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Intervenções de alimentação e reperfilamento das praias

NA EVOLUÇÃO FISIOGRÁFICA DAS FAIXAS COSTEIRAS

3 ACÇÕES NATURAIS E ANTROPOGÉNICAS CONDICIONANTES NA EVOLUÇÃO FISIOGRÁFICA DAS FAIXAS COSTEIRAS

3.2 Acções Antropogénicas

3.2.2 Intervenções de Defesa das Zonas Costeiras

3.2.2.2 Intervenções de alimentação e reperfilamento das praias

As técnicas de estabilização da linha de costa recorrendo a intervenções designadas como “ligeiras” são em geral mais amigas do ambiente, mas não deixam de envolver questões técnicas e ambientais delicadas e custos que poderão ser de difícil avaliação. Questões a longo termo continuam por esclarecer e quantificar. Por exemplo, no caso de utilização de fontes de sedimentos, estas vão ser cada vez mais escassas e localizadas a distâncias superiores e a profundidades mais elevadas, aumentando custos e riscos ambientais.

Alimentação artificial de praias Reperfilamento do perfil de praia Artificialização das dunas

Figura 3.25: Esquema de intervenções de alimentação e reperfilamento das praias.

As intervenções de estabilização da costa que aqui se apresentam tentam manter (em termos médios) a posição da linha de costa por adição de areia ou plantação de vegetação para reter os sedimentos, mantendo o valor recreativo e ambiental da praia. Estas soluções tentam trabalhar com os processos da natureza, ao contrário de lhes tentar fazer frente.

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Alimentação artificial de praias

A alimentação artificial de praias é uma técnica que em determinadas circunstâncias é promissora ao manter uma praia com fins de defesa e recreativos. A colocação de areia na praia obriga à existência de uma fonte sedimentar, que em geral provem de dragagens, mas pode também ser de zonas interiores à costa ou de locais imersos. Quando há disponibilidade de areias com qualidade provenientes de dragagens (por exemplo de canais de navegação e docas), esta deve ser utilizada para alimentação das praias, repondo os sedimentos no sistema.

Apesar das potencialidades desta técnica, vários problemas já se colocam. Em muitos casos, as praias alimentadas artificialmente têm erosões superiores às praias naturais (que por sua vez podem ser muito elevadas), já que em geral a areia colocada artificialmente sobre a praia resulta num perfil que não está em equilíbrio com o clima de agitação. Os períodos de recarga de areias na praia poderão ser inferiores aos estimados em projecto, obrigando a custos de manutenção elevados. A avaliação destes custos é ainda de difícil quantificação.

Apesar dos modelos físicos e numéricos, as previsões de cada projecto de alimentação de praias é uma experiência única com resultados únicos e em que cada experiência tem um alto custo. É uma técnica cara, particularmente em costas sem protecções naturais, sem obras de defesa e expostas a acções hidrodinâmicas com elevados níveis energéticos (fortes correntes de deriva e défice sedimentar).

Esta solução tem também um custo ambiental elevado. As dragagens ao largo para abastecer a praia podem criar desequilíbrios e instabilidades com consequências para os ecossistemas ao largo. A opção de alimentação de uma praia pode gerar desenvolvimento nessa zona, criando a obrigação de protecção da população, pelo que planeamento cuidado tem que ser previsto (WCU, 2003). Em Portugal existem alguns exemplos de alimentação artificial de praias com sucesso (praia da Rocha e praias adjacentes a leste, praia de Vilamoura, no Algarve) para além do conhecido caso internacional de Copacabana, no Brasil, estudado pelo LNEC. Têm em comum uma exposição a um clima moderado de agitação marítima e a existência de confinamentos naturais ou artificiais nos seus limites (quebramares, morros, afloramentos rochosos). Por outro lado, a alimentação artificial de Vale do Lobo, no Algarve, também com uma exposição a um clima moderado de agitação mas sem confinamentos que contribuam para a retenção dos sedimentos, terá uma vida útil muito inferior (da ordem dos cinco anos). Em zonas costeiras do Mediterrâneo, com exposição a climas

pouco energéticos e dotadas de confinamentos naturais e artificiais, existem numerosos exemplos de sucesso de alimentação artificial com areias.

A experiência adquirida com a colocação de cerca de dois milhões de metros cúbicos de areia na praia do Castelo do Queijo, no Porto, com uma exposição a um clima de agitação muito energético e com concentrações de energia, possibilita a conclusão da precaridade da solução se a mesma não for acompanhada por outras intervenções que contribuam para alguma estabilização das areias. A médio prazo prevêem-se operações de alimentação artificial na Costa da Caparica (clima de agitação moderado, campo de esporões) e na Costa Nova (clima de agitação muito energético, campo de esporões). Neste último caso prevê-se uma operação de transposição artificial de areias dragadas a Norte do quebramar Norte da barra de Aveiro, com reposição nas praias.

Na modelação das evoluções fisiográficas onde tenham ocorrido ou estejam previstas operações de alimentação artificial de areias e/ou transposição artificial de “obstáculos”, como quebramares e canais de navegação, no domínio em estudo deverão ser introduzidos volumes sedimentares. A simulação de diversos cenários (volumes introduzidos, distribuição no tempo, localização e configuração das “manchas” alimentadas, localização das “manchas” de empréstimo) possibilitará uma avaliação da eficácia e custos dessas operações para diferentes horizontes de avaliação.

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Reperfilamento de areias na praia

Por vezes, em vez de se considerar uma alimentação artificial com areias provenientes de fora do sistema a ser intervencionado, pode optar-se apenas por um reperfilamento das areias da praia. A movimentação de areias da praia, desde zonas de entre marés para zonas de cotas mais elevadas, operação designada por ripagem de areias, pode ser entendida como uma forma de mitigar os problemas de erosão, nomeadamente em situações de emergência ou como medida paliativa. A utilização de maquinaria de terraplenagens é suficiente para remover uma camada de areia de pequena espessura (0.20 m a 0.50 m) das zonas baixas com reposição em zonas mais altas. O objectivo é aumentar a área de praia acima do nível de maré, funcionando como protecção e aumentando também a área recreativa. Este método permite preencher alguma área mais fragilizada da praia e encorajar a acreção de sedimentos adicionais nas zonas de menor cota, na expectativa de que se verifique um balanço sedimentar positivo na praia.

Os resultados desta técnica em Portugal (Moledo do Minho, Sul de Espinho, Costa Nova, Areão, Vagueira) mostram que haverá algum sucesso a curto prazo, mas a longo termo não será uma

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solução eficiente. Há que considerar alguns efeitos potencialmente negativos: a falta de areia na zona baixa da praia pode interromper temporariamente o transporte de areia para sotamar, o perfil transversal vai ficar com uma maior inclinação e tenderá a evoluir no sentido de retomar o perfil anterior, os micro-organismos na praia serão perturbados.

A aplicação desta técnica restringe-se a praias que ainda possuam alguma largura.

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Intervenções de artificialização nas dunas

Em zonas onde os cordões dunares se apresentam fragilizados, ou simplesmente já não existem, é frequente a tentativa de reconstrução por meios artificiais (ver figura 3.26).

Figura 3.26: Artificialização das dunas na restinga Sul da ria de Aveiro.

Os locais mais vulneráveis dos cordões dunares (naturais ou artificiais) poderão ser reforçados através da colocação de areia que restabeleça a continuidade da duna. Poderá ser uma forma económica e efectiva de minorar os perigos associáveis às situações de erosão e inundações, de atender a situações de emergência possibilitando o adiamento do problema com vista a tomar medidas de ordenamento do território ou proceder a intervenções que exigem maiores meios financeiros.

Uma duna artificial com um núcleo estrutural em enrocamento ou em blocos de betão, construída num troço em evolução acaba por funcionar como uma barreira ou como um revestimento longitudinal, pois as dunas não são estáticas e rígidas como as estruturas permanentes. Esse poderá ser um objectivo de defesa costeira. No entanto, se a estrutura do núcleo ficar danificada ou

destruída pelas acções do mar (infra-escavações, destruição do perfil), o efeito de “barreira” ao avanço do mar desaparecerá.

Estes aspectos relacionados com a maior ou menor estabilidade destas dunas ou diques artificiais deverão ser considerados na modelação da evolução da “linha de costa” ao longo do tempo.

A vegetação natural tem alguma capacidade para reter as areias das dunas, ajudando na sua estabilização. A plantação de vegetação (repovoamento vegetal) funciona como uma restituição à duna de elementos favoráveis ao seu robustecimento. Através das suas raízes, as plantas criam uma malha que contribui para a estabilização do sistema dunar. Porém, nas situações em que as dunas sofrem a acção directa das ondas do mar, a vegetação por si só poderá não ser eficaz para essa estabilização. Existem inúmeros exemplos ao longo da costa portuguesa (e em especial a Sul da embocadura de Aveiro) em que os cordões dunares foram muito afectados ou mesmo destruídos em situações de tempestade, apesar de estarem cobertos com vegetação nativa.

A areia salinizada habitualmente utilizada na construção de dunas artificiais ou de diques artificiais de areia, adia a possibilidade de utilização de vegetação, pois são necessários alguns anos até que a areia tenha características necessárias ao crescimento da flora. A vegetação natural que estabiliza as dunas está em equilíbrio com os sedimentos e o biota. A plantação em dunas artificiais é por isso complexa, pois até as diferenças de dimensão dos sedimentos naturalmente soprados pelo vento ou ali colocados pelas máquinas vão influenciar a estabilização das dunas e o crescimento da vegetação.

Figura 3.27: Plantação de vegetação em dunas e colocação de paliçadas, como formas de retenção de areias.

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Na figura 3.27, a fotografia da esquerda pretende exemplificar situações de plantação de vegetação em zonas fragilizadas de dunas. Da mesma forma que as plantas, o objectivo da colocação de paliçadas é a retenção das areias das dunas. A colocação das paliçadas encoraja o processo natural de retenção de areias nas dunas, servindo ainda de protecção ao tráfego (pedonal ou motorizado) sobre as mesmas. As paliçadas devem ser colocadas de ambos os lados da duna, mas não devem impedir o equilíbrio dinâmico, permitindo que haja migração natural das areias. Este método, mantém toda a areia no sistema costeiro, e até pode adicionar de forma natural, areia ao sistema. A limitação e controlo dos acessos à praia podem ser entendidos como uma forma de impedir a erosão e destruição das dunas por pisoteio. A informação da sociedade sobre a importância das dunas é uma importante medida de formação das populações, para que se crie uma consciencialização de preservação do património ecológico dunar e de preservação de uma defesa natural das zonas costeiras.

Ó mar tu és um leão Que a todos queres comer; Não sei como os homens podem