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ASSOCIÁVEIS ÀS ACÇÕES ENERGÉTICAS DO MAR

2 VULNERABILIDADES E RISCOS

2.2 Questões Chave na Avaliação de Vulnerabilidades e Riscos

2.2.2 Parâmetros de Risco

A avaliação de riscos tem uma importância crescente na sociedade contemporânea. O conceito de riscos aplica-se a eventos com efeitos negativos que podem ocorrer no futuro e interessa que essa possibilidade de ocorrência possa ser quantificada ou avaliada, de forma a superar situações problemáticas e a hierarquizar decisões. Em termos técnico-científicos, a medida de incerteza ou a caracterização do nível de incerteza face a cada potencial acontecimento identificado é realizada pelo conceito de probabilidade. A vantagem deste tipo de caracterização, admitindo que é possível obter o valor da probabilidade, é a de se poder comparar níveis de incerteza e de permitir a adopção de um sistema racional e lógico de decisão (Almeida, 2003).

Apesar de teoricamente possível, por razões morais e éticas, não é aconselhável que as perdas humanas e materiais tenham um tratamento equivalente. A percepção dos riscos é muito importante para os serviços de protecção civil e autoridades de segurança nos processos de decisão e acção. A grandeza risco assim definida é variável no tempo, quer pela alteração das probabilidades de ocorrência das acções geradoras dos riscos, quer pela alteração das vulnerabilidades da zona costeira, por exemplo com intervenções de defesa, quer pela alteração das consequências, por exemplo, por alteração do uso do solo (Almeida, 2003).

A obtenção de um critério para a classificação dos riscos não é simples, nem pode ser objectiva. Baseia-se em diferentes metodologias de análise estatística, de experiência de opções e decisões tomadas por responsáveis políticos, trabalhos de campo, inquéritos, etc. A analogia e comparação com diferentes situações é muito importante. A operacionalidade do conceito da gestão dos riscos não constitui uma criação forçada. A substância dos riscos já existia e não se altera só pelo facto de se discutir e de aplicar o conceito. O facto da sociedade ser agora um actor nos processos de decisão, a visibilidade das situações, consequências e responsabilidades dos danos ser acrescida, obriga a melhorar os níveis de segurança e a reduzir os níveis de vulnerabilidade (Almeida, 2003). O risco representa a consequência indesejada do fenómeno de erosão costeira. O risco definido desta forma, deve permitir a representação em mapas, das curvas de igual risco. A criação de classes de risco em função dos valores obtidos conduzirá a classificação de diferentes áreas, servindo de ferramenta auxiliar no planeamento da orla costeira e nas tomadas de decisão de futuras intervenções. Como acontece na generalidade dos assuntos abordados neste trabalho, a utilização de factores de calibração pode ser necessária, para que cada parâmetro de risco exprima

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

de uma forma mais realista o peso que realmente representa. A análise da magnitude, dos efeitos e da importância dos diferentes impactes a curto e a longo prazo e a interacção entre os riscos, avaliando o seu efeito cumulativo, é necessária.

2.2.2.1 Riscos humanos

A probabilidade de vidas humanas serem afectadas pelas condições nas zonas costeiras deve ser reduzida.

Em termos de análise concreta, a quantificação deste risco deve ser função da densidade populacional das áreas em estudo. Áreas de maior densidade populacional têm um maior risco. A sazonalidade também é importante na avaliação deste aspecto, mas pode ser conjugada com os parâmetros de avaliação das actividades económicas.

A dimensão da área de estudo é decisiva na obtenção de uma densidade populacional. Andrade e Freitas (2002) referem um parâmetro sócio-económico de avaliação, onde classifica a densidade populacional em alta ou baixa, consoante esta seja superior ou inferior a 10 habitantes por quilómetro quadrado. A proposta apresentada na tabela 2.21 apresenta cinco classes, permitindo classificar o risco desde muito baixo até muito elevado, consoante a densidade populacional da área de estudo.

Tabela 2.21: Classificação do parâmetro de risco humano.

Descrição Risco

Não povoado Muito baixo

Densidade populacional menor do que 10 hab/km2 Baixo

Densidade populacional entre 10 e 50 hab/km2 Médio

Densidade populacional entre 50 e 100 hab/km2 Elevado Densidade populacional maior do que 100 hab/km2 Muito elevado

2.2.2.2 Riscos económicos

As populações aspiram e têm direito ao usufruto das condições climáticas e paisagísticas das zonas costeiras. As actividades de recreio, lazer e turismo estão numa fase de crescimento acentuado. O turismo representa uma componente muito importante, ou mesmo vital, para muitas economias a níveis nacional, regional ou local. Há, inúmeras comunidades nas zonas costeiras muito dependentes do turismo, tanto a nível de mercado de emprego como do comércio (Veloso-Gomes e Taveira-Pinto, 1997). A pesca é outra actividade económica altamente dependente das condições das zonas costeiras. Inúmeras infra-estruturas de apoio à pesca localizam-se em zonas susceptíveis de ser atingidas pelas águas do mar. As infra-estruturas portuárias localizadas nas zonas costeiras procuram criar e gerir estruturas de defesa (quebramares) que propiciem abrigo e segurança em relação à agitação e correntes.

Assim, o valor do território, será função do uso do solo, sendo menos significativo o território desocupado, do que o solo agrícola, do que as frentes habitadas ou densamente habitadas e turísticas. O número de postos de trabalho em causa e relacionados com estas actividades é respectivamente crescente.

Ao risco económico está também associado o valor dos bens. O volume de bens imobiliários em risco é importante na avaliação do risco. Um parque de campismo, uma zona residencial, ou uma zona industrial têm necessariamente que ser avaliados de forma distinta, em termos económicos. Tabela 2.22: Classificação do parâmetro de risco económico.

Descrição Risco

Não edificado e sem actividades económicas Muito baixo

Baixa densidade de construção e pouca actividade económica associada Baixo

Densidade de construção média e pouca actividade económica associada Médio

Actividade económica e elevada densidade de construção Elevado Elevada actividade económica e elevada densidade de construção Muito elevado

Por falta de dados ou elementos estatísticos, a tabela 2.22 não traduz directamente o número de empregos em causa, deixando também em aberto questões de expansão que actualmente se verificam em zonas ainda pouco exploradas. Assim, a sua aplicação deve ser cuidadosa e criteriosa.

Riscos de Exposição de Frentes Urbanas para Diferentes Intervenções de Defesa Costeira

2.2.2.3 Riscos ambientais

O património ecológico deve ser mantido. As alterações permanentes das características das zonas costeiras podem conduzir a condições impróprias para determinados ecossistemas. Essas situações devem ser avaliadas e representam naturalmente um maior risco do que uma zona onde não existam espécies ameaçadas.

Tabela 2.23: Classificação do parâmetro de risco ambiental.

Descrição Risco

Não existem ecossistemas importantes ameaçados Muito baixo

Não existem espécies animais e vegetais ameaçadas Baixo

Espécies ameaçadas Médio

Espécies típicas da fauna e flora local, ameaçadas Elevado Ecossistemas importantes ameaçados Muito elevado

Na percepção comum, o risco ambiental não representa a mesma importância que o risco de perda de vidas humanas. No entanto, ponderando as necessárias equivalências, quando algum ser vivo de determinada espécie é ameaçado, deve conduzir a uma crescente importância na avaliação de riscos.

2.2.2.4 Riscos patrimoniais

Tal como o património ecológico, o património cultural também deve ser mantido. Edificações que representam a história e cultura de uma região (faróis, fortificações, etc.) têm também um valor a preservar, independentemente do valor económico e do número de pessoas que possam estar em risco.

Tabela 2.24: Classificação do parâmetro de risco de património.

Descrição Risco

Não existe património a preservar Muito baixo

Existem algumas edificações não classificadas Baixo

Edificações típicas de um local Médio Existem algumas edificações históricas Elevado

Edificações históricas Muito elevado