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Procedimentos de análise

No documento Renata Nicizak Villela (páginas 55-59)

4. O PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 Procedimentos de análise

Concluída a fase das entrevistas, elas foram transcritas, relidas, com o objetivo de identificar qualquer menção a nomes, seja dos entrevistados, seja de terceiros, e preparadas para serem processadas no programa computacional utilizado em uma das etapas da análise.

Para a análise dos dados obtidos por meio das entrevistas realizamos dois tratamentos: o primeiro com o auxílio do software Analyse Lexicale par Context d.um

Ensemble de Segments de Texte) (ALCESTE); e o segundo realizado a partir de uma

Análise de Conteúdo, na perspectiva de Franco (2012). Esse processo de análise combinada permitiu que a discussão se desenvolvesse para além da análise léxica efetuada pelo ALCESTE e possibilitou que apreendêssemos elementos da subjetividade dos sujeitos não desvelados pelo software.

O ALCESTE é um método informatizado para análise textual criado pelo francês Max Reinert. Originalmente utilizado em laboratórios de Ciências Humanas, o

software é uma ferramenta que auxilia a interpretação de entrevistas, respostas a

questões abertas, textos literários e de outros documentos escritos que utilizem o alfabeto latino, desde que eles tenham certa homogeneidade no conteúdo e um volume mínimo (REINERT, on-line).

Alba (2004) retrata que a tese principal do autor do programa é a de que todo discurso revela “mundos lexicais” que organizam e dão racionalidade ao que é enunciado. De acordo com a autora, os “mundos lexicais” são conjuntos de palavras que constituem uma frase ou fragmentos do discurso, independentemente de sua construção sintática, e o ALCESTE visa colocá-los em evidência por meio da organização e distribuição estatística de palavras principais (substantivos, adjetivos e verbos) co-ocorrentes. A frequência com que grupos de palavras principais aparecem associados entre si no banco de dados textual permite que o software diferencie “mundos lexicais” mais significativos e os coloque em evidência. Para isso, processa quatro etapas: análise do vocabulário; definição das “unidades de contexto elementares” (u.c.e.) e classificação; definição das classes e “análise fatorial de correspondência” (a.f.c.); e, por fim, realização dos cálculos complementares.

Reinert (on-line), Alba (2004), Moreira et. al. (2005) e Nascimento; Menandro (2006) discorrem acerca dessas fases.

Durante a primeira etapa, são realizados procedimentos iniciais, a partir dos quais serão efetuadas as análises estatísticas posteriores. Nesse momento, o programa identifica as “unidades de contexto iniciais” (u.c.i.) definidas pelo usuário, diferencia as palavras principais e as representa de forma reduzida, sem as terminações, e em seguida lista as formas reduzidas mais frequentes.

A segunda etapa caracteriza-se por ser essencialmente uma etapa de cálculo, em que são definidas as “u.c.e.” a partir do tamanho do texto e da pontuação utilizada, são executadas classificações baseadas na distribuição do vocabulário e cruzamentos sucessivos que produzem “classificações hierárquicas descendentes”. Nesta pesquisa, foram realizadas duas classificações consecutivas com o intuito de garantir a estabilidade das classes obtidas.

No terceiro passo, ocorre a descrição das classes obtidas e os arquivos com os resultados são gerados com o auxílio de procedimentos estatísticos como seleção do vocabulário de cada classe, a interdependência entre as classes, “análise fatorial de correspondência” (cruzamento entre o vocabulário e as classes descritas), entre outros. As análises posteriores serão realizadas a partir dos resultados apresentados nessa etapa.

Por fim, a quarta e última fase é uma continuação da etapa anterior. Nesse momento, o programa fornece as “u.c.e.” mais representativas de cada classe e realiza a “classificação hierárquica ascendente” (cruzamento entre as “u.c.e.” e as formas reduzidas de cada classe descrita).

A escolha desse procedimento de análise apoia-se nas considerações de Alba (2004) de que o software é útil para a análise de quaisquer materiais discursivos, assim como pertinente para o estudo das representações. Existem tanto razões teóricas quanto metodológicas para utilizarmos esse programa no estudo das representações sociais (p. 1.6). Procedimentos metodológicos comuns no estudo desse fenômeno, como as análises de respostas a entrevistas abertas ou semiestruturadas, de discursos sobre desenhos, de obras literárias ou notas divulgadas na imprensa, coincidem com os objetivos propostos pelo ALCESTE. Do ponto de vista teórico, também há convergências; a autora explica:

Del mismo modo que la coherencia del discurso está dada, según Reinert, por el conjunto de mundos lexicales que lo componen, el contenido de las representaciones sociales es observado en el conjunto de todas las expresiones discursivas e las prácticas (ALBA, 2004, p. 1.6).

Essa proposta de análise permite que exploremos os dados brutos, sem que preconcepções dos pesquisadores interfiram no processo. Portanto,

ALCESTE es un programa que ajuda principalmente a realizar un análisis exploratorio de un texto con la finalidad de descobrir los significados que éste oferece por sí mismo, sin imponerle las categorías de análisis pre- estabelecidas por el analista (ALBA, 2004, p. 1.19).

O ALCESTE foi processado no dia 14 de dezembro de 2016 e, como veremos na sequência, gerou cinco classes que denominamos: integração curricular, relação com o Outro-aluno, relação com o Outro-instituição, ser docente no IFSP e políticas públicas e futuro.

O segundo procedimento de análise das entrevistas foi realizado a partir da análise de conteúdo e para isso nos fundamentamos em Franco (2012). As mensagens, sejam elas verbais, gestuais, documentais, figurativas ou diretamente provocadas, são a gênese da análise de conteúdo e expressam um sentido e um significado, carregados de componentes emocionais, cognitivos, valorativos e historicamente mutáveis, vinculados a condições contextuais (FRANCO, 2012). Sendo assim, a contextualização permite-nos compreender “quem” produz a mensagem e “por que”.

As falas dos sujeitos entrevistados circunscreveram o ponto de partida para essa análise, que considerou o contexto social e histórico no qual elas foram produzidas. Ademais, reconhecemos o papel ativo dos sujeitos na produção do conhecimento e na construção do ambiente social em que vivem.

Importante ressaltar que os dois procedimentos de análise (análise léxica e análise de conteúdo) foram efetuados a partir do mesmo banco de dados textual: as respostas dos sujeitos às questões abertas das entrevistas semiestruturadas. Outra questão que merece destaque é o fato de que quando o software ALCESTE foi processado já havíamos predefinido algumas categorias na análise de conteúdo. Assim, a análise léxica foi uma etapa importante para ampliarmos a compreensão do discurso dos sujeitos.

A combinação da análise léxica dos dados textuais, da análise de conteúdo das entrevistas e da análise dos Projetos Pedagógicos de Curso permitiu um estudo aprofundado da implementação do ensino médio integrado no IFSP câmpus Barretos

e possibilitou que déssemos alguns passos no sentido de compreender elementos da subjetividade docente que atravessam esse processo.

No documento Renata Nicizak Villela (páginas 55-59)