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5. Análise de um corpus longitudinal (Aprendizes de ESL no Projeto ESF)

5.8 Discussão: comparando os resultados de freqüência verbal

5.8.1 Muito type para pouco token

Uma outra observação importante a ser feita sobre os resultados de freqüência acima exibidos está relacionada com a quantidade de types verbais identificados nos dados dos aprendizes e dos entrevistadores. Observe no Quadro 5 que a quantidade de types para os dois grupos não é muito discrepante.

Types verbais VL VOL VOO

Aprendizes 39 24 9 Entrevistadores 33 33 12

Quadro 5

Comparação do número de verbos usados por aprendizes e entrevistadores

A pequena diferença verificada no emprego dos tipos verbais torna-se, no entanto, extremamente significante diante da enorme diferença observada na distribuição destes verbos ao longo dos gráficos e o pedaço do bolo construcional reservado a cada um deles. A distribuição das construções VL, VOL e VOO entre os verbos em cada construção se mostra mais democrática nos gráficos dos entrevistadores do que nos gráficos dos aprendizes. Se olharmos cuidadosamente o Gráfico 12, tal distribuição é bem menos graciosa para os aprendizes.

Por exemplo, considerando a relação verbo/total de construções VL, verificamos que no grupo de entrevistadores o verbo go abocanha 42%, come 14%, get 11%, look 7%, live 5%, stay/turn 3% das construções. No grupo de aprendizes, a porcentagem é a seguinte: go abocanha 54%, come 11%, sit 5%, look 4,81%, get/live 3,89%. Os demais verbos put, turn, drop, move, fall, sleep, etc, possuem uma porcentagem em torno de 1% e o restante nem a 1% chegam.

Considerando a mesma relação para as construções VOL dos entrevistadores, verificamos que o verbo put abocanha 35% das construções, seguido por take 21%, see 16%, get 6%, bring/pick/leave 3%, etc. Já para os aprendizes, a mesma construção é abocanhada 68% das vezes pelo verbo put, seguido por take 6%, turn 4%, drop 3%, move 2%. Os vebos bring, catch, have, send, keep e open possuem uma porcentagem em torno de 1% e o restante nem a 1% chegam.

Finalmente, para a construção VOO, entre os entrevistadores o verbo give abocanha 53%, tell 17%, cost 7%, call 5%, show 4%, ask 3%, etc. Para os aprendizes, a mordida de give corresponde a 61%, ask/write 8%, buy/send 5% das construções. Novamente, uma olhada no Gráfico 12 permite uma compreensão mais rápida do contraste aqui exibido em porcentagens (forma de ilustração que admito ser bastante enfadonha!)

Uma explicação possível para este fenômeno está tanto na idéia de protótipos e gradação observada nas categorias naturais como na própria distribuição zipfiana da linguagem. Os aprendizes nativos possuem um conhecimento mais profundo ou rico das categorias em questão (i.e., construções VL, VOL e VOO) bem com dos elementos que as compõem (i.e., os diferentes graus de tipicidade verbal em cada categoria). Apesar de continuar existindo um protótipo para cada uma destas construções, os falantes nativos e proficientes de uma dada língua não são tão dependentes de tais protótipos e são capazes de fazer uso de outros verbos que co-existem numa mesma categoria (ou seja, que contêm atributos semânticos que possibilitam a expressão de nuances e significados bem específicos, para além do sentido genérico dos protótipos).

Por outro lado, os aprendizes nos estágios iniciais de aquisição de uma língua tendem a se apoiar fortemente no protótipo para cada uma das construções analisadas (VL, VOL e VOO). Tais protótipos de fato abocanham uma parte muito grande das construções analisadas, restando uma parcela muito pequena para os outros verbos, apesar de o número de tipos verbais ser bem semelhante ao dos entrevistadores. E isto é bastante revelador da importância dos protótipos verbais nos estágios iniciais de aprendizagem, como revelam as pesquisas discutidas nos capítulos anteriores desta tese. Os dados encontrados em nosso subcorpus de aprendizes de L2 no projeto ESF confirmam os achados de Goldberg e colegas em relação à aprendizagem da L1.

Finalmente, as diferenças encontradas no emprego dos types verbais por parte dos aprendizes e dos entrevistadores nas três construções analisadas parecem também ter uma relação direta com o que Granger (1998) chamou de ‘noção de saliência’ (sense of salience). Ou seja, a divisão menos democrática do bolo construcional entre os verbos em cada construção pode ser um bom indicativo de que a noção de saliência dos aprendizes ainda é bastante fraca, e às vezes até ‘enganosa’, quando pensamos no aspecto idiomaticidade. No entanto, seria preciso uma análise mais detalhada deste aspecto ao longo do desenvolvimento interlingual dos sujeitos em nosso subgrupo, o que, por ora, extrapola o escopo do presente trabalho.

5.8.2 Para além de freqüência verbal

Os dados até agora exibidos referem-se, basicamente, a uma análise longitudinal de freqüência verbal nas construções VL, VOL e VOO identificadas no subcorpus investigado. Com o intuito de complementar a análise apresentada neste capítulo, que, como vimos, revelou que o desenvolvimento das três construções na língua inglesa é calcado por tokens de alta freqüência, ou protótipos verbais, foi elaborado um pequeno experimento visando avaliar a percepção de prototipicidade verbal por parte de falantes proficientes da língua inglesa (nativos e não nativos). Ou seja, o estudo relatado no capítulo 6 a seguir busca determinar até que ponto os dados encontrados sobre freqüência verbal encontram ressonância nas percepções de prototipicidade por parte de falantes proficientes da língua inglesa.

Como destacado por Gries, Hampe & Schönefeld (2005:02), uma análise construcional baseada apenas em freqüência verbal (ou percentagem de ocorrência de certos verbos em certas construções), como mostram os dados exibidos até agora, quase sempre pode ser “inútil ou até problemática”. É importante um cálculo de contingência, ou seja, é fundamental conhecer o grau probabilístico de associação entre uma pista e um dado resultado, ou, na discussão em questão, entre uma forma e uma função lingüística. Por exemplo, olhos e asas co-ocorrem em pássaros. Sempre que avistamos um pássaro, veremos também seus olhos e suas asas. A freqüência de ambas as pistas é, portanto, idêntica. No entanto, as asas são mais confiáveis do que os olhos como pista na