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7. Reflexões para além de freqüência e prototipicidade verbais

7.3 Análise qualitativa do uso do verbo put em construções VOL

(falantes nativos da língua inglesa), podemos ver claramente como as redes são semelhantes, embora a ilha dos entrevistadores seja visivelmente mais rica e diversificada. A rede dos entrevistadores exibe colocações ligeiramente mais distribuídas. Isto pode ser constatado pela espessura dos links entre as palavras, ou seja, quanto mais espessa menos distribuída e centrada em alguns pronomes. Entretanto, há inegavelmente uma superposição de pronomes e preposições; destas últimas, dos vinte tipos de preposições verificados nos dados dos entrevistadores, treze estão também presentes nos dados dos aprendizes.

7.3 Análise qualitativa do uso do verbo put em construções VOL

Neste ítem será feita uma análise qualitativa das sessões nas quais o verbo put na construção VOL foi mais freqüentemente encontrado (sessões que envolvem as atividades do tipo E, que consistia em dar instruções). É neste tipo de atividade que a maior parte das construções VOL ocorrem (o equivalente a 52% dos 18 tipos de atividades realizadas no projeto ESF).

7.3.1 Andrea

Foi verificada a ocorrência de construções VOL em dez sessões de Andrea. Além da tarefa E, as outras tarefas de Andrea em que ocorre o uso de tal construção são as tarefas k, l, a, g, i, d & q. Analisaremos detalhadamente cinco sessões ao longo dos meses com o objetivo de capturar o desenvolvimento de construções VOL. Veja Quadro 11 com o código do arquivo transcrito, a data de realização da sessão, o mês do sujeito no estudo quando da sessão e verbos usados na construção com sua freqüência (em tokens) entre parênteses73

73

Os exemplos aqui fornecidos são trechos inalterados das sessões transcritas nos aquivos em formato .cha. Como destacado anteriormente, o leitor encontrará TODAS as sessões em CD-ROM anexo a esta tese. O leitor também encontrará no CD o programa CLAN, que deverá ser instalado para a correta leitura dos arquivos.

Arquivo Data da sessão Mês no estudo Verbos usados (freqüência tokens) liean12e.1.cha 10 janeiro 1983 1 bring (4), put (1), see (1)

liean16k.1.cha 8 julho 1983 7 take (1) liean17l.1.cha 23 agosto 1983 8 take (1) liean18a.1.cha 28 setembro 1983 9 put (1)

liean22g.1.cha 16 novembro 1983 11 put (1), open (1)

liean22e.1.cha 16 novembro 1983 11 put (8), take (2), leave (1), keep (1), try (1) liean24i.1.cha 20 janeiro 1984 13 take (2)

liean31d.1.cha 24 outubro 1984 22 send (1), take (1)

liean32e.1.cha 21 novembro 1984 23 put (6), take (5), touch (1), sit (1) liean34q.1.cha 21 dezembro 1984 24 put (1)

Quadro 11

Sessões de Andrea nas quais ocorre a construção VOL

O Gráfico 25 ilustra o desenvolvimento de Andrea no uso de construções VOL, incialmente ancoradas principalmente no verbo put, por meio de uma curva cumulativa de aquisição

Andrea

Curva cumulativa de aquisição VOL

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Mês do estudo F re q ü ê n c ia c u m u la tiv a d e t y p e s put take bring move leave open see send sit touch try Gráfico 25

Primeira sessão, em 10 de janeiro de 1983

Esta sessão é a primeira de Andrea no estudo ESF. Andrea parece desconhecer verbos (especialmente verbos de movimento). Seus enunciados são praticamente construídos com substantivos (i.e., são, essencialmente, o que poderíamos chamar de enunciados multi-palavras). A comunicação é bastante telegráfica e Andrea faz uso freqüente de gestos, como nestes trechos em que Andrea pede primeiro que a entrevistadora coloque a jaqueta na cadeira e depois que ela coloque (vista) a jaqueta (neste último, trecho 4, vemos que ele usa o italiano indossare la giacca para dizer ‘vista a jaqueta’ ou ‘put the jacket on’, em inglês)74

1) er your jacket. e@s [:=T and] jacket er on the seg@s [:=T from the italian *seggia* chair].

2) er after get up bring the er jacket ## <i dont know> [% a is having problems expressing himself and is aware of it] er indossare@s la@s giacca@s [:=T put the jacket on] yes [% a indicates to m that she is performing the correct actions].

Neste outro trecho, Andrea pede para colocar a caneta dentro da revista, sem utilizar verbos, apenas usando gestos e contato visual

3) e@s [:=T and] er # this pens in the magazine.

No trecho a seguir, Andrea pede que sua interlocutora coloque a bolsa dela na cadeira. Observe que Andrea não formula a frase “coloque a/sua bolsa na cadeira”, mas chama sua interlocutora com a fórmula come near, utilizando gestos e contato visual para se comunicar

4)come near this seg@s [:= from the nglish *seggia* chair] yes er the bage [% #}#] in the [/?] on the < > [% laughs].

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Mais adiante no diálogo, Andrea começa a usar bastante o verbo bring com o objetivo de fazer com que sua interlocutora mova ou coloque algo em algum lugar, ou seja, contruções VOL. Veja os exemplos:

5) bring this seg@s [:=T from the nglish *seggia* chair] erm # in nother position.

6) bring one magazine in the bag.

7) bring this er pens. Er # this pens in the magazine.

8) see again in the window after bring [/?] bring one magazine in the bag

Andrea emprega, pela primeira vez, o verbo put numa construção VOL: 9) <put> [?] magazine in the bag.

Sessão realizada em 23 de agosto 1983

Andrea encontra-se no oitavo mês do estudo. Uma de suas tarefas nesta sessão é dar instruções a sua interlocutora sobre como chegar a lugares específicos (route description). Andrea tem dificuldades em comunicar suas intenções. Usa fórmulas (I don’t understand) e alguns poucos verbos (take, go, turn) começam a ser usados. Com exceção do uso de alguns verbos, sua interlíngua parece não avançar em relação à primeira sessão. Veja a única construção VOL identificada

10) when i finish the irving road i take the left # and er i take the train for # green park

Sessão realizada quatro meses depois, em 16 de novembro 1983

Andrea está participando do estudo há dez meses e começou a usar outros verbos na construção VOL. O verbo bring, que era usado quase que sempre para pedir que algo fosse movido, deslocado ou colocado em algum lugar, praticamente desapareceu nesta

construção, ao passo que o uso do verbo putaumentou consideravelmente (8 tokens). Andrea também faz uso agora dos verbos take (2 tokens), leave (1 token), keep (1 token) e try (1 token). Parece que Andrea está começando, de maneira bastante tímida e gradual, a desenvolver a construção X causes Y to move Zpath/location baseado no verbo put. Veja exemplos a seguir:

11)put the silver in the ^bag. 12) put er on the floor.

13) put the bag with the silver # over the ### [% long pause] over the ## cuscino@s [:=T cushion].

14) put the box on the shelf

15)[% long pause] no good < > [% laughs] take the er the money ### and er try now in that [!] plant ### the big one # on the left. Yes and put the money # over ### [% long pause] yeah take the money ### and now try # under [!] the ## the vase [% #veiz#] va [/?]

Sessão realizada em 20 de janeiro de 1984

Andrea encontra-se no décimo terceiro mês no projeto. Nesta sessão, a tarefa consiste em contar o filme de Charlie Chaplin (Tempos Modernos) que Andrea acabara de assistir. O uso de fórmulas é constante (por exemplo, I don’t know, all right, I dont understand, etc) e o progresso de sua interlíngua é imperceptível em relação à sessão anterior. Seus enunciados exibem um padrão telegráfico. Duas construções VOL foram identificadas nesta sessão, ambas com o verbo take

16)### [% long pause] and er # take him # charlie chaplin # in this house

17)and after er # other policeman # with him # take him for # the police station for other things

Sessão realizada 10 meses depois, em 21 de novembro 1984

Esta sessão foi realizada no vigésimo terceiro mês de participação de Andrea no estudo. A construção VOL permanence dominada pelo verbo put (6 tokens). O verbo take continua a ser gradativamente utilizado nesta construção (2 tokens) e surgem novos verbos touch (1 token) e sit (1 token). Uma construção esquemática mais complexa do tipo take X and put in Zpath/location ou X causes Y to move Zpath/location parece estar surgindo e sendo incorporada à interlíngua de Andrea. Veja exemplos a seguir:

18)take the [% prolonged] the plate # under the cup. And put that over [!] the cup. 19) take the box and er put that near the legs of the ## seige [%

sezEsuffix chair] # behind the table.

20)take -_ the ashtray on the table and put that into the bag.

Esta nova construção (ou sua complexificação) é uma boa evidência de que Andrea já conseguiu abstrair a construção VOL e agora já é capaz de incrementar ou expandir tal estrutura esquemática para além do uso do verbo prototípico put, ao fazer uso de um outro verbo, de forma a mudar, levemente, a função/significado comunicativo pretendido na interação. Veja exemplo retirado desta sessão:

4) take the little bag and the other one and er ## go outside of the +/. And going # outside of the door.

A sessão acima foi uma das últimas sessões de Andrea no projeto ESF. Como vimos, Andrea estava no seu vigésimo terceiro mês no estudo. Sua interlíngua exibe mais complexidade (se comparada à sessão primeira), e ele consegue ser bem específico em certas instruções dadas. O padrão verificado ao longo do desenvolvimento desta construção VOL guarda estreita relação com àquele visto para a construção VL. Repare que no início a interlíngua de Andrea era limitada: seus enunciados não continham verbos, o uso de palavras soltas e linguagem telegráfica eram comuns, assim como o emprego de fórmulas fixas. Também havia muito uso de gestos. Andrea começou a usar a construção VOL inicialmente com o verbo bring (4 ocorências). Por volta do décimo mês, o verbo prototípico put começa a ser muito usado em construções VOL. A partir