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4 REVISÃO SISTEMÁTICA EM AGROECOLOGIA E SEGURANÇA

4.3 Caracterização dos estudos

Como forma de detalhamento dos estudos localizados pela revisão sistemática, a caracterização de todos os artigos incluídos pode ser observada no quadro 2, o qual apresenta informações sobre os autores, origem de publicação, título, periódico de publicação, além dos objetivos de cada um dos artigos selecionados para a análise na revisão.

Quadro 2: Caracterização dos estudos incluídos na análise sistemática.

ORDEM AUTOR/

ANO ORIGEM PERIÓDICO TÍTULO OBJETIVO

1 Reardon; Pérez. /

2010 Cuba

Journal of Sustainable Agriculture

Agroecology and the Development of Indicators of Food Sovereignty

in Cuban Food Systems

Desenvolver indicadores de soberania alimentar para uso prático no nível do

pequeno agricultor, numa visão agroecológica. 2 Holt-Giménez; Altieri / 2013 Estados Unidos Agroecology and Sustainable Food Systems

Agroecology, Food Sovereignty, and the New Green Revolution

Discutir o papel da agroecologia frente a um quadro político de disputas.

3 Boone; Taylor / 2015 Estados Unidos Agriculture and Human Values

Deconstructing homegardens: food security and sovereignty

In northern Nicaragua

Discutir como os quintais podem ser percebidos como uma estratégia eficaz para

alcançar a soberania alimentar e como agricultores podem posicionar sua produção

de alimentos na adoção de práticas pela da biodiversidade e segurança alimentar.

4 Strate; Costa /

2018 Brasil(RS) Braz. J. of Develop.

Quintais produtivos: contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento sustentável das

mulheres rurais no RS – Brasil

Avaliar os quintais produtivos e sua contribuição para a segurança alimentar e nutricional, investigando a importância da

mulher para o desenvolvimento da agricultura sustentável, em dois municípios

5 Canavesi; Moura;

Souza / 2016 Brasil(DF)

Segurança Alimentar e Nutricional

Agroecologia nas políticas públicas e promoção da segurança

alimentar e nutricional

Apontar avanços, limites e desafios em relação à institucionalização da agroecologia no Brasil, na perspectiva da

garantia da segurança alimentar e nutricional.

6 Ribeiro et al /

2012 Brasil(SP)

Revista Brasileira em Promoção da Saúde

Agricultura Urbana Agroecológica - Estratégia de Promoção da Saúde

e Segurança Alimentar E Nutricional

Realizar uma reflexão acerca da agricultura urbana agroecológica articulada aos movimentos de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional, com a participação das comunidades locais.

7

Mirkin; Khaziakhmetov /

2000

Rússia Russian Journal of Ecology

Sustainable Development-Food Security-Agroecology

Apresentar noções sobre agroecologia e possíveis cenários de um desenvolvimento

sustentável

8 Bullock et al /

2017 Reino Unido Journal of Ecology

Resilience and food security: rethinking an ecological concept

Discutir como a resiliência pode ser um ponto importante para promoção da SAN

9 Chappell; La Valle / 2011 Estados Unidos Agriculture and Human Values

Food security and biodiversity: can we have both?

An agroecological analysis

Avaliar a disponibilidade técnica e teórica de estudos e desenvolver um roteiro específico para o futuro em termos de

agricultura e biodiversidade. 10 Glamann et al / 2015 Alemanha Regional Environmental Change

The intersection of food security and biodiversity conservation: a

review

Identificar e caracterizar o conjunto de diferentes abordagens usadas para estudar a

SAN e biodiversidade; Destacar potenciais sinergias que possam facilitar uma abordagem mais holística deste nexo.

11 Fernandez et al / 2013 Estados Unidos Agroecology and Sustainable Food Systems

Agroecology and Alternative Agri- Food Movements in the United States: Toward a Sustainable Agri-

Food System

Examinar a relação entre agroecologia e movimemtos alternativos agro-alimentares;

e identificar oportunidades para um maior engajamento. 12 Kangmennaang et al / 2017 Estados Unidos/ Malaui/ Canadá Food Security Impact of a participatory agroecological development project on household wealth and

food security in Malawi

Examinar o impacto de um projeto participativo de desenvolvimento de agroecologia e segurança alimentar; examinar os determinantes da agroecologia

com a aplicação deste projeto.

13 Nyantakyi- Frimpong et al / 2016 Canadá/ EUA/ Malaui Acta Tropica

Agroecology and healthy food systems in semi-humid tropical Africa: Participatory research with

vulnerable farming households in Malawi

Analisar os níveis de renda de famílias de agricultores participantes após aplicação de

projeto agroecológico em Malaui.

14 Maluf et al /

2015 Brasil(RJ)

Ciência & Saúde Coletiva

Nutrition-sensitive agriculture and the promotion of food and nutrition

sovereignty and security in Brazil

Enfatizar as possibilidades de abordagem da agricultura sensível à nutrição no

contexto da soberania e SAN.

15 Pant /

2016 Canadá

Technological Forecasting & Social

Change

Paradox of mainstreaming agroecology for regional and rural

food security in developing countries

Examinar paradoxos substantivos e processuais de integração e importância na definição de uma estrutura conceitual para discussão sobre inovações agroalimentares

e de sustentabilidade. 16 Borba et al / 2018 Brasil(SC) / Alemanha Journal of Rural Studies

Theatre methods for food security and sovereignty: a Brazilian

scenario

Apresentar e discutir um método de apoio pedagógico teatral para auxiliar

Partindo de uma análise e discussão mais elementar, torna-se interessante salientar a caracterização dos estudos indicados quanto a sua diversidade de repositórios de publicação e periódicos encontrados, o que acarreta na identificação de diferentes áreas temáticas de enfoque das discussões. Tal variabilidade também pode ser percebida quantos aos autores dos artigos e origens dos estudos publicados, assim como no distender dos anos das publicações. Tais parâmetros serão abordados mais especificamente a seguir.

Embora tanto a agroecologia quanto a SAN tenham discussões reconhecidamente de longa data, a sistematização realizada obteve somente artigos que indicam a vinculação dos temas somente a partir do ano 2000 – mesmo sem o ajuste metodológico de um recorte temporal de publicações nas diferentes bases de dados.

Tal observação acompanha os achados da análise histórica de publicações em agroecologia feita por Wezel e Soldat (2009), os quais identificaram um aumento exponencial de discussões sobre este tema a partir de 1997 e crescente na década de 2000. Os autores associam esta ampliação em razão da difusão da internet, do aumento do número de cursos e disciplinas que estudam agroecologia e do interesse global sobre os temas de sustentabilidade e agro biodiversidade, sobretudo no novo século.

Também, outros autores como Toledo (1995) e Ruiz-Rosado (2006) fazem menção a este incremento na agroecologia no período mencionado enfatizando a produção de inovações cognitivas, tecnológicas e sociopolíticas geradas, as quais se mostraram intimamente ligadas a novos cenários políticos (como os exemplos dos governos progressistas em países emergentes como Equador, Bolívia e Brasil) que fizeram insurgir movimentos de resistência e alternativos (camponeses, indígenas, entre outros) no panorama político da agricultura em tal época.

De acordo com Wezel e Soldat (2009) a partir da primeira década do novo século “novas vinculações da agroecologia são observadas para discussões diretamente relacionadas à formação dos sistemas alimentares”. Neste sentido, o estudo de Francis et al. (2003) recebe destaque ao descrever uma nova concepção da agroecologia como um “estudo integrativo da ecologia de todos os sistemas alimentares, abrangendo dimensões ecológicas, econômicas e sociais, ou, numa noção mais simples, a ecologia dos sistemas alimentares”.

Logo, a aproximação com o tema da SAN fica em evidência nas publicações em agroecologia, a partir da referida época, haja vista a “necessidade de considerar e analisar simultaneamente as dimensões do natural, social, humano, físico e financeiro

para moldar conceitos de uma agricultura sustentável em razão de uma completa dimensão sobre os sistemas alimentares” (WEZEL; SOLDAT, 2009).

Ainda sobre esta perspectiva temporal, cabe salientar as características do artigo localizado pela sistematização com características de caráter inaugural sobre a associação dos temas do desenvolvimento sustentável, SAN e agroecologia, pelo qual demonstra uma visão introdutória sobre tais temas. Em tal estudo, Mirkin e Khaziakhmetov (2000) indicam conceitos e projeções iniciais sobre o desenvolvimento sustentável da agricultura voltada para a garantia da SAN – já atribuindo a conservação dos recursos agrícolas para tanto.

A presente revisão também apontou uma pausa nas publicações científicas sobre as temáticas em conjunto ao decorrer da década de 2000, mas sendo retomada em anos logo após a essa época. Essa direção pode demonstrar que a maioria dos estudos que abordam diretamente a vinculação entre os dois temas em questão vem sendo discutida com maior ênfase apenas nos últimos anos, com um incremento do número de publicação a partir de meados da década de 2000.

Assim, a partir de 2010 é observado o retorno destas discussões, contemplando abordagens sobre experiências exitosas da prática agroecológica para a soberania alimentar (REARDON; PÉREZ, 2010) e análises específicas das vantagens da manutenção da biodiversidade em razão da segurança alimentar para o futuro da sustentabilidade ambiental (CHAPPELL; LA VALLE, 2011).

Os outros estudos são publicados em anos decorrentes, o que pode apontar para uma prevalência do atrelamento dos dois temas mais firmemente e de modo a fortalecer a importância desta união nas pesquisas e consequentemente para a garantia de ambos para ser posta em prática. Outra importante característica de análise se dá em relação às bases de dados e periódicos em que os estudos foram localizados pela sistematização.

Estes fatores podem servir de ajudar no reconhecimento das áreas temáticas das discussões dos estudos em relação ao enfoque e delineamento trabalhados nas publicações. Em uma noção geral dos estudos, utilizando o montante inicial da sistematização (525 artigos da primeira busca) é notado, por exemplo, que 48% deles advieram da plataforma SCOPUS (Elsevier). Tal base voltada para um campo bem abrangente, que acolhe estudos desde a área da biologia, medicina e tecnologia, mas que também publica estudos referentes às ciências sociais e humanidades.

Além desta abrangência científica na plataforma citada, fatores como o maior acolhimento de revistas científicas, abrangência de países participantes desta ancoração de artigos ou mesmo da valorização de um específico sistema de referência e citação recorrente, podem ajudar a firma-la com maior potencial para publicações mais diversas, independente de uma área científica de cunho mais tecnológico ou áreas de outro enfoque no campo científico.

Em decorrência desta mesma característica de abrangência nas publicações dos estudos, foi percebida uma diversificação também de periódicos de publicação, não havendo uma predominância quanto à especificidade de uma revista sobre os temas. Não obstante, em relação às áreas base que os periódicos são direcionados os estudos se mostraram estar muito mais voltados para questões de sustentabilidade rural do que qualquer outra área de abordagem referente à construção de sistemas agro alimentares.

Uma constatação semelhante também foi observada em um estudo voltado apenas para a análise da abordagem da agroecologia com outros assuntos, demonstrando que “a maioria das revistas estavam relacionados com a agricultura e em menor grau, artigos foram publicados em periódicos que tratam de ecologia, meio ambiente e biodiversidade, solos, ciclagem de nutrientes e fertilizantes e desenvolvimento e política” (WEZEL; SOLDAT, 2009).

Essa variedade quanto aos periódicos desta revisão pode ser exemplificada pela a inclusão de estudos ancorados no “Journal of Rural Studies”, “Journal of Sustainable Agriculture”, “Agroecology and Sustainable Food Systems”, “Ciência & Saúde Coletiva”, entre outras revistas demonstradas, evidenciando um delineamento irrestrito às áreas temáticas centrais das discussões, porém, com maior presença de discussões a partir da agricultura.

É interessante pontuar que tanto a revista brasileira intitulada “Segurança Alimentar e Nutricional” (CANAVESI; MOURA; SOUZA, 2016) e a revista em inglês “Food Security” (KANGMENNAANG et al., 2017) já apresentaram estudos que abordam o tema central da SAN de seus periódicos atrelado às noções da agroecologia. Da mesma maneira, a revista “Agroecology and Sustainable Food Systems” (FERNANDEZ et al., 2013), que tem como tema basilar a agroecologia e já discutiu sua afinidade a SAN em seus estudos, estabelecendo assim um elo integrativo entre ambos os temas e enaltecendo a importância de continua discussão seja dada por qualquer área temática principal.

Historicamente o perfil das publicações em agroecologia especificamente também segue este mesmo movimento voltado para área de estudos rurais, como o demonstrado por Wezel e Soldat (2009), quando citam que o tópico principal em agroecologia foi comumente mais voltado para “questões sobre agronomia, manejo do solo, ecologia e desenvolvimento rural”; apenas “mais recentemente para questões sobre sustentabilidade, agricultura sustentável e biodiversidade”; porém, com questões levantadas “somente em algumas publicações, sobre a importância da segurança alimentar e redução da pobreza em geral”.

O mesmo sentido de variedade entre os periódicos das publicações analisadas pôde ser percebido também entre os autores dos estudos, compreendendo diferentes nomes nas autorias dos artigos localizados. Desse modo, não foi observada contribuições de um mesmo autor em diferentes publicações rastreadas nesta sistematização.

De mesmo modo, também não foi encontrado uma predominância de autores já conhecidos especificamente das áreas da agroecologia ou da SAN que abordassem em conjunto tais temas. Com a exceção dos nomes de Miguel Altieri, autor bastante influente para a área da agroecologia e de Renato Maluf, renomado autor entre as referências de publicações da SAN, não foi possível encontrar artigos de outros autores ditos clássicos dessas áreas singulares pela sistematização desta interseção.

Cabe salientar ainda a característica em relação ao idioma das publicações, o qual o inglês teve predominância massiva entre os estudos localizados. Como o esperado entre publicações científicas, o inglês é atualmente o mais comum para este fim.

Como um adendo, é necessário frisar que os países de origem identificados no quadro de caracterização apresentado são referentes ao local onde os autores publicaram tais estudos – como uma determinada instituição de pesquisa, por exemplo – seguindo as informações contidas originalmente disponíveis no artigo publicado.

Mesmo estudos com experiências em países da América Latina e Europa, preferiram orientar sua publicação para revistas de língua inglesa, provavelmente visando um maior reconhecimento e facilidade na divulgação de suas experiências. Não obstante, três estudos selecionados estão em português originalmente e não foi localizado na sistematização nenhum estudo publicado em espanhol.

Por fim, ainda relacionado à origem dos artigos, a maior predominância na publicação dos estudos são de autores dos Estados Unidos e Brasil (seis estudos e cinco estudos, respectivamente).

Contribuições de autores da América Central, Europa e África também fizeram parte da sistematização, demonstrando a disponibilidade em escala global de experiências debruçadas para os temas em questão e com a ausência de discussões oriundas de mais países ditos em desenvolvimento, mas que podem ter a contribuição de experiências nestes temas que ainda não alcançaram um mainstream com mais relevância entre o meio científico.

Especificamente em relação aos estudos com origem no Brasil, é necessário realçar que existe uma predominância de autores de estados do eixo sul do país (como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Distrito Federal), o que faz reconhecer a mesma verificação que acontece com países em desenvolvimento em relação as regiões que sofrem mais limitações econômicas e sociais no país, mais notadamente sobre investimentos em educação, de onde podem emergir com mais presença as discussões e experiências cientificas destes temas.

Os próximos tópicos de discussão continuam a explorar os resultados da caracterização dos estudos selecionados, porém, irão buscar mais especificamente responder as questões base da revisão sistemática. Logo, irão discutir como são delineadas essas características existentes entre os temas a partir dos aspectos teórico- metodológicos, argumentativos e o apoio mútuo entre os temas desta pesquisa nos estudos selecionados.

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