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Capítulo 1. Introdução

1.4. Investigação arqueométrica de pigmentos

1.4.2. Métodos arqueométricos de análise de pigmentos

1.4.2.11. Aparelhos portáteis

A disponibilidade de uma gama de equipamentos portáteis ou móveis é um desenvolvimento importante e recente para a investigação na arte rupestre, alguns já supramencionados.

Permitem a análise in situ, e tem muitas vantagens, do ponto de vista de conservação e de não-agressão são uma vantagem para a amostragem, mas têm limitações no fornecimento estratigráfico adequado (Sanoit et al., 2005; Roldan et al., 2010; Tournie et al., 2011; Lebon et al., 2010, 2011; Moya et al., 2014). Como as análises são realizadas diretamente e em tempo real no local, estas técnicas oferecem a grande vantagem de um trabalho analítico interativo no campo, enquanto o trabalho de laboratório tem de trabalhar com as amostras coletadas. Devido à sua natureza em geral não destrutiva, estas técnicas permitem um aumento do número de pontos de medição e, por conseguinte, oferece uma melhor significância estatística dos resultados. Também pode ser extremamente útil para selecionar os pontos significativos em que se possa coletar uma amostra representativa, para posterior análise laboratorial (Hoerlé et al., 2010).

No entanto, o conceito de "móvel" pode referir-se a diferentes realidades. Para carregar o equipamento numa tranquila sala do museu com acesso a energia elétrica e todas as comodidades necessárias para levar a cabo análises não é o mesmo que estar numa gruta ou num abrigo, que são muitas vezes em áreas remotas, em termos práticos, um cuidado especial deve ser tomado em relação a instalações de apoio necessárias (por exemplo: fornecimento de energia). Equipamentos especiais podem ser intrusivos e o seu uso deve ser planeado em antecedência. Embora extremamente úteis para estudos de arte rupestre, os equipamentos móveis tem os seus próprios problemas. Muitas vezes, são menos precisos do que as versões de “laboratório” da mesma tecnologia. As dificuldades passam também por saber qual é

75 realmente o alvo a analisar e podem também tornar-se problemáticos com as condições de campo. Como por exemplo onde apenas podem ser analisadas as capas de acumulação construídas ao longo do tempo sobre uma pintura e não a própria pintura, ou a pintura e rocha subjacente serão analisados em conjunto, apresentando problemas na interpretação posterior dos resultados.

Por exemplo, na gruta de Maltravieso a identificação da rocha com analises por espectroscopia Raman portátil, dando dois principais componentes, carbonatos como a dolomite (CaMg.(CO3)2) e hidromagnesite ((MG5.(CO3)4.(OH2. 4H2O)). O componente

principal do veio castanho-arroxeado presente na rocha da gruta foi identificado como sendo óxido de ferro sob a forma de hematite (α-Fe2O3). Na parte interna das mãos pintadas em

vermelho, sinais de calcite e fosfatos são apresentados indicando que, provavelmente, que a parte interna da mão teria sido pintada de branco. Infelizmente, o pigmento vermelho não foi possível analisar uma vez que se encontra completamente coberto com uma camada de carbonato de cálcio. Os vários espectros mostram picos de carbonato de cálcio que correspondem a um composto de alteração associada à meteorização, e á percolação de água que dissolve a parede de rocha carbonática e precipita-a como carbonato de cálcio (Martínez- Ramírez et al., 2015).

Apesar da recolha de amostra ser um método invasivo na arte rupestre, para uma ampla gama de técnicas laboratoriais (chamadas de "não destrutivas") a própria amostra não é destruída no processo de análise (Hoerlé et al., 2010), por conseguinte, ser utilizada para várias análises diferentes. Notou-se também que as peças fragmentadas, tal como a arte móvel mantida nos museus, podem ser especialmente adaptados para análises de laboratório, pois não há necessidade de realizar amostragem ou aferir danos adicionais para as peças.

Quando viável, uma combinação de trabalhos de campo com equipamentos móveis e análises laboratoriais em micro-amostras é aconselhável, continuando a ser considerada a melhor opção.

A intervenção de especialistas de diversas áreas científicas (ciências da terra, química orgânica, biologia, entre outros) é geralmente uma necessidade para interpretar os resultados analíticos; isto geralmente leva à necessidade de redefinir constantemente o procedimento analítico.

As técnicas de análise disponíveis para a identificação in situ da composição de pigmentos de arte rupestre são a espectroscopia EDXRF, a espectroscopia Raman e a difração de raios X (Roldán et al., 2006; Smith, 2006a). No entanto, neste momento apenas os

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aparelhos EDXRF fornecem qualidade suficiente, portabilidade, estabilidade, funcionalidade e facilidade de operação para as análises elementares de pigmentos em abrigos rochosos de difícil acesso (Roldán et al., 2010).

Os resultados das análises de materiais da arte rupestre podem ser extremamente complexos devido à grande variedade de possíveis constituintes da pintura original, e as possibilidades de materiais orgânicos são quase infinitas juntando-se-lhe uma lista sem fim de alterações e contaminações. É, portanto, necessário enfatizar que a identificação correta de materiais de arte rupestre se baseia numa abordagem que exige a coleta de impressões digitais dos materiais de referência a partir de locais próximos, a partir de depósitos arqueológicos, ou a partir de experimentos de replicação, que também podem oferecer uma oportunidade de formação e experimentação em técnicas analíticas (Hoerlé et al., 2010).

Os estudos analíticos sobre os ocres e pigmentos de arte rupestre intensificaram-se nas últimas duas décadas com a aplicação de variadas técnicas e como cada método possui um campo de aplicabilidade mais ou menos específico para que a sua utilização seja a mais adequada, é fundamental o conhecimento dos princípios dos fenómenos físicos presentes, as vantagens e, sobretudo, as limitações mais relevantes de cada um deles, de forma a serem criadas as condições necessárias para a sua aplicação, como por exemplo a análise por espectroscopia FTIR (Bikiaris et al., 1999), análises magnéticas e voltamperimétricas (Grygar et al., 2001), difração de raios X (Clark e Curri, 1998; Pomiés et al., 1999; Mazzocchin et al., 2003; Boulc´h e Hornebeq, 2009); parâmetros de minerais magnéticos (Mooney, 2003), microfluorescência de raios X, (Faria e Lopes, 2007), espectroscopia Raman (Clottes, et al., 1990; Edwards et al., 2000; Frost, 2003, 2004; Ospitali et al., 2006; Hernanz et al., 2006, 2008, 2010, Hanesh, 2009; Rosina et al., 2013, 2014ª,b, Gomes et al., 2013a, 2015 entre outras).

O objetivo geral desta tese é construir uma base de conhecimentos e resultados sobre a composição dos pigmentos pré-históricos, com particular foco no ocidente da Península Ibérica (Portugal e Extremadura Espanhola) confrontando com alguns sítios do Brasil, Angola e Etiópia. O alargar dos casos de estudo permite ter uma panóplia mais ampla de resultados que podem derivar seja da disponibilidade da matéria-prima que da escolha cultural como também das diferentes condições de conservação (este último sobretudo no que diz respeito às substâncias orgânicas).

O objetivo é assim determinar a relação entre os materiais utilizados nos pigmentos e os processos de preparação a que foram sujeitos para a obtenção de uma maior diversidade

77 cromática, as receitas dos pigmentos, a proveniência das matérias-primas, a tecnologia para a sua produção e a possível utilização de materiais orgânicos como aglutinantes. Pretende-se assim compreender toda a cadeia operatória das pinturas rupestres pré-históricas, a amplitude de possibilidades é diversa e complexa mas deveras importante na compreensão de todo o processo de preparação e manuseio dos pigmentos até à sua aplicação no suporte rochoso.