• Nenhum resultado encontrado

4 REVISÃO SISTEMÁTICA EM AGROECOLOGIA E SEGURANÇA

4.6 Intervenções agroecológicas para a promoção da SAN

Com base nas perspectivas dos estudos revisados e nas orientações dadas em função das perspectivas teórico-metodológicas e principais argumentos temáticos explorados pelos estudos, este tópico busca averiguar como os exemplos de intervenções agroecológicas podem auxiliar na implementação da garantia e promoção da segurança alimentar e nutricional.

Devido à qualidade de tipificação da pesquisa, os estudos de caso apresentam mais diretamente exemplos claros e detalhados de como as iniciativas com foco na agroecologia podem beneficiar específicos cenários sociais, em diferentes escalas, fornecendo subsídios de promoção da SAN. Não obstante, as revisões de literatura direcionam muito bem sua função de agregar várias perspectivas publicadas e apontar várias dimensões de atuação, embora não prática, porém muito elucidativa a

respeito de como podem justapostas as ideias de cooperação e incentivo entre agroecologia e SAN.

Entre os estudos de caso localizados pela sistematização, os trabalhos de Boone; Taylor, (2015); Kangmennaang et al. (2017); e Strate; Costa, (2018) guardam similaridades devido ao objeto de observação compreender em quintais de produção agroecológica, considerando diferentes contextos. Os quintais produtivos agroecológicos são formas de manejo da terra próximo a residência do agricultor, com o plantio de diferentes espécies.

Como bem aponta Strate; Costa (2018), este tipo de manejo, auxilia na autonomia e na preservação da agro biodiversidade, uma vez que é proporcionado o autoconsumo das famílias agricultoras e que mantêm uma diversidade agrícola em seus quintais. As autoras também referem que “a preocupação com a SAN faz com que produzam a maior parte dos alimentos que a família consome”, fator que contribui para a renda e gestão de recursos da família; bem como a “soberania alimentar, através da conservação das sementes e plantas e das práticas alimentares enraizadas culturalmente”.

Também com a preocupação sobre a soberania alimentar e renda de famílias agricultoras, Kangmennaang et al., (2017) defendem que abordagens agroecológicas exercem grande potencial para atender a necessidades múltiplas dessas famílias. Com base em seus resultados, os autores demonstram a importância do intercâmbio de conhecimento entre agricultores e do envolvimento da comunidade na prática agrícola, o que “reforça a atenção para o bem-estar da família, tanto em termos de segurança alimentar, como em termos de renda para as famílias de agricultores”.

No mesmo caminho, Boone; Taylor (2015) afirmam que a implementação de quintais produtivos é frequentemente vista como uma forma não apenas de localizar a produção de alimentos, mas também como “uma estratégia em alinhamento com uma agenda da soberania alimentar” – tal processo de implementação se estabeleceu como foco de suas análises.

Os autores explicam que essa implementação se construída enraizada em modelos de desenvolvimento convencionais podem enfrentar obstáculos significativos para seguir além de uma abordagem de segurança alimentar, “o que inclui propostas de financiamento definidas por profissionais, expectativas de ajuda para o agricultor, e diferenciais de poder enraizados entre praticantes e agricultores”. Em apoio à efetivação

de intervenções agroecológicas eles destacam que “uma agenda sobre soberania e segurança alimentar mais clara e liderada pelos agricultores”.

Igualmente sobre a implementação de novos panoramas sustentáveis Reardon; Pérez (2010) partem da pesquisa sobre a construção de indicadores de soberania alimentar no apoio de pequenos agricultores em Cuba e enfatizam a agroecologia como um guia neste propósito. Segundo os autores, “a ciência e a prática da agroecologia, responsáveis pelo desenvolvimento desses indicadores, fornece uma ferramenta prática na luta pela soberania alimentar”. Nesse caso, o contexto cubano de “profundo compromisso com a soberania e o bem-estar de seu povo” promove com ajuda dos seus movimentos sociais rurais “melhores condições sociais, econômicas e ecológicas sobre seus sistemas alimentares”.

Também levando em consideração a participação social, o estudo de Ribeiro et al. (2012) abre discussões sobre a agricultura urbana articulada aos movimentos de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional. Com o protagonismo da comunidade local do estudo no manejo de hortas urbanas e seguindo estratégias educativas sobre questões socioambientais, os autores relataram aspectos relevantes para entre agroecologia e SAN em consonância aos os princípios e campos de atuação da promoção da saúde. Essa circunstância contribui para “uma maior integração do indivíduo ao meio ambiente, com o desenvolvimento da consciência alimentar e ambiental dos atores sociais envolvidos e a criação de ambientes saudáveis sob mobilização comunitária”.

Equitativamente, Nyantakyi-Frimpong et al. (2016) relacionam agroecologia, SAN e saúde, na pesquisa com pequenos agricultores no Malauí, para o questionamento sobre a melhoria destes fatores em conjunto sob tal grupo. Com a investigação, a adoção de práticas agroecológicas entre o grupo de pequenos agricultores ajudou na constatação de relatos sobre um estado de saúde apurado como “ótimo ou ideal, voltado para boas condições de segurança alimentar”. A utilização de noções agroecológicas pelos agricultores contribuiu, portanto, para que as “famílias diversificassem suas safras e dietas, uma condição que tem fortes implicações para a melhoria da segurança alimentar, boa nutrição e saúde humana”.

Já o estudo de Borba et al (2018), atuando no cenário brasileiro do grupo de camponeses social e politicamente organizados (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST), utiliza das práticas agroecológicas que este grupo usualmente já cultiva em apoio à busca de uma definição de SAN que os beneficie. Neste contexto, é

desenvolvida a análise sobre práticas pedagógicas baseadas no teatro como um método para aludir narrativas motivadoras sobre melhorias das situações de insegurança alimentar.

A promoção de ambos os temas é realizado com base nas relações entre a experiência concreta das famílias agricultoras e a realidade local da agricultura familiar. Como defendem os autores, utilizando-se dos conceitos de SAN e agroecologia nas abordagens teatrais, tal método “gera motivação nos participantes, ao mesmo tempo em que canaliza forças sociais para a ação”.

Documentos relacionados