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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2001011090251-7 Apelantes Édison Sauguellis e outros

No documento 180rdj089 (páginas 57-75)

Apelados - Os mesmos

Relator - Des. Fernando Habibe Primeira Turma Cível

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CONTRATU- AL. TRANSAÇÃO. SENTENÇA. REQUISITOS. PROVA DESNECESSÁRIA. LEGITIMIDADE ATIVA. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.

1. O relatório é a síntese racional daquilo que tem relevância para a decisão que será proferida. Esse requisito foi atendido pela sentença.

2. A fundamentação consiste no enunciado dos motivos que alicerçam a decisão. Para atender a esse outro requisito, não está o magistrado obrigado a rebater todos os argumentos expendidos pelas partes. Basta que exteriorize, mesmo sucintamente, as razões do seu convencimento, o que foi feito no presente caso.

3. O indeferimento de prova oral desnecessária não configura cerceamento de defesa.

4. Todos os autores estão legitimados a figurar na relação processu- al, porquanto relacionados com a causa cujo resultado repercutirá diretamente na esfera patrimonial de cada um deles.

5. Formalidades fiscais e contábeis não justificam o inadimple- mento dos réus, pois apenas disciplinam a correta escrituração do fato contábil e a correta aplicação da lei tributária.

6. Evidenciada a improcedência da exceptio non adimpleti con-

tractus, impõe-se a condenação dos réus no pagamento do valor

ajustado para remunerar o serviço que lhes foi prestado.

7. Inviável a pretendida compensação, seja porque o pagamento noticiado teve por base outros serviços, seja porque do termo de transação constou que, por esse meio, as partes acertavam as respectivas obrigações.

8. Não está configurada a litigância de má-fé por parte dos réus.

9. O percentual (10%) fixado a título de honorários de sucum- bência está adequado à causa.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Fernando Habibe - Relator, Silva Lemos - Revisor, Flavio Rostirola - Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Natanael Caetano, em proferir a seguinte decisão: conhecer dos recursos, não conhecer do agravo retido, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento a ambos, nos termos do voto do i. Relator, unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 4 de fevereiro de 2009. RELATÓRIO

Trata-se de apelações principal (511-22) e adesiva (536-41) interpostas, respectivamente, pelos réus, Smaff Construtora e Incorporadora de Imóveis Ltda., Márcio Antônio Carlos Machado e Sheyla Maria Accioly Carlos, e pelos autores, Édison Sauguellis, Maria Catarina Rhormens Sauguellis, Fernando Augusto Rhomens Sauguellis, Rita Gabriela de Cássia Rhormens Sauguellis e Marcelo Augusto Rhormens Sauguellis, contra sentença (469-92) da 16ª Vara Cível de Brasília que, ante o termo de transação extrajudicial de fls. 12-5, condenou aqueles a pagarem a estes a quantia de R$ 907.461,72, corrigida monetariamente desde o ajuizamento da ação e acrescida de juros moratórios de 1% a.m. contados da citação, além dos ônus de sucumbência.

Sustentam os réus, preliminarmente, a nulidade da sentença em virtude de: 1) relatório incompleto e inadequado; 2) falta de fundamentação; 3) cerceamento de defesa, porque indeferida a produção de prova oral, em relação à qual foi simplesmente ignorado o agravo retido que interpôs. Sustentam, ainda, a ilegitimidade ativa ad causam, exceto quanto ao primeiro autor.

Quanto ao mérito, arguem, em suma, exceção do contrato não cumprido, uma vez que o pagamento do valor (R$ 500.000,00) pactuado na alínea “a”, da cláusula 4ª, do termo de transação, está condicionado à observância das “formalidades contábeis

e fiscais” inerentes ao ajuste, a cargo dos autores que ainda não implementaram dita

condição.

Acrescentam que a tradição das notas promissórias prova a quitação dos títulos, não havendo que se falar em diferença dos valores constantes da alínea “b”. Defendem, por fim, para o caso de ser reconhecida a obrigação de efetuarem algum

pagamento, a necessidade de que dele sejam deduzidos os encargos legais incidentes sobre as importâncias que pagaram adiantadamente aos autores.

Em resposta (530-5), os autores aguardam o desprovimento do apelo, pedindo, em recurso adesivo, a majoração dos honorários de sucumbência e a condenação dos réus como litigantes de má-fé.

Os réus (550-1), por seu turno, esperam o desprovimento do recurso adesivo.

Os respectivos preparos encontram-se às fls. 523 e 542. VOTOS

Des. Fernando Habibe (Relator) - 1. RECURSO PRINCIPAL (RÉUS) Na falta de requerimento expresso de apreciação do agravo retido, dele não conheço (CPC 523, caput e § 1º), sem prejuízo da análise, na própria apelação, do tema nele versado (cerceamento de defesa), uma vez que a prova oral foi indeferida na sentença que, também nessa parte, foi impugnada no apelo dos réus.

Trago, pois, a julgamento a apelação principal. Rejeito a preliminar de nulidade da sentença.

O CPC 458, I, não exige relatório extenso. Contenta-se com a “suma”, vale dizer, o resumo do pedido e da resposta, assim como o registro das principais ocorrências durante o curso processual.

Trata-se, portanto, de uma síntese racional daquilo que tem relevância para a decisão que será tomada.

Confira-se, sobre o tema, o seguinte precedente do TJDF1:

“O magistrado não está obrigado a narrar, no relatório da sentença, a totalidade de acontecimentos dos autos, mas tão-somente aqueles relevantes para a fundamentação que será expendida”.

No caso, o relatório da sentença atende à exigência da citada norma processual.

Também não cabe a censura por falta de fundamentação. A sentença não ostenta esse vício.

A fundamentação consiste no enunciado dos motivos pelos quais o juiz tomará determinada decisão. Para atender à exigência constitucional, não está o magistrado obrigado a rebater todos os argumentos expendidos pelas partes. Basta que exteriorize, mesmo sucintamente, as razões do seu convencimento, o que foi feito no presente caso.

EMENTA2

1. (...) 2. Decisão judicial: motivação suficiente (CF, art. 93, IX): ine- xistência de negativa de prestação jurisdicional. ‘O que a Constituição exige é que a decisão seja fundamentada, não que a fundamentação seja correta: declinadas no julgado as razões do decisum, está satisfeita a exigência constitucional’ (cf. RE 140.370, Pertence, RTJ 150/269). EMENTA3

1. (...) . 5. Quanto à fundamentação, atenta-se contra o art. 93, IX, da Constituição, quando o decisum não é fundamentado; tal não sucede, se a fundamentação, existente, for mais ou menos completa. Mesmo se deficiente, não há ver, desde logo, ofensa direta ao art. 93, IX, da Lei Maior. 6. (...)

EMENTA4:

“(...) 1. O órgão judicial para expressar a sua convicção não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos levantados pelas partes. Embora sucinta ou deficiente, a motivação, pronunciando-se sobre as questões de fato e de direito para fundamentar o resultado, exprimindo o sentido geral do julgamento, não emoldura negativa de vigência aos arts. 458, II, e 535, II, CPC, nem entremostra confronto com o art. 128, do mesmo Código (...)”.

Rejeito, ainda, a preliminar de nulidade da sentença por suposto cerceamento de defesa decorrente do indeferimento da prova oral.

No caso, é desnecessária a produção dessa espécie probatória. Aproveito-me, a propósito, da motivação constante da sentença (475):

“Os requeridos, pela petição de fls. 451, dizem que a prova oral se destinaria a comprovar entendimentos quanto a empréstimos, normas de controle administrativo e contábil de saques, e demais procedimentos quanto a valores levantados pelo requerente na contabilidade. Estas são questões que, pela sua natureza, têm que ser provadas através de perícia e documentos, nunca por meio de prova oral.

Sendo a prova desnecessária, não deve ela ser produzida.”

Os autos contam com farta documentação, inclusive de natureza técnica, provas essas que se mostram suficientes para o deslinde da causa, sendo desnecessária, como dito, a prova oral que nada acrescentaria, até porque não se vai acreditar que,

ante a magnitude dos interesses em disputa, as partes fossem se fiar em testemunhos, hipótese essa tanto mais inverossímil quanto se constata a farta documentação existente nos autos, a evidenciar que costumavam documentar por escrito os atos relativos a tais interesses.

Portanto, o indeferimento está respaldado pela realidade dos autos e pelo CPC 130.

Rejeito, finalmente, a preliminar de ilegitimidade ativa dos quatro últimos autores. O termo de transação (13, cláusulas 7 e 8) deixa claro que alcançou direitos desses autores, integrantes do grupo familiar de que também faz parte o primeiro demandante, observando-se que este, consoante procuração de fls. 16, agiu em nome próprio e como representante dos demais.

Portanto, o resultado da demanda irá repercutir diretamente na esfera patrimonial dos autores.

Assim refutadas todas as preliminares, trago a julgamento o meritum

causae.

A transação havida entre as partes (12-5) revela a origem da dívida de R$ 1.500.000,00, documentada na declaração datada de 06.02.96 (96): remuneração do trabalho realizado, com êxito, por Édison Sauguellis para obter autorização de instalação de nova concessionária Chevrolet em Brasília, devendo o respectivo pagamento ser feito por subscrição de 48% do capital social da Smaff.

Nesse mesmo termo de transação, as partes, após relato cronológico (itens 1 a 3) das vicissitudes do negócio que celebraram, elegeram nova forma de satisfação dos respectivos direitos e obrigações, estabelecendo, a partir do item 4, novo regramento do qual destaco as seguintes disposições:

4. Dessarte, as partes melhor convencionaram transacionar, por esta e melhor forma, seus direitos e obrigações, modificando o ajuste acordado na mencionada Declaração de 06.02.96, para alterar seus termos, vindo a pagarem, os PRIMEIROS TRANSIGENTES, o valor assegurado de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), em dinheiro pela cessão pelo SEGUNDO TRANSIGENTE de sua participação acionária pessoal, e de seu grupo familiar, esposa e filhos, os quais representa por procuração em todos os negócios derivados da Declaração em causa, a ser implementado nas seguintes condições: a) - R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) no dia 10.12.98, valor a ser pago, no escritório da Smaff Veículos S/A, contra recibo de quitação pela cessão da participação acionária, valor a que se obriga Sheyla Maria Accioly Carlos Machado, solidariamente com os PRIMEIROS TRAN- SIGENTES, respeitadas as formalidades contábeis e fiscais do ajuste.

b) - R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais), a ser pago em 19 par- celas mensais, sendo a primeira, neste ato, de R$ 100.000,00 (cem mil reais), duas prestações em 05.10.98 e 05.11.98, de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), cada uma, e as demais em igual dia dos meses janeiro de 1999 até a última a ser paga no dia 05.04.2000, pelo mes- mo valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais cada uma, de modo que, como o pagamento da última, no mês de abril do ano 2.000, as partes ficarão quites entre si de toda e qualquer obrigação, nada mais ficando os PRIMEIROS TRANSIGENTES a deverem ao SEGUNDO TRANSIGENTE, a qualquer título, pelo que as partes ficarão exoneradas, reciprocamente, de seus termos e condições, para nada mais reclamarem ente si.

Apegam-se os apelantes às “formalidades contábeis e fiscais” que, afirmam, traduzem condição suspensiva ainda não implementada pelos apelados.

Em verdade, ditas formalidades, porque decorrentes de lei, não podem ser consideradas como condição, ao menos no sentido próprio. Traduzem, como lembrou o perito (397), a “forma correta de escrituração do fato contábil e da correta aplicação da

legislação fiscal na apuração dos impostos e encargos sociais sobre a operação.”

Ora, evidentemente não se há de atribuir aos autores, que não fazem mais parte do quadro social da ré, a responsabilidade pela escrituração contábil da Smaff que, por sua vez, não é fiscal da escrituração dos demandantes.

Por outro lado, a responsabilidade fiscal acha-se definida na Lei 7.713/88, cujo art. 7º dispõe:

Art. 7º Fica sujeito à incidência do imposto de renda na fonte, calculado com o disposto no art. 25 desta Lei:

(...)

II - os demais rendimentos percebidos por pessoas físicas que não estejam sujeitos à tributação exclusivamente na fonte, pagos ou creditados por pessoas jurídicas.

§ 1º O imposto a que se refere este artigo será retido por ocasião de cada pagamento ou crédito e, se houver mais de um pagamento ou crédito, pela mesma fonte pagadora, aplicar se-á a alíquota correspondente à soma dos rendimentos pagos ou creditados à pessoa física no mês, a qualquer título. (...).

Em assim sendo, as tais “formalidades” não justificam a recusa dos réus em pagar o valor devido aos autores. Deveriam, pois, ter pagado o que devem, retendo na

fonte a alíquota legal concernente ao imposto de renda incidente sobre a parte paga pela pessoa jurídica (Lei 7.713/88), ficando a cargo dos autores a declaração e recolhimento concernentes ao valor pago pelos outros dois réus, pessoas físicas.

Sugerem os réus que os autores deveriam criar uma pessoa jurídica à qual seria efetuado o pagamento ora exigido, com o que suportariam menor encargo fiscal. Esse argumento, porém, não lhes favorece.

Primeiro, porque a menor ou maior carga tributária a ser suportada pelos autores é assunto que só interessa a eles e ao fisco. À ré, pessoa jurídica, caberia apenas reter o valor devido; segundo, porque a pessoa jurídica a ser criada não poderia receber diretamente dos réus valores concernentes a um serviço que não foi prestado por ela (pessoa jurídica a ser criada). Esse recebimento direto somente dar-se-ia mediante fraude ou situação que, embora legal, seria economicamente desvantajosa, v.g., cessão de crédito feita pelos autores ao novo ente, com a incidência de imposto de renda nas duas operações.

Também não aproveita aos réus a alegada recusa dos autores em receber pagamento com o devido desconto tributário. Quisessem os réus pagar o que devem, já o teriam feito no curso desta ação. Poderiam, quando da suposta recusa, ter consignado o valor que entendiam devido ou, ao menos, contra-notificado os autores, nas vezes em que estes os notificaram para caracterização da mora. De mais a mais, as cópias dos títulos de crédito que instruem a inicial evidenciam que os autores sempre aceitaram, ainda que com ressalvas, os pagamentos que lhes foram feitos.

Do que vem de ser exposto, concluo pela total improcedência da exceção do contrato não cumprido arguida pelos réus. Ao contrário do que afirmam, a obrigação dos autores foi, sim, cumprida, pois adstrita à obtenção de uma concessionária Chevrolet, obrigação esta cujo adimplemento foi expressamente admitido pelos réus, nos termos da declaração de fls. 96.

Por outro lado, não há lugar para a almejada compensação dos “saques efetuados a diversos títulos”, no total de R$ 262.860,83.

Os valores mensalmente pagos aos autores Édison e Marcelo tiveram como causa serviços efetivamente prestados por estes, concernentes, respectivamente, a administração e operação de micro e não algum adiantamento, consoante se infere dos RPA’s (fls. 265/276 e 286/295).

Ressalto, por oportuno, que não há que se confundir este adiantamento com aquele que permitiu a subscrição das 912.000 ações ordinárias, em razão do trabalho efetuado pelo Sr. Edison Sauguellis na obtenção da bandeira Chevrolet para Brasília (fls 56).

A propósito, esclarecedor o laudo pericial (230):

“(...) Se estes desembolsos tivessem sido lançados como adiantamentos, estes seriam classificados em uma conta no ativo circulante, e esta

representaria um direito a receber de terceiros, porém, não foi isto que foi registrado, desta forma, de acordo com os documentos contabilizados e com os registros contábeis nos livros fiscais, os valores pagos ao Sr. Édison Sauguellis e o Sr. Marcelo Augusto Rhormens Sauguellis, para o período acima descrito, foram considerados por mim, como pagamento por serviços prestados - RPA, a exceção dos pagamentos efetuados a título de empréstimos.”

A conclusão pericial, a par da fundamentação exposta pelo técnico e que tem força bastante para ampará-la, acha-se respaldada pela cláusula 7 do termo de transação (14) que infirma a suposta existência de crédito favorável aos réus, restando assim desautorizada a pretendida compensação, a qualquer título.

Confira-se:

“Ficam os PRIMEIROS TRANSIGENTES, por força do presente ajuste, livres da obrigação de manter o SEGUNDO TRANSIGENTE com o direito a qualquer participação societária na empresa SMAFF AUTOMÓVEIS S/A., podendo assumir todo o capital social em seus nomes,ou no nome de quem melhor lhes convier, ficando desobrigado de todas as responsabilidades assumidas na Declaração de 06.02.96, ou de qualquer outra dela derivada. A presente transação acerta

as obrigações contraídas entre as partes, e têm entre si a força prevista no art. 1.030, do C. Civil, desligando-se o SEGUNDO

TRANSIGENTE, e seu grupo familiar, de toda e qualquer ingerência na sociedade anônima então constituída, inclusive de suas funções de Diretores, ou quaisquer outras que porventura tenham exercido, com a quitação plena, rasa e total, para nada terem reclamar da Smaff Automóveis S/A, a qualquer título.”(grifei)

Destarte, eventuais obrigações anteriormente contraídas pelas partes restaram superadas pelo novo acordo.

Por último, no que refere às notas promissórias (alínea b, do item 4 do termo de transação - fls. 13), embora tenham sido entregues aos réus, o foram mediante ressalvas expressas delas constantes, o que afasta a presunção legal de quitação integral, remanescendo os valores residuais.

Os réus tacharam as ressalvas de unilaterais e de apócrifas. Ora, essa impugnação é pueril. Evidentemente, a ressalva de parte do crédito documentado na cártula há de feita unilateralmente, pelo credor. Por outro lado, malgrado a ausência de identificação de quem fez a ressalva, presume-se - porque é isso que

ocorre ordinariamente - tenha sido feita por quem nela tem interesse, a saber, o credor.

A esse respeito, tivessem os réus alguma dúvida, deveriam juntar aos autos os títulos originais, seja para evidenciar a inexistência da ressalva, seja para viabilizar, se necessário, perícia grafotécnica. Desse ônus, porém, não se desincumbiram.

Concluindo: não assiste razão aos demandados. 2. RECURSO ADESIVO (AUTORES)

O pedido de majoração dos honorários advocatícios não merece prosperar. Embora a causa tenha exigido prova pericial e se alongado no tempo, de causa extremamente complexa não se cuida.

Por outro lado, trata-se de valor condenatório expressivo, de sorte que 10% (dez por cento) sobre essa importância se mostra adequado e suficiente à remuneração dos trabalhos do advogado.

No tocante à litigância de má-fé, não a vejo configurada. A meu ver, o réu limitou-se a exercer o seu direito de defesa. De qualquer sorte, assinalo que a inexistência de prejuízo desautoriza o pretendido apenamento.

Posto isso, nego provimento ao recurso principal e ao adesivo.

Des. Silva Lemos (Revisor) - Julgo imprescindível promover algumas digressões a respeito do feito.

Cuida-se de Ação de Cobrança proposta por ÉDISON SAUGUELLIS, MARIA CATARINA RHORMENS SAUGUELLIS, FERNANDO AUGUSTO RHORMENS SAUGUELLIS, RITA GABRIELA DE CÁSSIA RHORMENS SAUGUELLIS e MARCELO AUGUSTO RHORMENS SAUGUELLIS em desfavor de MÁRCIO ANTONIO CARLOS MACHADO, SHEYLA MARIA ACCIOLY CARLOS MACHADO E SMAFF - CONSTRUTORA E INCORPORADORA DE IMÓVEIS LTDA. Aduzem os autores serem credores dos réus da importância de R$ 907.461,72 (novecentos e sete mil, quatrocentos e sessenta e um reais e setenta e dois centavos), em decorrência de assinatura de Termo de Transação feita em 03.08.98.

O juiz a quo proferiu sentença, às fls. 469/492, em que julgou procedente o pedido contido na inicial, condenando os requeridos a pagarem aos autores precisamente a quantia reivindicada, de R$ 907.461,72 (novecentos e sete mil, quatrocentos e sessenta e um reais e setenta e dois centavos), acrescida de juros de mora de 1% ao mês, contados da citação e corrigida monetariamente a partir do ajuizamento da ação, bem como a pagar as despesas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em 10% (dez por cento) do valor da condenação. Na decisão foi repelido pedido de condenação dos requeridos por litigância de má-fé.

Os réus interpuseram embargos de declaração, às fls. 496/497, os quais foram rejeitados pela decisão de fls. 498/505.

Inconformados com o decisum, os réus interpõem recurso de apelação (fls. 511/522), aduzindo, preliminarmente, nulidade da sentença porquanto esta teria ignorado seu próprio relatório, contra a letra do art. 458, I, CPC. Alega cerceamento de defesa, eis que a sentença não restou suficientemente fundamentada quanto ao pedido de produção de prova oral, apenas mencionando a ocorrência de preclusão para as rés neste aspecto. Contudo, ainda segundo a afirmativa dos apelantes, a especificação de provas foi feita rigorosamente dentro do prazo estipulado, inclusive pelo fato de que tiveram que, ante a séria ameaça de indeferimento da realização de audiência, interpor agravo retido, o qual fora totalmente ignorado pelo sentenciante.

No mérito, arguem exceção do contrato não cumprido, uma vez que o pagamento do valor de R$ 500.000,00 está condicionado à observância das “formalidade contábeis e fiscais do ajuste”. Portanto, não tem o primeiro autor o direito de exigi-lo, sem antes implementar sua obrigação, ou seja, regularizar sua posição fiscal, ou receber o valor menos as relações exigidas na espécie. Reitera que as partes transigentes tinham pleno conhecimento de que os pagamentos devidos pela obrigação em questão impõem à pessoa jurídica o dever legal de reter as parcelas relativas a imposto de renda, a obrigações previdenciárias e ao INSS. Acrescenta que também foi reconhecido que o pagamento do débito ajustado ficou na dependência de o segundo transigente, ora o primeiro autor, regularizar sua situação empresarial a fim de permitir tal recebimento com substancial redução do percentual devido ao imposto de renda e demais encargos. Prosseguem afirmando que não há como exigir os pagamentos pretendidos na inicial sem fazer o acerto dos adiantamentos já reconhecidos, provados e comprovados e as deduções dos encargos fiscais e correlatos. Afirmam os apelantes que não há atraso

No documento 180rdj089 (páginas 57-75)