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ASSOCIÁVEIS ÀS ACÇÕES ENERGÉTICAS DO MAR

2 VULNERABILIDADES E RISCOS

2.1 Métodos e Estratégias de Análise

2.1.6 Análises de Simm e Cruickshank (1998)

Esta análise está mais relacionada com os riscos na construção de obras de engenharia costeira, os quais derivam na grande maioria, da variabilidade e incerteza das acções (ondas, correntes, marés, etc.), da necessidade de trabalhar e colocar material na água (…) e na dificuldade em adoptar procedimentos apropriados a estas circunstâncias especiais (Simm e Cruickshank, 1998).

Tradicionalmente, a gestão de riscos é aplicada “instintivamente”, com os riscos a existirem implicitamente e a serem avaliados pela experiência. A gestão de riscos deve explicitar esses riscos, descrevendo-os e tornando-os mais fáceis de gerir. A identificação dos riscos permite a seu escalonamento por prioridades, conduzindo à concentração de esforços no seu controlo e ao balanço entre os custos e benefícios das medidas de controlo (Simm e Cruickshank, 1998).

Segundo Simm e Cruickshank (1998), na generalidade, a gestão de riscos relaciona-se com incertezas, tomadas de decisão e acções com base no conhecimento ou incerteza do que pode acontecer. Por causa da incerteza, uma boa decisão pode não conduzir a um bom resultado, mas a gestão de riscos deve aumentar o sucesso dos resultados.

As fontes de risco são diversas, sendo algumas bem conhecidas (estatisticamente), outras mal quantificadas e outras mal identificadas. As consequências são também de vários tipos, podendo algumas ser quantificadas em termos de, por exemplo, segurança, tempo ou custos, e outras de dimensão ambiental, social ou política. A gestão de riscos e as medidas de mitigação devem demonstrar “valer a pena” intervir. As ferramentas de gestão de risco devem, por si só, permitir a análise de custos e benefícios da gestão de riscos.

A identificação do tipo de consequências é fundamental para a definição de objectivos. As consequências podem ser económicas, em número de dias (atraso na conclusão dos trabalhos), em qualidade ambiental ou em segurança. A mitigação dos riscos tem custos e impactes que também interessa avaliar. A estimativa do benefício real das medidas de mitigação permitem avaliar a validade das próprias medidas.

Simm e Cruickshank (1998) apresentam diversas tabelas extraídas de um guia elaborado pela CIRIA (Construction Industry Research and Information Association) para controlo de riscos e gestão sistemática dos riscos na construção. Procedendo a uma adaptação das características da

construção de obras de engenharia costeira para os problemas de erosão, com galgamentos e inundações, podem elaborar-se as tabelas 2.7 a 2.11.

Tabela 2.7: Escala típica de probabilidades de ocorrência (adaptada de Simm e Cruickshank, 1998).

Ocorrência Descrição Escala Probabilidade

Frequente Provável ocorrência muitas vezes durante o período T 4 100/T

Provável Ocorrências diversas durante o período T 3 10/T

Ocasional Algumas ocorrências durante o período T 2 1/T

Remota Improvável, mas possível ocorrência durante o período T 1 1/10T

Improvável Muito improvável ou não possível ocorrência em T 0 1/100T

T – período de tempo em análise.

O período de tempo em análise é variável em função do problema em estudo. Este período deve ser definido de maneira a que as probabilidades de ocorrência mais frequentes se aproximem dos 100%.

Tabela 2.8: Escala típica de consequências (adaptada de Simm e Cruickshank, 1998).

Consequência Descrição Escala Custo

Catastrófica Mortes, perdas de terreno 4 100V

Crítica Feridos, prejuízos avultados 3 10V

Séria Feridos ligeiros, prejuízos registados 2 1V Marginal Pessoas atingidas sem gravidade, reabilitações ligeiras 1 V/10

Desprezável Sem consequências 0 V/100

V – valor médio das consequências.

Por vezes, as consequências dos problemas de erosão, galgamentos e inundações podem não ser directamente associadas a um valor económico (por exemplo, mortos e feridos). Assim, na análise dos custos deve ser avaliado um valor médio, numa ponderação de difícil quantificação.

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

Tabela 2.9: Importância dos riscos (adaptada de Simm e Cruickshank, 1998).

Consequência

Catastrófica Crítica Séria Marginal Desprezável Ocorrência Escala 4 3 2 1 0 Frequente 4 16 12 8 4 0 Provável 3 12 9 6 3 0 Ocasional 2 8 6 4 2 0 Remota 1 4 3 2 1 0 Improvável 0 0 0 0 0 0

Tabela 2.10: Custo dos riscos por unidade de tempo (adaptada de Simm e Cruickshank, 1998).

Consequência

Catastrófica Crítica Séria Marginal Desprezável Probabilidade 100V 10V 1V V/10 V/100 Frequente 100/T 10000V/T 1000V/T 100V/T 10V/T V/T Provável 10/T 1000V/T 100V/T 10V/T V/T V/10T Ocasional 1/T 100V/T 10V/T V/T V/10T V/100T Remota 1/10T 10V/T V/T V/10T V/100T V/1000T Improvável 1/100T V/T V/10T V/100T V/1000T V/10000T

Tabela 2.11: Aceitabilidade dos riscos (adaptada de Simm e Cruickshank, 1998).

Consequência Probabilidade

Catastrófica Crítica Séria Marginal Desprezável

Frequente Inaceitável Inaceitável Inaceitável Indesejável Indesejável

Provável Inaceitável Inaceitável Indesejável Indesejável Aceitável Ocasional Inaceitável Indesejável Indesejável Aceitável Aceitável

Remota Indesejável Indesejável Aceitável Aceitável Desprezável

Improvável Indesejável Aceitável Aceitável Desprezável Desprezável

Quando a classificação é de “inaceitável”, o risco tem que ser mitigado ou transferido. A classificação de “indesejável” deve também ser mitigada se possível, requerendo investigação detalhada, monitorização, avaliação de custos e conhecimento da situação ao mais alto nível. Quando “aceitável”, o risco deve ser convenientemente gerido e no caso de ser “desprezável” não serão necessárias mais considerações (Simm e Cruickshank, 1998).

É necessário cuidado na combinação das probabilidades e consequências de cada factor gerador de riscos, pois podendo ter o mesmo impacte, geralmente os riscos com elevadas consequências e menores probabilidades de ocorrência são mais importantes de gerir do que os de altas probabilidades, mas baixas consequências (Simm e Cruickshank, 1998).

Ondas de 3 a 4 m

0.9 - não provoca danos

0.1 - registo de danos

0.7 - só em terrenos

0.3 - com perdas irreversíveis

0.4 - materiais 0.6 - agrícolas Sem danos Danos em terrenos Danos e perdas agrícolas Danos e perdas materiais 90.0 % 7.0 % 1.8 % 1.2 % Figura 2.1: Exemplo de definição de probabilidades por ramificação de eventos

(adaptado de Simm e Cruickshank, 1998).

Simm e Cruickshank (1998) propõem ainda uma abordagem por definição de probabilidades por ramificação de eventos (figura 2.1). Este método permite a introdução de quantidades no processo de tomada de decisão. A representação em forma de diagrama do conjunto de alternativas ilustra a sequência das tomadas de decisão e dos respectivos resultados esperados em cada circunstância.