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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

TIPIFICAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO FAMILIAR AGROECOLÓGICO NO MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL, ACRE

3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

De acordo com os dados levantados verificou-se que 78% dos entrevistados adquiriram a propriedade através de compra e 22% são assentadas da reforma agrária na região. Em média os produtores possuem uma área total de 5 hectares (Tabela 1), sendo a máxima encontrada de 80 ha, a mínima de 0,5 ha. Muitos expandiram suas áreas a partir da compra de terras vizinhas, adquiridas a menos de uma década.

A área utilizada para a agricultura é de aproximadamente 1,5 hectares. Segundo os entrevistados essa área deve-se a fatores como maior mão-de-obra necessária, falta de incentivo de políticas públicas e falta de assistência técnica rural, limitando o crescimento da atividade. Durante a entrevista observou-se o descontentamento de muitos produtores com a atividade agrícola, sendo o principal fator o escoamento da produção, devido a falta de pavimentação das estradas tornando difícil o transporte no período chuvoso da região.

Tabela 1. Área média, máxima e mínima das propriedades e área média utilizada na agricultura ecológica.

No de propriedades

Área da propriedade (hectares)

Máxima Média Mínima Agricultura

60 80 5 0,5 1,5

Os principais produtos agrícolas produzidos por ordem de importância são: hortaliças, mandioca, milho, feijão e arroz (Tabela 2). As hortaliças são produzidas em 42% das propriedades, predominando o cultivo da alface (Lactuca sativa), couve (Brassica oleracea), cebolinha (Allium

fistolosum) e maxixe (Cucumis anguria). As culturas temporárias como o milho (Zea mays), o feijão (Phaseolus vulgaris) e o arroz (Oryza sativa) são produzidos em poucas propriedades, correspondendo a

10%, 8% e 2% respectivamente nas propriedades.

A mandioca (Manihot esculenta) é cultivada em 38% das propriedades entrevistadas, é utilizada na alimentação e produção de subprodutos como a farinha de mandioca, farinha de tapioca, goma e o beiju. O município destaca-se como um dos maiores produtores de farinha do estado do Acre. Estima-se que o arranjo produtivo local da farinha produzida nessa região envolva cerca de 3.600 unidades de produção familiar. Esse produto é considerado estratégico para a economia regional, despontando como um dos principais fatores de desenvolvimento econômico da região, além das tradições da população local.

Tabela 2. Percentual de distribuição por culturas cultivadas nas propriedades.

Principais culturas

Hortaliças Mandioca Milho Feijão Arroz

42% 38% 10% 8% 2%

Em todas as propriedades observou-se que há o cultivo de plantas frutíferas como o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), banana (Musa spp), mamão (Carica papaya), abacate (Persea americana) e laranja (Citrus sinensis), além de espécies florestais. A variedade de produtos na pequena propriedade demonstra a necessidade dos agricultores em diversificarem a produção a fim de obter uma maior estabilidade na renda familiar. Tanto as hortaliças, como as frutas, grãos e mandioca são utilizadas na alimentação da família e o excedente é levado para comercialização na feira as margens do rio Juruá, sendo a única no município, cuja responsabilidade pela manutenção é da prefeitura.

No manejo do solo a utilização de mecanização agrícola é mínima, sendo que 97% dos produtores utilizam a enxada no preparo do solo. Essa técnica adotada de manejo agroecológico é importante para a conservação do solo e reduz o custo de produção, além de ocupar a mão de obra existente na propriedade. A capina é realizada de forma manual ou com auxílio de uma máquina roçadeira.

Quanto a forma de preparo da área, cerca de 58% dos produtores realizam queimada e a reserva legal está presente em apenas 42% das propriedades entrevistadas. No município de Cruzeiro do Sul a característica do desmatamento ocorre pelo padrão espinha-de-peixe dos projetos de assentamento ao longo e ao sul/sudoeste da BR-364 seguindo o curso do rio Juruá. De forma geral no estado, após as queimadas usualmente os produtores utilizam as terras desmatadas por dois ou três anos para as culturas anuais alimentares (arroz, milho, feijão, mandioca), após esse ciclo, cerca de 12% das terras são utilizadas com culturas perenes (banana, pupunha, laranja, mamão, guaraná, maracujá, manga, abacate e outras espécies) e pastagens para o gado.

O sistema de cultivo predominante é o orgânico (75,9%), não havendo uso de agrotóxicos. Os adubos químicos são utilizados por 12% dos entrevistados. O baixo uso destes produtos é importante para a geração de alimentos mais saudáveis, além de propiciar sustentabilidade ambiental e melhores rendimentos aos agricultores. Quanto a criação de animais, 22% das propriedades praticam a atividade da bovinocultura leiteira extensiva a pasto, com produção apenas para o consumo familiar e venda do excedente no comércio informal. As raças utilizadas na atividade não possuem aptidão leiteira, apresentando baixa produção e índices zootécnicos. Cerca de 42% das propriedades possuem criação de pequenos animais como suínos, aves caipiras e caprinos. Os animais são comercializados na feira vivos, com exceção de algumas aves que são abatidas e tratadas na propriedade, agregando maior valor ao produto.

Quanto a constituição familiar, observou-se que 57% das famílias são constituídas por mais de cinco pessoas, indicando a disponibilidade de mão-de-obra em áreas pequenas, permitindo que as operações sejam realizadas sem contratações externas. A constituição das famílias influencia diretamente no manejo utilizado nas propriedades.

4. CONCLUSÃO

A partir das análises realizadas conclui-se que o sistema de produção familiar no município de Cruzeiro do Sul é caracterizado como de baixo nível tecnológico, sendo realizado em pequenas propriedades rurais da região. Contudo, apresentam alta diversidade de espécies vegetais e criação de animais, tornando a produção familiar mais dinâmica na economia local.

Os produtores da região realizam práticas agroecológicas no sistema de produção agrícola. Entretanto, algumas limitações foram identificadas para expandir a produção, como a falta de incentivo de políticas públicas, principalmente pelas más condições das rodovias e falta de assistência técnica rural.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICA

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