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Análise dos regulamentos dos eventos da categoria mirim

A primeira análise consistiu na avaliação dos regulamentos dos eventos da categoria mirim (7 e 8 anos) presentes nas federações estaduais selecionadas como amostra da pesquisa. Foram analisados os regulamentos de seis competições do ano de 2019, das três federações que se enquadraram nos critérios de seleção da amostra: Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

Consideramos os seguintes itens para a avaliação: o nível da competição (WIERSMA, 2005); para qual estágio de desenvolvimento do MDPD o evento se destina (CÔTÉ, 1999; CÔTÉ; BAKER; FRASER THOMAS, 2007); ajustes realizados no regulamento, em comparação a eventos oficiais, de acordo com as estratégias da Engenharia Competitiva (BURTON, GILLHAM, HAMMERMEISTER, 2011); as Metas de Engajamento de Atleta da Engenharia Competitiva possíveis de ser alcançadas por meio dos ajustes propostos (BURTON, GILLHAM, HAMMERMEISTER, 2011). Apresentamos essa análise no Quadro 16:

Quadro 16. Ajustes propostos nos regulamentos dos eventos da categoria mirim ESTRATÉGIA

(EC) ALTERAÇÃO EVENTOS

META DE ENGAJAMENTO (EC)

Ajuste de regra

Flexibilização do número de

ginastas na prova de conjunto E1 -

Apresentação única E1; E2; E3;

E4; E5; E6 -

Classificação percentual – 20% 1º

lugar, 30% 2º lugar, 50% 3º lugar E1; E2

Criar alto envolvimento pessoal Ajustes do julgamento da

Execução técnica e artística

E1; E2; E3;

E4; E6 Manter pontuações próximas Elemento de dificuldade corporal é

validado com erros E1; E2 Aumentar ação e pontuação

3Pertinente elucidar que as discussões relativas especificamente aos regulamentos e realizadas pela análise documental foram aprofundadas e publicadas por Reis-Furtado e Carbinatto (2020), em artigo científico intitulado “Competição esportiva na infância: análise dos regulamentos de ginástica rítmica” no periódico Motrivivência. Na presente tese, essa análise compôs a triangulação dos dados, sendo discutida juntamente com as demais fontes (entrevistas e observações).

Banca de arbitragem reduzida E1; E2; E4; E6 -

Ajuste de regra

Obrigatoriedade de elementos de dificuldade corporal (valor,

quantidade, tipo, exercício completo)

E1; E4; E6 Manter pontuações próximas

Redução na duração do exercício E3; E6 Aumentar ação e pontuação Divisão em níveis com critérios de

progressão E4 Manter pontuações próximas Ajuste nas

instalações Redução da área de apresentação E2; E3; E4; E6 Aumentar ação e pontuação

Ajustes no equipamento

prova única sem aparelhos (mãos livres)

E1; E2; E3;

E4; E5; E6 Aumentar ação e pontuação

Ajustes na vestimenta (sugestão de uso de fantasia temática ou

uniforme de treino para apresentações)

E1; E2; E3 Criar alto envolvimento pessoal

Constatamos durante a análise dos regulamentos e dos calendários de evento das federações, que as três instituições propõem, no mínimo, três eventos anuais voltados para a categoria mirim, demonstrando a preocupação em oferecer eventos de base aos seus filiados, direcionados para a participação e preparação para os eventos das categorias oficiais. Alguns dos eventos foram ainda divididos em etapas, ampliando consequentemente a possibilidade de participação das ginastas dessa faixa etária em competições.

Todos os eventos analisados trouxeram propostas de ajustes em seus regulamentos, buscando atenuar a pressão e nível de exigência das competições para a faixa etária. Dessa forma, eles apresentaram um caráter de iniciação e participação, além de níveis competitivos baixos ou muito baixos – níveis 1 e 2 na Classificação para Programas Esportivos (WIERSMA, 2005).

Identificamos que a maior parte dos ajustes ocorreu nas regras, trazendo modificações no que diz respeito às exigências técnicas de elementos e dificuldades corporais, obrigatoriedade de movimentos, música ou série, tempo do exercício, banca de arbitragem e forma de julgamento, classificação e premiação.

Todos os eventos apresentaram ajustes no que diz respeito à quantidade, valor e/ou obrigatoriedade dos elementos de dificuldade corporal. O encaminhamento geral foi o de limitar o valor e/ou quantidade de dificuldade dos elementos, deixando o maior foco da avaliação para a execução. Para tanto, alguns regulamentos previam apenas o valor de dificuldade limitado,

enquanto outros indicavam elementos obrigatórios a serem executados; apenas um evento (E4) indicou a realização de série obrigatória (música, exercícios, distribuição no espaço e sequência coreográfica).

O tempo do exercício foi outro ajuste identificado. Nas séries individuais de competições oficiais, o tempo é de 1 minuto e 15 segundos até 1 minuto e 30 segundos; nos eventos em que essa alteração estava presente, a orientação é para a realização de rotinas com no máximo 1 minuto de duração. Esse tempo também foi regulado nos eventos em que as músicas eram obrigatórias e a própria federação as fornecia, apesar de não estar explícita no regulamento a duração do exercício.

No que diz respeito à arbitragem, percebemos a redução do número de árbitros como um aspecto presente nos regulamentos, o que não está diretamente relacionado às estratégias de ajustes da Engenharia Competitiva, mas traz redução de custos ao evento, que proporciona à organização possibilidade de ampliação do número de eventos, já que a demanda financeira é menor do que em eventos oficiais. O julgamento das séries foi um aspecto em que houve diferentes tipos de ajustes: a. alteração dos valores das dificuldades corporais, a fim de padronizar o valor final da dificuldade; b. redução do valor das penalidades de execução técnica e artística, para que as ginastas iniciantes não sejam avaliadas com o rigor do Código de Pontuação da modalidade e sim de acordo com seu nível técnico; c. validação das dificuldades corporais, mesmo com faltas técnicas pequenas ou médias, valorizando e incentivando a execução e inclusão dos movimentos nas coreografias.

Sobre os ajustes nas regras, notamos que em um dos eventos não estava prevista a classificação das ginastas – elas apenas se apresentavam, eram avaliadas e a arbitragem emitia um feedback aos treinadores(as). Neste caso, todas as ginastas eram igualmente premiadas. Outros eventos classificavam e ampliavam a premiação para além dos três primeiros lugares (6º ou 10º) e incluíam medalhas de participação para as demais participantes. Contudo destacamos a classificação dos eventos E1 e E2, que dividiu a premiação de todas as ginastas em 1º, 2º e 3º lugar, por percentuais, em que 20% das ginastas – as melhores avaliadas – recebiam medalhas de ouro; 30% eram premiadas com a prata; e as demais 50% recebiam a terceira colocação, ficando com o bronze. Dessa maneira todas as ginastas participantes seriam

chamadas ao pódio e premiadas, não havendo assim o “consolo” da medalha de participação. Com relação aos ajustes nas instalações, a maioria dos eventos previu no regulamento a

redução do espaço, seja utilizando o tapete quadrado (área de competição) em dimensões reduzidas, seja por meio de retângulos formados pelas “tiras” do tapete oficial, de forma

separada. Isso permite às ginastas uma melhor utilização do espaço, adequada ao seu tamanho e maturidade corporal e, por consequência, um melhor desempenho.

Quando analisados os equipamentos, as modificações propostas para a categoria envolveram a supressão da utilização dos aparelhos manuais, sendo prevista apenas a prova a “mãos livres”, em apresentação única, em todos os eventos. A coreografia sem aparelho permite um maior controle dos movimentos corporais, sem que exista a preocupação com a manipulação dos aparelhos, assim como um maior foco na execução desses elementos.

Outro equipamento que teve ajuste proposto nos regulamentos é a vestimenta das ginastas, com propostas que sugeriram a utilização de fantasias temáticas e uniforme de treinamento para a apresentação. A ideia de se trabalhar com fantasias temáticas (E1, E3) nos remete ao incentivo à criatividade e ao trabalho artístico de interpretação do tema e expressão corporal, características fundamentais para desenvolver o aspecto artístico das coreografias. Ademais, a outra modificação relacionada à vestimenta é a de utilizar o próprio uniforme de treino para as apresentações (E2), o que pode contribuir para diminuir os custos das equipes com collants de competição.

A partir dos diversos ajustes identificados nos regulamentos, foi possível perceber que três das quatro Metas de Engajamento de Atleta da Engenharia Competitiva (BURTON, GILLHAM, HAMMERMEISTER, 2011) foram contempladas – Aumentar ação e pontuação, Criar alto envolvimento pessoal e Manter pontuações próximas – conferindo aos eventos um estímulo à autonomia e envolvimento das ginastas participantes. Entretanto, a meta de Promover Relações Sociais Positivas da EC, por meio de ações que incentivem as regras de socialização ou tarefas conjuntas entre equipes, por exemplo, não foi identificada e demonstra uma lacuna a ser preenchida pelos eventos com intuito de promover a participação esportiva.