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2.2: Análise da evolução industrial paulista no período e evidências de sua desindustrialização.

Feitas algumas considerações sobre o processo de desconcentração industrial e das perdas relativas de São Paulo no VTI nacional, há mais indicadores que sugerem um processo de desindustrialização no estado. Assim como na indústria nacional, há uma evidência notória da desindustrialização paulista na análise da produção industrial efetivamente adicionada pela indústria paulista, vale dizer, a proporção de valor agregado no total da produção no período sugere a mesma substituição de insumos nacionais por importados, com a redução dos valores adicionados internamente. Para examinar isto, utilizaremos novamente a relação entre VTI (Valor da Transformação Industrial) e VBPI (Valor Bruto da Produção Industrial).

Cabe aqui, mais uma vez, lembrar das dificuldades metodológicas para analisar a indústria paulista no período. Primeiramente, os dados da PIA-IBGE só começaram a ser coletados em 1996, primeiramente segundo a CNAE 1.0 e, a partir de 2007, segundo a CNAE 2.0. Assim como no primeiro capítulo, traremos aqui as informações organizadas pela classificação CNAE 2.0. Como até julho de 2015 o IBGE não divulgou uma compatibilização entre as CNAEs 1.0 e 2.0 a três dígitos nem atualizou sua tipologia por intensidade tecnológica (ou seja, o porcentual de investimentos em P&D em relação às vendas brutas – a última atualização foi em 2003), este trabalho seguirá a metodologia de conversão dos valores em CNAE 1.0 para 2.0 entre 1996 e 2006 proposta por Sampaio (2015) e a tipologia por intensidade tecnológica da OCDE. Ver o apêndice metodológico 1.1 a este respeito. Igualmente, repetiremos a análise de intensidade tecnológica com a inclusão do grupo de “média baixa intensidade tecnológica sem Refino de Petróleo" – MBIT sem RP – para também verificar o desempenho da indústria sem a participação desse segmento “outlier”, conforme explicado no primeiro capítulo.

Assim como já observado no gráfico 13 (p.48), São Paulo apresentou uma queda profunda na agregação de valor da sua indústria da transformação, ainda pior que a queda brasileira – de 48,2% em 1996 para 42,6% em 2013. Assim, reverteu-se a vantagem paulista na agregação média de valor da sua indústria da transformação, que

era 1,5 p.p. maior que a média nacional em 1996, mas era 0,5 p.p. inferior à nacional em 2013. O desempenho segundo a tipologia de intensidade tecnológica da OCDE também se destaca negativamente em alguns pontos. Em todos os segmentos a queda da relação VTI/VBPI foi maior em São Paulo do que no país (com exceção da categoria modificada MBIT sem RP, que caiu ínfimos 0,1 p.p. a menos que o nacional), principalmente nos ramos de baixa intensidade tecnológica, com queda 3,1 p.p. superior, e média baixa intensidade tecnológica, com queda 2,2 p.p. superior.

Os segmentos que concentraram a queda de agregação de valor foram os de alta intensidade tecnológica, que despencaram de 53,4% em 1996 para 41,7% em 2013; e os de média alta intensidade tecnológica, que caiu de 44,4% para 37,1% entre 1996 e 2013. Ao passo que as atividades de baixo conteúdo tecnológico aumentaram sua participação de 41,2% para 41,9% e as de médio baixo conteúdo diminuíram de 50,9% para 50,4% no mesmo período, quando analisamos a categoria modificada “MBIT sem RP”, percebe-se uma queda muito mais acentuada nessa última categoria, indo de uma agregação média de valor de 51,2% para 42,3% no período, uma queda superior à de média alta intensidade tecnológica. A queda generalizada da agregação de valor no estado de São Paulo pode ser vista no gráfico 16.

Não obstante a maior intensidade da redução de agregação de valor, ainda assim o estado apresentou, em 2013, uma relação VTI/VBPI maior para os segmentos de alta intensidade tecnológica (46,3%, contra 41,7% nacionalmente) e de baixa intensidade tecnológica (43%, contra 41,9%), além do segmento modificado de média baixa tecnologia sem o refino de petróleo, que também apresentava agregação maior que a média nacional (43,2% contra 42,3%) devido a um peso ligeiramente menor do setor de refino de petróleo na indústria paulista do que na nacional. Apesar do menor peso, no entanto, a diferença entre a divisão das atividades de média baixa tecnologia com e sem refino de petróleo para o estado de São Paulo é expressiva, sendo de 5,9% em 2013 (contra uma diferença de 8,1% nacionalmente no mesmo ano). É preciso reforçar novamente que os aumentos dos valores de VBPI e de VTI desse segmento se basearam nos grandes aumentos em seus preços internacionais – o quantum

produzido no estado de São Paulo27 em 2013 foi apenas 25% maior que em 1996, contra um VBPI 787,6% maior e um VTI 1058,6% maior! Como resultado, em 2013, as atividades de refino de petróleo representavam 11% do VTI do estado de São Paulo, ao passo que nacionalmente elas representavam 14,3%.

Assim como na indústria nacional, predominava entre os ramos industriais que mais perderam agregação de conteúdo nacional em sua produção bruta os ramos de alta e média alta intensidade tecnológica. Assim, fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, de alta intensidade, diminuiu sua relação VTI/VBPI de 52,7% em 1996 para 35,7% em 2013, ao passo que fabricação de máquinas e equipamentos, fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e fabricação de produtos químicos, todos de média alta intensidade tecnológica, diminuem sua relação VTI/VBPI de 56,1%, 51,2% e 43,8% em 1996, respectivamente, para 42,6%, 39,8% e 32,8% em 2013. Ademais, a metalurgia e a fabricação de veículos automotores, ambos de média baixa tecnologia, também sofreram com uma queda considerável de agregação de valor nesse período, indo de 42% e 40,1% para 33,4% e 34,4%, respectivamente.

Gráfico 16: Relação VTI/VBPI da indústria da transformação paulista por intensidade tecnológica entre 1996 e 2013 (%). 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60%

AIT MAIT MBIT MBIT sem RP BIT

Fonte: IBGE: Pesquisa Industrial Anual.

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Nota: De 1996 a 2006, valores compatibilizados a partir da CNAE 1.0 segundo metodologia de Sampaio (2015). Ver apêndice metodológico 1.1 a esse respeito.

MBIT sem RP = média baixa intensidade tecnológica sem Refino de Petróleo Vale ressaltar, também, o bom desempenho nesse indicador do refino de petróleo e da produção de biocombustíveis (que possui alta importância na dinâmica territorial do estado de São Paulo, em que pese uma participação no VTI menor que 2%), ambos de média baixa intensidade tecnológica e que aumentaram de 51,2% e de 41,2% para 72,2% e 44,8% suas relações VTI/VBPI no período, respectivamente, juntamente com a confecção de artigos do vestuário e acessórios e couros e seus artefatos, de baixa intensidade tecnológica, que aumentaram, respectivamente, de 38,9% e 43,7% para 48,4% e 47%.

Além de derivados de petróleo e manutenção e reparação de máquinas e equipamentos – que constituem serviço, e não propriamente indústria –, das 30 divisões e grupos industriais discriminados por intensidade tecnológica pelo OCDE, apenas outros seis aumentaram sua relação VTI/VBPI. Nenhum setor de alta tecnologia aumentou sua agregação média de valor e de média alta intensidade, além de serviços manutenção, reparo e instalação, apenas a fabricação de outros equipamentos de transporte aumentou sua relação (embora um de seus principais ramos, fabricação de aeronaves, tenha caído de 52,4% para 47,1%). É digno de nota negativa, enfim, que os segmentos que menos agregavam valor no estado de São Paulo em 2013 são a fabricação de produtos químicos (32,8%), metalurgia (33,4%), veículos automotores (34,4%) e equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos (35,7%). Esses segmentos somados representavam 28,3% do VTI total do estado de São Paulo em 2013, ao passo que veículos automotores e produtos químicos representaram sozinhos 21,2%!

Gráfico 17: Participação no VTI da indústria da transformação paulista por intensidade tecnológica entre 1996 e 2013 (%) 05% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

AIT MAIT MBIT MBIT sem RP BIT

Fonte: IBGE: Pesquisa Industrial Anual.

Nota: De 1996 a 2006, valores compatibilizados a partir da CNAE 1.0 segundo metodologia de Sampaio (2015). Ver apêndice metodológico 1.1 a esse respeito.

MBIT sem RP = média baixa intensidade tecnológica sem Refino de Petróleo A participação das atividades agregadas por intensidade tecnológica no VTI total paulista pode ser observada na tabela 24 e no gráfico 17. Note-se novamente o hiato formado entre as categorias de média baixa intensidade tecnológica com e sem refino do petróleo (linhas roxa e laranja), que mostram o tamanho desse segmento “outlier” na participação no VTI estadual. Dentre as 24 divisões da indústria da transformação da CNAE 2.0, os aumentos de participação no total do VTI do estado ficaram concentrados em quatro grupos. Primeiramente, fabricação de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, que praticamente dobra, indo de 6,1% para 12,4% no período, sendo que os produtos derivados do petróleo sobem de 4,4% para 11% (quase triplica) e biocombustíveis, incluindo o álcool, caem de 1,7% em 1996 (e de um pico de 2,4% em 2008) para 1,4% em 2013; Igualmente, produtos alimentícios, setor ligado aos produtos primários e com ótimo desempenho exportador, que se eleva de uma participação de 11,6% em 1996 para 14,4% em 2013, apesar de uma redução na sua relação VTI/VBPI de 44,6% para 41,4%.

Tabela 23: Relação VTI/VBPI da indústria da transformação paulista por intensidade tecnológica entre 1996 e 2013 (%).

Ano AIT MAIT MBIT MBIT

sem RP BIT 1996 58,3% 45,3% 51,8% 51,9% 45,4% 1997 53,9% 44,2% 51,2% 51,4% 45,1% 1998 50,1% 43,9% 52,1% 50,6% 42,8% 1999 45,0% 41,7% 54,6% 51,1% 43,8% 2000 44,1% 40,4% 53,2% 47,0% 41,4% 2001 44,6% 39,5% 52,2% 46,5% 40,9% 2002 48,2% 39,4% 52,9% 46,8% 39,4% 2003 45,3% 37,7% 51,1% 45,0% 39,3% 2004 42,1% 36,7% 51,4% 47,0% 38,6% 2005 44,3% 34,9% 51,8% 46,0% 40,1% 2006 47,6% 35,9% 50,0% 44,7% 40,9% 2007 45,3% 36,9% 47,4% 42,8% 40,8% 2008 43,7% 37,6% 47,6% 43,1% 41,1% 2009 42,2% 39,4% 48,7% 43,9% 42,7% 2010 44,6% 39,5% 49,0% 43,0% 43,9% 2011 44,2% 39,7% 50,3% 43,7% 43,8% 2012 44,8% 38,9% 49,1% 43,7% 43,2% 2013 46,3% 36,8% 49,1% 43,2% 43,0%

Fonte: IBGE: Pesquisa Industrial Anual.

Nota: De 1996 a 2006, valores compatibilizados a partir da CNAE 1.0 segundo metodologia de Sampaio (2015). Ver apêndice metodológico 1.1 a esse respeito.

Tabela 24: Participação no VTI da indústria da transformação paulista por intensidade tecnológica entre 1996 e 2013 (%).

Ano AIT MAIT MBIT MBIT

sem RP BIT 1996 10,1% 34,7% 30,1% 25,7% 25,2% 1997 10,6% 34,6% 30,2% 26,5% 24,6% 1998 11,4% 34,3% 30,4% 26,1% 23,9% 1999 12,5% 31,1% 31,8% 24,8% 24,6% 2000 12,6% 29,9% 35,7% 24,7% 21,8% 2001 12,7% 31,0% 33,3% 23,2% 23,1% 2002 11,1% 30,8% 34,4% 23,1% 23,6% 2003 9,1% 31,6% 35,7% 24,2% 23,5% 2004 9,9% 32,4% 35,3% 24,5% 22,3% 2005 9,2% 31,1% 37,4% 25,2% 22,2% 2006 9,8% 31,1% 35,5% 24,1% 23,6% 2007 9,4% 34,4% 33,2% 22,9% 22,9% 2008 9,0% 35,3% 34,0% 23,7% 21,6% 2009 8,0% 35,7% 31,2% 21,9% 25,0% 2010 8,2% 36,5% 30,6% 21,3% 24,6% 2011 7,8% 35,4% 31,0% 20,8% 25,5% 2012 8,7% 34,4% 30,7% 20,7% 25,9% 2013 9,0% 33,7% 32,3% 21,3% 24,7%

Fonte: IBGE: Pesquisa Industrial Anual.

Nota: De 1996 a 2006, valores compatibilizados a partir da CNAE 1.0 segundo metodologia de Sampaio (2015). Ver apêndice metodológico 1.1 a esse respeito.

MBIT sem RP = média baixa intensidade tecnológica sem Refino de Petróleo Também fabricação de outros equipamentos de transporte, o qual se eleva de 0,6% em 1996, atinge um pico de 3,0% em 2004 e representava 1,7% do VTI paulista em 2013, que se explica pelo excelente desempenho de fabricação de aeronaves, que aumentou seu VBPI no período em 2298% e seu VTI em 2052% (além de aumentar suas exportações em 1400% no período, gerando um expressivo saldo comercial para o estado, sempre acima dos US$2 bilhões desde 2004). Por fim, manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, que cresce de 0,3% para 1,3% no período.

Os cincos ramos com maior participação no VTI paulista representavam, em 2013, 55,5% do total da indústria da transformação. Além de produtos alimentícios, de baixa intensidade tecnológica e com 14,4% de participação, e de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, de média baixa intensidade tecnológica e com 12,4% de

participação, ambos analisados acima, chama a atenção a participação da fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias, que atinge a terceira maior participação, com 12,1% em 2013, porém 0,7% a menos que em 1996, e que é importante para a dinâmica territorial ao redor da capital paulista (Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba), segundo SEADE (2013). Esta redução se deve à queda de participação na fabricação de automóveis utilitários de 6,2% para 4,2%, queda que foi parcialmente contida pelo aumento de participação na produção de peças e acessórios para veículos (de 5,0% para 5,6%) e de fabricação de caminhões e ônibus (de 1,2% para 1,7%). Como foi visto anteriormente, este foi um dos segmentos que sofreu com maior intensidade a Guerra Fiscal entre os estados, fazendo com que a participação paulista no VTI nacional da produção de veículos utilitários e de caminhões e ônibus caíssem pela metade no período (de 78,8% para 39,5% para o primeiro e de 82,6% para 41,2% para o segundo).

A quarta maior participação, produtos químicos, com 9,1% do VTI paulista em 2013, também sofreu ligeira queda, pois possuía 9,7% em 1996. Por fim, a produção de máquinas e equipamentos, essencial na ampliação do excedente econômico numa economia, possuíam 7,5% do VTI paulista, com uma ligeira alta de 0,4% em relação a 1996, graças ao bom desempenho de máquinas e equipamentos para extração mineral e para construção (de 0,5% para 1,2%) e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária (0,5% para 1,1%), em que pese o mau desempenho de máquinas e equipamentos para uso industrial específico (que diminui sua participação de 1,7% para 0,9%). Contudo, esse aumento de participação se deu em detrimento de uma queda significativa na agregação de valor, mencionada acima, de 56,1% para 42,6%, ou seja, ocorreu mais em virtude do aumento da expansão do valor bruto da produção (de 537% no período) do que do seu valor transformado industrial (de 332%).