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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2002011045887-9 Apelante Rosângela de Jesus

No documento 180rdj089 (páginas 75-79)

Apelado - Distrito Federal Relator - Des. Angelo Passareli Segunda Turma Cível

EMENTA

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. RE- ADAPTAÇÃO. DIFERENÇA DE VENCIMENTOS. ADMI- NISTRAÇÃO PÚBLICA. ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. VEDAÇÃO. SENTENÇA REFORMADA.

Embora vedada a readaptação de servidor público para cargo que não ostente equivalência de vencimentos, uma vez realizado tal procedimento pela Administração, é devida a diferença remune- ratória, sob pena de enriquecimento sem causa do empregador público.

Apelação Cível provida. ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Angelo Passareli - Relator, Carmelita Brasil - Revisora, Waldir Leôncio Júnior - Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Angelo Passareli, em proferir a seguinte decisão: dar provimento ao recurso, unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 11 de fevereiro de 2009. RELATÓRIO

Adoto, inicialmente, o relatório lançado na r. sentença de fls. 141/145, in

verbis:

“Trata-se de ação de conhecimento, sob o rito ordinário, ajuizada por Rosângela de Jesus, em desfavor do Distrito Federal.

A autora informa que, em 20.7.1989, após ser aprovada em concurso público, tomou posse no quadro da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal para o desempenho das funções inerentes ao cargo

de AGENTE DE EDUCAÇÃO, serviços de cozinha. Desempenhou bem as atividades desse cargo, até que, em meados de 1996, passou a manifestar sintomas da moléstia denominada Radiculopatia Crônica. Em virtude disso, o órgão iniciou programa de readaptação funcional, que após as devidas apurações, conclui pela readaptação da autora no cargo de Agente de Portaria. Afirma a autora que não se adaptou nesse cargo de Agente de Portaria porque tinha de lidar diariamente com atendimento ao público. Por isso, mais uma vez a perícia médica recomendou a sua readaptação funcional no CARGO DE TELE- FONISTA, o que foi efetivado a partir de 27.10.1998.

Afirma a autora que a Administração Pública, antes de promover a última readaptação, não observou que o cargo de telefonista não é ‘afim’ com o cargo de merendeira. Defende então que teria havido desvio de função a partir do dia 27.10.1998 e que a Administração não lhe pagou a diferença de vencimentos existente entre o cargo de Agente de Educação (merendeira) e o cargo de Assistente de Educação (especialidade telefonista).

Requer portanto a autora a condenação do réu ao pagamento das diferenças salariais existentes entre os vencimentos pagos no período compreendido entre 27.10.1998 e 30.03.1999 (correspondente às funções de merendeira) e os vencimentos correspondentes às funções efetivamente desempenhadas (de telefonista).

Os documentos de fls. 9-38 acompanharam a petição inicial. Regularmente citado, o réu apresentou a contestação de fls. 50-53. Salienta que a autora foi designada para a função de telefonista porque não conseguiu se adaptar às funções do cargo de Agente de Portaria, uma vez que nessas funções lidava com o atendimento ao público; em razão disso, defende que ela não faz jus a qualquer diferença. Noticia também que durante o período em que a autora exercia a atividade de telefonista foi detectada a mudança na classi- ficação dos cargos, que resultou na exclusão da função de telefonista da classe de Agente de Educação para o de Assistente; então, por esse motivo, promoveu nova readaptação da autora. Requer a im- procedência do pedido.

Réplica às fls. 57-62.

Às fls. 68-73, juntou-se as fichas financeiras da autora referentes aos anos de 1998 e 1999.

As partes requereram o julgamento antecipado da lide, às fls. 130 e 131.”

Sentenciando antecipadamente o Feito, o MM. Juiz julgou improcedente o pedido inicial, ao fundamento de que não há enriquecimento ilícito da Administração Pública ou ofensa ao princípio da isonomia quando o desvio de função decorre de readaptação funcional.

Irresignada, a Autora interpõe recurso de Apelação às fls. 149/160, argumentando, em síntese, que faz jus às diferenças pleiteadas, uma vez que o ilegítimo desvio de função perpetrado configura enriquecimento sem causa da Administração.

Aduz que restou violado o § 2º do artigo 24 da Lei n.º 8.112/90, posto que a atividade de telefonista exercida durante o período de 27/10/1998 a 30/03/1999 ostenta um grau de responsabilidades e atribuições superior à atividade de merendeira, não constituindo, portanto, cargos de atribuições afins.

Colaciona jurisprudência que entende abonar sua tese.

Alega que a r. sentença violou, além do dispositivo acima mencionado, os artigos 19, caput, da LODF, 5º, incisos V e XXIX, 7º, inciso X e 37, caput, da Constituição Federal, 6º, caput, do Decreto-Lei n.º 4.657/42, 186, 206, § 3º, inciso IV, e 927 do CC/02, requerendo a expressa manifestação da e. Turma acerca dos mesmos.

Pede a reforma da r. sentença para julgar procedentes os pedidos iniciais, invertendo-se, por consequência, o encargos da sucumbência.

Sem preparo, uma vez que a Apelante litiga sob o pálio da justiça gratuita. Contra-razões do Distrito Federal às 166/168, pela manutenção do julgado singular.

Os autos vieram conclusos a este Relator (fl. 111) e foi determinada a baixa dos mesmos ao Juízo a quo, ante a existência de documento estranho ao feito (fl. 172).

A irregularidade foi regularmente sanada (fl. 174). É o relatório.

VOTOS

Des. Angelo Passareli (Relator) - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Pretende a Apelante a reforma da r. sentença para que lhe seja reconhecido o direito à percepção da diferença de remuneração existente entre o cargo no qual foi investida (Agente de Educação/Serviços de Cozinha - merendeira) e aquele para o qual foi readaptada (telefonista), ao argumento de que o fato constitui ilegítimo desvio de função que acarretou enriquecimento indevido da Administração Pública.

A pretensão recursal merece prosperar.

Distrito Federal por força da Lei Distrital n.º 197/91, disciplina o instituto da readaptação no seu artigo 24, o qual apresenta a seguinte redação, ipsis litteris:

“Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribui- ções e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica. § 1o Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando será aposentado.

§ 2o A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalên- cia de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrência de vaga.”

O mesmo Diploma Legal (Lei n.º 8.112/90), complementando a disposição do § 1º acima transcrito, assim estabelece o seguinte, in verbis:

“Art. 186. O servidor será aposentado:

I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos;

(...).

§ 3o Na hipótese do inciso I o servidor será submetido à junta médica oficial, que atestará a invalidez quando caracterizada a incapacidade para o desempenho das atribuições do cargo ou a impossibilidade de se aplicar o disposto no art. 24.”

Ressalte-se que a incapacidade do servidor, aliada à inexistência de cargos que preencham os requisitos legais para a readaptação, obrigam a Administração Pública a aposentá-lo por invalidez permanente, nos moldes da legislação ora referida.

Segundo já decidiu esta colenda Turma Cível, “A readaptação de servidores

em razão de incapacidade física parcial é o remanejamento para cargo de atribuições afins, respeitada a habilitação. Inexistindo cargos com atividade correlata, a solução é a aposentadoria.” (APC5134299, Relator GETÚLIO MORAES OLIVEIRA, 2ª Turma

Cível, julgado em 18/10/1999, DJ 03/05/2000 p. 31)

A análise das disposições legais supra mencionadas revela que o ora Apelado, ao proceder à readaptação da Apelante, desconsiderou a exigência de afinidade das atribuições dos cargos, bem como da equivalência de vencimentos.

Ocorre que a discussão ora travada não paira sobre a possibilidade de a Apelante ser ou não readaptada em outro cargo, afinal, tal medida foi indubitavelmente efetivada, resumindo-se o deslinde do presente recurso a aferir se a Apelante faz jus à diferença de vencimentos então existente entre o cargo originário e o readaptado.

Entendo que sim. A Apelante, efetivamente, exerceu as atividades de telefonista durante período em que havia diferença dos vencimentos deste cargo para o cargo de investidura inicial (merendeira).

Nesse descortino, a improcedência do pedido da Autora, ora Apelante, consideradas as peculiaridades do caso em exame, resultaria indevido enriquecimento sem causa da Administração Pública, posto que a remuneração paga em retribuição às atividades de telefonista foi aquela devida pelo exercício das atividades de cargo de remuneração então inferior (merendeira).

Os seguintes precedentes jurisprudenciais, invocados pela Apelante em suas razões, embora cuidem de desvio de função, demonstram a orientação do Poder Judiciário no sentido de impedir o enriquecimento sem causa da Administração Pública, in verbis:

“ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DESVIO DE

No documento 180rdj089 (páginas 75-79)