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RUMO ÁS TECNOFAGIAS

No documento Arte e antropofagia (páginas 115-126)

A noção de tecnofagias foi desenvolvida pela artista e curadora Giselle Beiguelman a partir das obras de diversos artistas, portanto, o conceito é desenvolvido a partir da produção artista e ao longo dos anos de 2008 à 2012, quando realia-se a Exposição Tecnofagias no instituto Tomie Ohtaki, portanto, parte das artes e das obras, da produção poética da Arte e Mídia para desenvolver sua noção de Tecnofagias. Na chamada do 8º Prêmio Sergio Motta Giselle diz que ser o prêmio é:

voltado a criadores que operam na interface entre Arte e novas mídias, em campos como: Artes interativas (ambientes imersivos, instalações interativas, games); Arte/ciência (vida artificial, Arte transgênica, bioArte, robótica, inteligência artificial, nanoarte); Artes do corpo (videodança, videoperformance, dança digital e live DJs e VJs); Artes sonoras (composições digitais, eletrônicas ou eletroacústicas, instalações sonoras); animação digital (vídeo, instalação, dispositivos, animação, simulações) visões de rede (ciberliteratura, poesia visual e sonora, web Arte, dispositivos móveis, mídias locativas).

No entanto, segundo Giselle Beiguelman, essas “modalidades” não funcionaram como “categorias de inscrição, mas como indicadores das possibilidades de conjunção entre Arte, ciência e comunicação”. Foi o que a curadora chamou de “conjunção entre esses campos” o que interessou para a seleção das obras.

Ao visitar o site do Prêmio Sergio Motta46 na busca de mais informações sobre os artistas e as obras que fizeram parte dessa possível “vertente tecnofágica”, verifiquei que dos 286 artistas inscritos para a seleção do 8º Prêmio Sergio Motta de Arte e

Tecnologia, foram escolhidos 34 artistas para concorrerem aos prêmios de 2009, e entre

esses 34 indicados, 8 deles participam da exposição Tecnofagias em 2012.

Entre os indicados em início de carreira, Jarbas Jácome é o único que participa da exposição Tecnofagias, já entre os indicados na categoria meio de carreira, outros sete artistas participam da exposição Tecnofagias: Arthur Omar, a dupla Gisela Motta e Leandro Lima, Lucas Bambozzi, Mariana Manhães, membro do coletivo Gambiologia, Martha Gabriel, Raquel Kogan e a dupla Rejane Cantoni e Leo Crescenti.

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116 No texto “Rumo às Tecnofagias (Tendências da Criação em Arte Digital no Brasil) 47

.”, (2009) Giselle Beiguelman afirma o traço e a característica em comum entre

as obras premiadas e os artistas selecionados, seu modo de criação a partir do “fato do escopo de sua produção definir-se no campo das estéticas tecnológicas”. Ou seja, a relação entre as estéticas diversas utilizadas na criação de cada obra, especificamente o que chama de “estéticas tecnológicas” em relação à uma antropofagia tecnológica ou tecnofagia, ainda no singular:

E é justamente o caráter “desfeitichizado” e pouco domesticado em relação às diretrizes do mercado de Arte e de tecnologia o que mais chama a atenção no grupo de artistas selecionados e premiados nesta 8ª edição. (...) Acima de tudo, há nesse grupo, uma tendência de uso crítico das mídias que parece anunciar uma vertente tecnofágica, ou de antropofagia tecnológica. Essa tendência pode ser um primeiro esboço de uma nova prática estética que opera pela combinação de dispositivos high e low tech, práticas de circuit bending, remodelagem de equipamentos e integração de mídias de idades variadas.

No texto “Tecnofagias emergentes na Artemídia.br”, publicado na REVISTA

MARGINALIA+LAB #0148, sobre a 8ª. Edição do Prêmio Sergio Motta, a artista ainda

fala sobre o que chama de “geração tecnofágica”:

Produções recentes de artistas brasileiros, como Mobile Crash, de Lucas Bambozzi, e Crepúsculo dos Ídolos, de Jarbas Jácome, e ações de coletivos, como Metareciclagem e Gambiologia.net, indicam uma emergente tendência tecnofágica. Profundamente marcadas por procedimentos de ressignificação do cotidiano e estratégias micropolíticas, essas práticas artísticas têm estabelecido um recorte particular do Brasil no campo das estéticas tecnológicas atuais e em especial nas modalidades da Artemídia mais recentes: as Artes em rede e os usos criativos de software livre.

A relação entre as interfaces e as interações tecnofágicas, na análise das obras da exposição, a relação entre o corpo e as obras e as tecnologias usadas em cada uma delas. Mas também há relação com as mediações, as interações, atraversamentos desses corpos com as tecnologias, como o Grupo Corpos Informáticos nas performances em telepresença e os corpos em suas diversas materialidades na relação com as tecnologias, isto é, linguagens.

Pensamos as tecnofagias, no plural e em minúscula, como conceito expandido e expandindo-se nos atraversamentos e absorversões, REDEmensionando-se, ao incorporá-la à discussão sobre a barbárie tecnologizada e a ciber-barbárie tecnizada,

47 A íntegra do texto acima encontra-se em anexo. 48

Disponível em http://www.marginaliaproject.com/lab/magazine/002/, acesso em 12 de outubro de 2015, às 22hs.

117 como modus operandi, como gesto antropofágico e tecnofágico entre as Artes, a ciência e as tecnologias digitais e analógicas, atuais, onde técnicas e tecnologias artísticas, cientificas, informacionais e comunicacionais devoram técnicas e tecnologias artísticas, cientificas e comunicacionais digerando outras.

Por sua vez, Giselle Beiguelman (2009) argumenta que uma vertente tecnofágica nas Artes digitais termina por se constituir como classe produtora, não por opção exclusiva, mas por opção inclusiva de seus feitos e restrição do acesso aos meios de produção pelas classes vetoriais. Estas são formadas por aqueles que controlam os vetores de telestesia, ou seja, as linhas sem posição fixa dos modos e meios, atuais e virtuais, de percepção à distância, de objetivação e comunicação da informação. (...) Para a autora, essa disputa é necessária para que tecnófagos autofagiem sua própria condição de classe a partir da absorção da noção de propriedade. Além disso, a tecnofagia deve ser entendida como prática irrestrita, que independe da ação dos tecnófagos, e envolve toda ruptura, seja dos códigos da telemática, seja das barreiras ao fluxo interterritorial.

A expansão da conceituação pessoal de Beiguelman de Tecnofagias para a noção de tecnofagias, para além da “arte digital”, não restrito às atividades que são diretamente ligadas à computação e às telecomunicações, mas nos atraversamentos e

absorversões entre o analógico e o digital, se apresenta dentro dos contornos mais

amplos da concepção da tecnologia, no âmbito da Arte e do pensamento filosófico, que abarcam a ação e o interesse social, além da parafernália dos circuitos eletrônicos e dos códigos, que estabelecem uma relação entre materialidades distintas, materiais variados, eletrônicos e virtuais, sejam reciclando, coprofagicamente os restos e excessos do consumo da produção industrial, na antropofagia carnal, corporal, ambiental, digital, virtual e atual.

Em entrevista à Paula Alzugaray, para a Revista Isto é, 2012, sobre a III Mostra 3M de Arte Digital, que teve como título Tecnofagias, Giselle Beiguelman apresenta algumas noções desse conceito Tecnofagias:

afirma ter tomado “Glauber Rocha como o grande modelo tecnofágico da exposição”, “Glauber e sua iluminação zenital do sertão. Aquela é uma estética que não conjuga com a ideia de um Brasil precário e não nega a cultura de massa contemporânea”, completa ela. Tecnofagia é Glauber, é carnaval, praia e é vida digital”.

Em entrevista à Manu Melo Franco49 (2010), diz que “o cibridismo, originalmente, na definição do arquiteto Peter Anders, é a projeção de elementos virtuais no mundo real”. No entanto, a autora utilizaria essa definição de uma forma

49

Publicado originalmente em http://www.forumfoto.org.br/giselle-beiguelman/, acesso em 29 de outubro de 2015, às 20hs.

118 uma pouco distinta, entendendo o cibridismo como “uma intersecção entre redes online e off-line”. Para Giselle a noção de realidade aumentada seria “uma linha de pesquisa da computação que busca a criação de ambientes que envolvem elementos da realidade virtual e real”. Nesse sentido, a realidade aumentada, poderia ser compreendida “como uma dimensão do cibridismo”. Giselle afirma o cotidiano como já sendo cíbrido, a partir do momento em que viveríamos entre redes online e off-line e “os recursos de realidade aumentada atenderiam a essa condição emergente, permitindo, por exemplo, acessar informações adicionais sobre um determinado lugar, utilizando aplicativos instalados no celular” (BEIGUELMAN: 2010).

Na edição Número 2 da Revista Select, no texto “América Tecnofágica: Reciclagem, apropriação e politização das mídias marcam Arte”50 por Giselle Beiguelman falando sobre as Tecnofagias na Artemídia, ao apresentar a noção de uma América Tecnofágica, apartir da análise das criações do brasileiro Dirceu Maués, do colombiano Edwin Sanchez e do mexicano Arcangel Constantini, fala que a “Artemídia latino-americana devora tecnologia para globalizar conceitos”, no entanto, trataremos exclusivamente da obra do artista brasileiro, por fazer parte da exposição Tecnofagias, em 2012.

Beiguelman afirma as tecnofagias a partir da relação da interação na Arte mídia. A autora diz ser

senso comum associar a Artemídia com a interatividade. Mas interação tornou-se palavra tão recorrente no dia a dia que virou um conceito Bombril: serve para tudo e não define ou qualifica nada, especialmente do ponto de vista estético. Jorra interação por todos os poros da contemporaneidade. Basta ligar a televisão, o rádio, o computador, o celular e lá está a tal da interatividade a nos espreitar. Pode-se mesmo dizer que interação é a commodity da indústria da informática e das telecomunicações, seu produto primário e de base (BEIGUELMAN, 2012).

Nesse sentido apresenta algumas características das “Tecnofagias, ora como emergência, ora como onda, ora como vertente, ora como conceituação pessoal, ora como geração, etc., no entanto, a noção de tecnofagias se desenha em suas conceituações sempre a partir de ‘contra-tendencias’ (...)”. No texto abaixo Beiguelman apresenta a noção da “onda tecnofágica” como um movimento que navega contra essa tendência da “interação como commodity e produto primário e de base da indústria da informática e das telecomunicações”. A autora ao longo de seus roteiros e roteadores,

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119 nos mares e nos infomares, nas ruas e nas redes, nas relações entre corpos e obras, entre obras e obras na busca da conceituação da noção de Tecnofagias,

Navegando contra essa tendência vem se consolidando na América Latina uma gama de práticas artísticas que chamam a atenção por tensionar o campo da interatividade para além da mera aplicabilidade embutida nos seus projetos industriais, mas sem apelar para um discurso conservador e extemporâneo que a renega. Trata-se de uma onda tecnofágica que devora a tecnologia, triturando-a para reinseri-la aos contextos locais e linká-la ao panorama global. Nesses projetos, são marcantes as operações de combinação entre a tradição e a inovação, a revalidação das noções de high e low tech e ações micropolíticas de apropriação das mídias (BEIGUELMAN, 2012).

Apesar da crítica ao uso da noção de interatividade, as obras trazem a interatividade como questionamento da noção de interatividade, buscando na relação, na conexão, não apenas interagir com a obra, mas atuar e ser atuado no atual, real e virtual entre corpos e obras, corpo-obra, obra-corpo, as antropofagias assim como as tecnofagias envolvem o corpo na ação, em atuações e atualizaçoes no atual, real e virtual, no analógico e no digital, portanto, ao invés de absorversões entre tecnologias, isto é, a relação entre high e low tech, inserem o corpo e a presença dos “visitantes”, atuadores no atual das obras, com as obras, na relação com a obra e as tecnologias que a constituem. Não absorve corpos, absorversa e atraversa corpos e na relação com, produz corpos, conexões entre corpos que REDEmensionam suas corporalidades e presenças conforme será analisado abaixo, na relação entre corpo e obras na exposição Tecnofagias e as performances realizadas por mim.

Em entrevista na Revista CODE#1 Giselle Beiguelman ao ser questionada “como avalia a produção brasileira em Arte mídia, se haveria algumas especificidades ou “tendências”, responde à entrevistadora:

Eu aposto na emergência de uma tendência de uso crítico das mídias que parecem anunciar uma vertente tecnofágica, ou uma antropofagia tecnológica e que devem ser compreendidas também dentro do quadro político atual do Brasil, no qual software livre e banda larga, por exemplo, se tornaram debates nacionais. Essa tendência pode ser um primeiro esboço de uma nova prática estética que opera pela combinação de dispositivos high e low tech, práticas de circuit bending, remodelagem de equipamentos e integração de mídias de idades variadas. (...) Essa produção tecnofágica não dialoga com o “revival” pasteurizado. Ela é muito crítica e voltada para um uso político dos meios, bem como de sua politização. Parece incorporar algumas tradições antropofágicas da Arte brasileira, incluindo-se aí os artistas multimidiáticos mais antigos para questionar os limites da interface, as estratégias táticas, as práticas de compartilhamento e os desafios das relações entre Arte e ciência (BEIGUELMAN, 2009:37).

Se nos primeiros momentos Beiguelman fala sobre uma “emergência tecnofágica”, no singular, ao longo do percurso a conceituação pessoal da qual se refere

120 começa a multiplicar-se em direções diversas, e ao invés de uma emergência tecnofágica, onda, geração, vertente, que teria em comum a tecnofagia, a própria tecnofagia torna-se plural, apresenta-se em movimento, outros roteiros, outros caminhos, até chegar às Tecnofagias, no plural, para onde estaríamos caminhando, “rumo às tecnofagias”.

No entanto, antes da Exposição Tecnofagias de 2012, entre essas diversas buscas por conceituação das Tecnofagias, a autora ainda afirma uma “vertente tecnofágica”, a qual questionamos, por compreender as vertentes como gesto que verte, que verga, que rebaixa ou dimunui o outro, numa relação assimétrica e afirmamos as versantes, como versos poéticos, versões, os versares e os multiversos, a multiplicidade e simultaneidades de versos com, versares com multiversares com.

Em entrevista a Thiago Carrapatoso no livro “Arte do Cibridismo - as tecnologias e o fazer artístico no mundo contemporâneo”, em 2010 Giselle Beiguelman acrescenta em sua busca por conceituação da noção a noção de geração, a partir da análise dos artistas em início de carreira e artistas mais antigos, pensando uma possível “geração tecnofágica”:

Como que essa cultura absorveu essas matrizes culturais populares e as não populares. Essas matrizes que vem do Tropicalismo, que vem da antropofagia, que sempre foram muito conscientemente bakhtinianas e sabiam que elas estavam reprocessando cultura popular em muitos níveis. Eu me pergunto até que ponto essa geração sabe que ela está reprocessando questões que não são só do Brasil. (...) tudo isso tem um caldo cultural que está em pauta e que não me parece que é algo que essa geração tecnofágica tenha levado em consideração em sua produção, que ela seja muito presa, como você falou… ela é on demand (BEIGUELMAN, 2010:46-49)

Apesar de todos esses nomes dado à tecnofagia, como tendência, onda, geração, emergência, vertente, ao longo da sua pesquisa até chegar à exposição Tecnofagias de 2012, diz que as Tecnofagias não seriam uma “tendência, nem um movimento, mas uma conceituação pessoal, elaborada para dar conta de operações marcantes na produção brasileira relacionada à Arte mídia” (BEIGUELMAN, 2012:10).

Em entrevista em anexo, realizada em 2013, ao questionar a conceituação pessoal de Tecnofagia, no singular, no sentido de constituir um “movimento”, uma “tendência”, uma geração ou uma “vertente” Giselle Beiguelman, diz não ser um movimento por não existir uma “organização nessa direção, então, não existiria um aglomerado de pessoas que de alguma maneira construiram uma plataforma com um

121 objetivo difuso ou comum orientado para essa relação, então um movimento não é”. Com relação de ser uma tendência ou não, diz que

essa ideia de tendência sempre responde muito bem às pesquisas de mercado e ela é uma noção operacional, existem tendências, mas elas são pontuais e elas não necessariamente dão conta de tensões que são mais relevantes para o meu processo de pesquisa do que o mapeamento para onde vai a Arte brasileira agora, acho que ela vai para um monte de direções e essa é uma estratégia, uma vertente criativa entre outras.

Na reportagem “O choque do encontro mostra de Arte digital promove aproximação entre ciência de ponta e ciência de garagem sobre a exposição Tecnofagias”51 Paula Alzugaray fala que “entre esses dois tempos tecnológicos, entre o

low e o hi-tech, despontam as tecnofagias. De acordo com a III Mostra 3M de Arte

Digital, a tecnofagia acontece quando a ciência de ponta encontra a ciência de garagem”, e complementa a conceituação de Giselle ao afirmar a relação entre o virtual e o real, o que compreendemos como o atual (real e virtual, analógico e digital), pois para Alzugaray, a tecnofagia, ainda que no singular, acontece também quando “o virtual se depara com o real”, e portanto, as Tecnofagias nos falam das realidades cíbridas, ou como chamamos, das realidades atuais. Alzugaray nos fala ainda que o (...) “termo se refere ainda aos processos ao mesmo tempo rudes e sofisticados”. .

O termo Tecnofagias nos instigaria a conceber certa “reprogramação das possibilidades tecnológicas ou de regurgitar sentidos via programas implacáveis, tendo na precisão de ferramentas a possibilidade da deriva artística”, ferramentas aqui compreendidas como linguagens. As Tecnofagias, no plural, nos apresentam uma conceituação que parte das análises das obras de arte de diversos artistas, portanto, o conceito surge a partir das obras, de suas operacionalidades, e torna-se plural, não um conceito tentando aprisionar as obras em suas diversidades e singularidades numa vertente tecnofágica, mas as obras, em suas multiplicidades, multiplicando e multiversando as antropofagias tecnológicas ou Tecnofagias, no plural, onde cada obra, cada artista, além da conceituação pessoal, manifesta em obra as Tecnofagias e as multiplicam em obra, na relação corporal entre as presenças e corpos inseridos nas obras, criando suas próprias noções de tecnofagias ao mesmo tempo em que as questiona, isto é, o questionar como comer.

51

Disponível em http://www.istoe.com.br/reportagens/230539_O+CHOQUE+DO+ENCONTRO+, acesso em 14 de dez de 2015.

122 Ao questionar, movimenta e absorve, atraversando, absorversando e

REDEmensionando o conceito não apenas a partir da voz, do discurso, mas questiona

corporalmente a conceituação de Tecnofagias, na relação entre corpos e presenças nas obras, corpos e presenças na relação com a obra, corpos e presenças atraversados e

atraversando, absorversados e absorversando, e ambos REDEmensionando-se em

nutrições mutuas.

As Tecnofagias assim como a Antropofagia de Oswald de Andrade dão-se na relação entre corpos, presenças e obras. Assim como a Antropofagia (Oswald de Andrade) as Tecnofagias de Giselle Beiguelman, ao usar o sufixo fagia na conceituação da Exposição, insere o corpo na relação entre as obras e o conceito, pois a Antropofagia de Oswald pressupõe o corpo e suas conexões na relação de movimento e devoração, a Antropofagia de Oswald de Andrade remete-se à antropofagia indígena que insere a discussão entre o corpo e a presença, e as virtualidades e surge de um ato corporal, como ato inaugural de devoração do Bispo Sardinha. As Tecnofagias, assim como a Antropofagia, não absorvem corpos e os aniquilam, mas na relação sensória, na relação entre as obras e os corpos, surge como ato corporal de questionamento das absorções entre corpos e tecnologias, a partir do questionamento da interação nas obras, em relação direta e mediada, mas atraversam e absorversam as redes criadas entre corpo e obra por tecnologias de captação de presença, e assim, REDEmensionam-se.

A Antropofagia como ato corporal nos fala das relações corporais diretas, os trânsitos e os fluxos da vida “moderna” e as Antropofagias como Tecnofagias como atos corporais em rede, corpos e presenças REDEmensionando-se nas ruas e nas redes, no plural, onde as antropofagias assim como as tecnofagias, multiplicam-se e manifestam a pluralidade do gesto fágico que REDEmensiona-se e multiversa-se na compreensão das antropofagias como tecnofagias, ambas relacionadas e relacionais e em minúscula e no plural. Várias outras fagias, em que cada obra, absorversa e

multiversa as tecnofagias, em que cada artista cria a sua forma tecnofágica de criar, de

atuar no atual. Portanto, Beiguelman pensa as Tecnofagias como atitudes, gestos e operações de questionamento dos usos nos usos dessas tecnologias, nas obras.

No entanto, compreendendo que essas operações tecnofágicas são possíveis em diversas áreas do conhecimento nas Artes, assim como nas ciências e nas tecnologias, uma vez que a relação entre as Artes e as mídias passam por essas duas áreas, mas não necessariamente seria Arte, mas atos criativos no uso dessas tecnologias, para a solução

123 de problemas não artísticos, as Artes atravessariam essas áreas, criando inovação, mas

No documento Arte e antropofagia (páginas 115-126)