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2.3: Notas sobre comércio exterior e interestadual de São Paulo.

Analisando a participação paulista nas exportações brasileiras, no gráfico 18 e na tabela 25, pode-se observar a queda relativa de participação tanto nas exportações totais (de 34,1% em 1997 para 22,9% em 2014) quanto nas exportações manufatureiras (de 39,5% em 1997 para 33,7% em 2014), consequências, por um lado, do pior dinamismo do estado tanto em termos totais quanto de sua indústria e, por outro, do bom desempenho do agronegócio e da indústria extrativa mineral, cujo dinamismo esteve muito ligado à demanda exportadora e que estão localizadas, sobretudo, no Norte e no Centro-Oeste. Todavia, conforme destaca Sampaio (2015, p.175), a trajetória de queda da participação da indústria da transformação nas exportações é bem menos acentuada que a da participação no total exportado, por ser o estado com a estrutura produtiva com maior peso no VTI brasileiro e sinal da importância que ainda possui sua indústria em sua economia. Ademais, Sampaio (2015, p.176) e Macedo (2010, p.178) complementam que, de uma maneira geral, São Paulo ainda apresenta patamares elevados nas exportações dos grupos com maior intensidade tecnológica, indício que possui um parque industrial ainda capaz de ter uma inserção dinâmica no mercado internacional.

Examinando em detalhes a balança comercial da indústria da transformação do estado de São Paulo no gráfico 19, vemos que esta teve um movimento muito similar à da balança comercial da indústria da transformação brasileira, acumulando déficits no período entre 1994 e 1998, de câmbio bastante valorizado, melhorando seu resultado no período de desvalorização cambial, entre 1999 e 2004, e piorando rapidamente após 2006, quando cai de um pico superavitário de US$ 9,1 bilhões nesse ano para um déficit de US$ 35,2 bilhões em 2014. É uma piora de quarenta e quatro bilhões num período de apenas oito anos. Ao passo que as exportações anuais cresceram apenas 4,3% nesses oito anos, de US$ 44,8 bilhões em 2006 para US$ 46,8 bilhões em 2014 (crescimento médio anual de apenas 0,5%), as importações anuais cresceram 128,9%, passando de US$ 35,8 bilhões em 2006 para US$ 82,0 bilhões em 2014 (crescimento médio anual de 10,9% ao ano)! Enquanto a balança comercial brasileira pôde contar com reprimarização de suas exportações para manter o saldo da

balança comercial positivo até 2013, o estado de São Paulo apresentou déficits volumosos desde 2008 por conta da maior parcela de produtos manufaturados em sua inserção externa (HENRIQUES, 2015; SAMPAIO, 2015).

Gráfico 18: Participação de São Paulo nas exportações brasileiras entre 1997 e 2014 (em %). 20% 25% 30% 35% 40% 45%

Indústria da Transformação Total

Tabela 25: Participação de São Paulo nas exportações brasileiras entre 1997 e 2014 (em %).

Cnae 2.0 e Descrição 1997 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014

C Indústrias de transformação 39,0% 40,9% 38,8% 38,2% 36,4% 35,9% 33,5% 33,3%

19 Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis 25,3% 53,8% 43,9% 36,1% 35,6% 40,2% 47,0% 63,2%

28 Máquinas e equipamentos 60,1% 64,2% 61,3% 61,7% 61,5% 60,8% 60,0% 59,7%

21 Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 40,6% 61,5% 68,4% 53,4% 52,9% 54,7% 52,2% 54,3%

29 Veículos automotores, reboques e carrocerias 69,1% 58,1% 55,4% 52,8% 53,5% 55,3% 51,4% 52,9%

26 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 78,8% 74,2% 44,3% 55,7% 59,4% 55,1% 52,6% 52,4%

22 Produtos de borracha e de material plástico 75,9% 76,7% 73,1% 57,5% 55,7% 53,3% 51,4% 49,3% 27 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 50,7% 50,0% 44,4% 52,6% 52,4% 53,2% 45,5% 46,3%

30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos autom. 56,9% 70,3% 78,8% 82,9% 70,7% 65,2% 30,4% 46,1%

32 Produtos diversos 35,9% 32,9% 25,0% 31,7% 34,5% 55,4% 31,2% 38,1% 20 Produtos químicos 42,5% 36,0% 36,0% 40,3% 41,5% 40,6% 38,4% 37,8%

10 Produtos alimentícios 32,2% 37,7% 35,3% 37,5% 34,7% 31,1% 32,6% 30,0%

14 Artigos do vestuário e acessórios 27,2% 24,9% 33,6% 29,2% 29,1% 28,4% 26,2% 26,2%

31 Móveis 11,6% 11,4% 13,3% 23,5% 30,2% 45,6% 20,7% 24,8%

23 Produtos de minerais não-metálicos 32,8% 34,5% 31,9% 29,2% 29,4% 27,3% 25,4% 22,5%

25 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 23,5% 22,4% 24,7% 25,3% 23,5% 19,4% 23,4% 22,0%

17 Celulose, papel e Produtos de papel 34,5% 29,3% 33,6% 25,5% 26,3% 24,9% 23,3% 20,7%

11 Bebidas 39,6% 9,0% 16,5% 12,1% 10,6% 12,3% 12,0% 17,8%

15 Couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 15,5% 15,9% 22,4% 20,2% 17,4% 19,0% 18,2% 17,4%

24 Metalurgia 20,0% 17,9% 19,8% 15,1% 12,4% 15,3% 13,2% 13,7%

13 Produtos têxteis 37,6% 32,8% 19,7% 19,4% 13,9% 11,3% 15,9% 12,6%

16 Produtos de madeira 8,4% 5,9% 5,9% 4,8% 5,1% 5,4% 6,4% 5,7%

12 Produtos do fumo 10,3% 0,7% 0,5% 0,1% 0,1% 0,1% 0,0% 0,0%

Fonte: Secex (MDIC).

Nota: Valores convertidos de NCM a quatro dígitos para CNAE 2.0, para os quais pode haver pequenas discrepâncias. Ver apêndice metodológico 1.2 a esse respeito.

Gráfico 19: Exportações e Importações da indústria da transformação paulista entre 1989 e 2014 (em US$ bilhões).

- 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Exportações Importações

Fonte: Secex (MDIC).

Tabela 26: Participação de São Paulo nas importações brasileiras entre 1997 e 2014 (em %).

Cnae 2.0 e Descrição 1997 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014

C Indústrias de transformação 47,1% 49,7% 48,1% 41,0% 40,3% 38,6% 42,2% 41,5%

31 Móveis 78,9% 83,3% 100,3% 82,8% 78,2% 78,3% 79,0% 73,1%

19 Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis 77,2% 43,0% 74,8% 53,7% 56,1% 42,6% 71,9% 61,4%

28 Máquinas e equipamentos 60,4% 84,0% 65,6% 61,2% 59,7% 60,8% 57,6% 57,5%

17 Celulose, papel e Produtos de papel 80,4% 75,9% 62,5% 66,1% 62,6% 54,8% 55,6% 55,0%

15 Couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 45,8% 22,9% 41,1% 35,6% 36,9% 37,5% 48,0% 50,6%

22 Produtos de borracha e de material plástico 63,2% 63,7% 65,0% 54,0% 51,3% 45,8% 49,8% 48,8%

14 Artigos do vestuário e acessórios 60,0% 47,3% 46,7% 34,5% 35,8% 42,1% 44,0% 47,0%

25 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 28,6% 23,0% 20,2% 43,2% 42,3% 45,5% 47,5% 46,6% 27 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 33,3% 54,5% 56,0% 44,3% 48,6% 46,9% 44,0% 46,3%

26 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 38,5% 45,4% 41,2% 37,7% 39,8% 37,8% 40,2% 43,6%

21 Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 26,5% 36,4% 40,3% 43,4% 43,0% 40,6% 38,9% 41,2% 20 Produtos químicos 63,2% 58,9% 49,6% 46,2% 40,0% 40,4% 41,4% 40,3%

24 Metalurgia 57,1% 53,0% 50,2% 29,9% 34,0% 32,0% 36,2% 37,2%

23 Produtos de minerais não-metálicos 47,9% 49,6% 42,7% 37,7% 35,0% 36,4% 34,7% 35,7%

16 Produtos de madeira 21,0% 23,3% 15,3% 23,0% 24,6% 32,2% 34,1% 32,9%

10 Produtos alimentícios 29,9% 34,4% 26,1% 23,4% 24,2% 24,3% 25,6% 23,4%

29 Veículos automotores, reboques e carrocerias 33,6% 29,3% 40,5% 20,6% 18,0% 19,7% 22,9% 23,0%

32 Produtos diversos 30,7% 30,4% 27,9% 24,9% 23,5% 23,6% 21,8% 21,0%

30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos autom. 29,1% 40,8% 28,4% 34,9% 28,7% 21,9% 18,9% 19,5%

13 Produtos têxteis 33,4% 28,0% 33,5% 18,6% 17,6% 18,9% 20,0% 19,4%

11 Bebidas 8,9% 11,6% 12,0% 10,1% 11,7% 11,4% 11,8% 12,2%

12 Produtos do fumo 4,1% 20,3% 18,5% 6,5% 5,1% 5,3% 4,9% 6,1%

Nota: Valores convertidos de NCM a quatro dígitos para CNAE 2.0, para os quais pode haver pequenas discrepâncias (como a participação de móveis acima de 100% em 2005). Ver apêndice metodológico 1.2 a esse respeito.

Tabela 27: Balança comercial de ramos da indústria da transformação do estado de São Paulo entre 1997 e 2014 (US$ milhões).

Cnae 2.0 e Descrição 1997 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014 C Indústrias de transformação -8.250 -5.631 7.767 -15.696 -23.142 -20.679 -35.588 -35.188 10 Produtos alimentícios 2.110 2.215 6.625 13.115 14.286 12.074 12.386 10.779 11 Bebidas 8 -2 -12 -58 -98 -86 -76 -70 12 Produtos do fumo 159 3 3 -3 2 1 -2 -2 13 Produtos têxteis -156 4 46 -212 -320 -323 -386 -427

14 Artigos do vestuário e acessórios -173 2 18 -317 -564 -884 -1.019 -1.180

15 Couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados 168 323 649 397 220 201 91 102

16 Produtos de madeira 75 68 166 62 53 45 74 73

17 Celulose, papel e Produtos de papel -141 10 605 472 555 567 620 483

19 Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis -2.373 -1.503 -1.117 -5.812 -9.745 -4.995 -11.366 -9.243 20 Produtos químicos -3.406 -3.622 -3.928 -7.935 -8.621 -9.232 -11.065 -10.735

21 Produtos farmoquímicos e farmacêuticos -399 -648 -744 -2.543 -2.589 -2.533 -2.705 -2.782

22 Produtos de borracha e de material plástico -145 -87 2 -965 -1.160 -1.086 -1.705 -1.569

23 Produtos de minerais não-metálicos -13 86 320 -62 -216 -340 -318 -306

24 Metalurgia 118 116 1.021 -637 -895 -134 -1.020 -889

25 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos -111 -42 80 -1.028 -1.290 -1.534 -1.890 -1.683

26 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos -2.374 -2.461 -3.090 -7.514 -9.167 -8.858 -10.250 -10.838 27 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos -389 -885 -470 -1.721 -2.617 -2.329 -2.896 -2.752

28 Máquinas e equipamentos -3.049 -3.057 -887 -7.252 -8.084 -8.550 -9.270 -7.573

29 Veículos automotores, reboques e carrocerias 1.817 1.903 5.243 3.788 4.648 3.837 2.637 1.194

30 Outros equipamentos de transporte, exceto veículos autom. 204 1.804 2.817 2.515 2.534 3.383 2.896 2.371

31 Móveis -88 -46 1 -164 -174 -147 -383 -319

32 Produtos diversos -91 -17 -27 -315 -342 -228 -443 -370

Fonte: Secex (MDIC).

Nota: Valores convertidos de NCM a quatro dígitos para CNAE 2.0, para os quais pode haver pequenas discrepâncias. Ver apêndice metodológico 1.2 a esse respeito.

De maneira similar ao desempenho nacional, poucos setores da indústria da transformação paulista conseguiram obter resultados superavitários, quase todos de baixa e média baixa intensidade tecnológica. Como descrito no primeiro capítulo, uma consequência da manutenção de um câmbio valorizado e de juros reais elevados, num contexto de ampla abertura comercial e de péssimo desempenho da indústria da transformação, foi o crescimento substancial das importações, e São Paulo não foi exceção. Desta forma, os segmentos de sua indústria com crescentes déficits são numerosos, e, de maneira geral, compostos por produtos de maior valor agregado e

mais dinâmicos em termos de demanda. Destacaremos aqui o desempenho de alguns setores mais importantes. A tabela completa com todos os setores se encontra no anexo estatístico (tabela A-17).

O segmento com maior valor de exportação em 2014 (e em todos os anos entre 1992 e 2014), assim como no Brasil, foi o de fabricação de produtos alimentícios, setor de baixa intensidade tecnológica e ligado ao agronegócio, com exportação de US$12,3 bilhões em 2014, em que pese uma pequena redução do estado na participação das exportações desse setor nacionalmente, de 32,2% em 1997 para 30% em 2014. Esse segmento foi responsável, também, pelos maiores superávits comerciais do estado, no montante de US$10,8 bilhões em 2014 e quase US$15 bilhões em 2011. Contribuiu para este bom resultado, também, a maior agroindustrialização no estado, com crescimento da participação relativa dos produtos do agronegócio na pauta de exportação paulista (MACEDO, 2010, p.174). Foi o único ramo a obter mais do que US$10 bilhões em exportações em 2014 e ele representou mais de 25% das exportações paulistas desde 2009, evidenciando mais uma vez a fragilização da indústria paulista (e nacional).

Em segundo lugar seguem as exportações de veículos automotores, reboques e carrocerias, segmento de média baixa intensidade tecnológica, elevadas proteções tarifárias efetivas, conforme mostrado pela tabela 5, acordos com o MERCOSUL (SAMPAIO, 2015; CARNEIRO, 2002) e de grande importância na dinâmica territorial do estado. Esse segmento apresentou um superávit total de US$6,3 bilhões em 2014 e foi gerador de saldos comerciais positivos em todos os anos da análise, apesar da trajetória declinante após 2006 (nesse ano, o superávit comercial foi de US$7 bilhões) e da perda de participação nas exportações nacionais desse setor, caindo de 69,1% em 1997 para 52,9% em 2014. Corroboram esses números o fato das importações desse segmento serem a de quinto maior valor do estado em 2014, mas cumpre notar que nacionalmente este é um segmento fortemente deficitário, ao passo que em São Paulo ele conseguiu se manter superavitário. Isso se deveu, em partes, ao fato desse setor ter sido alvo da generalização da Guerra Fiscal no país (CARDOZO, 2010, p.70), desviando, consequentemente, partes dos fluxos de exportação e de importação desse segmento para outros estados que, a despeito de atraírem

montadoras, não foram capazes de diversificar a base industrial local com a emergência de empresas de autopeças.

As exportações de máquinas e equipamentos vêm em terceiro lugar, com US$5,1 bilhões de exportações em 2014 e participação praticamente estável nas exportações nacionais – as exportações paulistas representaram 60,1% do total em 1997 e 59,7% em 2014. Segmento de média alta intensidade tecnológica, nacionalmente é somente o quinto que mais exporta, sinal de alguma força remanescente da indústria paulista. Apesar desse fato, este setor apresenta déficits comerciais desde 1993 no estado, sendo o segmento de segunda maior importação do estado em 2013 e 2014, no valor de US$14,6 e US$12,7 bilhões, respectivamente, e atingindo um déficit de US$9,3 bilhões em 2013 e de US$7,6 bilhões em 2014. Já produtos químicos, setor de média baixa intensidade tecnológica e majoritariamente produtor de bens intermediários, figuram como a quinta maior exportação do estado, atingindo US$3,9 bilhões em 2014, porém com queda na participação paulista nas exportações totais, de 42,5% em 1997 para 37,8% em 2014. De maneira similar a máquinas e equipamentos, seu desempenho exportador é anulado pelos altos valores de importação, a maior do estado e o segundo maior déficit comercial, apresentando, em 2014, US$14,6 bilhões e US$10,7 bilhões, respectivamente.

Produtos farmoquímicos e farmacêuticos também apresentaram déficits comerciais em todos os anos da análise, com exportações de US$900,9 milhões em 2014 e importações de 3,7 bilhões. Porém, ressalva-se que a participação do estado nas exportações do setor aumentou, de 40,6% em 1997 para 54,3% em 2014.

Já outros equipamentos de transporte apresentou uma dinâmica mais positiva, com a quarta maior exportação do estado, no valor de US$3,8 bilhões em 2014, e o segundo maior superávit comercial, de US$2,4 bilhões em 2014, porém com queda na participação das exportações, de 56,9% em 1997 para 46,1% em 2014. O bom desempenho exportador do setor se deve ao segmento de aeronaves, de alta intensidade tecnológica, responsáveis por 95% das exportações do segmento e que conseguiu sobreviver ao ambiente altamente desfavorável, em função do ótimo desempenho da EMBRAER, em São José dos Campos. Nesse setor, as importações são relativamente baixas no estado, permitindo o superávit.

É necessário destacar, ainda, dois segmentos de importações muito mais elevadas que as exportações, resultando em volumosos déficits. Primeiramente, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, setor de que apresentou grande expansão em termos de valores brutos de produção e mais que dobrou sua participação nas exportações nacionais (+37,9 p.p.)28, mas que apresentou uma expansão muito veloz das importações em função do aumento de demanda interna e ocupação plena da capacidade produtiva mencionados na análise dos coeficientes nacionais de exportação e penetração. Dessa forma, as importações e o déficit comercial nesse segmento atingiram US$12,4 bilhões e US$10,7 bilhões em 2014, respectivamente. É importante ressalvar, contudo, que a produção de álcool anidro combustível se manteve superavitária desde 1999, mas incapaz de fazer frente às importações de produtos refinados do petróleo, por nunca ter atingido US$2 bilhões em exportações, e apesar de importações mais pesadas em 2011 e 2012 em função de quedas agudas de produção na entressafra29.

Ademais, o segmento de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, ramo de alta intensidade tecnológica, mais complexo e moderno, de alto crescimento no comércio internacional mundial, também seguiu a tendência de forte aumento de importações, rapidamente superando os produtos químicos e os produtos refinados do petróleo como o maior déficit comercial do estado, atingindo a cifra de US$10,8 bilhões em 2014, Segundo Cano (2008, p.160), este setor foi o mais impactado pela enxurrada de importações causadas pela abertura comercial, levando à destruição de linhas de produção nacional tanto de produtos finais como de insumos. Destarte, São Paulo perdeu intensamente participação nas exportações desse setor (de 78,8% em 1997 para 52,4% em 2014), e as exportações do estado mais industrializado do país num dos segmentos industriais mais importantes da atualidade não atingiram sequer um décimo de suas importações em 2014 (US$1,5 bilhões, contra US$11,7 bilhões). Vale ressaltar, por fim, que houve uma significativa reestruturação mundial

28

Esta informação contraria a constatação na análise produtiva de que São Paulo perde participação na produção bruta e na transformação industrial desse setor. Apesar de não encontrar informações que confirmem esta hipótese, suspeita-se que esse intenso aumento se deva a reexportações.

29

COIMBRA, Leila; & CREDENDIO, José Ernesto. Brasil tem de importar álcool dos EUA. In: Folha de São Paulo. Brasília, 26 de março de 2011. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/ me2603201105.htm. Acesso em 20 de julho de 2015.

nesse setor, com o deslocamento da produção para a Ásia, onde as políticas de gestão macroeconômica e industrial, bem como a forma de inserção na divisão internacional do trabalho, foram radicalmente distintas da América Latina, e nove países passaram a responder por 66% da produção mundial (CANO, 2014, p.10).

Após analisar a balança comercial, este trabalho procurará mais informações a respeito da desindustrialização nos dados de comércio interestadual de São Paulo. Isso é particularmente relevante para o período estudado em função da Guerra Fiscal dos portos, em que muitos estados se aproveitaram de incentivos fiscais para se tornarem importadores e distribuidores de mercadorias para os demais estados, contribuindo, assim, para a desindustrialização. Graças a um convênio entre a Secretaria da Fazenda do estado de São Paulo e o Centro de Estudos do Desenvolvimento Econômico do Instituto da Economia da Unicamp, podem-se analisar os dados de comércio entre o estado de São Paulo e os outros estados da federação entre 2001 e 2010 à procura dessas informações. Os dados estão organizados por CNAE 2.0 e excluem os dados de transferência interestadual. Ver apêndice metodológico 1.3 a esse respeito.

O estado de São Paulo durante todo esse período foi superavitário em sua balança comercial, ou seja, possuiu um nível de vendas (saída) superior ao nível de compras (entradas) com os demais estados. Contudo, as compras cresceram a uma taxa anual média de 13,3%, ligeiramente superior ao crescimento anual médio das vendas, 12,3%, porém ser tornar o saldo deficitário em nenhum ano. Desta forma, o saldo da balança comercial cresceu a uma taxa média de 10,5%. As informações de compras, vendas e saldo da balança de comércio interestaduais estão dispostas na tabela 28.

Tabela 28: Compras, vendas e saldo da balança de comércio de São Paulo com os demais estados, total e da indústria da transformação (em R$ bilhões).

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Compras totais 117.2 136.9 182.0 230.0 245.5 256.5 290.1 353.8 308.4 361.7

ind. da transformação 55.9 58.3 79.6 101.7 112.0 116.1 130.4 148.9 126.4 150.2

Vendas totais 187.7 207.1 257.4 313.3 338.4 364.5 404.0 488.3 452.3 534.3

ind. da transformação 127.3 136.9 166.3 204.0 219.2 234.0 262.8 302.5 282.2 332.8 Saldo da balança comercial 70.5 70.2 75.4 83.3 92.9 108.0 113.9 134.5 143.9 172.6 ind. da transformação 71.4 78.6 86.6 102.3 107.3 117.9 132.5 153.6 155.8 182.5

Fonte: SEFAZ-SP

A indústria da transformação como um todo teve um desempenho inferior à média tanto nas compras como nas vendas, em contrapartida a um desempenho superior dos serviços, principalmente do comércio atacadista, do comércio varejista e do comércio e reparação de veículos automotores. A participação média dos produtos da indústria da transformação é maior nas vendas que nas compras, refletindo ainda nesta década um parque industrial mais diversificado em relação aos outros estados. As compras de produtos da indústria da transformação cresceram entre 2001 e 2010 a uma taxa média anual de 11,6%, caindo sua participação no total das compras do estado de 47,7% em 2000 para 41,5% em 2010.

Já as vendas de produtos da indústria da transformação cresceram entre 2001 e 2010 a uma taxa média anual de 11,3%, reduzindo sua participação nas vendas totais do estado de 67,8% em 2001 para 62,3% em 2010. A queda de participação dessa indústria tanto nas compras como nas vendas indica que outros estados, cuja indústria da transformação significativamente menor que a paulista, vendem para o mercado paulista, que é o maior mercado consumidor nacional. É importante ter em mente que no nosso período de estudo, entre 1989 e 2010, muitas indústrias se relocalizaram em outros estados atraídos por benefícios da Guerra Fiscal, como já destacado anteriormente. Pode indicar, ainda, justamente a maior participação das importações no atendimento da demanda doméstica, importadas em estados com benefícios tributários, que revendem para o estado paulista. Contudo não há como distinguir na base de dados as revendas de importações. As informações de participação da indústria da transformação no comércio paulista estão dispostas no gráfico 20.

Gráfico 20: Participação dos produtos da indústria da transformação nas compras e nas vendas do estado de São Paulo (em %).

40.0% 45.0% 50.0% 55.0% 60.0% 65.0% 70.0% 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Participação Vendas Participação Compras

Fonte: SEFAZ-SP

Analisando as compras feitas pelo estado de São Paulo, comércio por atacado, comércio varejista e comércio e reparação de veículos apresentaram os maiores valores somaram em 2010 quase 48% das compras paulistas e aumentaram suas participações de 24,1%, 11,4% e 7,9% em 2001, respectivamente, para 25,1%, 12,4% e 10,5% em 2010, conforme mostra a tabela 29. Fabricação de produtos alimentícios e fabricação de produtos químicos diminuem sua participação nas compras de São Paulo no período de 8,7% e 4,6% em 2001 para 7,0% e 4,2% em 2010, ao passo que fabricação de veículos automotores e metalurgia ganham participação de 4,4% e 4,2% para 5,6% e 5,0% no período. Merecem destaque, ainda, o aumento de participação de fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e fabricação de máquinas e equipamentos de 1,9% e 1,4% para 2,4% e 1,8%, respectivamente.

Analisando as vendas feitas pelo estado de São Paulo, chama a atenção a maior participação dos produtos da indústria da transformação nas vendas em relação às compras do estado, como foi descrito acima. Chama a atenção, também, a menor participação do comércio varejista e do comércio e reparação de veículos em relação às compras do estado, este último não pertencendo aos destaques. Contudo, comércio por atacado e comércio varejista aumentam sua participação nas vendas do estado nos anos observados de 19,9% e 4,3% em 2001 para 21,0% e 5,1% em 2010. Fabricação de veículos automotores, setor que teve um desempenho acima da média e de grande participação no VTI estadual, aumenta significativamente sua participação no período,

de 9,9% para 13,4%, um aumento de 35% na participação. Já produtos químicos, um dos maiores déficits comerciais da indústria da transformação brasileira com o exterior, diminui sua participação de 9,6% para 7,6%! Cabe destacar, também, o aumento de participação da fabricação de máquinas e equipamentos e metalurgia, de 4,5% e 2,3% para 5,9% e 2,8% no período estudado. Inversamente, fabricação de produtos alimentícios e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos diminuem sua participação nas vendas de 6,1% e 3,8% em 2001 para 4,8% e 2,5% em 2010.

Tabela 29: Atividades com maiores participações nas compras de São Paulo (em %).

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Comércio por atacado, exceto veículos

automotores e motocicletas 24.1% 30.6% 29.5% 30.0% 26.5% 24.9% 23.7% 28.4% 23.7% 25.1% Comércio varejista 11.4% 11.5% 10.6% 10.1% 10.8% 11.4% 11.6% 10.4% 12.5% 12.4%

Comércio e reparação de veículos

automotores e motocicletas 7.9% 6.6% 5.6% 6.2% 7.3% 8.4% 10.1% 9.3% 10.6% 10.5% Fabricação de produtos alimentícios 8.7% 9.8% 9.7% 9.2% 8.4% 7.6% 7.5% 7.2% 7.7% 7.0%

Fabricação de veículos automotores, reboques

e carrocerias 4.4% 4.1% 4.9% 5.6% 6.6% 5.9% 5.8% 5.3% 5.3% 5.6%

Metalurgia 4.2% 3.9% 3.9% 4.5% 4.7% 5.4% 5.7% 5.7% 4.2% 5.0%

Fabricação de produtos químicos 4.6% 5.0% 5.0% 5.0% 5.1% 5.0% 4.8% 4.7% 4.5% 4.2%

Eletricidade, gás e outras utilidades 4.5% 4.7% 4.2% 3.6% 3.9% 4.1% 4.4% 4.1% 4.9% 3.5%

Fabricação de produtos de borracha e de

material plástico 3.7% 3.3% 3.4% 3.3% 3.3% 3.3% 3.2% 2.9% 2.9% 2.9%

Fabricação de máquinas, aparelhos e

materiais elétricos 1.9% 1.5% 1.5% 1.7% 2.1% 2.6% 2.5% 2.2% 2.3% 2.4%

Fabricação de produtos de metal, exceto

máquinas e equipamentos 2.1% 2.0% 2.2% 2.3% 2.7% 2.5% 2.6% 2.6% 2.1% 2.2%

Fabricação de máquinas e equipamentos 1.4% 1.4% 1.6% 1.8% 2.0% 1.9% 2.1% 2.0% 1.6% 1.8%

Tabela 30: Atividades com maiores participações nas vendas de São Paulo (em %).

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Comércio por atacado, exceto veículos

automotores e motocicletas 19.9% 22.0% 22.2% 21.8% 21.4% 21.1% 20.6% 24.5% 21.0% 21.0% Fabricação de veículos automotores, reboques

e carrocerias 9.9% 10.1% 9.8% 11.5% 12.1% 11.8% 12.8% 13.3% 12.6% 13.4%

Fabricação de produtos químicos 9.6% 9.6% 9.8% 9.9% 9.1% 8.5% 8.7% 7.8% 8.0% 7.6%

Fabricação de máquinas e equipamentos 4.5% 4.5% 4.8% 4.8% 5.2% 5.1% 5.7% 5.7% 5.7% 5.9%

Comércio varejista 4.3% 4.3% 4.2% 4.2% 4.5% 4.7% 4.7% 4.3% 5.0% 5.1%

Fabricação de produtos alimentícios 6.1% 6.2% 6.3% 5.5% 5.3% 5.2% 4.9% 4.5% 5.0% 4.8%

Fabricação de produtos de borracha e de

material plástico 4.3% 4.4% 4.4% 4.1% 4.0% 4.2% 3.8% 3.5% 3.7% 3.7%

Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais

elétricos 3.8% 3.4% 3.0% 3.1% 3.4% 3.8% 3.9% 3.6% 3.7% 3.5%

Transporte terrestre 2.1% 2.2% 2.2% 2.2% 2.4% 2.5% 2.6% 2.6% 3.1% 3.1%

Fabricação de produtos farmoquímicos e

farmacêuticos 4.0% 4.4% 4.0% 3.9% 3.9% 4.0% 3.7% 3.2% 3.5% 2.9%

Metalurgia 2.3% 2.7% 2.9% 3.2% 3.5% 3.4% 3.6% 3.4% 2.8% 2.9%

Fabricação de equipamentos de informática,

produtos eletrônicos e ópticos 3.8% 2.5% 2.4% 3.3% 3.2% 2.9% 3.0% 3.0% 2.7% 2.5%

Fonte: SEFAZ-SP

Observando as informações de saldo da balança de comércio interestadual, vê-se que quase todos os setores da indústria da transformação são superavitários, reflexo da maior participação dessa indústria nas vendas de São Paulo e prova da maior complexidade do parque industrial de São Paulo ainda nos recentes. Em 2010, apenas o segmento da metalurgia apresentou déficit no saldo de sua balança comercial com os demais estados. Contudo, vários segmentos da indústria da transformação apresentaram crescimento médio menor no saldo de sua balança comercial do que a média do estado. O maior superávit de comércio do estado é justamente no segmento