Segundo Ashcar39, a força de um perfume depende,
basicamente, da concentração de fragrância e das matérias-primas utilizadas em sua concepção. Do ponto de vista técnico, um perfume consiste na mistura de várias substâncias, naturais ou químicas, dissolvidas em álcool. Ao pé da letra, a palavra perfume aplica-se somente o extrato, — o tipo de mistura que contém a mais alta proporção de fragrância concentrada e com o menor teor de álcool possível — as outras misturas quase sempre levam água. A concentração de fragrância é o fator determinante na nomenclatura dos tipos de “perfume”, do mais leve ao extrato.
A concentração de uma fragrância pode ser classificada de acordo com a quantidade de óleos aromáticos diluídos em um solvente (mais comumente etanol e água). Os perfumes se dividem em cinco grupos40:
Parfum (extrato de perfume): Parfum (extrato de perfume): Parfum (extrato de perfume):
Parfum (extrato de perfume): possui aroma intenso e a maior concentração de essências, entre 15%-35% de compostos aromáticos. Como são muito fortes, não são adequados ao clima tropical, sendo pouco comerciali- zados. O fixador41 tem um poderoso efeito de fixação
39 Ashcar, 2001, p. 59.
40 Os valores da quantidade de concentração de essências variam a
cada fonte pesquisada. Para transcrever aqui, selecionou-se a que se apresentou mais adequada.
41 Fixador não é um elemento extra adicionado na fabricação de per-
fumes. A fixação do perfume, ou seja, que resiste por várias horas, se deve às notas de fundo (ou de base) que são constituídas por ingre- dientes mais densos e persistentes, proporcionando uma difusão mais lenta.
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podendo prolongar-se por até 24 horas. O exagero na aplicação pode provocar dores de cabeça e até mesmo intoxicação acompanhada por náusea.
Eau de Parfum / Parfum de toilette (EDP): Eau de Parfum / Parfum de toilette (EDP):Eau de Parfum / Parfum de toilette (EDP):
Eau de Parfum / Parfum de toilette (EDP): varia de 10- 18% de compostos aromáticos. Seu efeito de fixação chega a ultrapassar 12 horas.
Eau de Toilette (água de toilette Eau de Toilette (água de toilette Eau de Toilette (água de toilette
Eau de Toilette (água de toilette ---- EDT):EDT):EDT): são fragrâncias EDT): mais discretas, adequadas ao clima tropical. Compõem-se de 5-10% de concentração de essências. São comumente encontradas comercialmente. Sua fixação não passa de 8 horas.
Eau de Cologne (água de Eau de Cologne (água de Eau de Cologne (água de
Eau de Cologne (água de colônia colônia colônia colônia ---- EDC):EDC):EDC):EDC): bem suaves, são fragrâncias com baixa concentração de essências, variando entre 3-5%. A fixação dura no máximo até 5 horas.
Splash: Splash:Splash:
Splash: possuem no máximo 3% de concentração de fragrância.
O termo Deo Colônia é apenas utilizado no Brasil e refere-se a fragrâncias com baixíssima concen-tração de essências e sua fixação dura entre 2 horas e 4 horas. A estrutura de um perfume é composta por três partes chamadas de notas. São elas:
Notas de cabeça ou de saída: Notas de cabeça ou de saída:Notas de cabeça ou de saída:
Notas de cabeça ou de saída: são as primeiras sensa- ções que se tem ao passar o perfume. É o momento que determina se o perfume agrada ou não. Por isso, deve-se deixar passar um tempo após a aplicação para sentir o
perfume "se abrir" e reconhecer as outras essências. São extremamente voláteis e muito leves. Baseiam-se em li- mão, laranja, bergamota, lavanda, pinho, eucalipto e folha de chá dentre outras. Quando um perfume é muito fres- co, suas notas são quase todas voláteis, por isso seus a- romas duram menos tempo, por volta de 15 minutos. Notas de coração ou de corpo:
Notas de coração ou de corpo: Notas de coração ou de corpo:
Notas de coração ou de corpo: são as do meio da com- posição para onde vão aromas mais equilibrados. Elas que dão a personalidade ao perfume. Expressam o tema principal da fragrância. São sentidas assim que o com- posto aromático seca na pele. São utilizadas essências menos voláteis e mais pesadas, como as de flores, folhas e especiarias, dentre elas o tomilho, o cravo, aldeídos, cominho, pimenta. As notas de coração ou de corpo são liberadas a partir do aquecimento da pele e duram em torno de 40 minutos.
Notas de fundo ou de base: Notas de fundo ou de base: Notas de fundo ou de base:
Notas de fundo ou de base: são aquelas da base da composição para onde vão os aromas mais fortes, con- sistentes, pesados. São os que têm maior poder de fixa- ção (de duração), ou seja, depois de um bom tempo são eles que se evidenciam. Pouco voláteis, os ingredi- entes evaporam lentamente. São notas mais densas, como as de resina, de madeira e de origem animal, co- mo por exemplo, o musk, o castor, o almíscar e o civet.. A união das notas forma os acordes que compõem as fragrâncias. As fragrâncias também são classificadas em famílias olfa
famílias olfa famílias olfa
famílias olfativastivastivas. A classificação dessas famílias varia de tivas acordo com os fabricantes e podem se subdividir em várias outras.
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As famílias femininas se diferem das masculinas. São elas42:
Famílias femininas Famílias femininasFamílias femininas Famílias femininas
Floral — Verde, Frutal, Fresco, Floral, Aldeídico, Doce Oriental — Amadeirado, Especiado
Chipre — Frutal, Animal, Amadeirado, Fresco, Verde Lavanda — Fresca, Almiscarada
Famílias masculinas Famílias masculinasFamílias masculinas Famílias masculinas
Fougère — Fresco, amadeirado, Ambarado Oriental — Especiado, Ambarado
Chipre — Amandeirado, Couro, Conífero, Fresco, Cítrico Como a pesquisa está focada em fragrâncias femininas, serão descritas apenas as famílias femininas.
Floral FloralFloral Floral
É nesta família que se reúne a maior concentração de per- fumes femininos, com fragrâncias apreciadas em todo o mundo. Muitas delas apresentam acordes claramente re- conhecíveis que lembram fragrâncias puramente florais. Outras trazem em sua composição impressões florais par- ticulares de certas regiões ou locais em específicas esta-
42 A classificação das famílias olfativas foi retirada do livro Brasiles-
sência, de Renata Ashcar, que selecionou referências clássicas, os tí- tulos mais importantes dentro da categoria para abordar em seu li- vro.
ções do ano. Divide-se em seis subcategorias: verde, frutal, fresco, floral, aldeídico e doce.
Floral Floral Floral Floral verde verde verde verde
Fragrâncias com acentuado e característico frescor verde em harmonia com a composição floral. São aromas leves e voláteis utilizados para puxar os aromas de baixo, das notas de corpo para a saída.
Floral Floral Floral Floral frutal frutal frutal frutal
Caracteriza-se por elementos frutais radiantes, alguns de caráter bem dominante. Os temas utilizados, combinados com os buquês florais, são variáveis — cassis, abacaxi, damasco, pêssego ou maçã, entre outros.
Floral fresco Floral fresco Floral fresco Floral fresco
Versão bem apreciada pelas brasileiras inclui todos os temas leves, suaves e primaveris — em geral impressões baseadas no jacinto, lírio-do-vale e flor de laranjeira. Pode apresentar toques refrescantes de bergamota ou outros componentes ativos. Engloba águas-de-colônia puras e leves, como as que combinam jasmim com acordes her- bais frescos.
Floral floral Floral floral Floral floral Floral floral
Os verdadeiramente florais, com predominância de flores em toda a estrutura do perfume. Rosa e jasmim são os temas favoritos, mas outras flores, como ilangue-ilangue, narciso, tuberosa, íris e cravo, também podem participar deste buquê.
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Floral aldeídico Floral aldeídico Floral aldeídico Floral aldeídico
Combina buquês florais realçados pela cuidadosa adi- ção de aldeídos, que enfatizam seu corpo, sua persona- lidade.
Floral doce Floral doce Floral doce Floral doce
Intensa e encorpada direção olfativa, também chamada de “floriental”. No final dos anos 70, surgiram novas variações do tema, partindo das nuances florais doces até os mati- zes com fortes direções orientais.
Oriental OrientalOriental Oriental
Notas orientais despertam associações com as legendá- rias fragrâncias de As Mil e Uma Noites, com seus aromá- ticos bálsamos e resinas, também evocam as preciosas especiarias indianas. Ricos e quentes, são tipicamente almiscarados ou especiados, traduzindo sempre volúpia e exotismo.
Oriental ambarado Oriental ambarado Oriental ambarado Oriental ambarado
Também chamada oriental doce, essa categoria é ca- racterizada por um toque sutil de frescor, contrastado com sua base de especiarias (como baunilha ou outros elementos doces), desenhando na imaginação uma e- xótica femme fatale.
Oriental especiado Oriental especiado Oriental especiado Oriental especiado
Ingrediente inconfundíveis, como as especiarias culinárias — cravo, noz-moscada e canela, entre outras — definem a categoria dando o acento spicy (apimentado).
Eles são combinados com madeiras secas de facetas pronunciadamente doces ou mesmo com elementos a- nimais. Podem aparecer acordes florais (jasmim, ilan- gue-ilangue) em altas porcentagens, além de materiais sintéticos que trazem a essas fragrâncias um persistente toque feminino.
Chipre Chipre Chipre Chipre
É caracterizada pela presença de notas cítricas de ber- gamota em harmonia com um fundo de musgo de carva- lho, patchuli ou outras madeiras nobres, originárias da região do mediterrâneo. O nome remete ao primeiro per- fume com essa combinação olfativa, inspirado na legen- dária ilha grega homônima: o Chypre, lançado em 1917 por François Coty. O sucesso foi tanto que gerou uma nova família olfativa.
Chipre frutal Chipre frutal Chipre frutal Chipre frutal
Caracterizado e realçado por acentos frutais, semelhan- tes ao aroma do pêssego, que personalizam a combi- nação, garantem a tenacidade da fragrância e dão cará- ter ao produto.
Chipre animal Chipre animal Chipre animal Chipre animal
Este grupo inclui a variedade de interpretações Chipre que, com o tempo, gerou novas evoluções no campo de perfumes femininos. Os componentes animais transmi- tem uma tenacidade ainda maior para a sua radiante fe- minilidade.
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Chipre amadeirado Chipre amadeirado Chipre amadeirado Chipre amadeirado
A característica mais marcante dentro deste grupo é o forte acento de patchuli. A harmonia do patchuli com a rosa vem sendo incrementada com releituras criativas em diferentes combinações.
Chipre fresco Chipre fresco Chipre fresco Chipre fresco
Aqui estão as mais fiéis e puras criações da família, bem próximas dos precursores remotos. Os modernos descen- dentes reafirmaram o nome Chipre graças à sua excelente aceitação de mercado e à riqueza de evoluções do tema. Chipre verde
Chipre verde Chipre verde Chipre verde
Encontram-se as composições com acentuados acordes verdes caracterizados por herbáceos ou suaves variações encontradas em interpretações de acordes florais.
Lavanda LavandaLavanda Lavanda
Nas classificações internacionais, esta é uma família olfa- tiva particularmente masculina. No Brasil, porém, em ra- zão de vários aspectos culturais peculiares, ela se posi- ciona como uma das preferências nacionais femininas, é apreciada por mulheres de todas as idades. Exala leveza, em comparação com as outras famílias olfativas, e tem no frescor a nota predominante. Sua estrutura é a base para dois temas distintos: o fresco, adequado ao nosso clima úmido e tropical; e o almiscarado, ligado à sensua- lidade da mulher brasileira. Lavanda é sinônimo de alfa- zema, nome que batiza vários frascos.
Lavanda fresca Lavanda fresca Lavanda fresca Lavanda fresca
Caracterizada por seu frescor e leveza, sem compromisso com complexos aromáticos, representa uma nota de la- vanda quase pura, que agrada de homens e mulheres.
Lavanda almiscarada Lavanda almiscarada Lavanda almiscarada Lavanda almiscarada
Dentro do mesmo conceito de água-de-colônia, com também extremamente difundido por todo o país. Sua personalidade encontra-se no contraste do frescor das notas de lavanda com as persistentes notas de fundo almiscaradas.
Algumas famílias olfativas são mais usadas em perfumes femininos e outras em masculinos, no entanto, não existe uma regra. Atualmente, perfumes unissex têm se tornado comum. O primeiro exemplar foi o Le Sien, de Jean Pa- tou, lançado em 1931.
Desde 1994, quando Calvin Klein lançou o CK One, as fragrâncias de uso compartilhado (unissex) ainda são uma grande tendência de mercado. A explicação refere- se à oposição dos perfumes masculinos e femininos que era feita antigamente. Para elas, eram produzidas fra- grâncias predominantemente florais e, para eles, as cítri- cas e amadeiradas. Com o tempo, os homens aderiram a fragrâncias mais suaves e adocicadas. Ao mesmo tempo, observou-se que boa parte da venda de perfumes mascu- linos era consumida por mulheres. Assim, percebendo-se essa tendência, passaram a criar os perfumes unissex.
Capítulo 2
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O mercado de luxo tem se desenvolvido e tomado pro- porções cada vez maiores, inclusive aqui no Brasil. O pró- prio governo brasileiro tem incentivado a expansão deste mercado através da exportação de produtos com maior valor agregado, destacando-se a Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex Brasil), que organiza e- ventos no exterior e abre o mercado para as empresas brasileiras. O setor de cosméticos e perfumes brasileiros vendeu por volta de US$400 milhões em 200643.
No entanto, no século XXI, a palavra “luxo” ganhou diver- sas conotações, tendo seu conceito relativizado. Agora, fala-se em diversos níveis de luxo, atingindo classes soci- ais mais populares. O que é luxo para uns, pode não ser para outros. A valorização ecológica, utilização do tempo escasso, tranqüilidade, segurança, lazer e educação são significados agregados ao “luxo” e se sobrepõem ao a- cúmulo de riquezas em vários países.
Se para alguns luxo é ter condições financeiras para ad- quirir seu objeto de desejo, para outros pode ser a dis- ponibilidade de tempo para desfrutar da vida em família, por exemplo.
43 Faggiani, 2006, p.14.