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Nos dias atuais a emergência por grandes transformações nos sistemas alimentares vigorantes parece estar mais exacerbada. Tal como deslinda o relatório IPES-Food (2016), muitas evidências destacam a situação em que os sistemas alimentares se encontram, seja da degradação dos ecossistemas à fragilidade na subsistência de agricultores em muitas partes do mundo; da persistência da fome e da subnutrição até o excessivo crescimento da obesidade e de doenças relacionadas à alimentação.

O mesmo relatório salienta que mesmo com a visualização destas evidências, ainda é limitado o número de proposições que forneçam dados abrangentes sobre o desempenho de sistemas alternativos de alimentos baseados em modelos agrícolas igualmente alternativos. Ainda menos estudos mapeiam os caminhos da transição para os sistemas alimentares sustentáveis do futuro (IPES-FOOD, 2016).

De acordo com Leff (2001), a crescente complexidade e o agravamento dos problemas socioambientais, gerados pelo triunfo da racionalidade econômica e da razão tecnológica que a sustenta, levaram a colocar a necessidade de reorientar os processos de produção e aplicação de conhecimentos na tentativa de conduzir um processo de transição para um desenvolvimento sustentável.

Esse processo, ainda segundo o mesmo autor, implicaria na formação de um novo paradigma e na integração interdisciplinar do conhecimento, os quais posicionaram-se em razão da construção de uma racionalidade ambiental contra hegemônica e na compreensão de sistemas socioambientais complexos.

Esses pressupostos foram percebidos semelhantemente presentes nas considerações dos autores de vários artigos incluídos na revisão sistemática, os quais apontam anseios referentes à perspectiva de transição do modelo de sistemas alimentar hegemônico, além de cogitar aspectos sobre um futuro para a agroecologia.

Dessa maneira, nesta pesquisa, para além da compreensão a respeito de aspectos teórico-metodológicos, intervenções ou argumentações centrais de discussão que possam estar especificados pelos estudos selecionados na sistematização, também merece receber destaque o aditamento dos autores dos artigos em relação à construção, manutenção e desenvolvimento das propostas com fundamento na agroecologia, aspecto que se mostrou bastante presente entre os estudos da seleção.

Também, os impactos não somente práticos, mas também reflexivos, que a situação da pandemia causada pelo novo corona vírus repercutiu para todos os setores da sociedade mundial, nos quais se incluem a agricultura e alimentação. Assim, torna- se interessante neste tópico da pesquisa dispor elementos reflexivos e analíticos sobre como a agroecologia pode ser capaz de impulsionar novos significados a partir destes cenários analíticos.

A respeito dos argumentos dos autores verificados na revisão, são identificados na grande maioria dos estudos sistematizados argumentos sobre perspectivas futuras no direcionamento que podem ser tomados pela agroecologia em termos sistêmicos, epistemológicos e práticos. Esta demanda se mostra bastante evidente, seja como consideração de anelação a uma abordagem para uma maior adesão a uma agricultura justa e sustentável, assim como, no desenvolvimento desta ideia em todas as suas ramificações na sociedade e em conjunto a uma promoção da segurança alimentar e nutricional.

Mais do que referir razões e apontamentos sobre a necessidade do desenvolvimento de mais pesquisas na área, com vistas de fortalecer o movimento agroecológico e compreender ainda suas perspectivas de atuação, tais anseios mostram- se necessários para pensar um delineamento sobre o futuro da agroecologia, a fim de propor novas reflexões auxiliares ao seu desenvolvimento sistêmico.

Como exemplo dessas assertivas, estas pretensões podem ser melhores representadas a partir de fragmentos incluídos nos estudos localizados. Tal como o Holt-Giménez e Altieri (2013) destacam para a necessidade de uma atual conservação de recursos agrícolas para o futuro gerações, vinculando a segurança alimentar e nutricional como fator chave dessa observância, para além de sua função apenas na produção de alimentos hoje, e sendo totalmente necessário o uso de uma abordagem agroecológica para esta tarefa.

Ainda, sobre um futuro da agroecologia baseado no enfraquecimento da agricultura exploratória e a favor de um sistema alimentar mais resiliente, em que a agroecologia assumiria o seguinte papel:

“a agroecologia tem um papel fundamental a desempenhar no futuro de nossos sistemas alimentares (...) se a agroecologia for cooptada por tendências reformistas da Revolução Verde, o regime alimentar corporativo provavelmente será fortalecido, o contra movimento enfraquecido e reformas substantivas ao regime alimentar corporativo serão improváveis; no entanto, se construírem alianças estratégicas

com as lutas radicais pela soberania alimentar, o contra movimento ao regime alimentar corporativo poderia ser fortalecido. Um forte contra movimento poderia gerar considerável vontade política para a reforma transformadora de nossos sistemas alimentares. Os meios de subsistência dos pequenos proprietários, a eliminação da fome, a restauração da agro biodiversidade do planeta e a resiliência do agro ecossistema estariam melhor servidos neste cenário” (HOLT- GIMÉNEZ; ALTIERI, 2013).

Também, Ribeiro et al (2012) enfatizam o papel central da agroecologia para a construção de ambientes mais saudáveis, uma vez que as “práticas agroecológicas, ao levar em consideração as dimensões social, política, econômica, cultural e ambiental, possibilitam a construção de uma nova realidade e uma nova concepção de mundo”. Neste sentido, as autoras salientam a prática da agroecologia também atrelada ao espaço urbano, a qual pode alcançar cenários futuros com bons impactos sobre a saúde dos indivíduos e do meio ambiente:

“A criação de ambientes mais saudáveis envolve a proteção e conservação do meio ambiente e dos recursos naturais, bem como o acompanhamento sistemático do impacto que as mudanças no meio ambiente produzem (...) isso se estende também para as conquistas de ambientes que facilitem e favoreçam a saúde, como é o caso de espaços onde são praticadas as atividades de agricultura urbana. Acredita-se que a agricultura urbana só pode ser considerada como promotora da saúde se praticada à luz da agroecologia, pois essa propõe uma interação harmônica com os recursos naturais, minimiza as agressões ao meio ambiente e considera todos os seres presentes na natureza como aliados. Ao minimizar os impactos sobre a saúde humana, a agroecologia oferece a possibilidade de se obter uma vida mais saudável” (RIBEIRO et al., 2012).

Outros estudos incluídos nesta sistematização demonstram perspectivas de um futuro da agroecologia para além de um plano de abstração e sugerem aportes de noções mais práticas. Neste sentido, Maluf et al., (2015) intencionam a estratégia de uma agricultura sensível à nutrição, a qual seria capaz de aproximar as áreas da agricultura e saúde por meio dos programas de aquisição de alimentos dos agricultores familiares a partir de experiências de agroecologia.

Esta estratégia enfatizada pelo mesmo autor poderia beneficiar sistematicamente a diferentes setores da sociedade, como a econômica, social e da saúde, a partir de vantagens sobre a agricultura familiar, economia de produção,

distribuição e consumo e na promoção do acesso a uma dieta adequada para a população.

Para tanto, a ênfase é dada a valorização da diversificação da produção de alimentos e agro biodiversidade, promovida principalmente por meio da produção familiar de agricultores e troca mútua de sementes de espécies nativas; do resgate de culturas alimentares e promoção da educação nutricional; e na construção de novas relações com os mercados, estreitando ligações entre os produtores e consumidores, representando em espaços além do financeiro, também educacionais para troca de conhecimento e cultura alimentar.

No mesmo sentindo de impulsionar medidas referentes ao sentido do futuro da natureza, Chappell e LaValle (2011) mencionam uma condução pelos argumentos da estrutura analítica da segurança alimentar e nutricional elaborada por Rocha (2013). Esta análise baseia-se em cinco componentes (disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade, adequação e agenciamento) necessários à garantia de uma segurança alimentar e que engloba as práticas agroecológicas como fator primordial de um manejo agrícola eficiente a este favor.

Neste sentido, os autores descrevem como componentes:

“A disponibilidade, como suficiência de um suprimento de comida para atender às necessidades das pessoas; a acessibilidade refere-se aos aspectos econômicos e físicos das pessoas capacidade de adquirir alimentos; a aceitabilidade aborda aspectos de adequação culturais e nutricionais dos alimentos disponíveis; a adequação avalia a sustentabilidade ecológica e a segurança de um abastecimento alimentar; a agência é o “direito ao conhecimento e conhecimento de direitos” - acesso a informações precisas sobre o abastecimento de alimentos, qualidade e segurança para tornar o mercado informado escolhas, direitos a tais informações e aos outros aspectos da segurança alimentar, e um competente sociopolítico sistema para garantir esses direitos” (ROCHA 2013, apud CHAPPELL; LAVALLE, 2011).

Baseado na identificação destes pressupostos nos artigos – em razão da reflexão sobre um futuro que enalteça e garanta os temas da agroecologia e da SAN –, além do enfrentamento atual da situação de assolação causada pelo período atual atingido pelo novo corona vírus (COVID-19), torna-se necessário considerar também nesta pesquisa a elaboração de uma reflexão sobre como os caminhos que os temas centrais deste estudo podem representar uma esperança para a verificação de um novo modo de direção pós-anormalidade pandêmica e adiante.

Sobre tal situação Altieri e Nicholls (2020) destacam que como nunca antes, a COVID19 revelou a ligação contígua entre a saúde humana, animal e ecológica. Os autores enfatizam que claramente o COVID-19 revelou uma “fragilidade sócia ecológica dos atuais sistemas alimentares globalizados”, o que torna preocupante sobre os efeitos na agricultura e nas cadeias de abastecimento alimentar, haja vista uma situação imposta de escassez generalizada de alimentos e picos de seus preços.

Sobre esta mesma situação, para Gliessman (2020), o período da pandemia fez transparecer as “vulnerabilidades resultantes do sistema alimentar e agrícola modernos sob controle corporativo industrial”, incluindo: grandes áreas plantadas com colheitas geneticamente semelhantes, pesado uso de produtos químicos, perda de fazendas de pequena e média escala, aumento nos problemas de saúde relacionados à má alimentação e políticas que suportam operações em grande escala agrícola.

O mesmo autor salienta que a visualização destas vulnerabilidades de uma só vez, como o que está acontecendo em resultado da crise causada pelo COVID-19, é motivo de bastante preocupação devido ao simultâneo colapso de tantas partes do sistema alimentar – da produção à distribuição ao consumo –, como os exemplos de compras em pânico, quebra da cadeia de ofertas, trabalhadores agrícolas em maior risco, mais fome e desnutrição, além de outros problemas.

Gliessman (2020) também faz a orientação de que a crise do COVID-19 tem feito forçar a olhar para soluções de curto prazo, abrindo oportunidades de avançar com mudança transformacional de longo prazo. O autor exemplifica esta mudança pela “reconstrução da resiliência e reintrodução da diversificação, re-localizando a produção e distribuição de alimentos, reduzindo dependência de insumos e importações, e priorizando a justiça e equidade alimentar”.

No mesmo sentido, Altieri e Nicholls (2020) defendem que a agroecologia oferece um sistema agrícola capaz de lidar com desafios futuros, exibindo altos níveis de diversidade e resiliência e proporcionando rendimentos e serviços ecossistêmicos. Tal prática mostra um caminho diferente a seguir, fornecendo os princípios sobre como projetar e gerenciar sistemas mais capazes de resistir a crises futuras – seja surtos de pragas, pandemias, perturbações climáticas ou de colapsos financeiros (ALTIERI; NICHOLLS, 2020).

No entanto, esses mesmos autores ponderam se a “crise desdobrada pelo COVID-19 poderá fornecer realmente o ímpeto para a mudança industrial agricultura para uma transição para uma base agroecológica sistemas alimentares”. Para tanto,

projetam anseios para que as transformações necessárias para uma fundamental transição seja dada a partir dos seguintes pressupostos:

“Uma mudança transformacional na agricultura deve ser acompanhada por uma mudança de uma economia de mercado para uma economia solidária; de combustíveis fósseis a energias renováveis; de grandes corporações a cooperativas, etc. Tal novo mundo será liderado por movimentos sociais conscientes de que um retorno para a forma como a agricultura era antes das pandemias não é uma opção; em vez disso, eles estarão ativamente envolvidos no desenvolvimento de alternativas locais para consolidar a sustentabilidade e a saúde” (ALTIERI; NICHOLLS, 2020).

De igual modo, para uma continuidade de instrumentos que visem a garantia da segurança alimentar e nutricional é basilar que suplantem mudanças sistêmicas profundas na sociedade moderna, podendo a agroecologia encabeçar as medidas para que essa mudança passe a ocorrer por vias de diferentes setores da sociedade.

Como cita De Schutter (2011), a agroecologia estabelece conexões práticas e conceituais com o direito humano à alimentação, tornando factível este direito para populações vulneráveis; permite a participação dos produtores de base familiar nos processos de produção e disseminação tecnológica; também, contribui para a disponibilidade de alimentos, aumentando o acesso por alimentos de alta qualidade, elevando a produção alimentar no campo e reduzindo a pobreza desta população; além de contribuir para adaptações contra mudanças climáticas.

Com isso em mente, embasado nos exemplos localizados nos estudos da revisão, e nas noções que almejam novos estudos publicados durante o período de pandemia do corona vírus, esta pesquisa vai ao encontro dos argumentos de todos estes autores destacados e salienta a importância de projetar a agroecologia como uma alternativa plenamente considerável para uma nova concepção de mundo. Isso pode ser sustentado devido a agroecologia ser caracterizada pela complexidade do fomento de transformação não somente ecológicas, mas econômicas, políticas, culturais e sociais embutidas em suas práticas, as quais se voltam em suam para a promoção de sistemas alimentares mais sustentáveis.

Em suma, a agroecologia se verifica como uma tentativa de uma contra hegemonia, que se diferencia por utilizar uma abordagem holística, não apenas no que concerne às questões ambientais, mas, sobretudo às questões humanas (JESUS, 2005). Ela incorpora elementos unificadores e integradores, que utiliza enfoque científico

destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural para sistemas sustentáveis, no aspecto econômico e socioambiental (CAPORAL & COSTABEBER, 2002).

Com este sentido, a construção do conhecimento na agroecologia considera o processo histórico de formação coletiva e individual na busca de um entendimento comum das relações ecológicas, sociais, econômicas e culturais dos seres humanos entre si e com a natureza.

Mais ainda, corroborando com Gliessmann (2001), a agricultura do futuro deve ser tanto sustentável quanto altamente produtiva para poder alimentar a população, requerendo, portanto, uma nova abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola, que construa sobre aspectos de conservação de recursos da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo se exploram conhecimentos e métodos ecológicos modernos.

Esse delineamento qualifica a agroecologia com uma esperança utópica, capaz de mobilizar sujeitos com o intuito de possibilitar uma reinvenção prática e paradigmática em razão de transformações sociais e na construção sistêmica agri alimentar.

De acordo com Leff (2001), a degradação ambiental, o risco de colapso ecológico e o avanço da desigualdade e da pobreza são sinais eloquentes da crise do mundo globalizado. Esse mesmo autor coloca o tema da sustentabilidade como um componente fundamental na história contemporânea da humanidade, devendo-se atentar para a necessidade de construção de uma nova racionalidade ambiental, a qual:

(...) “exige a transformação dos paradigmas científicos dominantes e a produção de novos conhecimentos, o diálogo, hibridação e integração de saberes, assim como a colaboração de diferentes especialidades, propondo a organização interdisciplinar do conhecimento para o desenvolvimento sustentável” (LEFF, 2001).

Nesta mesma perspectiva, o despertar para transformações sistêmicas na vida do planeta e dos indivíduos se sustenta a partir de movimentos de resistência ao discurso e às práticas hegemônicas; e reaparecem os espaços de resiliência, oriundos de outras filosofias de vida, como que arejando as expectativas em relação ao futuro e inspirando outras possibilidades de viver (SANTOS, 2001).

Esse direcionamento, de acordo com Santos (2007), torna-se contrário ao desperdício resultante das experiências fundadas e geradas na diversidade de realidades sociais e culturais e que manifesta a reinvenção da emancipação social. Esta reinvenção, segundo Santos (2002), é pautada pela atitude que visa dilatar o presente, multiplicando olhares e ampliando a percepção de munda; dessa forma é permitido vislumbrar alternativas à estandartização do futuro de todas as sociedades, apesar de e levando em consideração as suas diferenças internas.

Para avançar, no entanto, faz-se necessário ampliar a compreensão sobre o mundo, o que só é possível quando se expandem os horizontes para além da racionalidade ocidental, deixando serem percebidos e compreendidos outros conhecimentos e práticas sociais que fogem aos parâmetros de diagnóstico e cálculo da ciência ocidental e do pensamento dominante (SANTOS, 2002).

Em publicação mais recente Boaventura de Sousa Santos reflete o cenário propício de direcionamento desses avanços diante do momento de crise pandêmico causado pelo corona vírus. Em tal escrito, o autor descreve “a intensa pedagogia do vírus”, na qual é compreendida a permanente crise explica a situação a qual estamos vivenciando: “a quarentena provocada pela pandemia é, afinal, uma quarentena dentro de outra quarentena” – a quarentena do capitalismo, na qual o mundo tem vivido em permanente estado de crise, uma situação duplamente anômala. Esta pandemia vem apenas agravar uma situação de crise que a população mundial tem estado sujeita (SANTOS, 2020).

A este respeito o autor enfatiza:

“Esta situação torna-se propícia a que se pensem alternativas ao modo de viver, de produzir, de consumir e de conviver nestes primeiros anos do século XVI. Na ausência de tais alternativas, não será possível evitar a irrupção de novas pandemias, as quais, aliás, como tudo leva a crer, podem ser ainda mais letais que a atual” (SANTOS, 2020).

E reitera que:

“Só com uma nova articulação entre os processos políticos e os processos civilizatórios será possível começar a pensar uma sociedade em que a humanidade assuma uma posição mais humilde no planeta que habita. Uma humanidade que se habitue a duas ideias básicas: há muito mais vida no planeta além da humana, já que esta é apenas 0,01% da vida existente no planeta; a defesa da vida do planeta no conjunto é a condição para a continuação da humanidade.

A nova articulação pressupõe uma viragem epistemológica, cultural e ideológica que sustente as soluções políticas econômicas e sociais da vida humana digna no planeta” (SANTOS, 2020).

Sendo assim, reconhecendo a agroecologia a partir de um enfoque sistêmico (agrícola, alimentar, social, econômico, político, científico, etc.), em posição de nortear uma transição igualmente sistêmica a partir de seus fundamentos já desenvolvidos ao longo do tempo – mesmo que com supressões e apagamentos – sua representação como uma esperança a favor da racionalidade ambiental pode ser reconhecida.

Ademais, progressivamente almejar a promoção de um realocamento do modelo ecológico de agricultura vigorante, impulsionado pelos anseios de ações e movimentos sociais, o que pode redirecionar o desenvolvimento mútuo e coletivo entre natureza e sociedade.

O que Santos (2002) sugere como enfretamento de crises fixas (as geradas pelo paradigma da dominação capitalista, colonial e patriarcal) se baseia na união e conscientização das pessoas sobre o lugar que ocupam e sobre o que queremos enquanto humanos.

Neste sentido, um processo transicional alternativo na agricultura, precisamente, deve ser iniciado na compreensão das experiências dos processos sócio ambientais e na busca de forma agregada da promoção de conhecimentos, valores e comportamentos que contribuam para a reinvenção de um paradigma plural e emancipador.

Essa perspectiva de enfrentamento pode ser observada a partir da teoria das Epistemologias do Sul, na qual Santos e Meneses (2009) buscam resgatar os saberes e práticas suprimidos ao longo da história nos diversos setores que compõem a sociedade. Os autores utilizam a palavra sul de maneira metafórica, aludindo aos países que correspondem ao hemisfério sul geográfico – historicamente minimizados pelos diversos fatores geopolíticos históricos. No entanto, também deixam claro que nos países opressores existem realidades que remetem ao contexto dos países colonizados, e que o contrário também é factível, havendo no sul contextos de perspectivas de Europas.

[...] “conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam a supressão dos saberes levada a cabo, ao longo dos últimos séculos, pela norma epistemológica dominante, valorizam os saberes que resistiram com êxito e as reflexões que têm produzido e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos. A esse diálogo entre saberes chamamos ecologias de saberes” (SANTOS; MENESES, 2009).

Tanto a agroecologia quanto as teorias de Boaventura Santos aqui expostas guardam semelhança quanto à fonte de produção de conhecimento de forma agregada,

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