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Análise dos projetos pedagógicos dos cursos do ensino médio integrado do

No documento Renata Nicizak Villela (páginas 59-65)

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 Análise dos projetos pedagógicos dos cursos do ensino médio integrado do

A elaboração dos projetos pedagógicos dos cursos de ensino médio integrado do câmpus Barretos ocorreu em 2014, a partir do momento em que a instituição decidiu encerrar a parceria com a SEE, cuja experiência serviu como base para a construção dos novos documentos, que foram organizados por eixos tecnológicos, respeitando o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (instituído e organizado pelo

Ministério da Educação). Os cursos só puderam ser implementados após aprovação de seus projetos pedagógicos pelo Conselho Superior; eles foram autorizados por tais resoluções (Anexo A):

 Resolução n.º 141, de 4 de novembro de 2014 – aprovou o curso técnico em Agropecuária do câmpus Barretos;

 Resolução n.º 121, de 7 de outubro de 2014 – aprovou o curso técnico em Alimentos do câmpus Barretos;

 Resolução n.º 116, de 7 de outubro de 2014 – aprovou o curso técnico em Informática do câmpus Barretos.

Os projetos pedagógicos de curso pronunciam intenções e compromissos na condução do processo de ensino e aprendizagem, devem ser construídos de forma dialógica e estar em conformidade com as diretrizes legais. Isso significa estar articulado com as legislações institucionais, entre elas o Projeto Político Institucional, a Organização Didática e o Plano de Desenvolvimento Institucional do IFSP e as diretrizes da educação nacional. Foi nessa perspectiva que essa análise foi desenvolvida.

Foram analisados os projetos pedagógicos dos três cursos de ensino médio integrado ofertados pelo IFSP câmpus Barretos e iniciamos essa investigação pelos objetivos dos cursos indicados em seus respectivos Projetos Pedagógicos de Curso. No item “objetivo geral” espera-se que seja apresentada, de forma clara e pragmática, uma proposta do que se pretende alcançar com o curso e nos “objetivos específicos” aguarda-se uma maior especificação e detalhamento do item anterior.

De acordo com os projetos pedagógicos do ensino médio integrado ao técnico em agropecuária e ao técnico em alimentos, os cursos têm como objetivo geral:

Oferecer aos alunos egressos do ensino fundamental o acesso à Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio, e consequentemente, à capacitação e à qualificação para o trabalho, emprego e empreendedorismo. Colaborando, assim, com o desenvolvimento econômico sustentável de Barretos e região (IFSP, 2014b, 2014c).

Observou-se que os objetivos gerais foram transcritos de um projeto para o outro sem a preocupação de incorporar elementos intrínsecos a cada uma das áreas de formação. Isso sugere que os projetos pedagógicos de curso podem ter sido elaborados apenas para atender uma das exigências institucionais para a aprovação de novos cursos.

Em seguida, os documentos listam os objetivos específicos dos cursos, relacionando-os, como podemos observar, apenas às habilidades técnicas:

Permitir ao educando conhecimento geral sobre a cadeia produtiva da agropecuária possibilitando sua atuação nos processos de produção e processamento nas unidades agrícolas, distribuição de suprimentos agrícolas e armazenamento.

Deverá ser capaz também de intervir, utilizando transferência de conhecimento, numa visão de desenvolvimento sustentado com foco na inovação com responsabilidade social e ambiental.

Permitir ao educando participar da gestão ambiental, do desenvolvimento e da sustentabilidade do empreendimento rural (IFSP, 2014b).

Fornecer ao educando acesso ao conhecimento sobre toda a cadeia de produção de alimentos possibilitando sua atuação nos processos de produção e processamento nas áreas de industrialização, manipulação, desenvolvimento e pesquisa em indústrias alimentícias.

Capacitar o aluno a intervir no processo produtivo, utilizando transferência de conhecimento, numa visão de desenvolvimento sustentável com foco na inovação com responsabilidade socioambiental (IFSP, 2014c).

Tais objetivos não obedecem às finalidades da educação profissional técnica de nível médio previstas no art. 5.º da Resolução n.º 6 do Conselho Nacional de Educação, de 20 de setembro de 2012, e às finalidades do ensino médio previstas no art. 35 da LDB. Assim, ao considerarem apenas a preparação para o exercício profissional, ignoram a inserção cidadã dos estudantes e não se comprometem com a formação integral desses sujeitos.

Diferente do que é exposto no PDI, esses projetos pedagógicos não concebem o processo educativo como integrador das diferentes dimensões da vida, sejam elas o trabalho (entendido como práxis humana e prática produtiva), a ciência e a cultura, e resgatam a dualidade entre educação geral e educação profissional. Os objetivos apresentados nesses documentos parecem se comprometer muito mais com uma formação para o mercado de trabalho, dado que apontam apenas para a preparação científico-tecnológica, deixando de lado fundamentos sócio-históricos e culturais.

Por outro lado, o objetivo geral e os objetivos específicos apontados no projeto pedagógico do curso de informática estão consoantes com as finalidades e os princípios norteadores do ensino médio e da educação profissional técnica de nível médio. Apesar de não serem apresentados como objetivos, mas como adequação do curso às diretrizes legais, observou-se uma preocupação desse curso em registrá-las.

Na análise do perfil profissional dos egressos dos cursos do ensino médio integrado do câmpus Barretos apresentados nos projetos pedagógicos, também

assistimos a referência apenas à qualificação científico-tecnológica, à práxis produtiva. Concordamos com Kuenzer (2000) que o ensino médio deve possibilitar que cada aluno aprenda permanentemente, reflita criticamente, aja com responsabilidade, participe do trabalho e da vida coletiva, comporte-se de forma solidária, acompanhe a dinamicidade das mudanças sociais, enfrente os problemas a partir da utilização de conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos e, por fim, que tenha uma utopia que oriente a construção de seu projeto de vida e de sociedade. De acordo com a autora, a integração entre trabalho, ciência e cultura deve orientar a concepção de ensino médio para garantir a

[...] formação de um trabalhador de novo tipo, ao mesmo tempo capaz de ser político e produtivo, atuando intelectualmente e pensando praticamente; um trabalhador crítico, criativo e autônomo intelectualmente e eticamente, capaz de acompanhar as mudanças e educar-se permanentemente (KUENZER, 2000, p. 50).

Consideramos que esse pensamento deve orientar os currículos dos cursos da educação profissional técnica de nível médio e que seria imprescindível que estivesse presente nos projetos pedagógicos do câmpus Barretos. Para a implementação dessa modalidade de ensino, o registro dos objetivos, dos princípios norteadores e do perfil do egresso indica horizontes que orientam o trabalho educativo e evidencia-se como um desafio à gestão do IFSP, no sentido de promover mais discussões e aprofundamento teórico entre seus servidores.

A análise da “Metodologia” evidenciou que, apesar de se tratar de cursos técnicos integrados ao ensino médio, o processo educacional segue os moldes de uma educação linear e fragmentada, em que as disciplinas são rigidamente organizadas de acordo com suas especialidades. O texto dos projetos pedagógicos de curso é o mesmo, com exceção do que foi especificado na execução de aulas práticas:

A metodologia desenvolvida em sala de aula compreende aulas expositivas dialogadas, com auxílio de quadro-negro e projetor multimídia; explicação dos conteúdos; análise e debates de situações-problema; esclarecimento de dúvidas, realização de atividades individuais e coletivas; elaboração de projetos, pesquisas, trabalhos, seminários, debates, painéis de discussão, estudos dirigidos, tarefas e orientação individualizada. Algumas disciplinas também compreendem a execução de aulas práticas nos laboratórios de química, de microbiologia, de informática, de microscopia e de alimentos. Nas aulas práticas, as turmas serão divididas para melhor produtividade e segurança do aluno. Para conclusão e assimilação das aulas práticas serão

cobrados relatórios individuais ou em grupos sobre o experimento realizado (IFSP, 2014b, 2014c, 2014d).

Na proposta de integração curricular entre educação básica e educação profissional, o intento é que se reconheçam as especificidades dos conteúdos tipificados como estruturalmente diferentes, contudo essa diferenciação não pode ser considerada absoluta; deveras, a ideia é que esses conteúdos se articulem (MACHADO, 2010). Nessa ótica, para garantir o êxito de currículos integrados,

O percurso formativo precisa ser trabalhado como um processo desenvolvido em comum, mediante aproximações sucessivas cada vez mais amplas, que concorram para que cada ação didática se torne parte de um conjunto organizado e articulado (MACHADO, 2010, p. 81).

Importante sublinhar que essa análise se deu sob a perspectiva de que os conhecimentos gerais e os conhecimentos específicos não se opõem, mas eles são produtos da atividade humana, “portanto, há que superar o trabalho escolar enquanto contemplação, absorção passiva de sistemas explicativos complexos desvinculados do movimento da realidade histórico-cultural” (KUENZER, 2000, p. 82). Consideramos, também, que os conhecimentos só se distinguem metodologicamente, mas que epistemologicamente eles formam um todo, uma unidade (RAMOS, 2012).

Disso resulta o entendimento de que a orientação metodológica para os cursos de ensino médio integrado deve ser a de um trabalho contextualizado, inter e transdisciplinar, que conceba os alunos como sujeitos de seus processos de formação, que promova processos de ensino-aprendizagem participativos, ativos e criativos e que desenvolva o entusiasmo de aprender permanentemente e de trabalhar coletivamente (KUENZER, 2000; MACHADO, 2010).

Contudo, o que se observou na análise das metodologias propostas nos projetos pedagógicos dos cursos de ensino médio integrado do câmpus Barretos diverge dessa orientação. Os projetos propõem diferentes atividades pedagógicas, o que é positivo para atender as necessidades dos estudantes, no entanto desconsideram características específicas dessa modalidade de ensino e do grupo por ela atendido.

Reiteramos o fato de que os projetos apresentam textos praticamente iguais. Entendemos que os documentos foram elaborados, a partir de um modelo

disponibilizado pela pró-reitoria de ensino,17 apenas para a aprovação dos cursos. Com isso, os projetos pedagógicos dos cursos de ensino médio integrado do IFSP câmpus Barretos não se constituem como resultados de construções coletivas, mas adéquam-se a padrões previamente disponibilizados, o que desconsidera professores e alunos como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem (MACHADO, 2010).

As estruturas curriculares dos cursos são divididas em “Base Nacional Comum”, “Parte Diversificada” e “Parte Profissionalizante”. De acordo com o art. 9.º da Organização Didática dos cursos ofertados pelo IFSP, também deve fazer parte do currículo dos cursos o “Projeto Integrador”, que compreende “os espaços de ensino e aprendizagem que articulem a interdisciplinaridade do currículo com as ações de pesquisa e extensão de forma a permitir a construção do conhecimento, culminando em uma produção acadêmica e técnico-científica” (IFSP, 2013, p. 8).

De acordo com os PPC, o “Projeto Integrador” é considerado uma disciplina integrante da “Parte Profissionalizante” e é ministrado nos segundos e terceiros anos para o curso de Informática e apenas no terceiro ano para os cursos de Agropecuária e Alimentos. Essa disciplina apresenta-se como uma possibilidade de articulação das diversas áreas e recorre aos métodos de ensino por projetos e temas geradores. Assim, objetiva vincular teoria e prática e aproximar o processo de ensino- aprendizagem da realidade dos estudantes. A escolha dos temas deve ser orientada pelo entendimento de que a educação profissional prepara os alunos para o mundo do trabalho. Portanto, a disciplina deve ser elaborada a partir da compreensão do trabalho como princípio educativo. Quanto a isso consideramos que:

O trabalho como princípio educativo equivale a dizer que o ser humano é produtor de sua realidade e, por isso, apropria-se dela e pode transformá-la. Equivale a dizer, ainda, que somos sujeitos de nossa história e de nossa realidade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação entre o homem e a realidade material e social (PACHECO, 2012, p. 67).

Reconhecemos que a proposição dessa disciplina coincide com a concepção de formação que está sendo proposta (a de uma formação integrada, politécnica e que concebe o trabalho como princípio educativo) e que sustenta a base da educação profissional técnica de nível médio.

17 Disponível em: <http://www.ifsp.edu.br/index.php/arquivos/category/509-documentos-da-educacao- basica.html>. Acesso em: 22 de fevereiro de 2017.

Por fim, acreditamos que é preciso que exista consonância em relação a que tipo de ser humano e profissional se quer formar, assim como sobre quais estratégias empregar para que esses valores e perspectivas se avultem.

Assim, o planejamento, a organização, a sistematização, o controle e a orientação do processo didático, da atuação docente da atividade cognoscitiva dos alunos precisam se mostrar com coerência interna e evidenciar, de forma consistente, a construção intencional desses sentidos e perspectiva (MACHADO, 2010, p. 82).

Portanto, a implementação de currículos integrados exige outra postura pedagógica, demanda uma perspectiva que rompa com a hierarquização e com a fragmentação do conhecimento e que evidencie a relação dialógica do processo de ensino-aprendizagem. E esse compromisso precisa desvelar-se tanto no currículo explícito quanto no currículo oculto (MACHADO, 2010).

A partir desse entendimento e da concepção de que o currículo é uma construção dinâmica, constituída nas relações pedagógicas, e que sua concretização depende dos sujeitos envolvidos no processo educativo, optamos por realizar as entrevistas com os professores coordenadores dos cursos de ensino médio integrado

do câmpus Barretos. Acreditamos que a análise a seguir nos propiciou uma visão mais

abrangente da implementação dessa modalidade de ensino na instituição escolhida.

No documento Renata Nicizak Villela (páginas 59-65)