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Formação do atleta em longo prazo: panorama de estudos na atualidade

2.1 Formação esportiva em longo prazo: as competições como componentes do processo

2.1.1 Formação do atleta em longo prazo: panorama de estudos na atualidade

A pesquisa sobre a carreira de atletas e sua formação, tem sido desenvolvida de forma ampliada e evoluiu consideravelmente nos últimos anos, apresentando uma mudança do foco na identificação do talento, para uma ênfase no desenvolvimento do atleta. Nestes estudos, a diferença entre as abordagens se encontra no entendimento de que na primeira, acredita-se que

o talento é inato e é necessário realizar avaliações para identificar uma provável obtenção de excelência esportiva.; e a segunda tem ênfase na formação, com foco na aquisição de habilidades motoras e psicológicas, centrando-se na quantidade e qualidade do processo (FOLLE, NASCIMENTO e GRAÇA, 2015).

A carreira dos atletas deve advir de um planejamento extremamente minucioso, que se relaciona diretamente com o percurso do jovem atleta e envolve questões como o treinamento e as competições. Esse percurso, compreendido entre a iniciação desportiva e o alto rendimento, se caracteriza como o período de formação, no qual se busca desenvolver bases que permitam alcançar no futuro, os resultados almejados (CAFRUNI, MARQUES e GAYA, 2006).

Partindo do contexto atual de iniciação esportiva, no qual as crianças têm iniciado a prática cada vez mais precocemente, a especialização precoce aparece como tema atual e de necessária discussão, por não respeitar o nível de desenvolvimento da criança, antecipando as fases de seu processo de formação esportiva. Assim, a especialização precoce é desaconselhada, pois pode trazer várias consequências negativas aos praticantes, tais como redução do repertório motor, aumento da incidência de lesões, desmotivação, entre outros (NUNOMURA, CARRARA, TSUKAMOTO, 2010; BOMPA, 2000). Por essa razão, a estruturação e a sistematização do processo de formação esportiva devem ter base na Pedagogia do Esporte e ser planejados na perspectiva da formação do sujeito e sua complexidade (MENDES, 2017).

Nessa direção, encontramos na literatura estudos sobre a formação de atletas em longo prazo que indicam modelos de investigação pautados nos estágios e esclarecerem as principais características e interferências de diferentes fatores do treinamento, bem como de influências sociais no processo de formação (FOLLE, NASCIMENTO e GRAÇA, 2015). Os modelos de estágios, dividem a formação esportiva em etapas e descrevem as mudanças ocorridas na experiência esportiva, assim como no ambiente social.

Galatti, et al(2017) corroboram a ideia, trazendo pesquisas sobre o desenvolvimento da carreira esportiva, que apresentam classificações de estágios, em fases ou etapas vivenciadas pelos atletas ao longo de sua formação. Além dos estágios da carreira, os modelos de transição que influenciam o desenvolvimento dos atletas (GALATTI, et al, 2017; FOLLE; NASCIMENTO; GRAÇA, 2015). Fizeram parte da investigação de Galatti, et al(2017) os estudos de Bloom (1985), Stambulova (1994), Côté (1999), Durand-Bush e Salmela 2002), Folle (2014), Pearson e Petitpas (1990), Salmela (1994), Wylleman, Lavallee e Alfermann (1999), Green (2005), Balyi (2004) e Côté, Baker e Abernethy (2007). Com relação aos estágios de desenvolvimento do atleta, Folle, Nascimento e Graça (2015) destacam estudos como os de Côté (1999), Durand-Bush; Salmela (2002), Côté, Baker, Abernethy (2007).

As diferentes classificações trazidas por esses modelos convergem para uma divisão da carreira esportiva em três principais fases, com princípios comuns, embora utilizem nomenclaturas diferentes – uma fase inicial, fases intermediárias e uma fase final (GALATTI, et al, 2017; CAFRUNI; MARQUES; GAYA, 2006).

O primeiro estágio – chamado de anos iniciais, iniciação ou anos de experimentação – tem a característica da busca por atividades lúdicas e gratificantes, com experimentação de diferentes modalidades esportivas e desenvolvimento de habilidades motoras básicas, com foco no jogo deliberado; no segundo estágio – anos intermediários, desenvolvimento ou anos de especialização - o divertimento trazido pelo jogo passa a ser gradativamente substituído pelo comprometimento, equilibrando a quantidade de prática deliberada e o jogo; o terceiro estágio – anos finais, perfeição ou investimento/manutenção - é caracterizado pelo aperfeiçoamento e busca pelo alto nível, fazendo com o que a quantidade de prática deliberada seja aumentada significativamente e as outras atividades cotidianas se tornem secundárias (GALATTI, et al, 2017).

Dentre os modelos de formação esportiva estudados destacamos, nesse estudo, o Modelo de Desenvolvimento de Participação Desportiva (MDPD) (CÔTÉ, 1999; CÔTÉ; FRASER-THOMAS, 2007; CÔTÉ; BAKER; ABERNETHY,2007), que é o modelo mais proeminente na literatura e influencia outros modelos de acordo com (BARREIROS; CÔTÉ; FONSECA, 2013). O MDPD fornece uma estrutura com caminhos que promovem não somente o desempenho, mas também a participação continuada, benefícios à saúde e desenvolvimento pessoal de jovens por meio do esporte (CÔTÉ; STRACHAN; FRASER-THOMAS, 2008; CÔTÉ E VIERIMAA, 2014). Além disso, nas duas últimas décadas, vem sendo desenvolvido e refinado, apresentando um conjunto de conceitos e variáveis sobre o desenvolvimento de atletas que são quantificáveis e testáveis (CÔTÉ; VIERIMAA, 2014).

Ademais, o MDPD tem sido utilizado como base teórica de pesquisas que tratam da competição esportiva de jovens atletas no Brasil, como o estudo de Leonardo (2018) que apresenta as competições de handebol de jovens do estado de São Paulo e as características das adaptações competitivas; e o de Mendes (2017) que trata da trajetória esportiva de atletas de categorias de formação no voleibol Brasileiro.

Outro destaque para os modelos de desenvolvimento de atletas em longo prazo, visando também à participação, é a orientação do Ministério do Esporte, que a partir de Conferências Nacionais do Esporte apontou na direção da criação de um novo Sistema Nacional de Esporte, que reconheça tanto o fomento ao alto rendimento, quanto à promoção de atividades físicas e esportivas para todas as pessoas, de forma integrada e complementar.

O Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano do Brasil, de 2017, aponta para um modelo de desenvolvimento esportivo que garanta o direito ao esporte, previsto pela Constituição Federal, com foco ao direcionamento para o esporte educacional. Dessa forma, tanto o esporte de alto rendimento quanto o de participação seriam contemplados (PNUD, 2017).

Figura 7 – Visão do Novo Sistema Nacional de Esporte

Fonte: PNUD, (2017).

Considerando que a ginástica brasileira ainda carece de uma orientação geral no que diz respeito à formação dos atletas, apresentamos a seguir o Modelo de Desenvolvimento da Participação Desportiva de Côté e colaboradores, como base teórica para refletir acerca da formação esportiva em ginástica rítmica, considerando principalmente os eventos e competições destinadas aos anos iniciais do desenvolvimento da ginasta.