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CONHECIMENTO POPULAR ACERCA DE PLANTAS MEDICINAIS

LEVANTAMENTO DO CULTIVO CASEIRO E USO FITOTERÁPICO DE PLANTAS MEDICINAIS NAS ZONAS URBANA E PERIURBANA DE PICUÍ, PB

2. CONHECIMENTO POPULAR ACERCA DE PLANTAS MEDICINAIS

Ao longo da evolução da espécie humana, observou-se significante geração de conhecimentos relativa ao uso medicinal das plantas. Fatores de ordem econômica proporcionaram maior atenção às grandes culturas, delegando às plantas medicinais a ocupação de um espaço secundário, na observação das propriedades e nas pesquisas (COUTO, 2006). Com isso, os cultuadores dessa atividade, nas zonas rural e urbanas, foram excluídos do aprofundamento de informações inerentes, principalmente, às técnicas mais racionais de cultivos dessas plantas, o que resultou em desuniformidade de práticas e de informações.

Silva et al. (2010) asseveram que plantas medicinais são aquelas que atuam no combate às doenças, pois destroem ou inibem o desenvolvimento de agentes patogênicos, purificando o organismo, ajudando no bom desenvolvimento do corpo, estimulando ou normalizando o funcionamento dos órgãos, no alívio de sintomas locais e no aumento da resistência do organismo.

Segundo Morelli (2010), dados estatísticos indicam que 80% da população mundial usam plantas como auxiliares nos tratamentos de doenças. Ante isto, há uma prática consolidada, principalmente em cidades interioranas do Norte e Nordeste do Brasil, de cultivarem nos quintais residenciais, assistematicamente, plantas medicinais sob as mais diversificadas denominações, para utilização como remédios caseiros dos residentes (ALMASSY JÚNIOR, 2010).

Para Amoroso (1996), a sociedade humana acumula um acervo de informações sobre o ambiente que o cerca, que vai lhe possibilitar interagir com ele para prover suas necessidades de sobrevivência. Essa abordagem ao estudo de plantas medicinais a partir de seu emprego fornece muitas informações úteis à elaboração de estudos farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos sobre estas plantas.

O conhecimento dos agricultores acerca das plantas medicinais tem sido explorado também pela indústria farmacêutica e de cosméticos. A partir deste conhecimento temos uma variedade de plantas sendo utilizadas como tratamento para alguns tipos de doenças.

Cruz (1964) explicita que a erva cidreira (Melissa officinalis L.) é utilizada como excitante e antiespasmódico. Tônico para o sistema nervoso, agitação nervosas, histeria, insônia, dores de cabeça e enxaquecas, problemas digestivos, prisão de ventre, gases intestinais e falta de apetite (BEZERRA, 1977).

Lima et al (2006) relata que a Romã (Punica granathum) é utilizada, casca do caule ou da raiz, em casos de tênia (solitária) do ser humano e nos animais como gatos para eliminar vermes da esquistossomose. Em reservatórios de água contaminados a casca do fruto tem ação adstringente antimicrobiana (nos caso de sthaphylococus), e antiviral (em vírus do Herpes genital). Em geral é indicado no tratamento de dores de garganta, rouquidão, inflamação da boca e locais infectados pelo herpes.

3. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo de caso foi feito por discentes do Curso de Tecnologia em Agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, em dezembro de 2010, na zona urbana e periurbana do município de Picuí, estado da Paraíba, localizado na mesorregião Borborema e microrregião Seridó Oriental Paraibano), georreferenciado pelas coordenadas 6º 33’ 18” S e 36º 20’ 56” O (Figura 1).

Figura 1 - Localização geográfica do município de Picuí, PB.

Os procedimentos metodológicos utilizados consistiram na elaboração de um questionário simplificado e individualizado para abordagem de 184 domicílios visando a coleta de dados e saberes terapêuticos dos residentes.

Os dados coletados foram analisados com a utilização da planilha Excell 2010, com distribuição percentual da frequência de observação.

4. RESULTADOS

Dos residentes indagados no levantamento in loco, os dados apontaram que 25,5% e 74,5% dos entrevistados eram, respectivamente, do sexo masculino e feminino.

Foram citados pelos moradores o uso caseiro como fitoterápico de 58 espécies de diferentes plantas medicinais, destacando-se as relacionadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Plantas Medicinais

Família Espécie Nome Popular Uso

Lamiaceae Melissa officinalis L Erva Cidreira Antiespasmódica, antinevrálgica e calmante

Lamiaceae Mentha crispa Hortelã

Anti-séptico, aromática, digestivo, estomáquica e

expectorante.

Poaceae Cymbopogon citratus Capim Santo

Febrífugas, sudoríficas, analgésicas, calmantes, anti-

depressivas, diuréticas e expectorantes

Monimiaceae Peumus boldus Molina Boldo Desconforto digestivo

Chenopodiaceae Chenopodium

ambrosioides L. Mastruz

Antiinflamatória, antiviral, antiasmática, antiinflamatória

e antigripal

Lamiaceae Rosmarinus officinalis L. Alecrim Estimulante, antiinflamatória

Apiaceae Pimpinella anisum L. Erva Doce Distúrbios gastrointestinais, dispepsia, cólicas e tosse

Adoxaceae Sambucus vulgaris Sabugueira Febre, tosse, resfriado, e dores de garganta

Asphodelaceae Aloe vera (L.) Erva Babosa

Antibacteriana, cicatrizante, reidratante do tecido capilar ou dérmico danificado por

uma queimadura

Sapotaceae Bumelia sartorum Mart Quixabeira Antiinflamatórias e analgésicas

Figura 2 - Percentual de plantas usadas como remédio caseiro em domicílios das zonas urbana e

periurbana de Picuí, PB.

A análise da Figura 2 permite observar que as plantas medicinais mais utilizadas pelos residentes avaliados foram a erva cidreira (Melissa officinalis L., Lamiaceae), hortelã da folha miúda (Mentha crispa

L., Labiatae), capim santo (Cymbopogon citratus L., Poacea), boldo (Peumus boldus Molina, Lamiaceae)

e mastruz (Chenopodium ambrosioides L., Chenopodiacea).

Cerca de 87% dos entrevistados utilizam as plantas medicinais como remédios caseiros, o que ressalta, com base em Morelli (2010), que está arraigado na cultura e saber populares que essa plantas são aproveitadas, conscientemente, como forma alternativa complementar à medicina. Isso foi reforçado pelas informações de que o referido uso medicinal tem origem em tradição familiar, passada de geração a geração, transformando-se em um ativismo cultural. Entretanto, os dados apontados, revelaram que mais de 83% dos entrevistados que usam remédios caseiros não souberam informar de possíveis contra-indicações à automedicação com esses fitoterápicos.

A avaliação indicou que, em 119 residências questionadas, não é praticado o cultivo de plantas medicinais (64,7%), enquanto que nas demais (35,3%) esta prática é usual. Cerca de 79,4% dos residente analisados informaram que não usam remédios caseiros obtidos de plantas medicinais conjuntamente com os remédios convencionais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante as informações fornecidas neste levantamento, percebe-se a variabilidade muito grande de espécies de plantas medicinais que são usadas de forma caseira em Picuí, PB.

Com isso, revela-se a necessidade de sistematização das plantas catalogadas com relação às suas sinonímias, nomes científicos, características botânicas, método propagativo, métodos de cultivo e uso fitoterápico caseiro. Posteriormente, como forma de reduzir o espaço secundário delegado às plantas medicinais, verifica-se a premência na reunião das espécies em um Horto Medicinal Autóctone no espaço acadêmico e comunitário do IFPB, campus Picuí, que servirá de laboratório para o aprofundamento dos conhecimentos dos discentes do Curso de Tecnólogos em Agroecologia e, também, como banco de germoplasma disponível à comunidade local, visando perpetrar na cultura local a preocupação do meio acadêmico em perpetuar os conhecimentos e saberes que estes sedimentaram no decorrer do tempo.

Após a catalogação das informações iniciais da etapa de entrevistas, como forma de valorização dos conhecimentos e de resgate de uma cultura que, adiante, pode se transformar na perda de uma biblioteca em chamas, haja vista que a preservação da sabedoria popular é importante como forma de proteger o conhecimento das comunidades, tem-se um material que pode ser transformada em uma Cartilha de base agroecológica do cultivo e uso de plantas medicinais, a ser disponibilizada às comunidades local e acadêmica como forma de síntese de todos os conhecimentos obtidos.

6. REFERÊNCIAS

ALMASSY JÚNIOR, A. A.; SILVA, A. F.; FONSECA, M. C. M. Conhecimento tradicional do uso medicinal das plantas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 31, n. 255, p. 20 – 26, 2010.

AMOROSO, M. C. M. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: Di Stasi, L. C. 1996. Plantas Medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo multidisciplinar. 1a. ed. São Paulo, Ed. Unesp. p. 47-68.

BEZERRA, Nizomar Falcão. Algumas Plantas Medicinais Nativas e Cultivadas na Região de Mossoró.

COUTO, M. E. O. Coleção de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Pelotas: EMBRAPA, 2006. 91 p. (Embrapa Clima Temperado, 157).

CRUZ, G. L. Dicionário das plantas úteis do Brasil. Rio de janeiro: Portinho e Cavalcante, 1964.

DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 1996. 169p.

MORELLI, M. S. Guia de produção para plantas medicinais, aromáticas e flores comestíveis. Porto Alegre: Cidadela, 2010. 252 p.

SILVA, A. F.; SANTOS, A. P.; RABELO, M. F. R. Identificação botânica das plantas medicinais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 31, n. 255, p. 13 – 19, 2010.

LIMA, José Luciano Santos de. FURTADO, Demerval Araújo. PEREIRA, Jorgeson Pinto Gomes. BARACUHY, José Geraldo de Vasconcelos. XAVIER, Haroudo Sátiro. Plantas Medicinais de Uso comum no Nordeste

INVESTIGAÇÃO DO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS NO MUNICÍPIO DE