• Nenhum resultado encontrado

O Modelo de Participação Competitiva

2.1 Formação esportiva em longo prazo: as competições como componentes do processo

2.1.5 O Modelo de Participação Competitiva

Em busca de um modelo adequado de participação competitiva, que supere o modelo tradicional, no qual há o destaque de poucos atletas, Leonardo, Galatti e Scaglia (2017) e Leonardo, Krahenbühl e Scaglia (2017) propõem o Modelo de Participação Competitiva, que utiliza como base os níveis competitivos de Wiersma (2005), distribuídos nos diferentes estágios do Modelo de Desenvolvimento da Participação Desportiva de Côté e colaboradores (CÔTÉ, 1999; CÔTÉ; BAKER; ABERNETHY, 2007; CÔTÉ E FRASER-THOMAS, 2007).

É fundamental modificar a competição de jovens para que a mesma seja entendida como um ambiente voltado para a aprendizagem de valores para o desenvolvimento social, moral e ético, contribuindo para o desenvolvimento pessoal para a vida (LEONARDO; KRAHENBÜHL; SCAGLIA, 2017). Dessa forma, a Engenharia Competitiva surge como um possível caminho para implementar essas alterações. A figura a seguir esquematiza a proposta do Modelo de Participação Competitiva:

Figura 10 – Proposta do Modelo de Participação Competitiva, baseada em Côté, Baker e Fraser Thomas (2007), Côté e Fraser-Thomas (2007) e Wiersma (2005)

Fonte: LEONARDO; GALATTI; SCAGLIA (2017, p. 314).

Segundo o esquema apresentado na Figura 4, o processo deve iniciar com propostas competitivas dos níveis 1 e 2 nos anos de experimentação (entre 6 e 12 anos de idade) e evoluir gradativamente conforme os diferentes estágios, sendo maior a participação em competições dos níveis 3 e 4 quanto mais próximo estiverem os atletas dos anos de investimento (15 a 17- 18 anos de idade). É importante também considerar que existe um trânsito livre (horizontal) entre os anos de especialização e investimento e os anos de participação (ou recreação),

justamente para que o fluxo entre os diferentes estágios seja permanente, a fim de evitar a elitização esportiva do jovem, bem como incentivar a continuidade do envolvimento com o esporte durante a vida (LEONARDO; GALATTI; SCAGLIA, 2007).

De acordo com o modelo, a responsabilidade por transformar o esporte para jovens atletas está voltada para a atuação do treinador. Dessa forma, há a proposição de cinco disposições que consideram ser fundamentais para que o treinador possa promover transformações no cenário competitivo, visando o processo de formação esportiva do jovem. Partindo do treinador, essas iniciativas poderiam servir de exemplos e até trazer resultados que justifiquem a implementação desse tipo de eventos pelas instituições esportivas mais tradicionais.

A primeira delas parte do princípio de que muitas das competições promovidas pelas diferentes instituições do esporte, seguem um modelo competitivo organizado de forma semelhante ao nível 4, reforçando comportamentos e costumes do cenário competitivo para adultos. Sendo assim, os autores indicam que cabe aos treinadores(as) promover a oportunidade de o jovem competir em diversos níveis, elaborando competições com diferentes direcionamentos (LEONARDO; GALATTI; SCAGLIA, 2017).

A segunda disposição sugere que sejam realizadas temporadas mais curtas e opções por festivais, principalmente na fase de transição dos anos de experimentação para os anos de especialização. Nesse sentido, os autores recomendam temporadas com no máximo seis meses, a fim de considerar o nível de evolução dos jovens durante o período. Outra possibilidade seria a organização de vários festivais de um dia de duração ao longo do ano, que permitiriam maior experiência competitiva e consequentemente a comparação de resultados em diferentes períodos do ano, ampliando a percepção de aprendizagem dos atletas.

Organizando as próprias competições, os treinadores(as) conseguem modificar o formato do evento, possibilitando em uma mesma partida disputas orientadas para diferentes níveis competitivos, a terceira disposição proposta. Isso reduziria a quantidade de datas necessárias para os eventos e consequentemente o calendário de jogos. A quarta possibilidade é a promoção de competições internas, com ajuste de regras de acordo com os objetivos de aprendizagem dos atletas – por exemplo, festivais com diferentes temas – aumentando, por exemplo, o volume de eventos para aqueles atletas que se encontram nos anos de participação. Por fim, os autores indicam aos treinadores(as) buscar ambientes menos burocratizados, diminuindo as exigências em relação à oportunidade de inscrição, principalmente nos anos de experimentação e de especialização (LEONARDO; GALATTI; SCAGLIA, 2007).

Dessa maneira, a oferta de diferentes níveis competitivos pode acontecer, atendendo aos diversos interesses e percepções de rendimento de crianças e jovens envolvidas com o esporte. Para isso, a atuação do treinador é reforçada, por meio de iniciativas que vão ao encontro de um cenário competitivo mais ajustado e equalizado.

Compreendemos que os diferentes modelos aqui apresentados para pautar o ajuste das competições esportivas para os diferentes estágios de desenvolvimento de atletas, são complementares e seus conceitos vão ao encontro do que acreditamos que deva acontecer em qualquer processo de formação de atletas. Contudo, percebemos que algumas das estratégias propostas se aplicam melhor aos esportes coletivos, nos quais há confronto direto, como, por exemplo, o rodízio de posições ou as regras “catch-up” da Engenharia Competitiva, ou a própria graduação de idades por estágio do MDPD.

Acreditamos que, apesar de conceitualmente as proposições se adequarem a outros esportes como a ginástica, por exemplo, existe um desafio de compreender quais estratégias trariam os benefícios esperados e quais aquelas que teriam que ser repensadas e reformuladas para a realidade da ginástica rítmica. Além disso, é importante destacar, que os modelos trazidos representam pesquisas desenvolvidas em contextos da América do Norte e, portanto, não devem ser simplesmente reproduzidos. Contudo, entendemos que servem como balizadores para refletirmos sobre a realidade da ginástica brasileira e passar a compreendê-la e analisá-la sob essa perspectiva.

Deste modo, apresentamos no capítulo a seguir as características da ginástica rítmica e seus eventos, bem como modelos já implementados de formação de ginastas em longo prazo, que nos dão suporte para refletir sobre o ambiente competitivo da modalidade nos diferentes estágios.