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Desindustrialização no estado de São Paulo entre 1989 e 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONEL OLIVEIRA MATTOS

DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO ESTADO

DE SÃO PAULO ENTRE 1989 E 2010

CAMPINAS / SP

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONEL OLIVEIRA MATTOS

DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO ESTADO

DE SÃO PAULO ENTRE 1989 E 2010

Prof. Dr. Fernando Cezar de Macedo Mota – Orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento Econômico, na área de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

CAMPINAS / SP

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONEL OLIVEIRA MATTOS

DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO ESTADO

DE SÃO PAULO ENTRE 1989 E 2010

Defendida em 21/12/2015

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“O problema com o sistema de lucro sempre foi ser imensamente pouco lucrativo para a maioria das pessoas”.

Elwyn Brooks White One Man’s Meat, Harper & Brothers, 1944, tradução livre.

“Europa Socialista, há momentos em que me indago se isso não é uma utopia. Mas toda ideia ainda não realizada se assemelha, curiosamente, a uma utopia; jamais faríamos nada se julgássemos que só é possível aquilo que já existe”.

Simone de Beauvoir Os Mandarins, Abril Cultural, 1974.

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AGRADECIMENTOS

Os últimos quatro anos de foram, indiscutivelmente, os mais difíceis da minha vida, porém, também foram os mais gratificantes. A produção desta dissertação por este longo período foi árdua e complicada, e não teria sido possível sem a ajuda decisiva de algumas pessoas. Primeiramente, devo agradecer profundamente ao Jardel e ao Gustavo, por me resgatarem das profundezas do inferno e me ajudarem a conquistar estabilidade suficiente para poder viver em sociedade e ter uma vida saudável e produtiva.

Devo agradecer, também, à minha querida mãe, que tanto me amou e se dedicou para que eu tivesse uma boa formação e para que eu me tornasse um homem inteligente, capaz e correto. À minha amada Camila, parceira escolhida pelos deuses do destino, companheira nas jornadas boas e ruins e cujo amor, apoio e cumplicidade foram fundamentais na realização deste trabalho e na reconstrução da minha vida até aqui.

Aos meus grandes amigos Daniel e Armando, devo agradecer profundamente por terem sido meus tutores no entendimento das ciências sociais e da vida. Nossas longas sessões de filosofia foram determinantes no avanço de minha maturidade intelectual e, parafraseando Isaac Newton, se cheguei até aqui, foi por ter subido nos ombros de gigantes, meus caros. Ao amado amigo Fábio pela sua amizade e à sua família, por todos os cafés da tarde onde nunca me senti tão acolhido.

Agradeço ao meu orientador, Fernando Macedo, pela sua paciência, apoio e compreensão em relação ao meu ritmo de trabalho, permitindo que produzisse a meu tempo este trabalho, estando sempre lá quando precisei e sem nunca deixar de exigir pela qualidade de meu texto. Para aceitar estes termos é preciso mais do que compreensão, é preciso confiança e respeito, e por isto sou muito grato. Agradeço, também, aos colegas do CEDE pela convivência e pela ajuda nos trabalhos, principalmente ao colega Daniel Pereira Sampaio, por sua ajuda com metodologia, tabulação dos dados e interpretações sobre a desindustrialização, e aos colegas de disciplinas Rodrigo de Oliveira Taufic e Felipe Fernandes Barbosa, pelo grande companheirismo ao longo do curso.

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Agradeço, por fim, à Capes pelo financiamento desta pesquisa, sem o qual não teria sido possível produzi-la, e aos ricos comentários dos professores Cláudio Schuller Maciel e Wilson Cano na banca de qualificação, que ajudaram na definição dos rumos desta dissertação.

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RESUMO

A indústria de transformação possui elevado potencial para alavancar o desenvolvimento econômico e social de uma nação, ao ampliar a capacidade de geração de excedentes econômicos e aprofundar a divisão social do trabalho. O objetivo desta dissertação é apresentar alguns aspectos relevantes para o debate sobre o processo de desindustrialização no Brasil e em seu principal parque industrial, o estado de São Paulo. Para tanto, insere-se o tema no contexto do cenário macroeconômico brasileiro, em especial a partir de 1989, quando sob o pretexto do combate à inflação crônica, o país passa por profundas transformações sob a égide do neoliberalismo. Apresentam-se os impactos sobre o crescimento da economia brasileira e paulista e principalmente sobre suas indústrias de transformação, defendendo que existem evidências suficientes de um processo de desindustrialização, isto é, de reversão da estrutura industrial, com perda de dinamismo econômico, diminuição do valor agregado, descompasso de produtividade em relação à indústria internacional e perda de mercado nacional para competidores estrangeiros em escala significativa. Por fim, relaciona-se o mau desempenho da indústria de transformação paulista com o processo de desconcentração aparente (ou “espúria”) da produção industrial.

PALAVRAS-CHAVE: Desindustrialização; Desenvolvimento Econômico, Economia Regional; São Paulo.

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ABSTRACT

The manufacturing industry has a high potential to leverage the economic and social development of a nation, mainly by its ability to generate economic surplus and a more complex social division of labour. This dissertation’s objective is to assess some main aspects to the debate on deindustrialization in Brazil and in its main industrial park, the state of São Paulo. The subject is approached in relation to the underlying context of Brazilian macroeconomic scenario, especially since 1989, when, on the grounds of solving chronic inflation, the country underwent profound transformations following neoliberal policies. Furthermore, the impacts on the growth of the Brazilian and São Paulo’s economies are presented, with specific concern on their manufacturing industry, pointing out there is sufficient evidence of a deindustrialization process, id est, shrinkage of manufacturing added value added, increase in technological gap as well as losing shares of domestic market to foreign competitors in a significant scale. Finally, it connects the poor performance of the São Paulo’s manufacturing industry to an apparent (or "spurious") deconcentration of industrial production.

KEY-WORDS: Deindustrialization; Economic Development; Regional Economics; São Paulo.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: TAXA DE CÂMBIO EFETIVA REAL, DEFLACIONADA PELO IPA-IT, ENTRE 1989 E 2015 (DEZ/2003 = 100)...31 GRÁFICO 2: TAXA DE CÂMBIO EFETIVA REAL PARA PAÍSES SELECIONADOS ENTRE 1990 E 2014 (2005 = 100)...32 GRÁFICO 3: SUPERÁVIT PRIMÁRIO E DÉFICIT NOMINAL DO SETOR PÚBLICO ENTRE 1995 E 2014 (% PIB)...34 GRÁFICO 4: DÍVIDA PÚBLICA DO GOVERNO FEDERAL ENTRE 1995 E 2014 (ESQUERDA EM R$, DIREITA EM % PIB)...35 GRÁFICO 5: COEFICIENTES DE EXPORTAÇÃO E DE PENETRAÇÃO DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO ENTRE 1996 E 2014...38 GRÁFICO 6: PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO NO VALOR ADICIONADO TOTAL (COMO % DO PIB)...40 GRÁFICO 7: ÍNDICES DE PRODUÇÃO E EMPREGO NA INDÚSTRIA TOTAL ENTRE 1992 E 2015 (MÉDIA 2006 = 100)...41 GRÁFICO 8: EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES MENSAIS DE QUANTUM DAS IMPORTAÇÕES E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE BENS DE CONSUMO NÃO-DURÁVEL ENTRE 1991 E 2013 (MÉDIA 2006 = 100)...43 GRÁFICO 9: EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES MENSAIS DE QUANTUM DAS IMPORTAÇÕES E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE BENS INTERMEDIÁRIOS ENTRE 1991 E 2013 (MÉDIA 2006 = 100)...44 GRÁFICO 10: EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES MENSAIS DE QUANTUM DAS IMPORTAÇÕES E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE BENS DE CAPITAL ENTRE 1991 E 2013 (MÉDIA 2006 = 100) ...45 GRÁFICO 11: EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES MENSAIS DE QUANTUM DAS IMPORTAÇÕES E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE BENS DE CONSUMO DURÁVEL ENTRE 1991 E 2013 (MÉDIA 2006 = 100)...46 GRÁFICO 12: BALANÇA COMERCIAL DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO ENTRE 1996 E 2014 (EM US$ MILHÕES)...52

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GRÁFICO 13: RELAÇÃO VTI/VBPI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA E PAULISTA ENTRE 1996 E 2013 (%)...58 GRÁFICO 14: RELAÇÃO VTI/VBPI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2013, SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO OCDE (%)...59 GRÁFICO 15: PARTICIPAÇÃO NO VTI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2007, SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO OCDE (%)...60 GRÁFICO 16: RELAÇÃO VTI/VBPI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO PAULISTA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2013 (%)...90 GRÁFICO 17: PARTICIPAÇÃO NO VTI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO PAULISTA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2013 (%)...92 GRÁFICO 18: PARTICIPAÇÃO DE SÃO PAULO NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1997 E 2014 (EM %)...97 GRÁFICO 19: EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO PAULISTA ENTRE 1989 E 2014 (EM US$ BILHÕES)...99 GRÁFICO 20: PARTICIPAÇÃO DOS PRODUTOS DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO NAS COMPRAS E NAS VENDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (EM %)...106

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: PARTICIPAÇÃO SETORIAL NO VALOR ADICIONADO TOTAL E NO CONSUMO INTERMEDIÁRIO TOTAL (VÁRIOS ANOS)...4 TABELA 2: PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NO CONSUMO INTERMEDIÁRIO POR SETOR (VÁRIOS ANOS)...5 TABELA 3: ÍNDICES GHS DE LIGAÇÕES PARA TRÁS E PARA FRENTE NO BRASIL EM 2005...6 TABELA 4: TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO REAL DOS SETORES DO PIB (EM %) ...26 TABELA 5: PROTEÇÃO EFETIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ENTRE 1990 E 2014 (%) ...28 TABELA 6: COMPARATIVO ENTRE AS DESPESAS DE LUCROS, JUROS E DIVIDENDOS PARA O EXTERIOR COM O SALDO DAS TRANSAÇÕES CORRENTES BRASILEIRA (EM US$ BILHÕES)...30 TABELA 7: CRESCIMENTO DO PIB E TAXA DE INVESTIMENTO EM PERÍODOS SELECIONADOS (MÉDIA ANUAL)...37 TABELA 8: ESTRUTURA SETORIAL DO PIB (EM %)...39 TABELA 9: COEFICIENTE DE EXPORTAÇÃO DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO ENTRE 1996 E 2014...48 TABELA 10: COEFICIENTE DE PENETRAÇÃO DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO ENTRE 1996 E 2014...48 TABELA 11: BALANÇA DE TRANSAÇÕES CORRENTES DETALHADA ENTRE 1989 E 2014 (EM US$ BILHÕES)...52 TABELA 12: DÍVIDA EXTERNA BRUTA, PASSIVO EXTERNO LÍQUIDO E RESERVAS INTERNACIONAIS ENTRE 1989 E 2014 (EM US$ BILHÕES)...53 TABELA 13: EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS SEGUNDO FATOR AGREGADO ENTRE 1964 E 2014 (EM %)...54

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TABELA 14: BALANÇA COMERCIAL DE RAMOS DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO ENTRE 1996 E 2014 (US$ MILHÕES)...55 TABELA 15: RELAÇÃO VTI/VBPI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA (%)...62 TABELA 16: PARTICIPAÇÃO NO VTI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA (%)...63 TABELA 17: PARTICIPAÇÃO NO VALOR AGREGADO INDUSTRIAL MUNDIAL (EM %)...69 TABELA 18: DIVISÃO DO VALOR AGREGADO INDUSTRIAL POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA (EM %)...70 TABELA 19: PARTICIPAÇÃO RELATIVA NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS POR CATEGORIA TECNOLÓGICA (EM %)...71 TABELA 20: PARTICIPAÇÃO DO PIB DO ESTADO DE SÃO PAULO NO PIB BRASILEIRO (EM %)...75 TABELA 21: ESTRUTURA SETORIAL DO PIB DO ESTADO DE SÃO PAULO (EM %)...76 TABELA 22: CRESCIMENTO MÉDIO REAL DO PIB PER CAPITA A PREÇOS CONSTANTES (EM %)...77 TABELA 23: RELAÇÃO VTI/VBPI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO PAULISTA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2013 (%)...93 TABELA 24: PARTICIPAÇÃO NO VTI DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO PAULISTA POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA ENTRE 1996 E 2013 (%)...94 TABELA 25: PARTICIPAÇÃO DE SÃO PAULO NAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1997 E 2014 (EM %)...98 TABELA 26: PARTICIPAÇÃO DE SÃO PAULO NAS IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1997 E 2014 (EM %)...99 TABELA 27: BALANÇA COMERCIAL DE RAMOS DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO ENTRE 1997 E 2014 (US$ MILHÕES)...100 TABELA 28: COMPRAS, VENDAS E SALDO DA BALANÇA DE COMÉRCIO DE SÃO PAULO COM OS DEMAIS ESTADOS, TOTAL E DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO (EM R$ BILHÕES)...105

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TABELA 29: ATIVIDADES COM MAIORES PARTICIPAÇÕES NAS COMPRAS DE SÃO PAULO (EM %)...107 TABELA 30: ATIVIDADES COM MAIORES PARTICIPAÇÕES NAS VENDAS DE SÃO PAULO (EM %)...108 TABELA 31 MAIORES SUPERÁVITS DE SÃO PAULO NA BALANÇA DE COMÉRCIO INTERESTADUAL (R$ BILHÕES)...109 TABELA 32: MAIORES DÉFICITS DE SÃO PAULO NA BALANÇA DE COMÉRCIO INTERESTADUAL (R$ BILHÕES)...110 TABELA 33: ESTADOS COM MAIORES PARTICIPAÇÕES NAS COMPRAS DE SÃO PAULO (EM %)...111 TABELA 34: ESTADOS COM MAIORES PARTICIPAÇÕES NAS VENDAS DE SÃO PAULO (EM %)...111 TABELA 35: PARTICIPAÇÃO DAS REGIÕES DO ESTADO DE SÃO PAULO NO VTI NACIONAL (EM %)...112 TABELA 36: PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO EMPREGO FORMAL DO ESTADO DE SÃO PAULO ENTRE 1991 E 2010...118

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABECE – Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior. AIT – Alta Intensidade Tecnológica.

ALICEWeb – Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Web. BIT – Baixa Intensidade Tecnológica.

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. CNI – Confederação Nacional da Indústria.

Concla – Conselho Nacional de Classificação. ETN - Empresas Transnacionais.

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. FOB – Free On Board.

FUNCEX – Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IDE – Investimento Direto Estrangeiro.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IPEADATA – site de estatísticas administrado pelo IPEA. MAIT – Média-Alta Intensidade Tecnológica.

MBIT – Média-Baixa Intensidade Tecnológica.

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. MERCOSUL – Mercado Comum do Sul.

TEM – Ministério do Trabalho e Emprego. PIA – Pesquisa Industrial Anual.

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PIESP – Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo. PIM-PF – Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física.

PNADC – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. PND – Plano Nacional de Desenvolvimento.

RA – Região Administrativa.

RAIS – Relação Anual De Informações Sociais.

RMSP – Região Metropolitana da cidade de São Paulo. SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.

SEFAZ-SP – Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial. VBPI – Valor Bruto da Produção Industrial.

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SUMÁRIO

Introdução: Afinal, de que importa a indústria? 1

CAPÍTULO 1: A ESTRUTURA PRODUTIVA BRASILEIRA ENTRE 1989 E

2010 E O DEBATE SOBRE A DESINDUSTRIALIZAÇÃO 12

1.1: Breves notas sobre o debate da desindustrialização no Brasil. 12

1.2: Breve histórico macroeconômico entre 1989 e 2010. 24

1.3: Evidências empíricas da desindustrialização brasileira. 38

CAPÍTULO 2: EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA PRODUTIVA PAULISTA E

OS IMPACTOS EM SUA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO. 74

2.1: Desconcentração industrial de São Paulo e impactos da Guerra

Fiscal após 1989. 74

2.2: Análise da evolução industrial paulista no período e evidências de

sua desindustrialização. 88

2.3: Notas sobre comércio exterior e interestadual de São Paulo. 96

2.4: Considerações sobre a evolução industrial paulista numa

perspectiva regional e ocupacional. 112

Considerações Finais. 123

Referências Bibliográficas. 130

Apêndice Metodológico. 140

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Introdução: Afinal, de que importa a indústria?

A indústria cumpre historicamente papel chave na acumulação capitalista. É a unidade básica de transformação de mercadorias e relações sociais que passa a sobrepujar a lógica estritamente mercantil, trazendo para o âmbito da produção os principais ditames econômico-sociais sobre os quais se organiza a vida material. Com ela, tem-se a dinamização da capacidade de processamento e transformação de mercadorias e processos, essenciais para a ampliação da escala de produção e a geração ampliada de excedentes econômicos.

O crescimento industrial, pela sua potencialidade de abastecimento e produção, pode ampliar o leque de possibilidades de uma nação e de controle do próprio destino social ao aumentar a geração de excedentes econômicos e aprofundar a divisão social do trabalho. A passagem histórica de uma economia rural/agrária para uma eminentemente urbana/industrial é também o movimento de afastamento dos limites estreitos que a natureza coloca sobre a produção. Cada vez mais o tempo natural (dos ciclos ou da colheita, por exemplo) foi substituído pelo tempo da linha de produção, pelo tempo fracionado de operações cronometradas e sincronizadas, de máquinas incessantes que não dependem mais da presença ou ausência de luz ou de determinado tipo de solo, criando-se o ambiente artificial da fábrica, assim como o tempo artificial da produção, de acordo com as necessidades de produção tendo em vista o lucro.

Do ponto de vista da acumulação, além de ser a unidade básica que leva adiante o processo de transformação [D-M-D’], a indústria procura direta ou indiretamente acelerar o ritmo da produção e, com isso, encurtar os ciclos de rotação do capital1, fazendo com que massas relativamente maiores de capital passem pelo processo clássico de valoração em relativamente menos tempo.

1

Que seria o tempo necessário para um capital retornar valorizado ao capitalista, cumprindo o ciclo nas esferas da produção e circulação. Quanto mais rápido é o ciclo de rotação de um capital, mais capital se acumula ao longo de um ano.

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Esse efeito dinamizador comumente transborda para diferentes segmentos da indústria2, no que chamamos de efeitos de encadeamento. Os encadeamentos interindustriais são responsáveis por estimular e dinamizar as produções tanto de insumos necessários para sua produção (alargando mercados para aquelas mercadorias, por exemplo – encadeamentos a montante), quanto aquelas situadas mais a frente no processo produtivo (encadeamentos a jusante). Esses efeitos não se restringem ao setor industrial, pois o desenvolvimento industrial demanda maior produção e complexificação da agricultura e dos serviços. Como linhas gerais, ambos se utilizam crescentemente dos insumos e instrumentos industriais, permitindo que se amplie as possibilidades de atuação. Tanto para a agricultura como para os serviços, é crescente o uso de insumos industriais compatíveis com o crescimento da escala e do escopo de suas atividades, bem como instrumentos complexos de auxílio a atividades mais complexas. Ademais, está na indústria a produção dos bens de capital, que difundem progresso técnico e ampliam a capacidade de acumulação dos demais setores da economia, que passam a incorporar a racionalização técnica patente da indústria com ganhos na eficiência e potencial de geração de excedentes (Sampaio, 2015).

No debate do desenvolvimento econômico do século XX, a indústria é tida como a pedra angular do desenvolvimento, como elemento necessário e fundamental (mas não o único) para superação do subdesenvolvimento, pela possibilidade de ampliação dos excedentes econômicos e superação das perdas relativas de termos de troca impostas no comércio internacional pelo perfil agrário-exportador, de menor valor agregado. Cano (2012) corretamente nos lembra de que “não há, na história, país algum que se desenvolveu prescindindo de uma generalizada industrialização e de um forte e ativo papel do Estado Nacional” (CANO, 2012, p.3). Foi através da industrialização que o mundo ganhou sua face urbana a que estamos acostumados, fundando e ampliando mercados, novas necessidades e novos padrões de vida.

A importância da indústria da transformação também pode ser verificada através de suas ligações setoriais, que, conforme destacou Hirschman (1958, cap. 6),

2 Desconsiderando, por questões didáticas, a possibilidades de produções com elevados coeficientes de exportação ou importação, “vazando” para outras economias esses efeitos dinamizadores.

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possuem efeitos de empuxo muito maiores do que as atividades de agropecuária e de serviços. Essas intensas conexões manufatureiras com todos os setores derivam da tendência de fragmentação e especialização das atividades econômicas com o adensamento da estrutura produtiva. A criação de novas indústrias e de novas mercadorias demanda o surgimento de atividades complementares, fornecedoras de insumos, equipamentos e serviços de apoio, potencializando os efeitos de encadeamentos e multiplicadores dentro e através das cadeias produtivas. Kaldor (1970) define este processo como “princípio da causação cumulativa”, formulado, inicialmente, por Myrdal (1957, cap. 3), compreendendo que estes efeitos são, em realidade, decorrências de retornos crescentes de escala – usando esse termo em sentido amplo – em atividades de processamento. Ou seja, criam-se ganhos cumulativos não apenas com as economias de produção em grande escala, mas as vantagens cumulativas aumentam também a partir do crescimento da própria indústria, com a oportunidade cada vez maior de diferenciação de processos e de especialização das atividades humanas. Como Kaldor (1970) relembra, o principio da “divisão do trabalho” de Adam Smith opera através da constante subdivisão de indústrias, da emergência de novos tipos de firmas especializadas, da crescente diferenciação da produção – muito mais do que através da expansão no tamanho de plantas individuais ou firmas individuais.

À industrialização no subdesenvolvimento, porém, cabem ressalvas. O subdesenvolvimento é caracterizado, entre outras coisas, por uma inserção dependente no mercado internacional capitalista, introduzindo relações capitalistas que muitas vezes coexistem, sem extinguir antigas e predominantes relações pré-capitalistas. Por isso, lembra Cano, pode ocorrer:

“uma dinâmica de acumulação perversa, incapaz de promover a homogeneização econômica e social, mantendo traços econômicos e sociais desse processo como a heterogeneidade estrutural, a debilidade das contas externas, financiamento de longo prazo, fiscalidade e inflação latente” (CANO, 2014, p.2).

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Tabela 1: Participação setorial no valor adicionado total e no consumo intermediário total (vários anos).

SETORES 1990* 2000 2009 1990* 2000 2009

AGROPECUÁRIA 6.9% 5.6% 5.6% 5.8% 3.9% 4.4%

INDÚSTRIA 33.0% 27.7% 26.8% 67.1% 58.2% 57.0%

Indústria extrativa 1.5% 1.6% 1.8% 1.2% 1.9% 3.0%

Indústria de transformação 22.7% 17.2% 16.6% 54.4% 47.3% 45.7%

Serviços Industriais de Utilidade Pública 2.3% 3.4% 3.1% 2.7% 3.3% 3.1%

Construção civil 6.6% 5.5% 5.3% 8.8% 5.7% 5.2%

SERVIÇOS 60.1% 66.7% 67.5% 27.1% 37.9% 38.6%

Comércio 9.3% 10.6% 12.5% 6.1% 4.7% 5.4%

Transporte, armazenagem e correio 3.4% 4.9% 4.8% 4.2% 4.3% 5.1%

Serviços de informação 1.2% 3.6% 3.6% 0.4% 3.4% 4.0%

Intermediação financeira, seguros e previdência 15.1% 6.0% 7.2% 2.6% 5.1% 4.0%

Atividades imobiliárias e aluguéis 5.5% 11.3% 8.4% 0.7% 0.6% 0.7%

Outros serviços 15.9% 15.4% 14.7% 6.2% 12.1% 10.8%

Administração, saúde e educação públicas 9.7% 14.9% 16.3% 6.9% 7.6% 8.5%

TOTAL 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%

Valor Adicionado Consumo Intermediário

Fonte: Tabela de Recursos e Usos do IBGE, vários anos. * Desconsiderou-se a Dummy Financeira

Nota: Utilizou-se 2009 como ano final, pois a partir de 2010 houve mudança metodológica nas Tabelas de Recursos e Usos, cuja compatibilização somente vai até 1995.

Mesmo com a clara tendência de diminuição da participação da indústria da transformação brasileira no valor adicionado total entre 1990 e 2010 (caiu de 22,7% em 1990 para 16,6% em 2009), a indústria da transformação manteve elevada participação no consumo intermediário da economia. Conforme demonstra a tabela 1, ela representou apenas 16,6% do PIB em 2009, mas foi responsável por 45,7% de todo o consumo intermediário realizado pela economia brasileira3.

Dentre os setores econômicos, a indústria de transformação possui a relação mais elevada entre o seu consumo intermediário e o seu PIB, a saber, o valor do comércio intermediário é em média 2,6 vezes maior que o valor adicionado (PIB). Em comparação, o agregado dos serviços demandou em média 34,5% do consumo intermediário e representou 64,8% do PIB, ou seja, a relação entre as duas variáveis é de pouco mais da metade. Em outras palavras, o poder da indústria de “puxar” (encadear) outras atividades produtivas é muito mais elevado do que nos demais setores produtivos. Ademais, a tabela 2 mostra que muitas atividades econômicas

3

(22)

dependem, majoritariamente, da indústria de transformação, ou seja, a manufatura é um componente importante das outras atividades econômicas. Pode-se observar novamente que a indústria da transformação representa 45,7% do consumo intermediário do total da economia em 2009. Observe-se, ainda, que mais de 80% do consumo da agropecuária e das indústrias extrativas são oriundos da indústria de transformação, e 56,5% do consumo intermediário dessa indústria tem origem nela mesma. Sob essa perspectiva, torna-se clara a imprescindível importância da manufatura para o Brasil.

Tabela 2: Participação da Indústria de Transformação no consumo intermediário por setor (vários anos).

SETORES 1990* 2000 2009 AGROPECUÁRIA 73.3% 83.6% 84.4% INDÚSTRIA 59.1% 56.8% 54.7% Indústria extrativa 91.4% 86.2% 81.4% Indústria de transformação 60.1% 59.0% 56.5% Serviços Industriais de Utilidade Pública 34.3% 29.2% 29.5% Construção civil 7.2% 6.6% 5.1% SERVIÇOS 26.1% 20.7% 20.8% Comércio 74.6% 44.3% 37.3% Transporte, armazenagem e correio 30.5% 35.6% 33.9% Serviços de informação 28.5% 12.5% 9.5% Intermediação financeira, seguros e previdência 30.5% 26.3% 31.0% Atividades imobiliárias e aluguéis 17.3% 10.4% 13.1% Outros serviços 15.3% 17.3% 15.7% Administração, saúde e educação públicas Não possui Não possui Não possui TOTAL 54.4% 47.3% 45.7% Fonte: Tabela de Recursos e Usos do IBGE, vários anos.

* Desconsiderou-se a Dummy Financeira

Como outro exemplo da atual importância da indústria da transformação na economia brasileira, Costa & Gonçalves (2011) aferiram índices de interações intersetoriais tendo por base a matriz insumo-produto calculada pelo IBGE4, referente

4

A matriz insumo-produto consiste em um instrumento capaz de mostrar os fluxos de bens e serviços que cada setor da economia produz, destinando-se a servir como insumo aos demais setores e ao atendimento da demanda final. A matriz insumo-produto do tipo de Leontief consiste em uma tabela de dupla entrada, sendo os vetores-linha representativos dos fluxos de saídas de produção, o que mostra o impacto de determinado setor sobre os demais setores da economia. Os vetores-coluna mostram as entradas de insumos que são necessários à produção. Os autores

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ao ano de 2005. Posteriormente, argumentaremos que em 2005 a indústria já se encontrava fragilizada em relação, por exemplo, a 1980. Porém, mesmo visivelmente fragilizada, fica claro com as estimativas desses autores o elevado grau de importância dela para gerar estímulos encadeados na economia, além de desmistificar a ideia de desenvolvimento através de uma sociedade “pós-industrial” ou da economia de serviços5.

Costa e Gonçalves utilizaram o indicador de Índice Puro de Ligação (abordagem GHS), que, sucintamente, indica a importância de cada setor para a dinâmica da economia, bem como a interação entre estes setores e o grau de encadeamento intersetorial (COSTA & GONÇALVES, 2011, p.12). Isto significa que através do cálculo desses índices se observam os efeitos de encadeamento ”para trás” (demanda de insumos - PBL), “para frente” (fornecimento de insumos - PFL) e o índice total de ligações (PTL), a soma de PBL e PFL. Ou seja, estes índices revelam o grau em que o setor demanda ou oferta insumos dos demais setores da economia em 2005. Assim, quando o índice de encadeamento para trás (PBL), para frente (PFL) ou total (PTL) excedem a unidade, tais setores estão acima da média em 2005 e, portanto, devem ser considerados como setores-chave para a dinâmica intersetorial da economia.

Tabela 3: Índices GHS de ligações para trás e para frente no Brasil em 2005.

Setores PBL PFL PTL

Agropecuária 2,96 1,74 4,7 Indústria Extrativa Mineral 0,26 1,28 1,53 Indústria de Transformação 5,35 1,97 7,32 Serviços Industriais de Utilidade Pública 0,1 0,97 1,07 Construção 0 0,09 0,09 Comércio 0,86 1,62 2,48 Transporte, Armazenagem e Correio 0,79 1,4 2,19 Serviços de Informação 0,07 0,6 0,67 Intermediação Financeira, Seguros e Previdência Complementar 0,2 0,79 0,99 Atividades Imobiliárias e Aluguel 0,01 0,31 0,32 Outros Serviços 0,01 1,23 1,24 Administração, Saúde e Educação Pública 0 0 0

Fonte: Amorim, Coronel & Teixeira (2009) Apud Costa & Gonçalves (2011).

alertam que, matematicamente, os valores da matriz são funções de produção lineares e homogêneas para os setores, e que como resultado o sistema insumo-produto opera com retornos constantes de escala.

5

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Observa-se com base na tabela 3 que os setores com índices de ligações para frente, para trás e total superior à unidade foram a indústria de transformação e a agropecuária. Entretanto, nota-se que a indústria de transformação possui uma relevância muito superior aos demais setores, principalmente em demandar insumos em sua produção de outros setores (ligação para trás). Os demais setores que possuem certo efeito de encadeamento sobre a economia são: a indústria extrativa mineral, a produção, e distribuição de eletricidade, gás e água, o comércio, o transporte, armazenagem e correio, além dos outros serviços. Entretanto, eles têm uma capacidade de encadeamento muito menor em relação à indústria de transformação.

Por fim, vale lembrar o documento produzido pelo Departamento do Comércio dos Estados Unidos da América em 2012, ao analisar a capacidade competitiva de sua economia, ressalta que “um setor manufatureiro forte é de importância ímpar para a economia americana” (U.S. DEPARTMENT OF COMMERCE, 2012, p. 109)6. No capítulo 6, intitulado Revitalizando a Manufatura, argumenta-se sobre a importância crucial da manufatura para a economia estadunidense. Primeiramente, porque a indústria de transformação pagaria salários maiores que a média dos demais empregos. Ademais, um setor manufatureiro forte seria fundamental para a existência e manutenção de serviços intensivos em conhecimento (e de produtividade elevada), pois esse setor fornece mão de obra altamente treinada (como engenheiros) para o setor de serviços, bem como infraestrutura e instituições. Argumenta, também, que nos países desenvolvidos, a manufatura emprega a maioria dos cientistas e engenheiros domésticos. Por último, lembra que ter uma indústria desenvolvida é um fator crucial para a segurança nacional, pois se faz necessária para produzir produtos militares e infraestrutura de comunicações. Portanto, o documento deixa claro que a uma indústria da transformação forte é de extrema importância mesmo para o país mais rico e com os maiores recursos tecnológicos do planeta.

Logo, mostra-se de fundamental importância discutir os rumos da indústria brasileira, de seu principal polo, São Paulo, e de sua desindustrialização recente (hipótese que pretendemos demonstrar) para se buscar um padrão de crescimento

6

Traduzido livremente do original: “A strong manufacturing sector is uniquely important to the U.S. economy”.

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econômico cujo dinamismo seja capaz de possibilitar as transformações estruturais identificadas com a superação do subdesenvolvimento.

De uma maneira resumida, o debate sobre a desindustrialização iniciou nos anos 1970 e 1980 ao se observar, primeiramente nos países desenvolvidos, uma tendência nova de redução persistente da participação do produto industrial no PIB, do emprego industrial no emprego total e da deterioração do saldo comercial da indústria da transformação, como será explanado no primeiro capítulo. Estes indicadores, entretanto, sinalizariam não uma mera redução de tamanho (proporcional) da indústria, mas uma mudança na estrutura produtiva desses países, em que sua indústria estava transferindo uma parcela de suas atividades para países subdesenvolvidos, muitas vezes com fechamento de plantas no país de origem. Esta tendência se observou com mais força nas indústrias mais intensivas em trabalho e em indústrias com alta possibilidade de fracionamento das etapas produtivas, como será discutido brevemente no primeiro capítulo. Exerceu impacto nessa dinâmica, também, o aumento da produtividade média da indústria nesses países, sobretudo devido a uma acirrada concorrência por inovações em setores como telecomunicações e eletrônica, e o aumento do conjunto de serviços ligados à indústria (SAMPAIO, 2013).

É importante destacar que nos países desenvolvidos, a perda das plantas industriais não significou perda nem de poder de comando sobre a cadeia produti va nem, de modo geral, perda de apropriação do valor gerado por essa cadeia. A sede, as atividades mais complexas tecnologicamente, a inovação, via de regra permaneceram nesses países, articulando uma complexa cadeia global de produção (CANO, 2014; GREMAUD, TONETO JR & VASCONCELLOS, 2007, cap. 19). Já o debate sobre a desindustrialização nos países subdesenvolvidos, em geral, e no Brasil, em particular, tem aspectos muito distintos em relação aos países desenvolvidos, principalmente por não possuírem uma estrutura produtiva tão diversificada quanto a dos países desenvolvidos, um núcleo endógeno de inovação tecnológica e por se inserirem de forma subordinada na divisão internacional do trabalho. Ao perder importância da sua indústria, revertendo parte da limitada diversificação de seu parque industrial, os países periféricos perdem tanto no dinamismo econômico quanto na capacidade de geração e apropriação de excedente.

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Destarte, este texto segue a interpretação de Cano (2014), de que a desindustrialização brasileira está diretamente relacionada com o caráter periférico de sua economia e a forma subordinada com a qual o capital nacional e sua coalizão interna de poder, materializada no perfil das políticas econômicas aplicadas, se relacionam com o capital internacional.

É importante ressalvar, ainda, que a desindustrialização, perda de participação da indústria e de sua diversidade produtiva, difere da mera desconcentração produtiva, ou seja, do fechamento de uma unidade para inauguração em outra região de um mesmo estado ou país. Assim, uma indústria que encerra suas atividades em São Paulo e as transfere para outro estado não pode ser considerada como desindustrialização do estado de São Paulo; porém, se essa indústria se transfere para outro país ou vai à falência e a demanda passa a ser atendida por importação, sim.

Uma vez argumentado a importância central da indústria da transformação para o crescimento e, principalmente, o desenvolvimento econômico de longo prazo de um país, o objetivo desta dissertação é estudar a evolução da estrutura produtiva da indústria de transformação do país e do estado de São Paulo entre 1989 e 2010, bem como suas articulações com as demais regiões e estados, identificando os impactos do mercado externo em sua estrutura industrial e os movimentos de regressão de sua estrutura produtiva, que denominaremos aqui de desindustrialização.

O período de análise deste estudo será de 1989 a 2010 por duas razões. A primeira, e mais importante, é porque esse é o período de uma nova configuração das políticas macroeconômicas adotadas e do papel do Estado dentro da economia, com o efetivo abandono de políticas estatais desenvolvimentistas. Nesse período, os ajustes da economia brasileira levaram a uma maior inserção das estruturas produtivas regionais e estaduais no comércio internacional, afetando a dinâmica de acumulação na indústria de transformação paulista. (MACEDO, 2010).

A segunda razão é metodológica, e diz respeito à disponibilidade de informações de comércio exterior, fornecidas pela SECEX/MDIC, e de produção, fornecidas pelo IBGE. Essas análises se utilizam de diferentes classificações e bases de dados, havendo dificuldade em comparar diretamente alguns dados. Iniciou-se a

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análise com 1989, pois o ano de 1990 se mostrou um ano atípico e ruim para se iniciar a análise, devido à forte retração econômica experimentada naquele ano. Algumas informações, como as das Pesquisas Industriais Anuais (PIAs), estão disponíveis somente a partir de 1996, e a base de dados de comércio interestadual, obtida graças a um convênio entre a Secretaria da Fazenda do estado de São Paulo e o Centro de Estudos do Desenvolvimento Econômico do Instituto da Economia da UNICAMP, disponibiliza os dados entre 2001 e 2010. De qualquer forma, sempre se tentou utilizar os dados o mais próximo possível de 1989 e até o ano mais recente possível - em alguns casos, havia dados disponíveis até 2014. Há um apêndice metodológico no final desta dissertação explicitando as dificuldades e os tratamentos dos dados usados neste trabalho.

Assim, acredita-se que a desindustrialização brasileira foi resultado de opções de ordem política que privilegiavam outros tipos de acumulação, como as frações de capital vinculadas às atividades financeiras, à exploração imobiliária, às exportações agroindustriais, minerais e de insumos básicos, além dos vinculados à questão energética, como álcool de cana de açúcar e petróleo. Esse modelo de acumulação se mostrou prejudicial à indústria da transformação e gerou apenas dinamismos pontuais que beneficiaram alguns espaços do território, com modificações nas estruturas produtivas, promovendo desempenhos distintos e desconexos das economias regionais, com efeitos expressivos na fragilização da integração regional brasileira.

Este texto está organizado em dois capítulos, além desta seção introdutória. O primeiro capítulo fará um breve resumo do debate sobre a desindustrialização no Brasil e tratará da mudança da estratégia de desenvolvimento para o Brasil implantada na década de 1990, como resposta à crise dos anos 1980, passando a adotar um modelo de cunho neoliberal, de modo a inserir o país na globalização financeira e comercial, e os impactos devastadores que isto causou sobre a indústria de transformação nacional, cuja dinâmica de acumulação resultará num padrão de especialização e regressão da estrutura industrial. O segundo capítulo tratará dos impactos desse cenário político e econômico sobre o principal parque industrial do país, o do estado de São Paulo, que sofrerá com maior intensidade as limitações do novo

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modelo de crescimento do país e aprofundará um modelo de desconcentração espúria, nos termos de Cano (2008). Por fim, algumas considerações finais serão feitas a respeito da adoção do modelo de cunho neoliberal das políticas macroeconômicas e da priorização da valorização de determinadas frações de capital segundo os interesses das coalizões internas de poder político e econômico do país.

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CAPÍTULO

1:

A

ESTRUTURA

PRODUTIVA

BRASILEIRA ENTRE 1989 E 2010 E O DEBATE

SOBRE A DESINDUSTRIALIZAÇÃO.

1.1: Breves notas sobre o debate da desindustrialização no Brasil.

De uma maneira resumida, o debate sobre a desindustrialização iniciou nos anos 1970 e 1980 ao se observar, primeiramente nos países desenvolvidos, uma tendência nova de redução persistente da participação do produto industrial no PIB, do emprego industrial no emprego total e da deterioração do saldo comercial da indústria da transformação7. Conforme assinala Coriat:

“A desindustrialização é definida como a intersecção de três conjuntos de fenômenos que devem manifestar-se em conjunto, para ser legitimo falar de desindustrialização. Segundo esta definição, admitida praticamente por todos os interlocutores preocupados com o debate teórico que o fenômeno deu origem, uma economia se encontrará em desindustrialização se: durante um período de médio-longo prazo (uma década ou muitas décadas) se manifesta uma redução relativa do emprego e do valor agregado industriais em relação ao emprego e valor agregado totais; redução acompanhada de dificuldades duradoras no equilíbrio das contas externas (…)” (CORIAT, 1989, p.37 apud LÓPEZ & COBOS, 2008, p.24)8.

Estes indicadores, entretanto, sinalizariam não uma mera redução de tamanho (proporcional) da indústria, mas uma mudança na estrutura produtiva desses países, em que sua indústria estava transferindo uma parcela de suas atividades para países subdesenvolvidos, muitas vezes com fechamento de plantas no país de origem, ao passo que sua indústria remanescente aumentou sua produtividade e aumentou o emprego de mão de obra altamente qualificada e produtiva, desviando trabalhadores para outros setores da economia (ROWTHORN & RAMASWAMY, 1999).

7

Sobre o debate internacional a respeito da desindustrialização nos países desenvolvidos, ver: Sampaio (2015, cap. 1); Morceiro (2012) Kang e Lee (2011); Tregenna (2008); Rowthorn e Coutts (2004), Rowthorn e Ramaswamy (1999); Rowthorn e Ramaswamy (1997); e Coriat (1989).

8

Traduzido livremente do original: “La desindustrialización es pues definida en el crucero de tres series de fenómenos que deben manifestarse de manera conjunta, para que sea legítimo hablar de desindustrialización. Según esta definición, admitida prácticamente por todos los interlocutores preocupados por el debate teórico que el fenómeno ha hecho surgir, una economía se encontrará em desindustrialización si: durante un período mediano-largo (decenal o pluridecenal) se manifiesta una reducción relativa del empleo y del valor agregado industriales en relación al empleo y al valor agregado totales; reducción acompañada de dificultades duraderas en el equilibrio de las cuentas exteriores”.

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Conforme nos lembra Sampaio (2015) e Cano (2014), é importante destacar que nos países desenvolvidos, a perda das plantas industriais não significou perda nem de poder de comando sobre a cadeia produtiva nem, de modo geral, perda de apropriação do excedente gerado por essa cadeia. A sede, as atividades mais complexas tecnologicamente, a inovação, via de regra permaneceram nesses países, articulando uma complexa cadeia global de produção. Já o debate sobre a desindustrialização nos países subdesenvolvidos, em geral, e no Brasil, em particular, tem aspectos muito distintos em relação aos países desenvolvidos, principalmente por não possuírem uma estrutura produtiva tão diversificada quanto a dos países desenvolvidos, um núcleo endógeno de inovação tecnológica e por se inserirem de forma subordinada na divisão internacional do trabalho. Ao perder importância da sua indústria, revertendo parte da limitada diversificação de seu parque industrial, os países periféricos perdem tanto no dinamismo econômico quanto na capacidade de geração e apropriação de excedente.

A discussão sobre desindustrialização no Brasil, embora longe de atingir um consenso e com várias definições possíveis, concentra-se na questão produtiva e de valor adicionado, ou seja, na redução da participação da indústria da transformação no PIB e na diminuição da agregação de valor interna, isto é, uma diminuição do valor adicionado no valor bruto da produção. Conforme destaca Morceiro (2012), há razões metodológicas (principalmente na disponibilidade de dados) para esta concentração, mas há também um componente ideológico, ou seja, os enfoques, métodos, variáveis e definições utilizadas – e ignoradas – variam de acordo com visões de mundo e discursos pré-concebidos. Vale a ressalva de Sampaio (2015, p.16), ainda, que essas duas medidas pouco informam sobre o nível de desenvolvimento econômico e industrial de um país, necessitando de dados complementares para essa análise.

Há autores que negam que o Brasil passe por um processo de desindustrialização, como Nassif (2008), Barros e Pereira (2008) e Kupfer (2011), argumentando que não existem alterações significativas na estrutura produtiva brasileira, em que pese a redução do peso da indústria de transformação, nem fechamento generalizado de firmas. Argumentam, ainda, que entre 1980 e 2005 houve crescimento industrial no país, ainda que a taxas muito baixas, descaracterizando,

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nesta visão, um processo de desindustrialização. Esta interpretação diminui a importância das perdas relativas da estrutura produtiva e da agregação de valor da indústria e se atenta às mudanças absolutas.

Para Nassif (2008), ao examinar a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro entre 1947 e 2004 a preços constantes, verificou uma queda expressiva na segunda metade dos anos 1980, caindo de 32% em 1986 para 22,7% em 1990, e mantendo-se em torno de 22% entre 1990 e 2004. O autor nota, inclusive, que a participação em 2004 fechou em 23%. O autor destaca que a queda expressiva de participação da indústria (redução de quase um terço em apenas quatro anos) foi um fenômeno restrito à segunda metade dos anos 1980, provocado por “um forte decréscimo da produtividade industrial nos anos 1980, em um quadro de estagnação econômica e conjuntura de alta inflação” (NASSIF, 2008, p.84). Desta forma, não se poderia atribuir a perda de participação da indústria da transformação a uma desindustrialização, por não ser motivada pelos fatores microeconômicos internos (aumento de produtividade) e externos (pressão competitiva das importações) que levaram os países desenvolvidos a se desindustrializar, nem às reformas econômicas neoliberais da década de 1990 (liberalização comercial, privatizações, liberalização financeira externa, dentre outras).

Argumento semelhante é desenvolvido por Barros e Pereira (2008). Neste trabalho, os autores argumentam que entre 1990 e 2007 a indústria da transformação manteve uma participação relativa na economia mais ou menos estável, e que em 2006-2007 esta participação era praticamente idêntica à de 1995. Na interpretação destes autores, a indústria passou por um importante processo de reestruturação, porém não de desindustrialização. Os autores afirmam que, de fato, algumas empresas ou segmentos perderam importância relativa, porém que outros ganharam participação, como ocorreria, naturalmente, durante uma reestruturação industrial.

Assim, esses autores não acreditam numa falência de todo o tecido industrial brasileiro; pelo contrário, possuem uma visão otimista em relação ao futuro da indústria da transformação devido ao fato de o país ainda possuir “uma indústria completa, diversificada, criativa e com talentos gerenciais reconhecidos internacionalmente”

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(BARROS & PEREIRA, 2008, p. 329). Assim, em suma, estes autores argumentam que:

“(...) todas essas mudanças em curso constituem um processo de reestruturação industrial e não um de desindustrialização, no sentido como esse termo tem sido utilizado. Lançando um olhar para o futuro da indústria de transformação brasileira, contudo, encontramos crescentes evidências estatísticas e anedóticas de que o “chão de fábrica” do país está cada vez mais cimentado, não para abrigar maquiladoras, mas para receber equipamentos modernos e trabalhadores mais qualificados, o que garantirá o deslocamento do Brasil para um lócus produtivo mais eficiente e próximo da fronteira tecnológica” (BARROS & PEREIRA, 2008, p. 324-325).

Interpretação muito semelhante à de Kupfer (2011), para quem os movimentos recentes da indústria devem ser compreendidos como uma reestruturação estrutural, mas não uma desindustrialização. Para este autor, o peso da indústria no PIB se manteve estável nos anos recentes, porém com uma tendência à especialização produtiva, ou seja, deixando de ser uma estrutura industrial mais completa e diversificada e “se tornando numa indústria mais especializada, com uma maior participação dos setores ligados à produção de transformação [na matriz produtiva] e menor dos setores mais tradicionais” (KUPFER, 2011, p.1). A indústria brasileira estaria aumentando seu grau de integração produtiva internacional, ou seja, aumentando seus coeficientes de exportação e de importação, mais próximo ao modelo asiático, que seria o modelo industrial do século XXI.

Entre os autores que concordam com a tese da desindustrialização para o período recente, há uma vertente conservadora, como Bacha & De Bolle (2013) e Bonelli, Pessoa & Matos (2013), que afirmam existir uma desindustrialização no país, porém a um ritmo moderado, pois a queda de participação da indústria no PIB foi pouco intensa se comparada aos “fundamentos macroeconômicos”. Ademais, Bacha & De Bolle argumentam que o Brasil foi incapaz de participar no crescimento do comércio internacional, incluindo a parte baseada em cadeias de produção, principalmente por causa de elevadas bases tarifárias, que penalizariam a competitividade internacional da indústria. Para corrigir essa trajetória, esta vertente defende um aumento da produtividade industrial através de políticas industriais de corte horizontal e da ampliação da abertura comercial da economia, de forma a estimular a competitividade industrial e melhorar a participação no comércio internacional.

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Outra vertente importante no debate brasileiro, como os autores Oreiro & Marconi (2012), Pereira & Marconi (2010), Oreiro & Feijó (2010), Bresser-Pereira (2008) e Palma (2005), interpreta que o Brasil enfrenta um processo de desindustrialização como consequência da chamada “doença holandesa”. Originalmente9, o conceito de doença holandesa se refere à descoberta e exploração de um recurso natural abundante e valorizado que ao ser exportado em demasia provoca uma forte apreciação da taxa de câmbio. Essa valorização do câmbio diminui a competitividade da manufatura interna e promove a deterioração do saldo comercial de produtos manufaturados. Se a apreciação for intensa (superando os ganhos de produtividade da indústria), persistir e não for neutralizada, prejudicará a indústria e causará uma indesejada desindustrialização.

Esta vertente ressalta a importância da variável câmbio para o desenvolvimento da indústria, argumentando que a taxa de câmbio no Brasil apresenta tendência crônica de sobreapreciação, sendo influenciada principalmente pelo desempenho das commodities agrícolas e minerais, setores mais dinâmicos devido à dotação natural de fatores. Destarte, para Bresser-Pereira & Marconi (2010), os programas agressivos de liberalização comercial e financeira inspirados no Consenso de Washington (RODRIK, 2002; WILLIAMSON, 1992; WILLIAMSON, 1990) e implantados na América Latina e no Brasil, nos anos 1980 e 1990, eliminaram os mecanismos que protegiam a economia da doença holandesa. Após 2002, o crescimento das exportações de commodities e a melhora dos termos de trocas passaram a contribuir decisivamente para a sobrevalorização da taxa de câmbio, que, ao facilitar a importação e desestimular as exportações de produtos manufaturados no estado da arte da tecnologia, provocou a desindustrialização por doença holandesa. Palma (2005) também interpreta que o Brasil passou por uma desindustrialização “precoce” causada por doença holandesa, porém identifica que as causas dessa

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A expressão “doença holandesa” foi cunhada pela revista inglesa The Economist (The Dutch Disease, In: The Economist, pp. 82-83, 26 de novembro de 1977) para expressar a perda relativa de competitividade da manufatura holandesa devida à apreciação do florim, causada pelas volumosas entradas de divisas obtidas com as exportações de jazidas de gás natural descobertas na década de 1960. Sobre o caso holandês, ver Corden (1984) e Corden & Neary (1982).

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doença holandesa foram as reformas liberais e suas consequências, que induziram a uma regressão da estrutura produtiva, agora mais intensiva em recursos naturais.

Já Oreiro e Feijó (2010), analisando a composição do saldo comercial brasileiro e a composição do valor adicionado, chegaram a semelhante conclusão. Nas palavras dos autores:

“Por fim, estudos recentes a respeito da composição do saldo comercial brasileiro e da composição do valor adicionado da indústria brasileira mostram sinais inquietantes da ocorrência de “doença holandesa”, ou seja, de desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de câmbio que resulta da valorização dos preços das commodities e dos recursos naturais no mercado internacional” (OREIRO e FEIJÓ, 2010, p. 231).

Por fim, Oreiro & Marconi (2012) concluem que:

“a análise da literatura brasileira recente sobre o tema da desindustrialização parece deixar pouca margem para a dúvida a respeito da ocorrência efetiva desse processo [de desindustrialização como resultado da doença holandesa]” (OREIRO & MARCONI, 2012, p.4).

Vale ressalvar, todavia, conforme aponta Morceiro (2012), que esta interpretação atribui ao comércio internacional (mais especificamente, às exportações de recursos naturais) uma influência determinante sobre o câmbio, ao passo que nas economias modernas os fluxos de capital e as políticas macroeconômicas também possuem um efeito significativo sobre a taxa de câmbio. Ademais, a análise macroeconômica entre 1990 e 2014 parece mostrar que primeiramente se apreciou o câmbio intensamente, prejudicando profundamente o desempenho da indústria da transformação, e somente após 2002 é que as exportações de produtos básicos cresceram aceleradamente. Segundos dados da SECEX (MDIC) e do Banco Central, o valor médio anual (FOB) das exportações de produtos básicos entre 1989 e 2002 foi de US$11,7 bilhões, contra US$25,6 bilhões das exportações de manufaturados e contra um valor médio de recebimento (passivo) de investimentos estrangeiros em carteira e em derivativos no país de US$22,9 bilhões – maior que as exportações de produtos básicos. Já entre 2003 e 2014, o valor médio anual das exportações de produtos básicos foi de US$71,7 bilhões, contra US$ 76,1 bilhões de exportações de manufaturados e uma média de US$141,6 bilhões de recebimento (passivo) de

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investimentos estrangeiros em carteira e em derivativos10. Ou seja, como será discutido mais a frente, em que pese a contribuição das exportações de produtos primários após 2002, as causas da valorização cambial têm outra raiz, a saber, a gestão da política macroeconômica desse período e a consequente entrada de capitais financeiros.

Uma última vertente, mais difusa, abarca as demais interpretações heterodoxas, que também diagnosticam um processo de desindustrialização no Brasil, porém identificando outras causas. Assim, a desindustrialização no Brasil ocorre não em função de doença holandesa ou de asfixiantes interferências estatais e carga tributária, mas principalmente devido às gestões da política macroeconômica nacional, ou seja, na implementação e manutenção das reformas neoliberais dos anos 1990, com rápida abertura comercial e financeira, elevadas taxas de juros e taxa de câmbio sobrevalorizada. Alguns autores fazem, ainda, considerações a respeito da estrutura de comércio exterior do Brasil, principalmente sobre a reprimarização da pauta exportadora e perda de participação no comércio internacional, da estrutura de empregos e da autonomia tecnológica dentro do diagnóstico de desindustrialização.

Ricupero (2005) avalia que o Brasil sofreu um processo de desindustrialização “precoce” desde meados dos anos 1980, ou seja, seu setor manufatureiro declinou, em termos relativos, sua participação no emprego total e no valor adicionado. Para o autor, o processo de abertura econômica e financeira realizado pelos países da América Latina, dentre eles o Brasil, foi realizado de forma abrupta num contexto de fragilidade macroeconômica e de insuficiente capacidade de investimento. Já os países asiáticos, ao contrário, realizaram seu processo de abertura de outra forma:

“(…) muito mais gradual, progressivo, seguro e realizado a partir de posição de força, por economias capazes de investir 30% ou mais do PIB anualmente e bafejadas por juros extremamente baixos, frequentemente subsidiados, por taxa de câmbio desvalorizada, carga tributária pequena e mínimos encargos trabalhistas e previdenciários” (RICUPERO, 2005, p. 2).

Em resumo, para Ricupero (2005), a desindustrialização “precoce” do Brasil foi fruto da alternância do modelo de desenvolvimento de substituição de importações para um de cunho neoliberal de modo muito abrupto.

10

De 2007 a 2014, o país teve a entrada de mais de 100 bilhões de dólares nessas duas contas em cada ano, com um pico de US$239,3 bilhões em 2014.

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Feijó, Carvalho & Almeida (2005) e Feijó & Carvalho (2007), em estudos realizados para o IEDI, também concluem um processo de desindustrialização brasileira causado pela combinação perversa da manutenção de uma taxa de juros elevada e da taxa de câmbio valorizada, ou seja, a política macroeconômica adotada é pouco propícia ao crescimento da indústria da transformação. As altas taxas de juros afetam a demanda agregada e inibem o investimento, o gasto público e as exportações (devido ao impacto dos juros nas contas financeiras e de capital, por apreciar o câmbio), e o câmbio valorizado instiga a substituição de produção doméstica por produtos importados e desestimula as exportações. Estes autores empregam como indicador de desindustrialização a participação da indústria de transformação no valor adicionado e a agregação de valor interna da indústria da transformação, ou seja, a relação do valor transformado industrial (VTI) sobre o valor bruto da produção industrial (VBPI). Segundo eles, “quanto menor a relação, mais próximo o setor está de ser uma indústria ‘maquiladora’ que apenas junta componentes importados praticamente sem gerar valor” (FEIJÓ, CARVALHO & ALMEIDA, 2005, p. 22).

Feijó, Carvalho & Almeida (2005) identificam que o Brasil sofreu um processo de desindustrialização entre 1986 e 1998, pois verificaram uma redução de 12 pontos percentuais na participação da indústria de transformação no PIB (de 32,1% para 19,7%). Ademais, os autores expõem como argumentos adicionais que o crescimento da manufatura brasileira foi inferior ao mesmo crescimento dos demais países emergentes, que sua manufatura apresentou crescimento menor que os demais setores econômicos e, ainda que os setores intensivos em recursos naturais ganharam peso na composição da manufatura.

Contudo, os autores qualificam que essa desindustrialização foi apenas “relativa”, pois até o momento não havia ocorrido “perda irreparável na estrutura industrial do país e em sua capacidade dinâmica” (FEIJÓ, CARVALHO & ALMEIDA, 2005, p.2). Assim, os autores advertem que a indústria da transformação ainda mantinha uma significativa diversificação produtiva, preservando seus setores de ponta tecnológica e, portanto, ainda possuía capacidade de ampliar sua produtividade e capacidade exportadora. Assim, avaliavam que a indústria da transformação brasileira conservava requisitos para “reerguer-se e reintegrar-se com maior plenitude nas atuais

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tendências de industrialização dos países de maior dinamismo industrial” (FEIJÓ, CARVALHO & ALMEIDA, 2005, p.2). Para os autores, a maneira como foi feita a liberalização comercial e financeira (principalmente no que diz respeito à política macroeconômica) e a manutenção da moeda sobrevalorizada até 1998 explicam a desindustrialização ocorrida nos anos 1990, ao passo que as políticas de combate à hiperinflação nos anos 1980 explicariam a desindustrialização daquela década.

Feijó e Carvalho (2007) expandem a análise e concluem que a indústria da transformação passou por um processo de desindustrialização entre 1996 e 2004, com a continuidade da perda de participação relativa no PIB e da queda de agregação interna de valor. Entre as principais causas dessa desindustrialização, os autores destacam a gestão macroeconômica do país:

“Em síntese, mesmo sendo dotado de um parque industrial amplo e diversificado, verifica-se nos últimos anos um processo de desindustrialização, que é fruto da combinação perversa de taxas de juros elevada e câmbio valorizado. Essa combinação inibe a expansão do investimento e das exportações, corroendo a competitividade e levando a perdas de produtividade na indústria” (FEIJÓ & CARVALHO, 2007, p.1)

Nakabashi et al. (2007) chegam à conclusão de que a participação dos empregos industriais no total de empregos formais na economia indicava um processo de desindustrialização no Brasil, adicionando à análise com foco na estrutura produtiva e resgatando a análise da estrutura de empregos industriais como um dos eixos centrais de debate sobre a desindustrialização. Estes autores analisaram a evolução dos empregos formais entre 1985 e 2005 e concluíram que a indústria da transformação brasileira perdeu participação relativa no total do emprego formal durante todo o período, porém foi menos acentuada nos setores da indústria de transformação ligados a recursos naturais. Como consequência, a “perda de participação do emprego formal na industrial de transformação [está] concentrada em seus segmentos mais dinâmicos e de maior conteúdo tecnológico” (NAKABASHI et al., 2007, p.27). Em contrapartida, o setor de serviços elevou a sua participação nos empregos formais de 65,6% para 72,4% entre 1985 e 2005, porém estes se concentraram em segmentos de baixo e médio dinamismo tecnológico. Os segmentos de serviços de alto dinamismo tecnológico, que requerem mão de obra de elevada qualificação profissional, perderam participação relativa. Logo, há indícios de

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desindustrialização entre 1985 e 2005 pela ótica do emprego, pois a indústria da transformação reduziu sua participação nos empregos formais e os novos empregos gerados no setor de serviços se concentraram em de menor conteúdo tecnológico e, portanto, segmentos com menor potencial de dinamismo econômico.

Comin (2009) também chegou à conclusão de que o Brasil passou por um processo de desindustrialização entre 1990 e 2006. O autor verificou a existência de um processo generalizado de esvaziamento produtivo, em que quase todas as cadeias produtivas tornaram-se mais rarefeitas e nenhuma passou por um processo substancial de adensamento produtivo. Além disso, este autor constatou um empobrecimento significativo da composição do tecido industrial, uma vez que os setores de alta e média alta intensidade tecnológica perderam participação no valor adicionado e no emprego em relação ao total da indústria de transformação.

Entretanto, Comin (2009) classifica esse processo como uma desindustrialização truncada, pois, para o autor, apesar do enfraquecimento da indústria da transformação, este teria sido apenas parcial, já que os segmentos da estrutura produtiva que haviam alcançado certo grau de maturidade mantiveram sua capacidade produtiva mesmo com o choque liberal da década de 1990, muito embora perdendo elos importantes da cadeia. Ademais, o autor relativiza a desindustrialização brasileira também por ter sido menos grave do que a de outros países latino-americanos.

Gonçalves (2011), ao analisar as políticas econômicas dos governos Lula da Silva, faz um diagnóstico bastante crítico para o período 2003 a 2010. O autor conclui que, durante o período analisado, houve retrocessos na estrutura produtiva do país, com desindustrialização (isto é, perda de participação manufatureira no PIB) e substituição de produção interna por importações. O autor chama a atenção, também, para a perda de competitividade nacional da indústria, a reprimarização da pauta de exportações, a crescente dependência tecnológica em relação aos países desenvolvidos, a desnacionalização da propriedade e a crescente vulnerabilidade externa estrutural da economia, com um passivo externo crescente. As fontes dessas tendências estruturais regressivas estariam na gestão da política macroeconômica e nas opções políticas em questões estruturais, como estrutura de propriedade,

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