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ANTROPOFAGIA E O BÁRBARO E TECNOLOGIZADO ATUADO NO ATUAL

No documento Arte e antropofagia (páginas 84-91)

Na reformulação da noção dialética do Bárbaro Tecnizado de Oswald de Andrade para além das dicotomias e das oposições entre primitivo e civilizado, tendo a técnica como distinção entre a civilidade e a barbáries, é superada pela antropogênese como tecnogênese e pela noção ampliada de técnica e tecnologia onde todo humano é possuidor de técnicas, ou seja, linguagens. Na noção de tecnofagias como a relação entre essas diversas técnicas e suas absorções mútuas, há no encontro entre técnicas, entre linguagens humanas e não humanas, seja em Viveiros de Castro referindo-se aos animais e vegetais e na bioarte que essa antecipa o discurso antropológico imanentista pensando na relação entre essas linguagens nas Artes, tecnofagicamente.

As tecnofagias, no plural, ao partirem da distinção no universo técnico, entre alta e baixa tecnologia, entre high tech e low tech, nos apresentam outras questões sobre as oposições apresentadas na formulação dialética de Oswald de Andrade do Bárbaro Tecnizado, mas não a partir da oposição entre cultura e natureza humanas, mas a partir da relação entre cultura e naturezas técnicas, e a partir da relação indissociável entre o humano e a técnica, tais oposições, nos apresentam não sínteses dialéticas entre high

tech e low tech, as altas tecnologias e as baixas tecnologias, sintetizadas, com toda a

carga que a palavra sintetizar traz no mundo digital atual com seus sintetizadores, em um tipo de alta-baixa tecnologia, mas pensando as tecnologias de idades distintas e seus

atraversamentos para além das qualificações e oposições entre alta e baixa tecnologia.

A partir dessa relação entre high e low tech, questionando essas oposições, e buscamos os encontros, nos encontros possíveis a atuação dos tecnófagos.

As tecnofagias, ao contrário da alta antropofagia e da baixa antropofagia proposta por Oswald de Andrade, não possuem as distinções entre altas e baixas Tecnofagias, a relação entre alta e baixa é apresentada na própria conceituação de Tecnofagias a partir da distinção entre as tecnologias e as ciências e seu uso nas Artes.

Juliana Gontijo, no livro “Distopias Tecnológicas” (2014) nos fala da relação entre as noções de alta e baixa tecnologia, high-tech e low tech, a partir de uma relação simultaneamente complementar e oposta, afirmando:

A definição do que é low-tech encontra-se intrinsecamente ligado à concepção do hi-tech são termos complementares e comumente

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opostos de forma a simplificar um relativismo fundamentado muitas vezes num evolucionismo tecnológico, determinado sócio- economicamente. Refere-se, por conseguinte, a técnicas e designs que deixaram de ser “de ponta” (GONTIJO, 2014:32).

Juliana Gontijo, ainda em sua análise e podemos comparar suas reflexões à proposição de Giselle Beiguelman sobre a noção de Tecnofagias, pois em seu texto, pensando não apenas a Antropofagia de Oswald de Andrade como referência, mas as outras tantas fagias apresentadas, como a Coprofagia de Glauco Mattoso, que estaria associada à reciclagem, quando, por exemplo, fala sobre essas práticas fazerem alusão “à busca ontológica pela essência dos objetos para usufruir suas potencialidades encobertas. Revertem, assim, as ânsias da novidade tecnológica e aproveitam o que a sociedade de consumo industrial descarta como lixo”.

O Bárbaro Tecnizado, a partir da noção de humano multinatural e multicultural atual, real e virtual, no analógico e no digital, problematiza tanto a relação entre o real, o virtual e o atual, quanto a relação, não de oposição, mas de trânsitos entre o analógico e o digital. Gontijo fala:

na combinação do analógico com o digital, esta Arte do improviso tecnológico manifesta um encontro entre a viabilidade de produção, a opção estética e um ativismo político. Uma espécie de antropofagia da era digital, de uma cultura de objetos que nos são dados, pois que devora e regurgita o velho e o novo, o low e o hi, a tradição e a inovação. Refiro-me aos fenômenos de deglutição e vômito metafóricos do outro, descritos por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropófago (...) (GONTIJO,2014:47).

Juliana Gontijo, em entrevista com Dirceu Maués, questiona as experimetações e os procedimento fotográficos que ele utiliza na criação de suas obras, seja a câmera artesanal pinhole ou câmera escura, que para ela, na maioria das vezes, seria associável – numa visão possivelmente errônea – a certa nostalgia tecnológica. No entanto, como Dirceu Maués combina essa tecnologia mais artesanal com outros procedimentos de digitalização, que envolveriam computador, ela questiona o artista sobre essa combinação entre os procedimentos com tecnologias low-tech, mais simples, precárias e artesanais com outros procedimentos com tecnologias high-tech, complexas, industriais, que para a autora, muitas vezes seriam pensadas como algo incompatível.

A entrevista traz justamente a relação entre as noções entre high-tech e low-tech, e suas oposições e incompatibilidades, que são bases conceituais da formulação da noção de Tecnofagias. Nesse sentido, a Antropofagia, assim como as Tecnofagias, nas Artes, nos trazem um pensamento que é lórgico, que possibilita a partir das contradições, dos paradoxos, atravessar as fronteiras lógicas e atraversar, absorversar

86 as oposições lógicas, REDEmensionadas no encontro daquilo que a priori, por uma lógica interna ou própria, não seriam possíveis de aproximar, de se misturar, pois a Antropofagia é todo o contrário do próprio, da propriedade, seu pensamento é lórgico, pois “jamais admitimos o nascimento da lógica entre nós”ANDRADE, 1928:02), a lógica não se põe entre nós, a lórgica poema entre-nós.

Tanto na entrevista em anexo realizada por mim com Maués como na entrevista realizada por Juliana Gontijo, Dirceu Maués, se incomoda com essas noções de high-

tech e low-tech e afirma:

É interessante como esta separação entre artesanal (low-tech) e dispositivos mais complexos (high-tech) é tão forte na cabeça de algumas pessoas que elas acabam cobrando que em meu trabalho tenha essa separação também. Como faço um trabalho usando uma tecnologia mais antiga ou mais simples, estas pessoas parecem querer me encaixar dentro de um discurso. Contudo, acabo usando meu trabalho muito mais para falar de como as pessoas lidam com a tecnologia. Penso que tecnologia está presente em qualquer dispositivo: seja no Artesanal e simples (low-tech), seja no dispositivo mais com plexo (high-tech). São ferramentas disponíveis ao processo criativo. Imagine se, com a invenção do elevador, deixássemos de construir prédios com escadas? Uma nova invenção não substitui a outra elas vão se somando. Quanto mais a tecnologia se desenvolve, mais diversidade de ferramentas temos disponíveis para usar. Depende, realmente, da proposta de utilização de cada um. É possível até usá-las para criticar a própria forma de como se lida com a tecnologia. Meu processo de trabalho vai nesse sentido. Em uma exposição, uma conhecida falou que fotografava, mas sua câmera não era tão boa como a minha, que “tira essas fotos lindas (GONTIJO, 2014:126).

Assim como Dirceu Meués, Leo Crescenti em entrevista em anexo, ao falar sobre o processo de criação de suas obras diz “usar tecnologias de todas as épocas. Não existe separação entre isso, entre alta e baixa tecnologia” (CANTONI E CRESCENTI, 2013), ou seja, compreende a distinção entre tecnologias de épocas distintas, isto é, tecnologias de tempos diferentes, mas não as qualifica como alta ou baixa tecnologia, pois as pensa como possíveis em qualquer época, para além da noção moderna de novo e de obsolescência programada de uma tecnologia pelo surgimento de outra.

Para ambos os artistas, tecnologia é tecnologia, desde as mais simples às mais complexas, e nesse sentido a idéia de tecnologias de pontes, assim como as ciências de pontes, como ligação entre as diversas tecnologias seria mais interessante que tecnologias e ciências de ponta-garagem. Pois as conexões entre tecnologias já pressupõem que são distintas entre si, mas não qualifica a tecnologia em alta ou baixa tecnologia, ou nova ou antiga, mas suas conexões, seus saltos e pontes espaço- temporais, movendo e promovendo encontros.

87 Menos o questionamento inicial entre o humano natural e o humano tecnizado sintetizado no humano natural tecnizado, termos que preferimos ao de Bárbaro Tecnizado, que em duplo movimento, um de retorno e um de avanço, retornaremos a noção de homem natural tecnizado para mudarmos a noção de homem, para humano natural tecnizado, não apenas pela relação entre gênero, tendo o homem como condição universal da humanidade, patriarcal, e nesse caso poderiamos escrever, a mulher natural tecnizada, pois seria mais coerente com um pensamento matriarcal, mas para além das questões de gênero, pensamos a noção de humano, no sentido ampliado, redimensionando no corpo, absorversando e atraversando diversas possibilidades de pensar a relação entre humanos, natureza e técnica, tanto nas antropologias imanentistas de Viveiros de Castro, que pensa a noção de humanidade no sentido ampliado, na relação entre humanos e não humanos, onde o que haveria em comum entre os humanos e animais não seria a animalidade, mas a humanidade, e nesse sentido poderiamos pensar na relação entre as linguagens humanas e não humanas, ou como na noção de Cantoni de que haveriam linguagens humanas e não humanas, mais relacionada às técnicas.

Não o "reconhecimento" entre aspas por pressupor que um outro deva reconhecer o diferente como legítimo, num antropocentrismo, mas num antropomorfismo, apesar de que em todo antropomorfismo há o humano, um antropos, que pode ser um tipo de antropocentrismo de outra espécie, no entanto, na noção de humano natural tecnizado, busco a reformulação da noção de Bárbaro Tecnizado, nas relações entre as linguagens humanas e não humanas. Não como um "dar voz" como a permissão à fala, à expressão, a falar por si sem mediadores, como no texto do último pos-intelectual em Subirats:

A visita do último pós-intelectual pós-moderno. O professor bateu à porta, aproximou-se do ancião que mal podia ouvir e com inconfundível tom empolado e indiferente dos acadêmicos globais pronunciou as seguintes palavras “Eu não sou o mesmo Um (com U maiúsculo), a identidade substâncial sem fissuras do sujeito colonizador. Sou a totalidade quebrantada dos Grandes Discursos, a identidade do Sujeito cindida numa pluralidade de Outros (com O maiúsculo). Reconheço-me na Alteridade do Outro como um Outro entre outros outros. Reconheço o senhor como a diferença do diferente num tempo e num espaço decodificados. O senhor é um sujeito híbrido. Está descolonizado: agora já pode falar!” (SUBIRATS, 2001:104-105).

88 Mas como repensar as próprias relações a partir não mais da relação entre sujeito e objeto, mas na relação entre sujeitos, como horizonte e horizontalidades possíveis.

Além de pensarmos a relação entre o humano natural e o humano tecnizado, por uma relação não dialética, a própria noção de negatividade dialética, onde estaríamos , segundo Oswald de Andrade na proposição do Bárbaro Tecnizado, se desfaria, pois as separações e oposições entre o humano natural e um humano tecnizado a partir da noção da antropogênese como tecnogênese se desfazem, portanto, compreendemos que a afirmação do humano natural tecnizado se torna “natural”, pois humanos naturais e tecnizados, e nesse questionamento das oposições se dariam as alternativas, não em sínteses, mas em multiplicações de energia, de versões, de possibilidades.

Assim como na reformulação do humano natural tecnizado não dialético, mas dialógico à relação entre ciência de ponta e ciência de garagem, entre high e low tech, não se daria a partir de negatividade dialética proposta por Oswald de Andrade a qual deveríamos superar, mas do encontro entre as ciências de ponta e de garagem, que não se sintetizariam dialéticamente na ponta-garagem, mas se daria dialogicamente na relação como tecnologia de pontes, de conexões, de encontros. Pontes entre as técnicas de diversas naturezas, isto é, a naturalização da técnica, mas não a tecnificação da natureza. A natureza técnica, mas não a técnica natural, pois essa sofisticação “técnica” natural, high tech, da natureza, ainda não alcançamos. Essa sabedoria indígena que talvez o perspectivismo ameríndio e do multinaturalismo tentem nos ensinar. Nessa relação comum entre as linguagens humanas e não humanas. Tecnologias de pontes.

A partir do encontro entre essas ciências multiversando-se tecnofagicamente na relação sem pretender nenhuma síntese, mas multiplicação, nenhuma redução dialética, mas multiversões e multiversos dialógicos, versar com. E multiplicar e versar as tecnofagias no plural. Do humano natural tecnizado ao humano ponta-garagem. O humano naturalmente tecnizado ou natural, pois tecnizado, pois produtor de linguagem, pois o humano industrial-artesanal, o humano real e virtual, atual, redimensionado e

REDEmensional, redimensionado e multidimensional por redes online e off-line, absorversando e REDEmensionando-se nos encontros.

A noção de antropogênese como tecnogênese, além de desconstruir as oposições entre humano e técnica, nos apresenta a possibilidade de aproximar as antropologias

89 como tecnologias e assim, proponho as antropofagias como tecnofagias, e para tanto, nos permite pensar a reformulação do humano natural tecnizado a partir dessas noções, e pensar a própria relação entre as conceituações de Oswald de Andrade e de Giselle Beiguelman para os dois termos em separado.

As tecnofagias como antropofagias, ou as antropofagias como desde já, tecnofagias, no entanto compreendendo as tecnofagias como o uso crítico das mídias atuais, como seria a formulação do humano natural tecnizado, tecnofágico de pontes? O antropófago com técnicas, reformulado da relação entre o antropófago, homem natural e o civilizado, homem tecnizado, isto é um destituído de civilidade por sua relação com a natureza e não possuir técnicas, isto é, linguagem, e outro possuidor de civilidade por sua distância da natureza e dominação desta com suas técnicas, isto é, possuidor de linguagem, nesse sentido, a relação entre a “escola e a natureza”, do Manifesto Pau- Brasil (1926) de Oswald de Andrade, entre natureza e cultura, e não a separação da natureza e da cultura.

Com as tecnofagias, as relações entre saberes, entre ciências de ponta e ciências de garagem, que ainda assim distinguem uma ciência da outra como uma sendo alta e baixa tecnologia, ou seja, ainda há a relação assimétrica entre as ciências, high e low

tech, alta e baixas tecnofagias? Se Oswald de Andrade pensa a alta e baixa antropofagia,

nas tecnofagias no plural, quais seriam as altas tecnofagias e as baixas tecnofagias? Na alta antropofagia o gesto é o compartilhar e na baixa antropofagia é o consumir. Nas

high-tech e nas low tech onde a alta tecnologia é produzida por máquinas, industriais, e

a baixa, por corpos, artesanais, entre corpo e máquina. Quais seriam as tecnologias de ponta e as de garagem?

Com as tecnologias de comunicação, as interfaces entre corpos e máquinas, entre máquina e máquina, entre corpos e corpos, quais seriam as high e low techs pensando as técnicas como linguagem? Entre essas linguagens e pensando as tecnofagias como o uso crítico das mídias, medidas e mediações corporais, podemos pensar o corpo atraversado por mídias e atraversando essas mídias como tecnologias de ponte? A ciência de ponta, industrial e a ciência de garagem, artesanal, nesses encontros, não mais se opõem, mas no uso crítico das mídias, das tecnologias de ponta e garagem, no uso das mídias e no uso das mídias pelos corpos, as Artes põem em tensionamento e potencializam essas relações, no uso crítico e tecnofágico das tecnologias, das mídias.

90 As antropofagias não obram por autoridades, pois não tem autoria nem autoridade, mas operam e obram por e nas alteridades, portanto, por e nas multiplicidades. Eduardo Viveiros de Castro fala que a Antropofagia era e é uma “teoria realmente revolucionária e que nunca foi bem absorvida no Brasil”. E comparando as obras de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade diz que “Mário de Andrade colheu música popular, cantigas, foi atrás de mitos, inventou todo um olhar sobre o Brasil. Mas o Oswald tinha um poder de fogo retórico superior; sua inconseqüência era visionária…”. Compreendo a relação entre Mario e Oswald como complementares, enquanto o primeiro cria um olhar sobre o Brasil descobrindo a cultura em suas viagens pelo país de dimensões continentais, descobre os brasis dentro do Brasil, Oswald descobre os brasis, em suas viagens para fora do Brasil. Assim, Viveiros de Castro pensa a relação entre MariOswald de Andrade, afirmando Mário como “o grande inventariante da diversidade” e Oswald como “o grande teórico da multiplicidade”, para o autor “coisa muito diferente”, para mim, suas trajetórias e roteiros se atraversam em

multiversos e multiversões possíveis que as antropofagias como tecnofagias podem

seguir 33.

A relação entre Macunaíma como a grande personagem antropófaga da literatura e o quadro Abaporu e com a tela Antropofagia, a partir dessa comparação de Viveiros de Castro, na relação entre o pensamento da diversidade (maqnaimanências34) e da multiplicidade (multidão, Abaporuas e AbapoREDEs e Abapororocas) como complementares, no encontro entre Abaporu e Macunaíma, como o encontro entre

marioswald, entre Mario que observa a diversidade do Brasil no Brasil, em suas

viagens pelo país, olhar estrangeiro em suas viagens em casa, e Oswald de Andrade que observa a multiplicidade de Brasil da Europa.

A multiplicidade e a diversidade, onde segundo Giselle Beiguelman pensa as Tecnofagias mais próximas de Mario de Andrade e sua diversidade de "ser trezentos, ser trezentos e cinquenta" (BEIGUELMAN, 2012:16) e a própria noção de radicante que pensa em uma origem, e vai criando suas raízes em deslocamento. Se Mario de

33 Extraída da entrevista realizada com o antropólogo em 24/12/2014, pela Revista Azougue, disponível no site

https://azougueiro.wordpress.com/2014/12/24/entrevista-com-eduardo-viveiros-de-castro/

34 Maqnaímanências é um neologismo criado a partir da relação entre Macunaíma, personagem de Mário

de Andrade que possui uma plasticidade corporal, assim como Abaporu, onde absorve os ambientes por onde passa metamorfoeando-se , sua relação com as máquinas no período de industrialização do país no ínicio do século XX e as imanências entre corpos em relação direta e mediada por máquinas.

91 Andrade pensa o nacional, diverso, a partir do Brasil e reconhece a diversidade do Brasil, no Brasil, Oswald pensa em suas viagens pelo Brasil, um olhar estrangeiro sobre o Brasil, fora do Brasil, a diversidade e multiplicidade de brasis, e a multiplicidade de brasis ao absorversar a atraversar perspectivas. A multiplicidade de brasis que conhece fora do Brasil.

Nas noções de radicalidade e radicante, considerarmos os pensamentos de Mário e Oswald como complementares: a radicalidade e as simultaneidades nos gestos de reconhecer a diversidade e a multiplicidade do Brasil, em movimento, em deslocamento por um país de dimensões continentais. Mário e Oswald, ao descobrirem os brasis no Brasil e fora do Brasil, criam suas raízes em movimento, um no próprio Brasil, e outro fora do Brasil, um num Brasil diverso e outro no Brasil múltiplo, na descrição dessas viagens em comparação com a descrição de radicante de Bourriaud. Ambos absorvem criticamente todas as diversas e as múltiplas versões do Brasil e de Brasil, não apenas invertendo a relação entre colonizadores e colonizados, mas versando e multiversando, nas absorversões e atraversamentos dos brasis e nos brasis, as diversas e múltiplas brasilidades.

As diversidades e a multiplicidades das antropofagias desse encontro entre

MariOswald e entre Abaporu e Macunaíma, não brasileiras somente, mas repensar a

Antropofagia e a "universalidade" da Antropofagia como multiversalidades das antropofagias, por sua diversidade e multiplicidade de compartilhares e nutrir-(se) na relação com, nas versões e nos versares com, nas absorversões e atraversamentos possíveis nas ruas e nas redes, no atual (real e virtual) analógico e digital que atam e atuam as Antropofagias de Oswald de Andrade e as Tecnofagias de Giselle Beiguelman e outros artistas em antropofagias como tecnofagias.

No documento Arte e antropofagia (páginas 84-91)