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1 INTRODUÇÃO

2.1.6 O mercado de leite no Brasil

O ramo agropecuário tem passado por importantes transformações desde o início da década de 1990. Nesse contexto, a pecuária leiteira tem tido um processo de reorganização que pode aumentar sua competitividade frente à concorrência externa. O setor tem vivenciado a desregulamentação após 45 anos (1945 a 1990) de rigoroso controle governamental no mercado de leite fluido, o lançamento de novos produtos e derivados, a conformação do MERCOSUL e a abertura comercial generalizada (OLIVEIRA, 2005).

Contudo, a produção leiteira cresceu nos últimos anos e tem se destacado entre os variados produtos do agronegócio brasileiro. Pode-se dizer que algumas características marcantes do território nacional contribuíram para esse fato, dentre elas:

Uma característica que difere o Brasil de outros países é o fato de a nossa produção leiteira estar presente em todas as regiões, estados e municípios do país. (...)

Um dos principais fatores que diferem o Brasil dos demais países produtores de leite do mundo é a sua estrutura fundiária, extremamente ampla e fragmentada, o que dificulta a organização e a formulação de políticas públicas voltadas ao setor. No entanto, as boas condições naturais (temperatura, água e intensidade de radiação solar) do Brasil fazem com que o custo de produção seja relativamente baixo, o que torna a atividade leiteira bastante competitiva no mercado internacional.

Outro fator que faz do Brasil um produtor de leite em potencial é o perfil de consumo de leite por parte da população, ainda bastante baixo com relação aos europeus e americanos, mas com real possibilidade de crescimento, o que fortalece o mercado interno. (CARVALHO, 2011, p. 01)

Esses fatores favoreceram o crescimento da produção, o melhoramento do rebanho, a fiscalização, a melhoria na qualidade dos serviços dos produtores, os investimentos no setor, além da implementação de novas tecnologias.

Diante desses fatores, observa-se um crescente aumento na produção de leite no país. Em 2009, o Brasil produziu 29,8 bilhões de litros de leite. Em um setor que depende de escala, o consumo interno é muito importante. Em média, os brasileiros consomem 28 litros de leite líquido por ano (ABLV, 2010).

Segundo dados do Portal do Agronegócio (2011, p. 01), “o mercado brasileiro de leite e produtos lácteos faturou, em 2010, R$ 44,5 bilhões. Esse número representa um crescimento de 17,1% em relação a 2009, quando foram registrados R$ 38 bilhões”.

Já analisando a quantidade de litros consumida no Brasil, Rubens (2011) afirma que:

Em 2010, cada brasileiro consumiu a média de 161 litros, entre produto in natura e derivados, demanda de 32 bilhões de litros/ano. Já a oferta não cresceu na mesma proporção, para 30 bilhões de litros no ano passado, o que obrigou o País a importar leite para completar o abastecimento interno. (...) A produção de leite inspecionada cresceu 7% em 2010 em relação a 2009, totalizando 20,966 bilhões de litros. Foi uma alta considerável, pois entre 2008 e 2009 a alta foi de 1,6%. (RUBEZ, 2011, p. 01)

O crescimento da demanda propiciou a indústria de laticínios um intenso processo de reestruturação em direção à concentração. Segundo Vilela (1998), 54% do leite inspecionado no mercado nacional é comprado por apenas dez empresas, sendo que este tem mostrado uma crescente participação de multinacionais. Sobre esse assunto, Alencar e Andrade (2002) apontam que:

Trabalhos mais recentes realizados no estado de Minas Gerais por Antonialli (2000) e Santos (2000) apontam a permanência dos problemas de gestão, apesar de as cooperativas estudadas se encontrarem em um ambiente bastante competitivo, com tendência de queda de preços e demanda por produtos menos elaborados (leite pasteurizado e manteiga) e aumento de demanda por bebidas lácteas.

As cooperativas têm como concorrentes empresas de grande expressão no mercado de produtos lácteos, como Parmalat, Nestlé, Danone etc., o que, segundo Santos (2000), requer das organizações postura competitiva envolvendo estruturas organizacionais dinâmicas, alto grau de especialização da mão de obra e gestão profissional. No entanto, esse autor observou que as características 'grau de especialização dos gestores', 'componente administrativo', 'tipos de controle' e 'existência de planos' nem sempre correspondiam, nas cooperativas estudadas, às exigências de situações altamente competitivas e instáveis que requeriam gestores com alto grau de especialização, componentes administrativos relativamente pequenos, controle fundamentado no conhecimento e planejamento de curto, médio e longo prazo.

O grau de especialização da mão de obra era, de modo geral, baixo e as pessoas mais qualificadas não eram especializadas nas áreas em que atuavam ou não haviam recebido treinamento.

Antonialli (2000) identificou que as cooperativas estudadas apresentavam dificuldades para competir com os grandes laticínios, principalmente os multinacionais. (ALENCAR; ANDRADE, 2002, p. 33)

O Brasil tem sido um grande importador de leite, como a produção tem aumentado e o consumo interno não está crescendo na mesma proporção, o país tem grandes chances de vir a ser um exportador de leite. Uma das metas do setor é aumentar a produtividade das vacas leiteiras brasileiras, que produzem em média 1.500 litros de leite/ano, enquanto uma vaca americana produz 8.500 litros/ano e 6.700 litros/ano, uma inglesa. O Brasil tem o segundo maior rebanho leiteiro do globo, com 15,3 milhões de cabeças (CNA, 2009).

Segundo dados do CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil –, nos últimos anos pode-se observar uma grande concentração de produção em volume por produtor. Percebe-se com isso que os dirigentes de cooperativas precisam estar mais preparados, melhorando seu planejamento estratégico, favorecendo vantagem competitiva para a organização, evitando perdas de seus fornecedores de leite fluido e minimizando os impactos com a concorrência (CNA, 2009).

As exigências do mercado do leite no Brasil fizeram com que houvesse um expressivo crescimento na modernização do sistema. Observou-se nos últimos anos uma significativa diferença na produção de leite no Brasil, com a antecipação pelo setor de produção de novas tecnologias, capazes de transformar a matéria-prima leite em produtos mais especializados, atendendo a nichos de mercados mais específicos (CNA, 2009).

Assim, a adoção de técnicas modernas de gestão, a utilização de tecnologias de produção adequadas à realidade de cada região, o desenvolvimento de novas tecnologias, capazes de transformar a matéria-prima leite em produtos mais especializados, são elencados como ferramentas essenciais para o crescimento e a competitividade no mercado de leite.

Dessa forma, o gerenciamento da cadeia do leite, que vai desde o produtor até o consumidor final, é essencial para um maior conhecimento do tipo de estratégia que deverá ser elaborada para favorecer o crescimento do leite no mercado brasileiro. Assim, faz-se necessário, na figura 01, descrever a produção de leite, que vai do produtor rural, fornecedor de matéria-prima que encaminha o produto para a industrialização, até seu beneficiamento, com a produção de derivados de diversos tipos. Todo esse processo, atrelado ao uso de tecnologias, visa ao melhoramento do produto final e ao atendimento da demanda de mercado.

Figura 01: Cadeia de produção – leite e seus derivados

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Leite Longa Vida/IBGE/CNA (2009)

Sobre os produtos descritos acima, o Portal do Agronegócio (2011) descreve a situação de alguns deles no mercado atual:

O segmento da cadeia do leite e derivados que mais cresceu em 2010 foi dos produtos informais (+35,1%), em função da ampliação dos preços médios, seguido pelo de queijos e requeijão (+24,1%) e pelo leite em pó (+22,7%). Já o crescimento do leite longa vida (+5,1%) acompanhou a inflação, mas seu faturamento ficou em primeiro lugar entre os produtos sob inspeção. O leite pasteurizado foi o único segmento que apresentou queda de faturamento (- 3,3%). (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2011, p. 01)

Vê-se que é importante que a cadeia do leite trabalhe de uma forma integrada entre os seus elos. Os produtores fornecendo matéria-prima de qualidade, a indústria beneficiando o leite e criando produtos que atendam à demanda do mercado, com preços acessíveis, um sistema rápido de distribuição, capaz de evitar desperdícios, atrasos, para que o produto chegue até o seu consumidor final em condições favoráveis para o consumo.

A introdução do leite UHT mudou os canais de distribuição do leite no Brasil e no mundo. O leite longa vida inclui desnatados, enriquecidos, especiais, bebidas lácteas, composto alimentar e esterilizados, e não os aromatizados. Segundo Barros et al. (1992), a produção comercial brasileira de leite longa vida iniciou-se em 1972, com um volume da ordem de 1 milhão de litros. Desde então, a expansão da produção desse tipo de leite fluido

tem mostrado tendência de crescimento, concentrando-se principalmente em Minas Gerais, São Paulo e Bahia.

A partir de 1990, o crescimento da produção de leite longa vida no Brasil tornou- se mais acelerado. De 1990 para 1993, o crescimento da produção do leite ultrapasteurizado foi de aproximadamente 110%. Para o período de três anos, compreendendo 1990 a 1994, essa taxa foi de aproximadamente 312%, o que significa que a produção quadruplicou nesse período. Obviamente, para que isso pudesse ocorrer em tão pouco tempo, particularmente nos primeiros anos da década, uma grande capacidade ociosa deveria existir nas indústrias. A produção vem numa crescente de 5% ao ano: em 2009 foi de 5,262 bilhões de litros (ABLV, 2010).