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1.3: Evidências empíricas da desindustrialização brasileira.

Como consequência desse modelo de gestão macroeconômica, reforçou-se a especialização produtiva da indústria da transformação, perdendo mercados externos devido à falta de competitividade forçada pelo cenário macroeconômico e perdendo enorme parcela do mercado interno para importações justamente no período de retomada do crescimento econômico após 2003 (FIESP, 2015, p.8), motivo pelo qual o crescimento da indústria da transformação foi de apenas metade do crescimento do PIB. Destarte, o coeficiente exportado da indústria da transformação baixou de 21,6% em 2004 para 15,5% em 2014, ao passo que o coeficiente de penetração aumentou de 15,5% para 20,3% no mesmo período. Isto provocará um forte impacto nas contas externas, que serão analisadas mais adiante.

Gráfico 5: Coeficientes de exportação e de penetração da indústria da transformação entre 1996 e 2014. 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0 24,0

Coeficiente de exportação - indústrias de transformação Coeficiente de penetração - indústrias de transformação

Fonte: CNI.

Nessa conjuntura desfavorável de exposição à competição externa e medidas macroeconômicas muito restritivas (especialmente no que tange a câmbio e juro), a indústria sofreu um impacto ainda maior que a média da economia nacional.

Assim, o crescimento anual médio da indústria de transformação foi de apenas 0,9% na década de 1980, 1,0% entre 1989 e 2003 e 2,0% entre 2003 e 2013. Nem mesmo a retomada do crescimento econômico, após 2003, que ampliou a demanda por bens intermediários e commodities, foi suficiente para alterar esta trajetória de declínio da indústria de transformação (MACEDO, 2010). Como consequência, a participação da indústria de transformação no valor adicionado total da economia brasileira caiu de 31,3% em 1980 para pífios 13,1% em 2013, ligeiramente superior a 13,0% em 2012, menor valor numa série histórica desde 1947, como mostram a tabela 8 e o gráfico 6. Argumentaremos nesta seção que a indústria brasileira sofrerá neste período um processo de desindustrialização, ou seja, de reversão da sua estrutura industrial, com perda de dinamismo econômico, diminuição do valor agregado, descompasso de produtividade em relação à indústria internacional em termos agregados e perda de mercado nacional para competidores estrangeiros em escala significativa. Vale notar, entretanto, que este debate sobre desindustrialização no Brasil é um debate ainda em aberto, para o qual esperamos poder contribuir um pouco com esta argumentação.

Tabela 8: Estrutura setorial do PIB (em %).

1970 1980 1989 2000 2010 2013

PIB Agrícola 11,5 10,1 9,1 5,6 5,3 5,7

PIB Industrial 35,8 40,9 40,6 27,7 28,1 25,0

PIB Ind. Extr. 2,9 2,2 1,1 1,6 3,0 4,1

PIB Ind. Transf. 27,0 31,3 30,8 17,2 16,2 13,1

PIB Serviços 52,6 49,0 50,3 66,7 66,6 69,3

Ano

Gráfico 6: Participação da indústria da transformação no valor adicionado total (como % do PIB). 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013 1956: JK, 50 anos em 5 19,9% 22% 1964: Golpe Militar 27,1% 1985: Gov. Sarney 35,9% 1990: Collor e abertura econômica 26,5% 1994: Plano Real 26,7% 1998: Pré- desvalorização 2003: Lula 14,6% 13% 2011: Dilma 15,7% 18%

Fonte: Contas Nacionais do IBGE.

Num primeiro momento, a indústria brasileira reagiu à política econômica e à abertura econômica dos anos 1990, como afirmam Sarti e Laplane, “aprofundando a especialização e a racionalização da capacidade produtiva, com forte redução de emprego” (SARTI & LAPLANE, 2006, p.275). Ademais, a taxa de câmbio sobrevalorizada e os juros elevados fizeram com que as empresas industriais procurassem alternativas para melhorar rapidamente sua competitividade e reduzir seus custos, atualizando produtos, substituindo insumos nacionais por importados, modernizando equipamentos e estabelecendo parcerias com empresas estrangeiras para firmar acordos de complementação de linhas de produtos importados e de prestação de serviços no mercado doméstico. Vale dizer, as empresas investiram na racionalização de suas linhas produtivas, em detrimento de novos investimentos geradores de capacidade produtiva (greenfield), aumentando a produtividade e

diminuindo a proporção entre produção e emprego, para que pudessem sobreviver ao novo cenário adverso. Nassif (2005) concluiu que, dos ganhos totais de eficiência estimados entre 1988 e 1998, cerca de 55% decorreram do enxugamento de mão de obra e 40%, da absorção de novas tecnologias. Pode-se observar esta racionalização através das informações de produção e de emprego, ilustradas no gráfico 7. Com o aumento de eficiência produtiva dos estabelecimentos sobreviventes e com o desempenho pior da indústria da transformação em relação aos demais setores, a participação da indústria da transformação no total de empregos formais da economia brasileira caiu de 27,1% em 1986 para 16,9% em 2013 (FIESP, 2015, p. 9).

Gráfico 7: Índices de produção e emprego na indústria total entre 1992 e 2015 (média 2006 = 100). 70,00 80,00 90,00 100,00 110,00 120,00 130,00 140,00

Produção Industrial dessaz. Emprego Industrial dessaz.

Fonte: IBGE PIM-PF (antiga) e CNI.

Nota: a partir de mar/2014, valores aproximados pela nova PIM-PF.

À época, autores como Barros e Goldenstein (1997b), apontaram para o caráter modernizador dos investimentos realizados após o Plano Real e ressaltam o bom desempenho de alguns setores no período. Porém, como mostra Carneiro (2002),

o caráter modernizador dos investimentos industriais (remoção de gargalos e aumento de produtividade), concentrados em atualização tecnológica sem significativas adições de capacidade produtiva, explica apenas parcialmente por que a taxa de investimento não aumentou no período.

“Outra razão foi a elevação significativa do componente importado das máquinas e equipamentos. Estes, além de mais eficientes, tornaram-se mais baratos tanto por conta do progresso tecnológico quanto em razão da valorização cambial, entre 1994 e 1998” (CARNEIRO, 2002, p. 342).

Vale frisar este resultado das políticas econômicas e da abertura comercial dos anos 1990 sobre a indústria. Se, por um lado, a indústria apresentou ganhos expressivos na produtividade do trabalho, resultado do melhoramento no nível técnico e da maior racionalização do processo produtivo, isto ocorreu paralelamente a um necessário enfraquecimento da produção interna, com aumento expressivo do conteúdo importado na produção nacional para reduzir custos operacionais, enfraquecendo os elos de cadeia produtiva, inclusive com a substituição de produtos finais por importações.

A série de gráficos nas páginas seguinte ilustra claramente esta substituição de produção industrial doméstica por importações. Nesta série, compara-se a produção física industrial brasileira, dessazonalizada, com a evolução do quantum importado destes mesmos bens. Nela, facilmente se identifica o resultado da abertura comercial, juros colossais e da valorização cambial para a indústria brasileira desde os anos 1990. De índices razoavelmente reduzidos de importação, experimentou-se uma vertiginosa expansão das importações, especialmente no período de extrema apreciação cambial do Plano Real, isto é, entre 1994 e 1999, e após 2004. Observamos esta enorme substituição em todos os segmentos da indústria, mas nenhum experimentou um impacto tão forte quanto a indústria de bens de consumo duráveis. Fica evidente como a política econômica adotada desde fins da década de 1980 até os dias de hoje tem um inegável e forte viés antiprodução e pró-importação.

Gráfico 8: Evolução dos índices mensais de quantum das importações e produção industrial de bens de consumo não-durável entre 1991 e 2013 (média 2006 = 100).

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00

Produção dessaz. BCND Importação BCND Média Móvel (12 meses)

Gráfico 9: Evolução dos índices mensais de quantum das importações e produção industrial de bens intermediários entre 1991 e 2013 (média 2006 = 100).

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00

Produção dessaz. BI Importação BI Média Móvel (12 meses)

Gráfico 10: Evolução dos índices mensais de quantum das importações e produção industrial de bens de capital entre 1991 e 2013 (média 2006 = 100).

0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00

Produção dessaz. BK Importação BK Média Móvel (12 meses)

Gráfico 11: Evolução dos índices mensais de quantum das importações e produção industrial de bens de consumo durável entre 1991 e 2013 (média 2006 = 100).

0,00 100,00 200,00 300,00 400,00 500,00 600,00

Produção dessaz. BCD Importação BCD Média Móvel (12 meses)

Fonte: Ipeadata, Funcex e IBGE PIM-PF.

Mesmo com as evidências de que os bens intermediários tiveram o menor aumento em quantum entre 1991 e 2014, muito menor em escala do que as importações de bens finais (principalmente bens de consumo duráveis), as interpretações ortodoxas da indústria brasileira insistem em afirmar que o aumento de importações se deve a um uso mais intensivo de insumos estrangeiros, que permitiram ganhos de produtividade, introdução de novos produtos e redução de custos. Werneck (2012), conclui que a maior penetração de produtos importados não pode ser entendida como uma evidência da desindustrialização, pois, “em larga medida, decorre da possibilidade de escolha de supridores de insumos em bases mundiais, com que as empresas passaram a contar, ao longo das cadeias produtivas” (WERNECK, 2012, p.4). Para esse autor, os setores que reclamam da penetração de produtos importados possuem uma ”visão primitiva” daqueles que desejam “a mão pesada do Estado” para proteger as indústrias da competição e utilizar “medidas protecionistas indefensáveis”

(WERNECK, 2012, p. 4-5), visão muito semelhante ao utilizado por Barros e Goldenstein (1997b), que argumentavam que as indústrias que reclamavam da abertura comercial e das políticas monetárias do Plano Real eram indústrias obsoletas que, “pela primeira vez, estão sendo obrigadas a pensar em redução de custos, aumentos de produtividade e introdução de novas tecnologias” (BARROS & GOLDENSTEIN, 1997b, p.12)

Ao contrário, os gráficos anteriores mostram que uma parcela cada vez maior da demanda interna foi atendida por importações, ou seja, gerando produção, emprego, salário e lucro em outros países. Com o agravante de que os setores que experimentaram os maiores crescimentos de importação são os setores de bens de consumo duráveis e bens de capital, justamente os setores que abarcam as indústrias de maior complexidade tecnológica, mais dinâmicos em termos de elasticidade-renda da demanda e, portanto, com maior capacidade de agregar valor (SARTI & HIRATUKA, 2012). Ao analisar individualmente os setores da indústria da transformação, vemos este padrão se repetir generalizadamente: um crescimento modesto da produção e um enorme aumento das importações em termos físicos nos anos após 2004, com a maior parte dos setores enfrentando aumentos na quantia física importada superiores a 200%.

De uma maneira geral, a análise dos coeficientes de exportação e penetração da indústria da transformação e seus segmentos entre 1996 e 2014 mostram um movimento muito próximo ao desempenho do câmbio real: um aumento contínuo dos coeficientes de exportação entre 1999 e 2004, seguido de quedas persistentes entre 2005 e 2014 – o coeficiente de exportação da indústria da transformação nesse período se reduziu em 26%. O coeficiente de importação, por sua vez, tem um movimento oposto e um pouco mais oscilante, com queda entre 2001 e 2006 e aumento progressivo até 2014, quando atinge o maior valor da série, 20,3% – em comparação com 1996, o coeficiente de importação da indústria da transformação aumentou em 40%. Os resultados mostram que, na maior parte dos segmentos industriais, não se verificou o pressuposto estipulado pelo modelo neoliberal, a de que a maior competição no mercado interno – e maior coeficiente de penetração, portanto – causaria um ganho de mercados externos. Não apenas o Brasil praticamente não

aumentou sua participação nas exportações mundiais de manufaturados (se elevou de 0,67% em 1990 para 0,71% em 201219), como observou redução nos coeficientes de exportação em quase todos os segmentos observados.

Tabela 9: Coeficiente de exportação da indústria da transformação entre 1996 e 2014.

Cnae 2.0 e Descrição 1996 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014

C Indústrias de transformação 12,7 16,0 20,8 13,6 13,7 14,8 15,2 15,5

14 Artigos do vestuário e acessórios 3,1 5,1 5,3 1,2 1,0 1,0 0,9 1,0 26 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 7,2 15,4 21,5 8,9 7,1 6,4 6,1 5,6 19 Coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis 2,4 3,4 9,0 6,7 6,3 8,6 8,8 7,4 21 Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 2,8 4,6 6,0 7,7 8,4 9,0 9,6 10,2 20 Produtos químicos 9,5 10,3 12,3 11,0 11,1 11,3 10,6 10,6 13 Produtos têxteis 8,0 9,7 16,5 9,3 9,9 15,3 13,8 11,3 27 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 7,5 12,3 17,2 10,3 9,4 10,5 10,7 11,3 29 Veículos automotores, reboques e carrocerias 12,4 20,4 25,0 11,2 11,8 13,1 13,1 13,5 28 Máquinas e equipamentos 17,1 19,9 30,8 14,9 16,1 18,8 17,9 18,1 10 Produtos alimentícios 17,2 16,5 26,3 21,2 21,4 21,7 22,2 21,5 17 Celulose, papel e produtos de papel 14,8 21,0 21,2 22,3 22,1 22,0 23,5 25,1 15 Couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 29,9 35,4 41,0 23,2 21,2 20,5 22,8 26,1 24 Metalurgia 33,1 31,6 32,6 23,0 26,5 28,9 27,7 29,2 12 Produtos do fumo 48,8 41,8 50,5 47,0 45,8 50,6 54,4 47,1 30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores 28,9 82,6 49,3 30,5 31,1 35,2 60,2 69,2

Fonte: CNI.

Tabela 10: Coeficiente de penetração da indústria da transformação entre 1996 e 2014.

Cnae 2.0 e Descrição 1996 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014

C Indústrias de transformação 14,1 17,0 14,5 15,4 16,8 18,4 19,4 20,3

12 Produtos do fumo 3,8 1,2 1,5 2,0 1,5 1,2 1,3 1,3 14 Artigos do vestuário e acessórios 3,8 2,6 3,4 1,2 1,0 1,0 0,9 3,9 10 Produtos alimentícios 5,6 4,6 2,9 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 17 Celulose, papel e produtos de papel 8,4 9,3 6,4 7,2 7,8 7,8 7,9 8,0 15 Couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 7,1 5,8 6,1 6,4 7,2 8,0 9,1 9,9 24 Metalurgia 9,6 12,3 10,3 14,2 16,2 16,7 16,4 17,8 13 Produtos têxteis 13,1 11,0 9,1 14,0 16,2 17,6 18,1 18,9 19 Coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis 13,7 16,9 9,1 14,0 18,0 22,0 21,1 20,8 29 Veículos automotores, reboques e carrocerias 14,1 17,7 12,1 14,4 15,7 18,5 19,2 21,2 27 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 15,0 25,4 19,8 20,0 21,9 23,5 25,6 26,5 20 Produtos químicos 19,4 21,7 21,9 24,0 25,9 27,3 28,6 29,5 28 Máquinas e equipamentos 33,7 35,3 33,6 29,4 31,8 34,9 36,7 36,9 21 Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 17,4 26,5 25,1 31,8 31,3 34,3 37,1 38,1 26 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 36,0 40,2 44,2 43,5 43,5 44,7 46,7 48,5 30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores 29,7 72,8 34,9 32,0 32,9 35,9 52,0 60,2

Fonte: CNI.

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Novamente, como resultado do modelo econômico absolutamente deletério para a indústria, os resultados positivos são muito mais escassos que os negativos. Assim, somente três segmentos apresentaram aumento no seu coeficiente de exportação entre 2005 e 2014: celulose e papel, segmento tradicionalmente exportador e que aumentou em quase um quinto seu coeficiente, atingindo 25,1% em 2014; outros equipamentos de transporte, segmento com bastante oscilação tanto no coeficiente de exportação quanto no coeficiente de penetração; e produtos farmoquímicos e farmacêuticos, segmento que quase duplicou seu coeficiente de exportação, atingindo 10,2% em 2014, porém muito abaixo de seu coeficiente de penetração, 38,1% no mesmo ano.

Os demais setores apresentaram queda no período. Dessa forma, mesmo os setores que apresentavam coeficientes de exportação significativos em 2014 apresentaram redução expressiva em seus coeficientes. Consequentemente, entre 2005 e 2014 o coeficiente de exportação de produtos do fumo se reduziu em 7% (atingindo 47,1% em 2014), ao passo que metalurgia reduziu em 10% seu coeficiente (29,2% em 2014), couros e artefatos reduziu em 36,5% (26,1% em 2014) e produtos alimentícios, em 18% (21,5% em 2014). Mesmo com essa queda, todavia, esses setores permaneceram com coeficientes de exportação muito superior ao de penetração (juntamente com celulose e papel). Por outro lado, produtos do fumo e produtos alimentícios permaneceram com um coeficiente de importação sempre abaixo de 2% e 5%, respectivamente, enquanto couros e artefatos viu aumentar seu coeficiente de importação de 6,1% para 9,9% e metalurgia viu o seu coeficiente de importação crescer 72% no mesmo período, de 10,3% em 2005 para 17,8% em 2014.

O segmento de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, setor de maior conteúdo tecnológico e de maior agregação de valor, viu seu coeficiente de exportação cair de 21,5% em 2005 para 5,6% em 2014, ao passo que o coeficiente de penetração aumentou de 44,2% para 48,5%. Já produtos químicos, segmento predominantemente produtor de bens intermediários, viu seu coeficiente de exportação cair de 12,3% em 2005 para 10,6% em 2014, ao passo que seu coeficiente de importação aumentou de 21,9% para 29,5% no mesmo período.

Outros dois setores com desempenho negativo foram máquinas, aparelhos e materiais elétricos e máquinas e equipamentos. Enquanto máquinas e equipamentos viu seu coeficiente de exportação cair de 30,8% em 2005 para 18,1% em 2014 (queda de 41,4%), seu coeficiente de penetração aumentou de 33,6% para 36,9% (aumento de 9,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos teve uma redução de 34,2% em seu coeficiente de exportação (de 17,2% para 11,3%) e um aumento de 34% em seu coeficiente de penetração (de 19,8% para 26,5%).

São dignos de nota negativa, ainda, os setores de vestuário e acessórios e produtos têxteis. Artigos de vestuário e acessórios viu seu coeficiente de exportação passar de 5,3% em 2005 para 1% em 2014. Porém, o coeficiente de importações não se elevou de maneira tão brusca, atingindo 3,9% em 2014. Isso se deve à adaptação do setor têxtil, que passou a importar mais e manufaturar no país os artigos de vestuário. No segmento têxtil, seu coeficiente de exportação caiu de 16,5% para 11,3% no período, ao passo que seu coeficiente de importação mais que dobrou, indo de 9,1% para 18,9%.

Vale a pena destacar, também, a queda do coeficiente de exportação de produtos derivados do petróleo e combustíveis em 18% no período, ao passo que seu coeficiente de penetração aumentou em 128%. O aumento da importação de petróleo, entretanto, não se deveu apenas à valorização cambial e à gestão macroeconômica do país, mas foi bastante influenciada pelo aumento da demanda de combustíveis causada pela expansão da frota automotiva do país, devido a estímulos do governo após a crise de 2007, ao aumento do uso de termelétricas e à demora da Petrobrás para investir em novas refinarias, causando o uso pleno da capacidade produtiva de refino nos anos de 2013 e 201420. Assim, mesmo com um aumento relativamente pequeno do quantum de refino de petróleo (o quantum produzido em 2013 foi de apenas 6,6% acima do de 1996 21 !), este segmento experimentou grandes aumentos em seus preços internacionais, principalmente os produtos derivados do petróleo (CANO, 2012). Isto

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FREITAS, Tatiana. Deficit de petróleo bate recorde e castiga balança comercial do Brasil. São Paulo: Folha de São Paulo, 09 de agosto de 2013. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/08/1323834-deficit- de-petroleo-e-o-maior-da-historia-e-castiga-balanca-comercial-do-brasil.shtml. Acesso em 23 de novembro de 2015.

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resultará em enormes expansões do valor bruto da produção deste setor, ponto que será analisado mais adiante.

Por fim, no setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, fica claro que houve uma maior importância das exportações de 1996 até 2005, quando o coeficiente de exportação passa de 12,4% para 25,0%, para então crescer rapidamente a importância do mercado interno, caindo o coeficiente de exportação para 13,5% em 2014. Observa-se, também, níveis significativos do coeficiente de importações, que aumentou em 75% entre 2005 e 2014, indo de 12,1% para 21,2%, mesmo com o aumento do governo Dilma Roussef em trinta pontos percentuais do imposto sobre produtos industrializados de carros importados em setembro de 201122. Já foi mencionado o tratamento diferenciado a esse setor na análise da proteção efetiva da indústria.

Como resultado do péssimo desempenho da indústria da transformação, que acarretou em crescente descompasso de competitividade com as indústrias forâneas, do gigantesco aumento das importações e do foco da política monetária majoritariamente na conta financeira, a balança comercial da indústria da transformação, que momentaneamente atingiu bons resultados no período de desvalorização cambial entre 1999 e 2004, declinou rapidamente. A crise internacional dos anos 2009 e 2010 também influenciou o resultado desta indústria, diminuindo o nível de exportações principalmente para os países desenvolvidos. Como ilustra o gráfico 13, passou-se de um superávit de quase US$ 35 bilhões em 2005 para um déficit de quase US$ 50 bilhões em 2011 e 2012. O acúmulo de expressivos déficits na balança comercial da indústria da transformação prejudicou fortemente o saldo da balança comercial brasileira, que só se manteve positivo graças ao formidável desempenho das exportações de produtos intensivos em recursos naturais (agronegócio e indústria extrativa), como mostram a tabela 11. Porém, mesmo com o bom desempenho dos produtos intensivos em recursos naturais, a balança comercial brasileira, em muitos anos deficitária na década de 1990, cai de um pico superavitário de US$ 46 bilhões em 2006 para um déficit de US$ 58,9 bilhões em 2014!

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BORLINA FILHO, Venceslau. Carro importado terá aumento só em 2012. São Paulo: Folha de São Paulo, 16 de dezembro de 2011. Disponível em: http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/15/governo-sobe- imposto-de-carros-importados-para-estimular-venda-interna.jhtm. Acesso em 23 de novembro de 2015.

Gráfico 12: Balança comercial da indústria da transformação entre 1996 e 2014 (em US$ milhões). -80.000 -60.000 -40.000 -20.000 0 20.000 40.000 60.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Balança Comercial Indústria de Transformação Balança comercial total

Fonte: Funcex e Banco Central do Brasil.

Tabela 11: Balança de Transações Correntes detalhada entre 1989 e 2014 (em US$ bilhões). Ano Exportações (FOB) Importações (FOB) Saldo da Balança Comercial Saldo da Balança de Serviços Saldo da Balança de Rendas Saldo das Transações Correntes 1989 34,4 18,3 16,1 -2,7 -12,7 1,0 1995 46,5 50,0 -3,5 -7,5 -11,1 -18,4 2000 55,1 55,8 -0,7 -7,2 -17,9 -24,2 2005 118,3 73,6 44,7 -8,3 -26,0 14,0 2006 137,8 91,4 46,5 -9,6 -27,5 13,6 2007 160,6 120,6 40,0 -13,2 -29,3 1,6 2008 197,9 173,1 24,8 -16,7 -40,6 -28,2 2009 153,0 127,7 25,3 -19,2 -33,7 -24,3 2010 201,9 181,8 20,1 -30,8 -39,5 -47,3 2011 256,0 226,2 29,8 -37,9 -47,3 -52,5 2012 242,6 223,2 19,4 -41,0 -35,4 -54,2 2013 242,0 239,6 2,4 -47,1 -39,8 -81,2 2014 225,1 229,0 -3,9 -48,9 -40,3 -91,3

Nota: As divergências entre a soma do saldo das balanças comerciais, de rendas e de serviços com o das transações correntes se devem ao saldo das Transações Unilaterais e a erros e omissões.

Tabela 12: Dívida Externa Bruta, Passivo Externo Líquido e Reservas Internacionais entre 1989 e 2014 (em US$ bilhões).

Ano Dívida Externa Bruta Passivo Externo Líquido* Reservas Internacionais

1989 115,5 - 9,7 1995 159,3 - 51,8 2000 236,2 - 33,0 2005 188,0 299,2 53,8 2006 199,4 349,9 85,8 2007 240,5 495,5 180,3 2008 262,9 243,2 206,8 2009 277,6 559,1 239,1 2010 351,9 906,4 288,6 2011 404,1 821,9 352,0 2012 440,6 809,1 378,6 2013 482,8 747,7 375,8 2014 556,2 776,5 374,1

Fonte: Banco Central do Brasil.

* Posição em dezembro. A grande redução entre 2007 e 2008 se deve à saída de investimentos em carteira em decorrência da crise internacional daquele ano.

Entretanto, a redução dos superávits da balança comercial não impediu a construção de um ótimo nível das reservas internacionais do país, graças, como já mencionado, à entrada de fluxos maciços de capitais na conta financeira, atraídos por taxas elevadas de juros reais. As reservas internacionais, no entanto, não lograram reduzir a fragilidade externa da economia (característica bastante comum em países subdesenvolvidos), pois ficaram abaixo do passivo externo líquido entre 2001 e 2014, cobrindo, em média, apenas 35,3% do passivo externo líquido nesse período.

Ademais, um dos resultados do baixo dinamismo da indústria da transformação, com elevados déficits comerciais, e do bom desempenho dos produtos primários, foi a “reprimarização” da pauta exportadora (HENRIQUES, 2015), como exposto na tabela 13. Nos últimos trinta anos, avançou-se a passos largos na direção das vantagens comparativas estáticas, revertendo a árdua conquista de meio século de uma pauta de exportações diversificada e industrializada e retomando a concentração

em setores básicos e intensivos em recursos naturais, de menor valor agregado, chegando a representar 50% das exportações brasileiras em 2014. As importações, entretanto, continuaram com alta participação dos produtos da indústria da