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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2000011056631-3 Apelantes Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e outros

No documento 180rdj089 (páginas 48-52)

Apelados - Os mesmos

Relator - Des. João Mariosi Terceira Turma Cível

EMENTA

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INVASÃO DE ÁREAS PÚBLICAS - INDENIZAÇÃO POR DANOS AO PATRIMÔNIO E AO MEIO AMBIENTE - DANOS REVERSÍVEIS - DEMOLIÇÃO DE CONSTRUÇÕES IRREGULARES - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO DISTRITO FEDERAL - AUTORIZAÇÃO DE USO - PERDA DA VALIDADE - LEI N.º 754/94 - INCONS- TITUCIONAL.

1. Não há necessidade de se condenar o Poder Público em inde- nização pelos danos causados ao meio ambiente, ao patrimônio público, cultural, estético, paisagístico, arquitetônico, e social, se estes são reversíveis, possibilitando o retorno ao status quo

ante.

2. O Distrito Federal é responsável, em solidariedade com os demais réus, pela demolição de construções irregulares, pois por ato comissivo concedeu a autorização de uso de área pública a particulares ou por negligência permitiu a ocupação ilegal.

3. A declaração de inconstitucionalidade da Lei n.º 754/94 reti- rou a validade dos termos de autorização de uso de área pública conferidos aos particulares com base nesta norma legal.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, João Mariosi - Relator, Mário-Zam Belmiro - Revisor, Nídia Corrêa Lima - Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador João Mariosi, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Negar provimento ao recurso adesivo. Dar parcial provimento ao recurso do MP. Unânime., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

RELATÓRIO

Cuida-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), com pedido de liminar, em desfavor do Distrito Federal (DF) e outras, com base na inconstitucionalidade da Lei Distrital nº 754/94, para condenar o Distrito Federal em obrigação de não fazer, para abster-se da concessão de alvarás de ocupação, construção ou funcionamento ou ainda de proceder à aprovação de projetos arquitetônicos e/ou engenharia (B.1); condenar os réus em obrigação de fazer para promover a demolição de construções situadas em áreas públicas (B.2); condenar os réus, com exceção do DISTRITO FEDERAL, em obrigação de indenizar os danos provocados ao meio ambiente, patrimônio público cultural, estético, paisagístico, arquitetônico e social (B.3); decretar a nulidade de atos normativos e/ou administrativos editados pelas autoridades administrativas locais que importem na regularização das ocupações irregulares das áreas públicas (B.4).

O pedido de liminar foi negado (fl. 317)

O Distrito Federal contestou os termos contidos na petição inicial (fls. 324/339). Sustentou a impossibilidade jurídica do pedido, ao afirmar que o autor queria ver declarada a inconstitucionalidade da Lei n.º 754/94; que os atos administrativos são amparados em lei presumidamente constitucional; que não foi omissa na fiscalização das obras questionadas.

Os réus Nosso Bar, Nosso Mar Alimentos Ltda. e Rodrigues e Prado Ltda apresentaram contestação em conjunto (fls. 350/358), aduzindo a ilegitimidade passiva do réu Nosso Bar, porque este possuía termo de autorização de uso; a incompetência do juízo. No mérito, alegaram que o traçado urbanístico sofreu alterações irreversíveis; que não houve limitações ao uso e gozo da propriedade; que a utilização do espaço público está regulamentado pela Lei Distrital n.º 754/94.

A ré Interior de Minas foi excluída da lide, a pedido do próprio autor (fls. 387/388 e 390).

Réplica ás fls. 399/427.

Instadas as partes para especificação das provas (fl. 428), O Distrito Federal (fl. 430) e o MPDFT (fls. 432/434) requereram o julgamento antecipado da lide. Os demais réus não especificaram provas, conforme certidão de (fl. 436)

A sentença foi publicada no dia 08/05/2001, e consigna o seguinte dispositivo:

“Por todo o exposto, julgo IMPROCEDENTE o pedido inicial em relação ao DISTRITO FEDERAL e PROCEDENTE EM PARTE em relação aos réus remanescentes, NOSSO MAR ALIMENTOS LTDA. e BAR DOS CUNHADOS, para

CONDENÁ-LOS na prestação de obrigação de fazer consis- tente na demolição total e definitiva das construções que reali- zaram em área pública, bem como na indenização dos danos que causaram ao patrimônio público, cultural, estético, paisagístico, arquitetônico e social, o que deve ser apurado em liquidação de sentença, estabelecida a multa diária de 2.000 (duas mil) UFIR’s, no caso de não cumprimento do preceito estabelecido por sentença, sem prejuízo da execução específica. CONDENO o réu NOSSO BAR LTDA., na prestação de obrigação de fazer, consistente na demolição total e definitiva que realizou em área pública somente.”

O Distrito Federal interpôs embargos de declaração (fls. 446/448), os quais foram rejeitados (fls. 450/451). A decisão foi publicada em 05/06/2001 (fl. 453).

O MPDFT teve vista dos autos em 06/08/2001 e interpôs recurso de apelação em 23/08/2001. Requer a reforma da sentença para decretar a nulidade de atos normativos e/ou administrativos editados pelas autoridades administrativas locais que importem na regularização das ocupações irregulares das áreas públicas (B.4) e condenar o Distrito Federal nos seguintes pedidos: obrigação de fazer para promover a demolição de construções situadas em áreas públicas (B.2); obrigação de indenizar os danos provocados ao meio ambiente, patrimônio público cultural, estético, paisagístico, arquitetônico e social (B.3).

As contra-razões do Distrito Federal apresentam os mesmos argumentos da contestação (fls. 495/508). O DF interpôs recurso adesivo (fls. 509/520) requerendo a extinção do processo, com base no artigo 267, IV e V, do Código de Processo Civil (CPC).

O MPDFT ofereceu contra-razões do recurso adesivo (fls. 525/535). Manifestação da 1ª Procuradoria de Justiça dos Direitos Difusos, Coletivos e Homogêneos, mediante Parecer n.º 2-423/02 - JFRS -, no sentido de reformar parcialmente a sentença para responsabilizar o Distrito Federal pela ocupação da área pública (fls. 541/559).

Julgada a Apelação Cível por esta Turma, negou-se provimento ao recurso do MPDFT, mas deu-se provimento ao recurso do DF para extinguir o processo, com base no artigo 267, IV e V, do CPC (fls. 561/589).

Interpostos Embargos de Declaração (fls. 591/598) pelo MPDFT, negou-se provimento ao recurso (fl. 602).

Foram interpostos Recurso Especial (fls. 609/633) e Recurso Extraordinário (fls. 645/663) pelo MPDFT.

Em juízo de admissibilidade (fls. 682/684), o em. Desembargador Natanael Caetano deferiu o processamento dos recursos extraordinários.

O Superior Tribunal de Justiça deu provimento ao recurso especial (REsp n.º 599007/DF), pois considerou viável a propositura de ação civil pública com base na inconstitucionalidade de lei, como controle difuso de constitucionalidade (fls. 686/693). Entendeu aquela Corte que a pretensão deduzida na demanda, seja sob o aspecto positivo, seja subjetivo, é limitada a interesses e a pessoas relacionadas a uma determinada área comercial, cuja inconstitucionalidade serve de fundamento do pedido.

O Distrito Federal opôs embargos de declaração em face da decisão do STJ, os quais foram rejeitados (fls. 704/708).

O Distrito Federal interpôs Recurso Extraordinário (fls. 710/723). Sustentou, em síntese, que o interesse tutelado pelo MPDFT é difuso e que a sentença proferida em ação civil pública tem efeitos erga omnes, o que implica em usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal (fls. 711723).

O MPDFT apresentou suas contra-razões (fls.725).

O Recurso Extraordinário interposto pelo DF foi admitido pelo Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (fl. 742).

O Ministro Eros Grau, em decisão monocrática proferida nos autos do RE n.º 438.328-4, assim se manifestou: “As alegações do Distrito Federal são insubsistentes. O

Ministério Público é parte legítima para propor ação civil que vise à proteção do patrimônio público [RE n. 234.349, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14.06.02] (...) Nego

seguimento ao recurso extraordinário do Distrito Federal com fundamento no artigo

21, § 1º, do RISTF. Julgo prejudicado o recurso interposto pelo Ministério Público do

Distrito Federal e Territórios contra o acórdão do Tribunal de Justiça, porque o seu recurso

especial foi provido pelo Superior Tribunal de Justiça.”

O Distrito Federal interpôs agravo regimental (fls. 769/784), mas a segunda turma do STF negou seguimento ao recurso (fl. 799).

É o relatório.

VOTOS

Des. João Mariosi (Relator) - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo.

Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal e Territórios (MPDFT) em face do Distrito Federal (DF) e outros réus, tendo em vista que, exceto o primeiro réu, os demais teriam invadido áreas públicas adjacentes ou lindeiras aos imóveis dos quais são locatários ou proprietários, localizados na SCLN, Quadra 115, Bloco B.

Em sua petição inicial, o MPDFT requereu a condenação do Distrito Federal na obrigação de não fazer, para abster-se da concessão de alvarás de ocupação, construção ou funcionamento ou ainda de proceder à aprovação de projetos arquitetônicos e/ou engenharia (B.1); condenar os réus em obrigação de fazer para promover a demolição de construções situadas em áreas públicas (B.2); condenar os réus, com exceção do DISTRITO FEDERAL, em obrigação de indenizar os danos provocados ao meio ambiente, patrimônio público cultural, estético, paisagístico, arquitetônico e social (B.3); decretar a nulidade de atos normativos e/ou administrativos editados pelas autoridades administrativas locais que importem na regularização das ocupações irregulares das áreas públicas (B.4).

O MM. Juiz julgou IMPROCEDENTE o pedido inicial em relação ao DISTRITO FEDERAL e PROCEDENTE EM PARTE em relação aos réus remanescentes, NOSO MAR ALIMENTOS LTDA. e BAR DOS CUNHADOS, para CONDENÁ-LOS na prestação de obrigação de fazer consistente na demolição total e definitiva das construções que realizaram em área pública, bem como na indenização dos danos que causaram ao patrimônio público, cultural, estético, paisagístico, arquitetônico e social, o que deve ser apurado em liquidação de sentença,

O MPDFT, em seu recurso, requereu a reforma parcial da sentença, a fim de que fossem julgados procedentes os pedidos estampados nos itens B.2, B.3 e B.4 da petição

inicial, relativamente ao Distrito Federal (fl. 415).

O DF, por meio de recurso adesivo, pleiteou a extinção do processo, com fundamento no artigo 267, IV e VI, do Código de Processo Civil (CPC).

Em julgamento ocorrido no dia 20/06/2002, Acórdão n.º 158981, esta Turma negou provimento ao recurso do MPDFT e deu provimento ao recurso do DF.

Em virtude do julgamento do REsp n.º 599007/DF, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, o Superior Tribunal de Justiça considerou presentes os pressupostos processuais de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, bem como as condições da ação.

MÉRITO

No documento 180rdj089 (páginas 48-52)