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Capítulo 1. Introdução

1.4. Investigação arqueométrica de pigmentos

1.4.1. Análise estatística dos estudos arqueométricos de pigmentos pré-históricos

Com o desenvolvimento da investigação surgiu a necessidade de recolher e compilar todas as informações e estabelecer relações entre: os sítios, os estudos e métodos de caracterização de pigmentos e as técnicas de preparação adotadas.

Nesta base-dados bibliográfica, foi dada relevância aos campos: natureza dos colorantes, proveniência das matérias-primas, técnicas de preparação, relações entre os resultados e colorações e a conservação e a inclusão de componentes orgânicos e a sua dispersão geográfica e cronológica.

Das cerca de 650 referências intituladas “análise de pigmentos pré-históricos”, depois de estudo estatístico cuidado (Fisher, 1970), permitiu estabelecer algumas considerações; sendo primariamente excluídos desta análise estatística, cerca de 120 publicações que remetem a estudos de épocas mais recentes, sendo reclassificados como “análise de pigmentos recentes”; cerca de 80 publicações referem-se a análises de ocres, 70 relativas a datações na arte rupestre; 50 relacionadas com conservação de arte rupestre (Gráfico 1a).

Gráfico 1. a) Publicações relacionadas com estudos arqueométricos de pigmentos. b) Cores dos pigmentos.

Nas publicações que registam detalhadamente as técnicas de análise de pigmentos de arte rupestre pré-histórica (Gráfico 1b); reconheceram-se cerca de 200 relacionadas com pigmentos vermelhos, 100 relativas a análise de pigmentos pretos, 30 brancos e cerca de 25 em outras colorações (amarelo, azul e verde).

Da análise de resultados dos pigmentos vermelhos (Gráfico 2a), pode constar-se que 140 apontam a hematite como constituinte primário dos pigmentos vermelhos, em 3 amostras hematite pura; 4 em mistura com manganês; 3 registam a presença de magnetite, 23 goethite (onde em 3 destas se reconhece o aquecimento desta); e em outras uma mistura desta com outros componentes (calcite, quartzo e argilas). Também se reconhece o cinábrio em algumas amostras (curiosamente associadas a pigmentos de cronologias do período Neolítico e do calcolítico); Como óxidos de ferro (19) e a maioria em associação com outros componentes

53 (aluminossilicatos, ácidos gordos) Estes resultados estão claramente associados ao dispositivo de análise (DRX e técnicas de análise de componentes orgânicos - CG); somente 7 apresentam ferro como resultado em que 2 estão em associação com argilas e 1 com a calcite; 8 apresentam o resultado como sendo ocre (vermelho ou amarelo).

Gráfico 2. a) Composição pigmentos vermelhos na pré-história. b) Ligantes identificados nos pigmentos vermelhos na pré-história.

Relativamente aos ligantes identificados (Gráfico 2b), 3 publicações reconhecem a presença de ácidos gordos, em 4 a gordura animal, em 4 as argilas, em outras 4 a calcite e 3 apresentam sulfatos; 1 identificam haste de veado, 5 reconhecem carvão; 2 carbono amorfo; 3 apontam carbonatos, 3 cálcio, e 2 com cera de abelha, 2 com gesso, 6 com quartzo, 4 com manganês. Foram também reconhecidos outros elementos porém atribuídos a acreções (pois resultam da alteração ou acumulação de materiais sobre os painéis pintados (wheweliite, wedellite, oxalatos de cálcio, potássio e fosforo).

Relativamente às técnicas de análise (Gráfico 3) é de salientar a vasta aplicação do Raman, com cerca de 50 publicações, a Difração Raios X em cerca de 30; em 25 aplicaram microfluorescência de raios X; FTIR com 6 referências da sua aplicação; PIXE (6); 5 cromatografia gasosa; 6 utilizaram a espectrometria de massa; 7 as análises químicas e em cerca de 15 outras técnicas bastante específicas (isótopos, hemoglobina, aminoácidos, metil- esteres…); Cerca de 10 publicações relacionadas com técnicas de 14

C, sendo o método recorrente para a realização de datações absolutas, ressalva-se que foram excluídas da análise estatística; a maioria das publicações que remetiam para datações de arte rupestre. Algumas das publicações mais recentes apresentam no entanto resultados com aplicações multiproxis (utilização e comparação de resultados de várias técnicas arqueométricas).

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Gráfico 3. Métodos arqueométricos aplicados nos estudos de pigmentos pré-históricos.

Cronologicamente 100 publicações referem-se a pinturas do Paleolítico, 55 ao Pós- Paleolítico, 11 a pinturas associadas a comunidades aborígenes recentes.

Por países a dispersão das publicações é também curiosa (Gráfico 4): 88 em Espanha (maioritariamente na região da Cantábria e das Astúrias), 25 em França, 30 na América do Sul, 14 no Brasil, outras na Bolívia, Chile, Argentina, Guatemala, 7 em Itália, 6 em África (Angola, Etiópia e Líbia), 9 na África do Sul, 11 na Austrália, 5 na América do Norte, 3 em Portugal e ainda outras em Timor, Bornéu e Patagónia. Relativamente á data de publicação destes resultados (Gráfico 4): 6 publicações de antes de 1990, 23 entre os anos 1990-1999; 94 entre os anos 2000-2009; 78 entre 2010 e 2015, comprovando-se o incremento de estudos analíticos em pigmentos nas últimas décadas.

Gráfico 4. Distribuição por país e data de publicação referentes a análises arqueométricas em pigmentos pré- históricos.

Para os pigmentos pretos (Gráfico 5a), reconheceram-se cerca de 100 publicações, onde cerca de 48 apresentam como resultado - o carvão (vegetal, osso queimado, amorfo), 30 são compostas somente por manganês, (onde em 5 se identifica a pirolusite - dióxido de Mn), 10 mistura de carvão com óxidos de manganês, e 5 com misturas de óxidos de ferro e manganês, 3 contém material carbonatado e em 4 não foi identificada qualquer substância (nem carvão nem Mn).

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Gráfico 5. a) Composição dos pigmentos pretos. b) Ligantes reconhecidos na composição dos pigmentos pretos.

Os ligantes reconhecidos nos pigmentos pretos (Gráfico 5b) resumem-se a inclusões de quartzo, gesso, calcite, e manganês, reconhecidos compostos orgânicos, porém não são identificadas as substâncias; também se identificaram oxalatos (interpretados como acreções posteriores á realização das pinturas).

Do ponto de vista das técnicas de análise aplicadas aos pigmentos pretos (Gráfico 6),

ressaltam-se os analisados por Raman e por DRX, SEM/TEM, EDXRF, AMS -14C, Análises

químicas, ainda outras ressaltam-se por serem aplicadas de forma multiproxi, incluindo mesmo a conjugação de algumas das técnicas supracitadas.

Gráfico 6. Métodos arqueométricos aplicados ao estudo dos pigmentos pretos.

Cronologicamente, 45 são atribuídos ao Paleolítico, 36 a períodos Pós-Paleolíticos. As publicações sobre análises de pigmentos pretos por país indicam cerca de 25 para estudos realizados em Espanha, 26 na França, 13 na América do Sul (4 no Brasil, outros na Argentina e na Guatemala), 3 na Austrália, 3 na América do Norte, 4 em África (Angola e Congo) 3 na África do Sul e ainda outros na Bélgica, Roménia e Nova Caledónia (Gráfico 7). Por data de publicação, 7 publicações anteriores a 1990, entre 1990-1999 (16), entre 2000-2009 (36) e de 2010 a 2015 (40).

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Gráfico 7. Distribuição por país e datas de estudos analíticos em pigmentos pretos.

Relativamente aos pigmentos de cor branca (Gráfico 8a) a variedade dos componentes é notória (mesmo sendo as análises e publicações em muito menor numero, 30 no total): 4 são constituídas por calcite, 6 por caulinite, 4 por gesso, 3 de cera de abelha, outros resultados contêm hematite, manganês, urina animal, clorite e fosfatos, sendo estes constituintes primários dos pigmentos brancos, são apresentados como resultados estranhos.

Gráfico 8. a) Composição dos pigmentos brancos. b) Métodos arqueométricos aplicados ao estudo dos pigmentos brancos.

As técnicas de análise (Gráfico 8b) resumem-se a 10 aplicações de DRX, 9 de Raman, 4 por SEM, 3 com análises químicas, 2 por AMS, e outras 2 por PIXE e por espectrometria de massa. Cronologicamente são maioritariamente associadas a períodos Pós-Paleolíticos sendo somente 3 paleolíticas. Este resultado deverá estar interrelacionado com a própria preservação dos materiais orgânicos.

Por país (Gráfico 9) o resultado é contrastante com os pigmentos vermelhos pois em Espanha somente se reconhecem 4 publicações, em França nenhuma, na Austrália 6, na África Sul (4), América do Norte (3), América do Sul (5), 4 em África (Etiópia, Angola,

57 Mali). Por data de publicação: (2) antes de 1990, de 1990-1999 (7), de 2000-2010 (8), de 2010-2015 (15).

Gráfico 9. Distribuição por país e data de publicação de análises em pigmentos brancos.

Para os pigmentos de coloração amarela (Gráfico 10), somente 11 publicações, em que os pigmentos são compostos essencialmente por goethite, óxidos de ferro não especificados e identificadas misturas intencionais de óxidos. As técnicas de análise por DRX, e por Raman.

Gráfico 10. Composição dos pigmentos amarelos.

Os pigmentos de coloração verde compostos por terras verdes, o azul a uma mistura de carvão e gesso, os violetas a mistura de ferro e manganês, o castanho foi analisado somente em Lascaux, onde foi reconhecida uma argila com óxidos e hidróxidos de ferro.

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