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3 OS ESCRAVOS DA REPÚBLICA NA ILHA UPAON-AÇU OU SOBRE A RESISTÊNCIA AO APAGAMENTO DE VIDAS INDESEJÁVEIS

27 Anandiba Tanandiba Fonte: Sbrana (2015, p 11-12) Adaptado pelo autor.

3.5 APAGAMENTO DO PASSADO OU DE COMO FAZER NÃO EXISTIR NO PRESENTE

Como vimos nos capítulos (2, 4 e 6) os povos indígenas originários, bem como os africanos trazidos como escravos, tiveram suas vidas precedentes apagadas e, uma vez relacionadas com o projeto europeu de colonização, passaram à condição de peça, escravo ou servo, sem selo de origem ou direito, cujo dono tratava-se de um ilustre representante do capital e legítimo proprietário das terras e meios de produção garantidos por uma coroa sustentada em uma estrutura de Estado Moderno (= colonial) ou também conhecido como despótico.

Pretendemos, neste capítulo, como já argumentamos guarnecidos pelas proposições de Sbrana (2014; 2015), é, de agora a seguir, demonstrar, utilizando as experiências de lutas e resistências dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana da Ilha do Maranhão, notadamente da Área Rural II, parte sudoeste da Ilha, como o governo dessa população, efetivado pela elite herdeira colonial e materializado pelo par Capital-Estado, objetiva apagar suas referências de ancestralidades e, com isso, enfraquecer aspectos significativos das suas capacidades de resistência à expropriação e exploração e de luta pela garantia da terra e do controle dos meios próprios de produção. Ou seja, uma vez efetivado o intento de garantia de braços sobrantes e desvinculados da terra a serem utilizados como mercadorias para auferir lucros na estrutura produtiva, como fazer para garantir a reserva de

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terras e de meios de produção livres dos escravos da república? Essa é a problemática a ser enfrentada pela elite herdeira colonial.

Para nosso intento, é preciso admitir que o tempo entre o distante lá (período colonial formal) e o cá (formal república de homens livres), apesar de separados pela historiografia dos vencedores, se relacionam no tempo presente da vida vivida. Tratar-se-á de um tempo contínuo, cujas experiências de morte e vida, de resistência e de luta dos povos e comunidades de então e de agora se sobrepõe na vida do presente. É mister querer, e se permitir entender, que se se apagar o passado de opressão e morte imputado pelo colonizador seiscentista, setecentista ou oitocentista aos índios e negros, por ser uma mancha da modernidade (= colonialidade) ou por ser algo da galeria do passado, apagam-se, na mesma medida, as dívidas coloniais (= modernas) com esses povos e comunidades, apagam-se também o legítimo direito de reação, na justa medida, contra seus opressores e assassinos não só do corpo, mas, sobretudo, das vivências, das relações, das especificidades sociais, políticas, ambientais, culturais, por fim, apagam-se os presentes possíveis dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana.

Como escreve Mignolo (2003, p. 25):

no século 16, a diferença colonial articulava-se espacialmente. Ao se aproximar o fim do século 18 e o início do 19, o critério de avaliação já não era a escrita, mas a história. “Os povos sem história” situavam-se em um tempo “anterior” ao presente. Os povos “com história” sabiam escrever a dos povos que não a tinham.

Nisso, o trabalho da jovem historiadora Tayanná Santos Conceição de Jesus (2014), acostado na prática e no conceito de “história-problema” (BLOCH, 2001), sobre violência, memória e resistência da comunidade Rio dos Cachorros, em São Luís/MA, nos oferta pistas para demonstrar a importância do passado no presente quando se trata de dar relevo às lutas atuais dos grupos classificados, pela elite herdeira colonial, como a-históricos, inferiores, selvagens, bárbaros, despreparados, desempregados, analfabetos, desqualificados, incapazes.

Compreendo que a vivência dos moradores de Rio dos Cachorros, estejam ou não inseridos nas lutas pela permanência do território, perpassa esse enfrentamento ao aborto de suas existências, algo imposto historicamente pelos diversos grupos dominantes, pelas variadas políticas de apagamento, pelas inúmeras escritas da história que conscientemente esquecem desses sujeitos.

Dessa forma, buscar na confusão dos nomes a memória de uma resistência é conscientemente dizer que aquele território hoje denominado Rio dos Cachorros é um território de enfrentamento a imposições, porque conserva em seu nome a marca das feridas abertas na história do Maranhão, a cicatriz ainda aberta da luta sangrenta entre povo e elite, o conflito não resolvido. Ser Rio dos Cachorros é ser cada vez mais Januarem70, é ser memória que resiste aos séculos de apagamento (JESUS, 2014, p. 80-81).

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“É sabido que aldeia é termo português utilizado para denominar um agrupamento de indígenas. O termo caxorro (sic) também é português, mas elenquei outra hipótese: na localidade designada por esse mapa também encontrei descrito nas narrativas o termo Januarem que, adaptado para o português da época, significa cachorro grande ou jaguar. Possivelmente, aldeia do cacxorro (sic) foi a adaptação feita pelos colonizadores para essa

O que se quer afirmar é que “das lutas diárias pelo território ancestral, que já era território de resistência desde a época das invasões europeias, por ser terra indígena numa enxurrada de apagamentos colonizatórios, travestidos em religião e civilização” (JESUS, 2014, p. 73), Rio dos Cachorros pode servir de pista para se pensar o território das vinte comunidades que tiveram, por razões distintas, suas histórias apagadas da história oficial da Ilha do Maranhão. A exemplo dos rastros e vestígios que nos chegam das narrativas de resistência do Terreiro do Egito na comunidade Cajueiro ou dos Tainos, povo africano da memória da comunidade Taim, além das do Rio dos Cachorros que celebram o reencontro com suas ancestralidades indígenas e africanas.

Seja como for, o que se pode observar é a contínua ação da elite, para nós herdeira colonial, no sentido de desqualificar esses saberes, narrativas e memórias, esse espaço-tempo, com o propósito de lhes descredenciar da legítima história, e, assim como no passado, a um povo, a uma comunidade, por ela considerada sem história, é reservado o lugar do sacrifício em favor daqueles, que investidos por si mesmos da única história verdadeira, de um passado admirável, heroico e necessário, se impõem como os legítimos de um futuro possível, capazes de legitimar e levar a termo os projetos futuros da humanidade.

Para Jesus (2014, p. 29) “parte dos estudos universitários encobre os grupos sociais menos favorecidos a partir da opção em enfatizar a versão dos grupos dominantes detentores do poder no momento da escrita da história, buscando nas fontes escritas oficiais sua argumentação”, o que contribui para o apagamento do passado desses grupos e que, na mesma medida, interfere na estruturação do seu tempo presente.

Essa espécie de atentado da elite, aqui a herdeira colonial, à história do outro, nesse caso a dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana, dentre diversos resultados, tem servido para definir quem teria legitimidade para propor, decidir, construir e se apropriar dos bens comuns, da riqueza da sociedade. No caso, à primeira seria reservado tal legitimidade e ao segundo o dever do sacrifício, ou seja, um pequeno número de brancos ricos e letrados definem e produzem ou, no mais das vezes, expropriam os bens, os serviços e os interesses públicos.

localidade que possuía seu nome indígena... Rio dos Cachorros, lembrada como tal, não seria cada vez mais a necessidade de permanência de uma Januarem, recorte cortante e cortado na história das populações tradicionais de São Luís?” (JESUS, 2014, p. 50-51; 63).

3.5.1 A economia do bem comum e os povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana [ou “escravos da república”]

Fragoso (2000, p. 101), em artigo intitulado “A nobreza da república”, reconstitui como se deu a formação da primeira elite senhorial do Rio de Janeiro. Uma das questões que intrigava o historiador era como se constituíra uma elite rica em uma colônia mantida por uma nação império falida? Já que o Reino “sofreria as desventuras das crises de subsistência, da recorrência das pestes, do aumento do déficit público etc”. Para ele, a resposta foi o “conhecido receituário do Antigo Regime português. Qual seja: a conquista de terras e de homens; o sistema de mercês71; e o Senado da Câmara”, ou seja, o controle da maquinaria expropriadora da riqueza social e dos bens públicos produzidos pelo coletivo social. Para nós, esse receituário constitui-se na mais evidente expressão do continuum colonial.

Deste trabalho e de um outro: “a economia do bem comum...” (FRAGOSO, 2001, p. 14-15), o autor, embora seja cauteloso em sugerir algum nível de inferência e se abstenha de ilações contemporâneas, com seus argumentos e raciocínios, nos faz pensar que, atualmente, assim como no passado, uma das formas de expropriação e enriquecimento, bastante eficiente, é o controle dos bens comuns, da riqueza social. “A conquista, o sistema de mercês (...) e as Câmaras Municipais...” constituem-se um conjunto de práticas a que ele denomina de

“economia do bem comum”. Entretanto, “o conceito de economia do bem comum, traz em si duas outras noções... um mercado regulado pela política... [e a] existência de uma hierarquia social excludente”. Além disso, o conceito “... se baseia numa rede de reciprocidades, isto é, numa rede de alianças com os seus dons e contra-dons” intra e extra grupo de poder (p. 21-22).

Harvey (2014, p. 135) atualiza o debate sobre os comuns a partir de um diálogo crítico travado com “o artigo clássico de Garrett Hardin sobre ‘A tragédia dos comuns’”.

Para Harvey (2014, p. 143-44), “esses comuns são criados ao longo do tempo e, em princípio, estão acessíveis a todos”, mas o autor adverte que “há uma distinção importante entre espaços públicos e bens públicos por um lado e, por outro, os comuns. Os espaços e bens públicos sempre foram uma questão de poder de Estado e administração pública, e esses espaços e bens não constituem necessariamente um comum”, posto que espaços e bens públicos sempre foram cruciais para “o desenvolvimento capitalista”. Como ressalta Fragoso (2001, p. 18-19) “as câmaras em nome do bem comum da república, intervinham no mercado controlando

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O sistema de mercês constituía-se na concessão de terras e privilégios, principalmente à aristocracia, como recompensa de serviço prestados à coroa (FRAGOSO, 2001, p. 15).

os preços e serviços ligados ao abastecimento da cidade” o que beneficiava certos setores da economia. Já o “Senado [de Macau] garantia privilégios de lucrativas viagens comerciais a determinados comerciantes”.

“Portanto”, sentencia Harvey (2014, p. 145),

o comum não deve ser entendido como um tipo específico de coisa, de ativo ou mesmo de processo social, mas como uma relação social instável e maleável entre determinado grupo social autodefinido e os aspectos já existentes ou ainda por criar do meio social e/ou físico, considerada crucial para sua vida e subsistência.

O comum, por essa hipótese se vincula à arena política, pelo que Harvey (2014, p. 141) acrescenta: “na verdade ‘a política’, observou Jacques Rancière, ‘é a esfera de atividade de um comum que só pode ser litigioso’. No fim, o analista frequentemente se vê às voltas com uma decisão muito simples: de que lado você está, que interesses comuns você busca proteger e com que meios?”

As oligarquias vitorinista e sarneísta quando, consciente ou inconscientemente, planejaram a planta da cidade de São Luís72, dividida em zonas urbanas (de alto padrão e periferia), zonas industriais, zonas rurais e de interesse social criaram vários comuns que antes de servir ao bem estar da população em geral, serviram como vetor de manutenção do poder oligárquico da elite herdeira colonial. “O comum não é, portanto, algo que existia no passado e que desde então esteve perdido, mas algo que, assim como os comuns urbanos, é continuamente produzido” (HARVEY, 2014, p. 152).

A herança colonial do controle da “economia do bem comum”, que formou a primeira elite da república (FRAGOSO, 2000; 2001), atualizada pelas práticas neoliberais expressas no violento ataque “contra o oferecimento público de bens sociais nos últimos trinta ou mais anos” (HAVEY, 2014, p. 164) se configura como forma de manutenção da história do colonizador e o apagamento dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana.

72 Há uma confusão em reputar ao Plano de 1992 como sendo a primeira versão do Plano Diretor de São Luís, o

que, assim, o livraria da mancha oligárquica, já que fora aprovado na gestão do prefeito pedetista, Jackson Lago (1989-1993), que muitos reputam sê-lo oposição à oligarquia, do que particularmente temos dúvidas. Seja como for, Espírito Santo (2006, p. 8) diz que “em São Luís, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado foi elaborado e aprovado na década de 70 para orientar o crescimento físico decorrente da implantação de grandes plantas industriais e de redes de infra-estrutura - ... - financiada por programas do governo federal... É a partir deste contexto que se deve entender a aprovação, em 1992, do novo Plano Diretor de São Luís e suas Leis Complementares, e a preparação de um conjunto de projetos, de incidência local, com impactos sobre a capital...”. Este mesmo autor ainda diz que “foram estabelecidas normas de parcelamento e uso do solo urbano, na tentativa de ordenar a ocupação do espaço através do Plano Diretor de 1975, proposto pelo prefeito Haroldo Tavares” (p. 66). E que “neste período [décadas de 70 e 80] foram feitos investimentos que resultaram na implantação do Distrito Industrial na Ilha de São Luís. Embora estudos para essa implantação datem da década de 60, o Distrito Industrial também se concretizou após a elaboração do Plano Diretor de 1974” (p. 66). Ou seja, trata-se de projeto da elite herdeira colonial, das oligarquias que se sucederam, ainda que com o toque das suas efetivas ou supostas oposições.

Os ataques aos comuns dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana podem ser decantados da retomada da retórica dos bens comuns, quando os bens públicos oferecidos ou negados pelo Estado se transformam em mero instrumento para acumulação privada ou justificativa para expropriação. Nisso, “claro que hoje em dia o ‘truque’ consiste em minimizar a necessidade de um forte poder de Estado ao mesmo tempo em que se continua a adotá-lo – às vezes brutalmente (HARVEY, 2014, p. 148).

Neste contexto de Estado mediado, ou tomado, pelo capital, faz necessária a distinção proposta por Harvey (2014, p. 145), “entre bens públicos, entendidos como gastos produtivos do Estado, e um comum estabelecido ou usado totalmente diferente...” e não mercantilizado.

É evidente que muitos grupos sociais distintos podem se engajar na comunalização por muitas razões diferentes. Isso nos remete à questão fundamental de quais grupos sociais devem ser apoiados e quais não devem no curso das lutas pela comunalização. Afinal, os muito ricos defendem seus comuns residenciais com a mesma ferocidade que qualquer outra pessoa, e têm muito mais poder de fogo e influência para cria-los e protegê-los (HARVEY, 2014, p. 145-46).

O que se impõe é a contenda entre aqueles que desde a emergência colonial (= modernidade) mantiveram o controle sobre a “economia do bem comum” e os povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana, pelos escravos da república, que lutam em defesa dos seus comuns historicamente dilapidados ou expropriados pela elite herdeira colonial.

No caso em análise, a RESEX Tauá-Mirim, em São Luís/MA, esses povos e comunidades procuraram reiteradamente, e por diversos meios, inclusive engendrando alianças diversas, duradouras ou efêmeras, garantir seu comum: sua história, sua memória, seus ritos, mitos, religiosidades, seus modos e meios de vida, sua economia, seus territórios, suas percepções e relações objetivas com o ambiente, com a natureza.

Para tanto, na maior parte dos casos, esses povos e comunidades lutaram e lutam pelo direito aos seus territórios, e nisso “o cercamento é um meio político transitório na busca de um objetivo político comum” (HARVEY, 2014, p. 155). Como têm sido os casos da luta pelo comum dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana, os escravos da república, na busca pelo reassentamento em Piquiá de Baixo - Açailândia/MA (capítulo 5), na guerra pela terra em Buriticupu/MA (capítulo 7) e na defesa do território da RESEX Tauá Mirim - São Luís/MA (neste capítulo).

3.5.2 A RESEX Tauá-Mirim, na Ilha Upaon-Açu, a peleja para existir e pelo direito ao comum dos escravos da república

A defesa do território pela via de criação da RESEX Tauá-Mirim é a síntese da luta dos povos e comunidades de ancestralidade indígena e/ou africana do passado no presente da ilha Upaon-Açu.

A RESEX Tauá-Mirim enquadra-se no tipo de unidade de conservação, prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que permite a presença humana em suas áreas, mas, pela própria legislação, é requisito fundamental que os grupos ocupantes mantenham atividades de baixo comprometimento do ambiente, ou seja, um modo de vida e meios de produção diferentes aos das sociedades urbanas, industriais e capitalistas que são intensivos em matéria e energia, além se gerar grandes volumes de resíduos tóxicos (MENDONÇA, 2008, p. 19).

Em laudo socioeconômico e biológico do IBAMA (2007, p. 8) referente ao processo de criação da RESEX Tauá-Mirim, tem-se que

As Reservas Extrativistas são unidades de Conservação que têm buscado, ao longo dos anos, uma nova maneira de construir o desenvolvimento sustentado nas comunidades extrativistas. Nesta modalidade de Unidade de Conservação, prevista pela Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, o ser humano é reconhecido como ator e gestor da conservação. Em conjunto com técnicos do IBAMA, um Plano de Manejo é definido de modo participativo, buscando promover formas de uso sustentável dos recursos naturais renováveis, aliando conservação e desenvolvimento sócio- econômico e valorizando a cultura e a história das populações locais.

Nesse sentido, a lei que instituiu o SNUC (BRASIL, 2000) conceitua RESEX como sendo:

[...] uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais73, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.

O processo de criação da RESEX Tauá-Mirim se deu a partir de discussões desde 1996, inicialmente entre comunidades como Taim, Porto Grande, Limoeiro, Rio dos Cachorros e, posteriormente, envolveu o conjunto das doze comunidades da Área Rural II de São Luís,

73 Por seu turno, conceito normativo de povos e comunidades tradicionais, a que se refere a lei do SNUC, foi estabelecido pelo Art. 3º, do Decreto Lei nº 6.040, de 07 de fev. 2007: “Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”

seis da parte sudoeste da Ilha (Rio dos Cachorros, Limoeiro, Taim, Porto Grande, Vila Cajueiro, parte da Vila Maranhão) e seis da Ilha de Tauá-Mirim (Portinho, Ilha Pequena, Embaubal, Jacamim, Amapá e Tauá-Mirim) (Figura 4), sendo que o pedido de criação da unidade de conservação ao IBAMA-MA foi formalizado, ainda em 2003, pela Associação de Moradores do Taim. Em 2007, este órgão reconheceu a viabilidade técnica e encaminhou para o IBAMA-DF e desse para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) que, por sua vez, fez chegar à Casa Civil para providenciar a expedição do decreto do executivo federal criando, legalmente, a RESEX Tauá- Mirim que, ainda hoje, esbarra na cena política que envolve interesses de especuladores, multinacionais, setores dos governos federal, estadual e municipal que emperram a finalização do processo e o reconhecimento do território como de direito das comunidades tradicionais que nele vivem (CANTANHEDE, 2009; IBAMA, 2007).

Segundo o Laudo elaborado pelo IBAMA (2007, p. 41), do ponto de vista biológico, social e da economia das comunidades que vivem na área, a unidade de conservação desempenhará papel de extrema relevância, o que beneficiará toda a Ilha nesses mesmos aspectos.

Com a criação dessa reserva proposta acreditamos que a Ilha de São Luís será contemplada com mais um reduto natural preservado por lei, que representará um ponto de resistência comunitária e de conservação da biodiversidade que envolve toda a área em questão, promovendo um apoio à forma de viver dos povos tradicionais, valorizando-os e possibilitando uma continuidade de sua existência. À luz dessas considerações e das informações sistematizadas neste laudo, conclui-se que a área em questão possui vocação ecológica e social para a consolidação de uma Reserva Extrativista. A implantação de um pólo siderúrgico seria inadequada, pois não cumpriria função social alguma e traria sério impacto a áreas bastante relevantes para preservação.

O maior entrave para a garantia do território dessas comunidades tradicionais remonta à herança colonial: a cobiça pela terra para instalação de projetos para gerar lucro e riqueza privada e a exploração e expropriação dos nativos. Desde a instalação da empesa