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4 RESULTADOS DA PESQUISA

4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.4.1 Comentários sobre os Resultados da Pesquisa Qualitativa

Embora a pesquisa qualitativa tenha sido elaborada com o objetivo de averiguar se as questões do questionário da pesquisa quantitativa estavam contemplando todo o contexto das redes, ela nos forneceu alguns resultados que puderam sinalizar, além das questões para a quantitativa, o funcionamento da rede nas cooperativas.

Pôde-se observar pelos resultados, que existem ganhos no relacionamento existente entre as cooperativas. Entretanto, estes ganhos segundo os operadores da rede poderiam ser maiores, caso existisse uma confiança maior entre eles. Segundo vários autores, Burt (1992), Cleman (1988), Baldi e Lopes (2002), Granovetter (1985), Ancona e Caldwell (1992), a confiança é a base para o relacionamento. Outro fator levantado pelos dirigentes é o fato dos encontros ocorrerem com muito pouca frequência, entretanto, eles o consideram muito rico na inovação e trocas de informações. Portanto, isto está diretamente ligado ao pensamento defendido por Granovetter (1973), quanto à força dos laços fracos trazerem informações mais ricas, com inovação, pois devido ao baixo contato, sempre que eles se encontram, têm novidades para passarem uns aos outros. Com relação à informação, houve reconhecimento pela maioria que ela é muito importante e cria competitividade, pois ajuda no processo de melhoramento da produtividade, este fator está de acordo com os pensamentos dos autores Marteleto (2004); Aguiar (2008); Burt (1992) dentre outros.

Quanto a hierarquia acreditam que é importante, pois quem inicia o contato na maioria das vezes é o presidente, aqui também nota-se que os autores Bourdieu (2006), Powell (1990), Burt (2000), dentre outros, estavam corretos ao definir que de acordo com a posição na rede, podem-se obter maiores resultados econômicos para as organizações. Para os dirigentes das cooperativas, as relações favorecem e melhoram as suas capacidades de gerenciar, capacitando os recursos disponíveis nas cooperativas. Este processo, de melhores recursos gerarem melhores resultados, está de acordo com o defendido por Scianni (2008); Barney (1991) e Penrose (1959), estes autores definem que a vantagem competitiva das organizações está nos recursos e os maiores recursos, segundo os mesmos, são os gerentes e suas capacidades criativas.

4.4.2 Comentários sobre Análise dos Resultados da Sociometria

O objetivo deste tópico foi saber qual a densidade, a centralidade da rede das cooperativas e verificar dentre elas aquelas que são mais conectadas, ou seja, aquelas que são mais fortes na rede. Saber qual o nível e características das relações sociais entre as cooperativas e se aquelas que são centrais realmente desempenham este papel.

Cada cooperativa recebeu o nome de um carro, com o objetivo ético de ocultar o nome real. O sociograma foi montado a partir do questionário de 102 questões e dentre elas uma questão solicitava que o respondente informasse as 3 primeiras cooperativas, por ordem de importância, com que ele mantinha contato. Após coleta dos dados e transportados para o software Ucinet, iniciou-se o processo de análise e construção das medições dos eventos da rede.

Dos 21.904 laços possíveis de construção na rede de 148 cooperativas citadas, somente 275 foram efetivados. Isto demonstra quão baixo é o nível de relacionamento das cooperativas pesquisadas. Aqui também dá para se comprovar o que foi percebido pelo teste do DSC (Discurso do Sujeito Coletivo) que apontou a insatisfação dos dirigentes com o baixo contato entre as cooperativas e também pelo postulado por Antonialli (2000), ao afirmar que as cooperativas estão isoladas no mercado . Isso dificulta o fluxo das informações, pois se não há contato, perde-se muito do capital social (BURT, 1992; GRANOVETTER, 1973, COLEMAN, 1988; et al.). Pois, de acordo com vários autores citados no referencial teórico, dentre eles Granovetter (1973) e Burt (1992), aquelas empresas que estabelecem redes consistentes ou maiores, podem ter acessos às informações preciosas e transformá-las em resultados econômicos positivos para si mesmas. O que parece não acontecer com força total nas cooperativas. Talvez aí esteja um ponto a ser trabalhado, pois o que se nota novamente é a verdade levantada por Antonialli (2000), as cooperativas estão isoladas e portanto, perdendo competitividade. Isto está claro também quando nota-se no mercado o grande índice de cooperativas com problemas de longevidade ou mesmo com sérios problemas financeiros. Por estarem isoladas, sem trocas de informação, sem inovação, padecem e morrem. Pelo resultado da sociometria nota-se que embora existam poucas empresas fazendo ou participando da rede social, existem certas cooperativas que estão bastante ativas neste meio, podem-se citar: Captiva, A20, Siena, L200, Livina, Civic, Marea, MG tur, S10, Sandero, Novo gol, Caravam, Ipanema, Prisma, Celta e Ducato. Portanto, pela posição que estão ocupando e de acordo com o defendido por vários autores no referencial teórico dentre eles Burt (1992); Granovetter (1973), Coleman (1988), dentre outros, estas cooperativas podem estar tendo uma vantagem

competitiva maior do que seus pares, por estarem desempenhando um papel central na rede, recebendo e enviando informação, ou mesmo controlando que informação deve ser passada. De acordo com os autores pesquisados, Wasserman e Faust (2007), Coleman (1988), Lin (1999), Burt (1992) dentre outros, atores com valores de centralidade maior que a média, são os mais importantes na rede, por serem considerados os mais centrais e por serem corretores de informação. Nesta rede de cooperativas pesquisada, somente 49 atores apareceram como conectores centrais. Dentre os atores mais centrais, destacam-se aqueles com maior percentual tanto do grau de entrada como o de saída, conforme citado acima.

O grau de saída (outdegree) indica aquelas cooperativas que realizam mais contatos, elas têm maiores capacidades de se comunicarem com as demais, portanto, podem ser mais eficazes na absorção e divulgação de conhecimento (WASSERMAN; FAUST, 2007; GRANOVETTER, 1973). Tomando-se o montante de cooperativas, nota-se uma grande concentração de graus de saída em 6 cooperativas, àquelas que têm maiores chances de iniciarem os contatos. São: Captiva, A20, Blazer, Vectra, Bonanza e Agile.

Considerando os autores, (WASSERMAN; FAUST, 2007; GRANOVETTER, 1973; BURT, 1992) e os demais apontados no referencial teórico, estas cooperativas possuem maiores chances de sucessos, pois comunicam mais, têm mais acesso à informação, portanto, com maiores chances de inovação. Mesmo praticando ou pertencendo a uma rede, deve-se saber tirar proveito da mesma Coleman (1988), Lin (1999), Burt (1992) dentre outros. Portanto, saber operar uma rede é tão importante quanto construí-la, pois caso contrário, sucederá o que aconteceu com certas cooperativas que estavam na rede, mas não a operavam adequadamente. Isto ocorreu com a cooperativa Captiva, que tem um grande grau de entrada (indegree), entretanto não expede comunicação, é passiva, fechada. Não poderia iniciar um processo de aglutinação de um grupo, pois demonstra pelos dados, que ela não pode dar continuidade as ideias, não é uma difusora de processos.

Talvez exista aqui espaço para a ciência no desenvolvimento da cultura de redes e poderia trabalhar as cooperativas, assim como a Captiva, que tem uma posição privilegiada, mas talvez não tire proveito suficiente da rede por não controlar ou emitir informação para as demais.

A fragilidade do sistema das cooperativas em termos de isolamento é tão real que existem cooperativas totalmente desconectadas do sistema, que são aquelas que estão fora da rede: F1000, Fiesta, Fusion, Galaxie, Ka, Veloster, Santa Fé, Pajero, Frontier, e 206.

Percebe-se pelo sociograma e pela pesquisa qualitativa que há um processo natural de interconexão das cooperativas, ainda que frágil, há também uma angústia dos

dirigentes que entendem ser este processo de suma importância para a sobrevivência do setor, mas lhes faltam tecnologia de como construir tal ferramenta. Alguns pontos levantados por eles foram: iniciativa, insegurança quanto à confiança, disputas internas, a busca por poder de alguns dirigentes, etc. Talvez um trabalho coordenado pelos órgãos representativos do setor, as OCEMG’s de cada estado ou mesmo a OCB, poderiam habilitar os dirigentes das cooperativas sobre como construir e operar uma rede social interorganizacional.

Outro ponto importante que poderia acontecer seria as universidades começarem a colocar em seus planos de ensino a disciplina rede social interorganizacional, não como um tópico da administração, mas sim como uma cadeira. Aí sim, ter-se-ia a ciência contribuindo sobremaneira com o mercado, disponibilizando mais uma ferramenta para os administradores tornarem-se mais capazes de criar uma vantagem competitiva sustentável.

4.4.3 Discussão sobre o Modelo Teórico Validado pela Análise de Equações Estruturais

O desenvolvimento do modelo teve como suporte teórico todo o referencial que fora elaborado de acordo com os artigos e livros dos autores citados nas referências. Aprofundando nas pesquisas dos referidos autores, dentro do conceito de rede social e seus elementos, pôde-se extrair o que pode ser considerado os sustentáculos da base do capital social defendida por eles. A partir de então, montou-se um modelo teórico, que serviu de norte para toda preparação do trabalho de campo. Iniciou-se todo o processo de preparação para coleta de dados seguindo várias exigências da ciência quanto: ter claro o que buscar de informação para responder ao modelo teórico em questão, objetivo, consistência com o modelo, etc. Além do referencial teórico, apoiou-se na pesquisa qualitativa, que tornou mais claro o que e como abordar as questões do futuro questionário e ainda sanou algumas dúvidas até então existentes quanto ao conteúdo das perguntas. A qualitativa teve como método um novo processo o de Lefrève e Lefrève (2003), que gerou os dados para a certificação e validação do questionário da quantitativa para validar o modelo teórico. Com este processo, construiu-se o questionário, que após todo o procedimento que determina à estatística, foi enviado e coletado e em seguida as informações tratadas. Após este processo desenvolveu-se toda a estatística para a validação do modelo em questão. A estatística utilizada foi a Modelagem de Equação Estrutural (MEE) ou Análise de Equações Estruturais (AEE) ou ainda SEM (Strcutural Equation Modeling).

O porquê de se usar esta técnica: esta técnica é um somatório com resultado multiplicativo da análise fatorial e regressão linear, pois considera o efeito do erro envolvido

na análise das variáveis. A AEE permite analisar um conjunto de variáveis ao mesmo tempo e ainda avaliar o erro envolvido nas mesmas. Trata-se de uma técnica robusta para avaliar variáveis latentes, aquelas que não são observáveis diretamente, como já definido anteriormente. A AEE é um processo que exige uma série de verificações para apurar e ajustar o modelo, pois o modelo foi concebido através de uma abordagem teórica, resta prová- lo através da pesquisa empírica. Ajustado o modelo, verificados os ajustes, para o qual eliminaram-se aquelas variáveis que não contribuiam para tal, obteve-se o modelo final. O modelo só é gerado, se atendido os pressupostos do mesmo. Muitos são os indicadores para a verificação confiabilidade e qualidade do ajuste. O software utilizado foi o Amos 20.