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Identificação e avaliação de possibilidades de intervenção

1.2 Objectivos do Trabalho

Este trabalho pretende apresentar contributos:

• Sobre o estado da arte das metodologias de análise de vulnerabilidades e riscos actualmente utilizadas nos estudos de ordenamento das zonas costeiras;

• Sobre a possibilidade de elaborar uma metodologia simples de classificação de vulnerabilidades e riscos incorporando alguns factores que não têm sido considerados; • Para a melhoria da capacidade de compreensão das acções e dos complexos fenómenos do

transporte sedimentar e do comportamento morfodinâmico das zonas costeiras e das intervenções humanas que interferem com esses fenómenos;

• Na compilação de dados e registos históricos das acções e evolução costeira, da evolução de defesas efectuadas, de propostas e decisões em termos de ordenamento territorial e de possíveis cenários de evolução e de intervenções de defesa;

• Para evidenciar as potencialidades e limitações dos modelos de previsão do comportamento fisiográfico da linha de costa;

• No desenvolvimento de um método de cálculo automático apropriado às características das costas arenosas, que represente diferentes cenários, a médio e longo tempo, de evolução da linha de costa, ocupação territorial e defesa costeira e obtenha espectros de resultados possíveis. Estes resultados podem assumir uma importância fundamental na análise de vulnerabilidades e riscos associados a diferentes cenários de intervenção ou de evolução da zona costeira (morfologia e desenvolvimento das frentes urbanas ou edificadas);

• Na análise da sensibilidade do modelo desenvolvido à variabilidade e incerteza associada a diversos dos parâmetros intervenientes;

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

• Na aplicação do modelo a situações tão próximas quanto possível da realidade e em particular à costa da região de Aveiro.

1.3 Metodologia

Neste capítulo, após o pequeno enquadramento apresentado e após a caracterização dos objectivos pretendidos, refere-se agora a sequência dos trabalhos desenvolvidos e de que forma estes se apresentam nos capítulos seguintes.

Inicia-se o trabalho com a avaliação de diversas metodologias de análise de vulnerabilidades e riscos e com diferentes propostas de classificação dos numerosos parâmetros intervenientes nos processos costeiros. Constata-se que é fundamental criar uma metodologia capaz de representar diferentes cenários e projectar “manchas” de resultados possíveis. A análise dos riscos como resultado final do trabalho só pode ser conseguida com a capacidade de previsão ou projecção do futuro, balizando a incerteza associada à dinâmica costeira.

Assim, o capítulo 2 apresenta uma sucinta abordagem a metodologias de análise de vulnerabilidades e riscos e a diferentes critérios de classificação de parâmetros, deixando para a restante exposição do trabalho a análise dos fenómenos envolvidos, de forma a tentar projecções sobre os comportamentos futuros, em face de diferentes intervenções sobre o meio costeiro. A apresentação de uma metodologia simples de classificação de vulnerabilidades e riscos para efeitos de ordenamento está fragilizada pela dificuldade de ponderação dos diversos parâmetros, com a variabilidade da importância relativa de cada um deles, ao longo do tempo e do espaço.

Como facilmente se entende, a evolução da linha de costa está relacionada com o transporte de sedimentos, que directamente condiciona a morfologia do litoral. Tal como as acções que conduzem ao transporte sedimentar, os processos de transporte são de importância relevante na caracterização da zona costeira.

A definição das acções que mobilizam os sedimentos e os transportam, traduzindo o dinamismo sempre presente na evolução da costa, revela ser muito aleatória. Com uma perspectiva global, mas com uma incidência especial na costa de Aveiro, apresentam-se no capítulo 3 as diversas acções naturais a considerar (marés, ventos, agitação marítima, etc.). Foi recolhido um volume significativo de elementos, visando criar séries de dados tão extensas quanto possível. Desta forma

pretende-se apoiar a projecção de cenários em registos passados. Foi avaliada a capacidade de modelação das acções em função de diferentes efeitos (refracção, difracção, empolamento e rebentação das ondas). Foi estudada a relação de dependência existente entre o vento e as ondas. Ainda no capítulo 3 são expressas algumas das actividades e intervenções que o ser humano têm efectuado e que condicionam a forma de evolução das zonas costeiras. Algumas das acções reflectem-se de forma indirecta no evoluir da costa, já que o seu objectivo principal não é o de alterar as características das zonas costeiras. Outras intervenções são precisamente para tentar controlar o evoluir de situações, de acordo com os interesses dos utilizadores e das ocupações. Os resultados das intervenções podem ser diversos e por vezes mal conhecidos.

No capítulo 4, referem-se as principais propriedades físicas da água do mar e dos sedimentos. Verifica-se que devido à sua variabilidade temporal e espacial, algumas das grandezas são de difícil definição.

Ainda no capítulo 4 é efectuada a apresentação de diversos modelos que traduzem a representação dos fenómenos de transporte sedimentar. Numa primeira secção é efectuada a descrição de diversas tentativas de caracterização dos processos ao longo dos tempos e de imediato é constatada a grande dispersão de valores que se obtêm na aplicação desses modelos. Na tentativa de compreender os processos de transporte sólido, são expostos diversos conceitos associados ao transporte sedimentar longitudinal e avaliada a sensibilidade dos parâmetros intervenientes.

Numerosos conceitos relativos às características dos perfis transversais são utilizados na modelação. A dificuldade de realizar medições no campo aumenta a incerteza quanto à adopção de valores adequados a cada conceito. A comparação de diversas situações relativas à inclinação de praia, profundidade activa do perfil transversal e perfis de equilíbrio contribuem para a compreensão do estado actual do conhecimento.

A previsão da configuração da linha de costa é estudada no capítulo 5. A observação de formas costeiras que se repetem na natureza conduziu a diversas propostas de configuração em planta de linhas de costa em equilíbrio, esquecendo a influência directa dos fenómenos envolvidos, nomeadamente o transporte. O estudo dos processos físicos de transporte sedimentar e das representações da linha de costa permitiu o desenvolvimento de um método de cálculo automático apropriado às características das costas arenosas, para mais facilmente representar diferentes cenários e obter as pretendidas “manchas” de resultados possíveis.

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

Com o modelo de previsão da linha de costa pretende-se testar a sensibilidade de diversas questões consideradas relevantes e ainda pouco estudadas. Como exemplo, refere-se a importância das condições de transporte sedimentar nos limites das zonas costeiras em estudo, condicionantes na forma de evolução da costa. Outros aspectos importantes são a configuração topográfica das regiões em erosão ou em acumulação de sedimentos, a forma de evolução dos perfis transversais em situações de desequilíbrio sedimentar e o nível médio da água do mar na definição da largura activa, ou seja, na região onde existem alterações nas cotas dos fundos.

O capítulo 6 representa uma numerosa aplicação dos conceitos e modelos a situações concretas ou “inspiradas” na costa aveirense. A história da dinâmica litoral da região de Aveiro e das intervenções de defesa costeira efectuadas representa o primeiro passo no estudo dessa zona costeira. O balanço sedimentar, traduzido pela avaliação dos valores de transporte sedimentar e pelas taxas de variação do litoral, permite uma noção do comportamento desta região.

Com base em todas as séries de registos de dados estudadas no capítulo 3, são criados diversos cenários de agitação marítima, que poderão representar um ano típico de agitação ao largo da costa Noroeste portuguesa. Com recurso a modelos numéricos existentes, é projectada a agitação local que se poderá sentir entre a Barra e a praia de Mira.

Uma das principais propriedades que caracteriza os meios costeiros sedimentares, por ser um parâmetro interveniente em numerosos conceitos, é a dimensão média dos sedimentos. Por esse motivo, procedeu-se a campanhas de campo na região de Aveiro.

É efectuada uma análise do comportamento de diversas características dos perfis transversais. A inclinação da praia é uma característica variável no espaço e no tempo, relacionando-se com o clima de agitação marítima e com a dimensão dos sedimentos. Com base na aplicação da regra de Bruun, é efectuada a estimativa da taxa de recuo da linha de costa por subida generalizada do nível médio das águas do mar.

O capítulo 7 apresenta em síntese as principais considerações que se foram destacando ao longo do trabalho desenvolvido. São indicados possíveis desenvolvimentos que representam a continuidade desta investigação.