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EX0E5QUELET0 E ABAPORU.

No documento Arte e antropofagia (páginas 39-48)

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Imagens extraídas da transmissão da abertura da Copa do Mundo de 2014, no Rio de Janeiro, Brasil.

A relação entre o corpo do manifestante na cadeira de rodas e o corpo de Juliano Pinto, paciente escolhido por Miguel Nicolélis e sua equipe para a primeira demonstração pública do exoesqueleto, onde dá o primeiro chute da bola na abertura da Copa do Mundo de 2014 no Brasil através do movimento dos pés robóticos do exoesqueleto, que move seus pés e pernas paralisados, com o pensamento. A partir da posição corporal de ambos os corpos nas imagens anteriores, Abaporu, O pensador, o manifestante em cadeira de rodas, o manifestante chutando a bomba de gás lacrimogênio, em relação ao exoesqueleto, nos apresentam a posição corporal sentada e posição corporal em pé como diferença entre as imagens, no entanto, ambos estão em deslocamento. Na relação entre Abaporu, o manifestante em cadeira de rodas e o exoesqueleto, um mediado pela cadeira de rodas, movida não pelo movimento dos braços, mas por um botão joystick que move e direciona o movimento em diversas direções e outro pelo exoesqueleto, que é movido pelo pensamento.

Se o corpo do manifestante na cadeira de rodas é movido pelas mãos, pela manipulação manual do joystick, o movimento do exoesqueleto é gerado pelo pensamento, movendo-se o pensamento, o corpo e a posição corporal através da veste robótica que gera movimento no corpo imóvel. Ambos se movem mediados, o manifestante na cadeira de rodas desloca-se na posição sentado, mediado pela cadeira de rodas e Juliano Pinto, move-se na posição vertical, mediado pelo exoesqueleto.

Ao contrário do manifestante na cadeira de rodas que assim como o Abaporu, possuem um rosto sem boca, a imagem do exoesqueleto possui rosto, boca e um nome, ao contrario de todas as imagens anteriores anônimas. No entanto, ao analisarmos a relação entre a imagem de Juliano Pinto vestindo o exoesqueleto e a relação com o

41 movimento, se a posição corporal de Abaporu, sentado, está em iminência de movimento, a posição corporal de Juliano Pinto vestindo o exoesqueleto, na posição em pé, sobre dois pés robóticos, está em movimento a partir do pensamento posto em movimento distribuído, e nessa relação entre o pé e a cabeça, se o Abaporu, questiona a primazia da razão e do pensamento sobre o corpo, afirmando um pensamento com o pé, um pensamento em movimento, a imagem do exoesqueleto questiona a partir do pensamento distribuído, a noção de corpo para além dos limites corporais, a partir da hipótese da plasticidade cerebral, REDEmensionando a noção de corpo e presença para além dos limites materiais do corpo, expandindo as conexões e redes que cria.

Se a figura do pensador nos apresenta um corpo humano imóvel, onde o pensamento é separado do corpo e o Abaporu nos apresenta um corpo em iminência de movimento, a partir da figura do pé, que busca mover o pensamento, o exoesqueleto nos apresenta um pensamento distribuído, pensamento móvel e dinâmico que busca mediado pelo exoesqueleto, gerar movimento no corpo e mente.

Na relação com o Abaporu e a relação entre o pé e a cabeça, a relação entre a plasticidade corporal em Abaporu, segundo Aguillar e a plasticidade cerebral na TCR e na neurociência distribucionista, o corpo paralisado em busca por movimento, é necessário mover a mente e a forma de pensamento de forma distribuída para mover o pé e o corpo ao aprender a controlar com o pensamento o exoesqueleto, outros roteiros do movimento corporal, movimento mediado por diversas tecnologias, isto é linguagens que são assimiladas pelo cérebro, isto é, pelo corpo, são absorversadas nos

atraversamentos entre o esqueleto e o exoesqueleto, o corpo vestindo o exoesqueleto,

isto é, imerso15 na veste robótica que media o movimento entre o pensamento distribuído e o corpo no mundo.

O exoesqueleto como meio, como mediação entre o corpo e o mundo, inclui outros roteiros: os roteiros das sinapses cerebrais das redes neurais criando roteiros outros para o pensamento.

As absorversões e atraversamentos que propomos entre a plasticidade corporal em Abaporu e a plasticidade cerebral proposta por Nicolélis nos apresentam como

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"o design fisicamente íntimo oferecido pela interface humano-máquina induz às experiências imersivas (...) em reafirmação à corporeidade dos participantes; (...) criado um contexto espaço-temporal no qual seja possível explorar a experiência subjetiva do eu de estar no mundo - como uma consciência personificada em que o espaço envolvente em que os limites interno/externo e mente/corpo se dissolvam (...) no seu estado sugestivo absorto (GRAU, 2007:228).

42 argumento para a plasticidade corporal e o REDEmensionamento desse corpo em seus roteiros e conexões no atual.

Miguel Nicolélis a partir da TCR e da neurociência distribucionista, ao questionar a noção de corpo para além da materialidade carnal, ao questionar-se sobre “onde o corpo de cada um de nós começa e termina” (NICOLÉLIS, 2011:42), nos apresenta uma noção de corpo para além da materialidade, o que nos aproxima das noções proposta aqui de REDEmensionamento, pois pensa a noção de corpo em suas conexões com os corpos e ambientes, nesse caso, assim como da noção de fragmentação e multiplicação de corpo e presença em relação imediata com outros corpos e mediada pelo exoesqueleto, assim como na telepresença16, e em ambos os casos, a relação direta e mediada simultaneamente, com o corpo imerso na multidão das ruas e nas redes evidenciando a carne das conexões.

Os REDEmensionamentos desses corpos e presenças simultaneamente em relação direta e mediada, conectada às redes sociais online e off-line, a partir dos exemplos da plasticidade corporal de Abaporu e da plasticidade cerebral da TCR e do pensamento distribuído e em rede, REDEmensiona o pensamento e os corpos às dimensões em rede.

Ao contrário do exemplo de Nicolélis sobre as “Diretas já”, onde em som uníssono de uma multidão de vozes gritam por eleições diretas, em relação à estética da multidão e asIconofagias17, a relação entre os corpos e presenças que estavam dentro do

16 A plasticidade corporal e a plasticidade cerebral tanto na figura do Abaporu quanto no exoesqueleto

questionam a separação entre mente e corpo, “reconhecida de imediato como um conceito dualista do ser humano, implica a desvalorização da corporalidade, que entende a mente como totalmente incorpórea, com tendência progressiva à simulação, reprime o corpo em sua função de apropriação sensorial do mundo externo, cujo maior e talvez mais intenso órgão sensorial é a pele” (GRAU, 2007:316). As semelhanças entre o pensamento distribuído e o corpo distribuído em telepresença, nos apresentam a possibilidade dos REDEmensionamentos dos corpos e presenças em relação direta e mediada entre corpos nas ruas e nas redes. No entanto, as redes criadas entre o corpo paralisado e o exoesquelto, em movimento em relação simultaneamente direta e mediada pela veste robótica, nos apresentam a relação entre a plasticidade corporal e cerebral. O corpo imerso na veste robótica REDEmensiona sua presença e sua noção de corpo a partir das mediações e das redes criadas entre o corpo e a veste robótica, entre o pensamento distribuído e o corpo imerso na multidão do estádio, sendo transmitido ao vivo, possivelmente distribuído pelo mundo inteiro, “concentrando a atenção do usuário em sua própria gestualidade em (...) interação com vestígios de corpos remotos de indivíduos: a aparência do "corpo dispersado" (no sentido de estar, virtual e simultaneamente, em diversas locações), introduzida pelo debate em torno da telepresença (idem).

17 Em grego, eikon significa imagem. Fagia é o sufixo que designa o ato de comer, de ingerir. Da junção

desses dois vocábulos surge o termo iconofagia, conceito elaborado por Norval Baittelo Junior. De forma simplificada, iconofagia designa o consumo de imagens, o ato de devorá-las – ou por elas ser devorado: “o fenômeno da iconofagia, a devoração de imagens, juntamente com a voracidade por imagens e a gula das próprias imagens” (BAITELLO JUNIOR, 2005:54). E o autor acrescenta: Alimentar-se de imagens significa alimentar imagens, conferindo-lhes substância, emprestando-lhes os corpos. (...) Se a

43 estádio na transmissão de abertura, os que estavam nas ruas nas transmissões das manifestações e ambos nas redes sociais onlne, conectados à internet com seus celulares, em presença e telepresença, onde há a transmissão e recepção dessas presenças nas redes, porttanto, não eram em uníssono, mas REDEmensionam essas noções de corpo e presenças na utilização das tecnologias de comunicação e informação na transmissão das manifestações das ruas para as redes e das redes para as ruas, assim como na telepresença, uma vez que REDEmensionamos nossas noções de corpo, de presença e de eu, nos atraversamentos e absorversões entre corpos e tecnologias de fragmentação e multiplicação de presença, em relação imediata nas redes sociais off-line e mediada nas redes sociais online.

(...) a dinâmica do comportamento social daquela noite cantante havia ilustrado de maneira explícita, a maioria dos princípios neurofisiológicos que passaria a perseguir (...) dediquei-me a ouvir sinfonias até então praticamente desconhecidas, produzidas pelas descargas elétricas de grandes populações de neurônios trabalhando em conjunto (NICOLÉLIS, 2011:32-33).

A partir do exemplo das diretas já, onde Nicolélis nos apresenta a relação com as sinfonias cerebrais, e a relação entre o exoesqueleto e o Abaporu, entre a plasticidade corporal e a plasticidade cerebral, buscamos as relações entre os corpos online e off-line e as redes sociais online e off-line dentro do estádio e fora do estádio e, portanto, se Nicolélis compara o comportamento das (Diretas já!), às sinfonias cerebrais, pensamos a relação entre as manifestações dentro e fora do estádio como sinfonias corporais. Esses corpos em relação direta e mediada, imersos18 nas ruas e nas redes, onde as imanências entre os corpos imersos na multidão criando um corpo simultaneamente imanente e transcendente entre si e multiplicando-se nas redes sociais online,

REDEmensionando-se.

Os corpos imersos na multidão das ruas e das redes, as atuações no atual, corpo imerso no exoesqueleto, através do pensamento, move sua as distinções entre a imersão em realidade virtual e a realidade concreta, e pensamos a realidade atual, simultaneamente real e virtual, a partir da análise dos componentes do exoesqueleto,

antropofagia seria corpos devorando corpos, em sua concepção primeira, as iconofagias falam das relações de devorações entre imagens, e da relação entre imagens e corpos, portanto, A iconofagia acontece em três estágios: 1) imagens devoram imagens; 2) homens devoram imagens; 3) imagens devoram corpos. Um ciclo de retroalimentação contínua, que tem como resultado a superprodução de imagens rapidamente descartadas e substituídas por outras imagens.

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(...) Através da presença física e mental no mundo das imagens, condiz a uma fusão e a um momento de transcendência, o que se aplica a quase todos os espaços históricos de imersão (GRAU, 2007:228), assim como a presença física desses corpos em imanência com outros corpos imersos na multidão.

44 pensando esse corpo imerso no exoesqueleto e no mundo, atuando sobre o exoesqueleto, assim como na imersão, modifica o meio, o ambiente, no entanto, atua com a mente sobre o meio que atua em resposta sobre seu corpo tanto gerando movimento como sinais táteis de sensibilidade, move o meio que move o corpo no mundo, atua assim como os manifestantes nas ruas e nas redes, com seus celulares conectados à internet que se movem simultaneamente nas ruas e nas redes, imersos nas multidões das ruas, das redes e dos estádios.

No entanto, diferentemente da telepresença em que há resposta imediata e mediadas, a atuação e multiplicação do corpo e da presença e o REDEmensionamento do corpo e da presença de Juliano Pinto, mediado tanto por tecnologias que compõe o exoesqueleto quanto por tecnologias de comunicação e informação que transmitiam a abertura da copa do mundo, sua presença é duplamente REDEmensionada pelo exoesqueleto e pela transmissão, assim como os celulares conectados à internet, que postam imagens do estádio, na relação entre o corpo paralisado e o exoesqueleto e em relação ao corpo em movimento e a imagem em movimento sendo transmitida pela cobertura televisiva e postagens nas redes sociais online.

Além de mover as redes neurais que atuam sobre as redes que compõe o exoequeleto e movem o corpo, a fragmentação e multiplicação de sua presença através das redes de transmissão, REDEmensionam esse corpo e exemplificam a noção de corpo proposta pela TCR e a neurociência distribucionista para além da corporalidade carnal, incluindo assim, o meio real e o meio virtual, e todas as mídias e mediações que compõe o exoesqueleto, a transmissão da abertura, as redes sociais online e as redes sociais off-line dentro e fora dos estádios.

Assim, se comparados aos REDEmensionamentos da telepresença, pensamos os

atraversamentos e absorversões entre essas tecnologias, isto é, linguagens, que geram

tanto o movimento desse corpo-carne-robótico em relação simultaneamente direta e mediada no estádio, nas absorversões e atraversamentos entre o esqueleto e o exoesqueleto, quanto o REDEmensionamento desse corpo carne, corpo robótico em corpo luz, corpo bits, fragmentando-se e multiplicando-se simultaneamente nos televisores e na Internet.

Está na relação entre o pé, paralisado, mas buscando a verticalidade, e a cabeça, no caso de Juliano, ao contrário dos outros corpos, não está com o rosto coberto, a cabeça está coberta por um capuz com sensores que captam as sinapses cerebrais e transformam em energia motriz para o exoesqueleto e energia nutriz para o corpo. O

45 movimento parte da cabeça, e move tanto a forma de pensamento, de forma localizada para distribuída como a própria neurociência. O movimento corporal e o movimento do pensamento, simultaneamente, são postos em movimento para gerar energia motriz com o primeiro chute.

Na relação com os outros corpos, o que está em destaque, no caso do primeiro chute, além do exoesqueleto, da veste robótica, são os pés e os pés robóticos que com o pensamento gera o movimento na bola, em primeiro plano, está o pé, mas esse rosto tem uma boca em relação ao rosto de Abaporu.

A relação que buscamos entre o Abaporu e o exoesqueleto, a veste robótica criada por Miguel Nicolélis e sua equipe da Duke University e do Instituto Internacional de Neurociência de Natal19 se comparada à posição corporal de Abaporu e dos manifestantes nas ruas e nas redes, tanto o manifestante na cadeiras de rodas, quanto o manifestante chutando o gás lacrimogêneo, a relação entre o corpo em movimento pelas ruas do cadeirante e dos outros manifestantes com seus rostos cobertos por balaclava, capuz ou lenço, no exoesqueleto, na relação entre o pé e a cabeça, a cabeça tem um rosto, tem uma boca, que durante a primeira apresentação pública do exoesqueleto, sorria, chorava e emocionava-se com o fato de estar novamente na posição vertical, ainda que mediado pelo exoesqueleto.

Apesar de Miguel Nicolélis descrever no livro “Muito Além do nosso eu” que durante as pesquisas com as macacas, para moverem o braço robótico à distância, o corpo, isto é, o cérebro da macaca que estava nos EUA e o braço robótico que estava no Japão e, portanto, utiliza-se das tecnologias de comunicação e informação e de realidade virtual para realizar os experimentos, para mover o braço robótico apenas com o pensamento, a macaca não precisava mover um único músculo sequer para mover o braço robótico, movendo-o assim somente com o pensamento e, portanto, ainda que tivesse um rosto aparente, esse rosto tinha boca, mas descreve esse rosto sem expressão, assim como Juliano Pinto não precisaria mover um só músculo do corpo para gerar movimento da veste robótica. As absorversões são entre o corpo e as tecnologias, entre o esqueleto humano e o exoesqueleto robótico, nesse sentido, nos aproximamos da relação entre a antropofagia como tecnofagia, onde o corpo está inserido na relação tecnofágica num exemplo de tecnofagias na ciência, e não necessariamente nas Artes.

19 Para maiores informações sobre a pesquisa tanto do exoesqueleto, do projeto Walk Again, quanto do

desenvolvimento da Brainet, seguem os sites do neurocientista Miguel Nicolélis na universidade de Duke, nos EUA, http://www.nicolelislab.net/ e do Instituto Internacional de Neurociencia de Natal

46 Tanto na relação entre o pé, paralisado, mas buscando a verticalidade, quanto na relação entre o pé e a cabeça, há busca por mobilidade, no caso de Juliano, ao contrário dos outros corpos. Juliano não está com o rosto coberto, a cabeça está coberta por um capuz com sensores que captam as sinapses cerebrais e as transformam em energia motriz para o exoesqueleto. Conversões. Com versões.

Se comparada à posição corporal de Abaporu e dos manifestantes nas ruas e nas redes, tanto o manifestante na cadeira de rodas, quanto o manifestante chutando o gás lacrimogêneo, a relação entre o corpo em movimento pelas ruas do cadeirante e dos outros manifestantes com seus rostos cobertos por balaclava, capuz ou lenço, no exoesqueleto, na relação entre o pé e a cabeça, a cabeça tem um rosto, tem uma boca, que durante a primeira apresentação pública do exoesqueleto, sorria, chorava e emocionava-se com o fato de estar novamente na posição vertical, ainda que mediado pelo exoesqueleto, no movimento simultâneo entre o pensamento, os pés e os pés robóticos. Nas imagens o que se destaca na relação entre o pé e a cabeça são os pés robóticos em relação à bola e os sensores na cabeça que captam as sinapses e geram o movimento.

Na imagem acima20 a partir da análise de Aguillar sobre o rosto de Abaporu, um rosto sem boca, a imagem de Juliano Pinto tem um rosto e um nome, ao contrário das outras imagens com os rostos cobertos, anônimos e sem rosto, e que ao invés de estar nas ruas e nas redes manifestando-se, estava dentro do estádio e sendo transmitindo ao

20 Imagem do exoesqueleto foi extraída do vídeo da transmissão da abertura da Copa do Mundo de 2013,

disponível no link http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos/v/paraplegico-da-o-chute-inicial-usando- exoesqueleto-na-abertura-da-copa/3414333/.

47 vivo para todo o mundo, ou seja, seu corpo e presença em movimento no gramado, posto em movimento pelo pensamento, pelo exoesqueleto e pela transmissão televisiva, a comunicação entre o cérebro e o exoesqueleto e o movimento do corpo absorversam e

atraversam na transmissão unilateral via streaming da rede de TV aberta desse

movimento.

Pensamento em movimento, corpo em movimento, exoesqueleto em movimento, imagem em movimento, o chute da bola dentro do estádio, o chute da bomba de gás lacrimogênio fora do estádio, outros corpos estavam do lado de fora do estádio, em movimento pelas ruas e pelas redes, assistindo ou não a transmissão, absorversando essa transmissão e atraversando outras transmissões das “mídias alternativas”, simultaneamente nas ruas e nas redes, absorversando as conexões, os canais de streaming, como na transmissão simultânea entre o espetáculo no Teatro Oficina e as Manifestações nas ruas. Em ambos os casos, de casa, eu acompanhava a transmissão das presenças dentro do estádio pela TV, as presenças de fora do estádio pela internet e me comunicava nas redes sociais pelo celular simultaneamente.

O exoesqueleto cria o movimento a partir do pensamento, não apenas desloca o corpo, mas desloca a própria maneira do pensar, o próprio pensamento neurocientífico. Movimenta a neurociência e o pensamento localizacionista e linear, e o distribui, o multiplica. Aqui, a unidade neurológica deixa de ser o neurônio, pois, segundo Miguel Nicolélis, “(...) um único neurônio não pode mais ser visto como a unidade fisiológica fundamental do sistema nervoso”, mas ao contrário, apontariam para o “fato inexorável de que populações de neurônios são os verdadeiros compositores das sinfonias elétricas que dão vida a todos os pensamentos gerados pelo cérebro humano” (NICOLÉLIS, 2011:21), ou seja um único neurônio não seria capaz de gerar o pensamento, mas populações inteiras.

Miguel Nicolélis ao registrar a música produzida por algumas dessas populações de neurônios, ao ouvir os concertos produzidos simultaneamente por algumas centenas de neurônios, dessa multidão, dessas populações de neurônios, o que neurocientista chama de “uma amostra infinitesimal dos bilhões de neurônios que existem no nosso cérebro (...)”, questiona-se sobre quais “princípios guiam a composição e a execução dessas sinfonias cerebrais? (NICOLÉLIS, 2011:21-22). O neurocientista responde a sua pergunta sobre as sinfonias cerebrais, citando Rodney Douglas, da Universidade de Zurique, que usa o exemplo do colega sobre o funcionamento do cérebro distribucionista, das redes neurais distribuídas, e sugere que o cérebro

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funciona de fato como uma orquestra muito peculiar, na qual a música produzida pode, quase que instantaneamente, modificar a configuração dos instrumentos musicais e dos músicos, e, nesse processo, compor uma melodia completamente inédita. Tudo isso sem a presença de nenhum maestro de batuta na mão! (NICOLÉLIS, 2011:46-47).

Na neurociência distribucionista e no cérebro relativístico propostos por Miguel Nicolélis, cada neurônio seria uno-múltiplo, multiplicando e compartilhando os dados, as informações entre si, para que caso algum venha a morrer, outros guardem as informações, e estas não se perderiam. É preciso uma multidão de neurônios para criar energia motriz, na exterioridade desse corpo, no exoesqueleto na relação com o ambiente.

No documento Arte e antropofagia (páginas 39-48)