuldades na interpretação de resultados financeiros.

Womack e Jones (1998) afirmaram que qualquer atividade, em uma economia de mercado, deve ser medida pela habilidade de gerar suficiente resultado financeiro para renovar- se. O emprego de ME traz a expectativa de melhorar a produtividade e o desempenho em muitos aspectos, como fluxo de produção, eliminação de desperdício. Entretanto, tais melhorias de desempenho operacional trazem benefícios diretos e indiretos no resultado financeiro (KAPLAN; ATKINSON, 1989).

Para Fullerton, McWatters e Fawson (2003), a ME traz benefícios a dois elementos independentes do retorno sobre a base de ativos, ou Return on Assets (ROA): giro da base de ativos e margem sobre vendas. A ME pode ajudar o ROA de muitas maneiras: a) com o emprego de ME, o giro de ativos deve aumentar e diminuir a necessidade de capital e ativos; b) menores inventários reduzem a base de ativo e melhoram o giro da base de ativos no curto prazo; c) menores níveis de inventário no processo promovem a eliminação de atividades que não agregam valor (desperdícios) que têm impacto negativo no custo e consequentemente nas margens.

Como enfatizado por Balakrishnan, Linsmeier e Venkatachalam (1996), esses efeitos não têm resultado e sensibilidade automáticos e não se pode esperar uma forma prática de medi-los no curto prazo.

Mesmo com a expectativa de resultados, poucos estudos relacionaram o emprego de ME e resultados financeiros (FULLERTON; MCWATTERS; FAWSON, 2003). Balakrishnan, Linsmeier e Venkatachalam (1996) iniciaram uma linha de estudo, depois seguida e aperfeiçoada por Kinney e Wimpe (2002) e por Fullerton, McWatters e Fawson (2003), em que se fizeram comparações de resultados de ROA entre empresas praticantes e não-praticantes de ME. Em estudo, Balakrishnan, Linsmeier, Venkatachalam (1996) verificaram diferença no ROA num conjunto de mesmas empresas no período ante e pós-emprego de ME. As análises foram baseadas na base de dados Compustat e trouxeram evidências de evolução no giro e níveis de inventário em empresas ante e pós-implantação de ME, porém, houve piora na evolução de ROA. Fato atribuído a efeitos da crise econômica na década de 1980 e início de 1990, concentração de clientes e diferenças de estrutura de custo entre as empresas estudadas.

Kinney e Wempe (2002), em continuidade ao trabalho de Balakrishnan, Linsmeier e Venkatachalam (1996), analisaram o resultado de empresas no período ante e pós-implantação de ME e concluíram que os efeitos de melhora de ROA se dão em maior medida em empresas recém-implantadoras de ME, verificando que após cinco ou seis anos de implantação não mais se detectam melhorias no ROA. Ainda na base de dados do estudo, constatou-se melhoria nos indicadores margem de lucro e giro de inventário, comparando-se o período ante e pós-emprego de ME. Ainda na mesma linha de pesquisa, Fullerton, McWatters e Fawson (2003) estudaram o desempenho de empresas no período ante e pós-implantação da ME, mas consideram o grau de aderência e evolução a elementos da ME nas empresas estudadas. Na pesquisa os autores

concluíram que o progresso na implantação de elementos de ME ligados à redução de desperdício trazia melhora da lucratividade, por outro lado isso indicaria que as empresas que mais evoluíram no emprego de elementos ligados à melhoria de qualidade trazem impacto negativo na lucratividade. Também verificam que, no longo prazo, a implantação de itens voltados para o sistema puxado traz benefícios na margem e giro de inventário.

Em artigo, Fullerton e Wempe (2009) construíram novo modelo de estudo para investigar o efeito na ME no resultado de negócio. Nesta abordagem, inclui-se um grupo de variáveis não- financeiras entre os elementos de ME e o resultado de negócio para atuar como mediadoras na relação. O principal resultado foi que os elementos de ME estudados no artigo, por meio das variáveis mediadoras, têm comprovado efeito no desempenho de negócio. Esse achado pode explicar a causa de muitas dificuldades de interpretação de dados nos estudos entre emprego de ME e resultados de negócios feitos até então (FULLERTON; MCWATTERS; FAWSON, 2003).

No Capítulo 3, a seguir, é tratada a caracterização do estudo, com dados sobre o Lean Institute Brasil e o crescimento do interesse pelo tema no país.

No documento Manufatura enxuta e desempenho de negócio (páginas 48-53)