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ASSOCIÁVEIS ÀS ACÇÕES ENERGÉTICAS DO MAR

2 VULNERABILIDADES E RISCOS

2.2 Questões Chave na Avaliação de Vulnerabilidades e Riscos

2.2.1 Parâmetros de Vulnerabilidade

2.2.1.8 Análise temporal das taxas de erosão e acreção

A utilização das taxas de movimentação da linha de costa é uma das medidas mais utilizadas por cientistas e engenheiros, aparecendo nas figuras de planeamento para indicar a dinâmica e os perigos na costa (Dolan et al., 1991).

Na maior parte dos casos, a taxa de erosão/acreção pretende “resumir” o acumular do processo de dinâmica da costa ao longo do tempo. A precisão desse “resumo” depende da precisão nas medições da linha de costa, da variação temporal da linha de costa, do número de pontos com medições usadas no cálculo da taxa, da proximidade temporal entre as medições, da variação temporal das tendências de evolução, da data de início de aquisição de dados e do método utilizado no cálculo da taxa. Se a variação da costa está a seguir uma tendência uniforme, as variações temporais na aquisição de dados não são importantes e a precisão final na determinação da taxa pode ser alta, mas na realidade, poucas são as linhas de costa com esse comportamento. O primeiro passo para a determinação das taxas de erosão ou acreção é o da demarcação e medição da posição da linha de costa, existindo numerosos processos, baseados em fotografias aéreas, mapas, cartas náuticas e perfis transversais. A determinação da taxa baseada em várias medições também pode obedecer a diversos métodos (Dolan et al., 1991).

As alterações da posição da linha de costa em costas arenosas e em períodos de tempo curtos são em geral cíclicas e podem estar associadas a evoluções dos perfis transversais. As projecções de taxas de erosão/acreção para longo termo com base em períodos curtos, podem por isso resultar em avaliações erróneas. Segundo Elliot e Clark (1989), são necessários no mínimo dez anos para definir uma tendência a longo termo, como referem Dolan et al. (1991). Mas este período de dez anos poderá não ser suficientemente extenso para cobrir acontecimentos extremos que, por si só, tenham um elevado impacte irreversível na fisiografia costeira.

As tendências passadas em termos de evolução de linha de costa, as taxas de erosão/acreção registadas no passado, relacionadas com eventuais intervenções, são um auxiliar precioso para as tentativas de projecção do comportamento futuro. É fundamental verificar se existe alguma variação significativa dessas taxas, em consequência de alguma intervenção efectuada.

Gornitz et al. (1997) propõem uma divisão de vulnerabilidades em função das taxas de erosão e acreção. A classificação mais baixa de vulnerabilidades é atribuída para taxas de acreção superiores a dois metros por ano e a classificação mais alta corresponde a taxas de erosão superiores a dois

metros por ano. As classificações intermédias são definidas por intervalos de apenas um metro em cada classe de taxa de erosão ou acreção anual. Este mesmo critério é utilizado por Thieler e Hammar-Klose (1999), num estudo de vulnerabilidades da costa Atlântica dos Estados Unidos à subida do nível das águas do mar.

Andrade e Freitas (2002) dividem este critério em apenas 3 classes, designadamente as praias que estão estabilizadas, em acreção ou protegidas por trabalhos de artificialização, as que apresentam tendências de erosão e as que apresentam erosões confirmadas. Assim, perante as propostas expostas, sugere-se uma nova classificação, eventualmente mais adequada à costa portuguesa e correspondente à apresentada na tabela 2.19.

Tabela 2.19: Classificação da vulnerabilidade quanto a taxas de erosão ou acreção.

Muito baixa Baixa Moderada Alta Muito alta Vulnerabilidade

1 2 3 4 5

Taxas de erosão/acreção (m/ano)

> 0 acreção > -1 ≤ 0 > -3 ≤ -1 > -5 ≤ -3 ≤ -5 erosão 2.2.1.9 Acções antropogénicas

As intervenções humanas com impacte nos volumes de sedimentos em circulação na costa litoral, tais como os aproveitamentos hidroeléctricos, as dragagens, os quebramares e esporões, as extracções de areias, a urbanização em zonas dinâmicas e a destruição de cordões dunares, potenciam os valores de erosão da costa, aumentando as suas vulnerabilidades. Há necessidade de mitigar estas consequências (Veloso-Gomes e Taveira-Pinto, 1997).

A classificação deste tipo de vulnerabilidades deve ser função da probabilidade do potencial de transporte de sedimentos (função das características de agitação) ser superior ao volume de sedimentos disponível, por efeito de redução das fontes sedimentares (devido a extracção de areias, dragagens, aproveitamentos hidroeléctricos, quebramares e esporões).

A quantificação da probabilidade de erosão também é função do grau de intervenções de defesa já efectuadas no local e da sua eficácia, sendo menores as probabilidades em zonas onde existam

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

defesas, como esporões, obras aderentes, alimentação artificial, dunas artificiais e paliçadas para retenção de areias.

Assim, as probabilidades de erosão devido a intervenções humanas com influência no comportamento natural da dinâmica costeira devem incluir não só o efeito negativo de intervenções muitas vezes com relação indirecta na região costeira, mas também a acção de defesa de intervenções realizadas.

Tabela 2.20: Classificação da vulnerabilidade quanto a acções antropogénicas.

Descrição Vulnerabilidade

Intervenções com estruturas de manutenção da posição da linha de costa 1

Intervenções sem estruturas, mas sem evidência de redução nas fontes sedimentares 2

Intervenções sem estruturas, mas com evidência de redução nas fontes sedimentares 3

Sem intervenções e sem evidência de redução nas fontes sedimentares 4

Sem intervenções e com evidência de redução nas fontes sedimentares 5

Nas intervenções de defesa classificadas como “de manutenção da posição da linha de costa” incluem-se as obras paralelas e perpendiculares à costa, tais como quebramares destacados, obras longitudinais aderentes, esporões e campos de esporões, bem como os quebramares portuários. As intervenções sem estruturas são as alimentações artificiais de areias, as dunas artificiais e as paliçadas para retenção de areias. Note-se que a classificação da existência de um tipo de defesa pressupõe que ela se mantenha efectiva durante o período horizonte de análise, ou seja, obrigando a operações de monitorização e manutenção periódicas. Caso essa situação não esteja assegurada, a classificação de vulnerabilidades neste aspecto deve ser reanalisada.

Desde que exista algum motivo para que as fontes sedimentares sejam inferiores à capacidade potencial de transporte longitudinal, e que por isso seja evidente ou previsível um défice no balanço sedimentar, deve ser considerada a redução da fonte sedimentar. Assim, na constatação da existência de extracções de areias, dragagens, aproveitamentos hidroeléctricos com impacte nas fontes aluvionares a barlamar do local em análise e de quebramares ou esporões também a barlamar do local em análise, a classificação de vulnerabilidades expressa na tabela 2.20 será superior. Na existência de estabilidade da frente costeira no seu estado natural e quando não existirem intervenções, nem evidência de redução de sedimentos, pode ser considerado um índice de vulnerabilidade inferior a quatro, quando convenientemente avaliado.