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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2005011071469-6 Apelante José Galbinsk

No documento 180rdj089 (páginas 121-133)

Apelado - Miguel Alves Pereira Relator - Des. Cruz Macedo Quarta Turma Cível

EMENTA

CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DIREITO AUTORAL. CO- AUTORIA EM PROJETO ARQUITETÔNICO. BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. PARTICIPA- ÇÃO COMPROVADA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. Comprovada nos autos, pelas vias documental, testemunhal e pericial, a participação efetiva do demandante na elaboração do projeto de arquitetura da Biblioteca Central da Universidade de Brasília, em coautoria com o réu e outros arquitetos, impõe-se a confirmação da sentença que julgou procedente o pedido decla- ratório formulado na inicial.

2. Recurso não provido. ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Cruz Macedo - Relator, Teófilo Caetano - Revisor, João Batista Teixeira - Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Cruz Macedo, em proferir a seguinte decisão: negar provimento ao recurso, unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 18 de fevereiro de 2009. RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de apelação interposto por JOSÉ GALBINSKI em face da sentença proferida na audiência retratada às fls. 531/536, que julgou procedente o pedido declaratório formulado por MIGUEL ALVES PEREIRA, “para declarar o autor

como coautor do projeto arquitetônico BCE-UnB” (Biblioteca Central da Universidade

de Brasília), condenando o réu ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em R$ 3.000,00 (três mil reais).

Sustenta o apelante, em suma, que o referido projeto de arquitetura o tem como único autor, sendo os demais participantes do grupo de trabalho instituído na Universidade para a elaboração respectiva, incluindo o demandante, meros colaboradores.

Nesse sentido, aduz que a declaração juntada à fl. 260 desconstitui a reconhecida co-autoria no projeto, além do que o laudo pericial produzido nos autos não é conclusivo para albergar a pretensão inicial.

Afirma ainda que a prova testemunhal colhida no feito aponta para a não- assiduidade e a falta de tempo do demandante para se dedicar aos trabalhos do grupo mencionado, requerendo, por fim, o provimento do recurso para que seja julgado improcedente o pedido.

Contrarrazões às 552/570, nas quais o apelado refuta a argumentação do recurso e pugna pelo seu não-provimento, além de atribuir ao apelante litigância de má-fé, tendo em vista a alteração da verdade dos fatos (Art. 17, inciso II, do CPC), requerendo a aplicação de multa.

Preparo regular (fl. 549). É o relatório.

VOTOS

Des. Cruz Macedo (Relator) - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Examinando os elementos probatórios hauridos aos autos e os cotejando com as normas jurídicas que concorrem na hipótese em julgamento, tenho por incensurável a sentença recorrida.

Com efeito, o direito perseguido pelo demandante hospeda-se na Lei nº 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais em nosso país, destacando-se, para o que se julga relevante na espécie, as seguintes disposições:

“Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: (...)

VIII - obra:

a) em coautoria - quando é criada em comum, por dois ou mais autores;

(...)

h) coletiva - a criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contri-

buições se fundem numa criação autônoma;

Art. 15. A coautoria da obra é atribuída àqueles em cujo nome, pseudônimo ou sinal convencional for utilizada.

§ 1º Não se considera coautor quem simplesmente auxiliou o autor na produção da obra literária, artística ou científica, revendo-a, atualizando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou apresentação por qualquer meio.”

Em verdade, seja pelos testemunhos colhidos em audiência, seja pela prova pericial realizada e seja ainda pelos documentos constantes dos autos, é de fato procedente a pretensão do demandante em ver reconhecida a sua coautoria em relação ao réu na criação do projeto arquitetônico da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.

De um lado, a prova testemunhal se afigura relevante por trazer depoimento de um dos arquitetos que integraram o grupo de trabalho designado para a elaboração do projeto, Sr. WALMIR SANTOS AGUIAR, o qual afirma: “que o projeto não teve um

único autor; que foi discutido entre todos os integrantes do grupo; que a participação maior foi do autor e do réu, especialmente no que diz respeito ao partido arquitetônico adotado; que o partido foi levado pelo autor a partir de um projeto que ele havia elaborado para uma biblioteca na Bahia e que serviu de base para o projeto da UnB; que o partido consiste na idéia central do projeto, a partir da qual ele se desenvolve; (...) que tomou conhecimento de que o réu registrou um ART no CREA incluindo-se como autor do projeto e os demais integrantes do grupo como colaboradores; que achou ‘estranho tal fato’, pois ele não corresponde à verdade; que o projeto foi fruto de trabalho em equipe e a atitude do réu em se apoderar dele foi ‘mesquinha’; (...)” (fl. 537).

De outra parte, o laudo pericial aponta na direção dos fatos alinhavados na inicial, sem jamais infirmá-los, conforme se percebe das seguintes passagens:

“QUESITOS FORMULADOS

1. Como ocorreu a nomeação para a constituição do Grupo de Trabalho destinado à elaboração do projeto de Construção da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.

2. De que forma a indicação dos participantes do projeto da Biblio- teca Central da Universidade de Brasília nas suas plantas originais registradas no Centro de Planejamento da Universidade de Brasília (CEPLAN). Pede-se transcrever o exato teor dessa indicação. (...)

4. Queiram os Srs. Perito e Assistentes Técnicos informar se houve a participação de todos os nomeados para a constituição do Grupo de

Trabalho na concepção do projeto da Biblioteca Central da Univer- sidade de Brasília.

(...)

8. Queiram os Srs. Perito e Assistentes Técnicos confirmar se o Autor concebeu o projeto da Biblioteca Central do Estado da Bahia classifi- cado em 4º lugar em concurso nacional de arquitetura.

(...)

11. Queiram os Srs. Perito e Assistentes Técnicos comparar o projeto da Biblioteca da Universidade de Brasília e o projeto da Biblioteca Central do Estado da Bahia, informando as semelhanças entre ambos. 12. Queiram os Srs. Perito e Assistentes Técnicos confirmar se ambos os projetos possuem o mesmo partido adotado, volumetria e linguagem. 13. Considerando todas as semelhanças supra apontadas, digam os Srs. Perito e Assistentes Técnicos se o projeto da Biblioteca Central da Universidade de Brasília foi inspirado no projeto da Biblioteca Central do Estado da Bahia.

RESPOSTAS RESULTANTES DA PERÍCIA

1. Através de Ato da Reitoria nº 284-69, assinado pelo presidente da Fundação e Reitor da Universidade de Brasília, ouvido o Conselho de Coordenação do CEPLAN, o Sr. Caio Benjamim Dias, em 28 de março de 1969, em Brasília (fl. 91). Nesse ato, o Sr. José Galbinski é nomeado presidente do Grupo de Trabalho responsável pelo Pro- jeto da Biblioteca Central da Universidade de Brasília, que teria a participação de Miguel Alves Pereira, Jodete Rios Sócrates e Walmir Santos Aguiar.

2. Nas pranchas (desenhos do projeto) registradas no CEPLAN, os quatro são designados como autores da obra (fls. 131 a 146): José Galbinski, Miguel Alves Pereira, Jodete Rios Sócrates e Walmir Santos Aguiar.

(...)

4. O depoimento enviado pelo arquiteto Paulo Zimbres à arquiteta Helena Zanella (fls. 211 e 212) é um dos documentos apresentados aos autos que pode servir para a comprovação da participação efetiva de todos os nomeados para a constituição do Grupo de Trabalho na concepção do projeto da Biblioteca Central da Universidade de Brasília (...).

(...)

8. A Ata do Júri constituído para o Concurso do Projeto de Arquite- tura para a Biblioteca do Estado da Bahia, que consta dos autos (fls.

93/98), comprova que o Autor é um dos autores da idéia para o edifício sede da Biblioteca do Estado da Bahia, classificado em 4º lugar, em concurso nacional de projetos.

(...)

11. Os dois projetos utilizam a primazia de uma estrutura modulada; um acesso principal ligado a um espaço central articulador que permite o acesso aos demais espaços da biblioteca; a diminuição da área qua- drada a partir do pavimento térreo; a existência de ‘nichos’ (imagens 1 e 2) na borda dos pavimentos: semi-enterrado e térreo.

12 e 13. São evidentes as semelhanças entre os partidos adotados nos dois projetos, principalmente no que diz respeito à volumetria. Há semelhanças também na forma da organização dos espaços, como por exemplo, a entrada principal ligada a um espaço central que articula e permite o acesso aos demais espaços da biblioteca; e a existência de ‘nichos’ (imagens 1 e 2) posicionados na borda dos pavimentos: térreo e semi-enterrado. Posto isso, é possível creditar ao projeto de arquitetura da Biblioteca da Bahia a qualidade de referência, utilizada para o partido adotado na concepção do projeto de arquitetura da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.” (fls. 423/432)

Essas últimas respostas são reiteradas após a manifestação das partes acerca do laudo, no sentido de que “há fortes indícios de que o projeto para a Biblioteca da Bahia, de

autoria de Miguel Pereira, foi uma das referências utilizadas no partido arquitetônico adotado para o outro projeto: o da Biblioteca da Universidade de Brasília” (fl. 477).

No que se refere ao documento juntado à fl. 260, que constitui a base da argumentação recursal no sentido da autoria exclusiva do réu no que tange ao projeto de arquitetura em comento, tenho que se trata de declaração conjunta dos litigantes (JOSÉ GALBINSKI e MIGUEL ALVES PEREIRA) acerca da constituição da “Equipe responsável pelo projeto de arquitetura da Biblioteca Central da Universidade de Brasília”, registrada em cartório apenas em 23/09/1982 (a comissão fora instituída em 28 de março de 1969 (fl. 91).

O fato de nesse documento figurarem o apelante como “autor” e o apelado como “colaborador” ao lado dos outros componentes, em rigor, se considerado juntamente com a carta dirigida pelo apelante à revista “Projeto” (fls. 263/264) e parte da edição desse periódico juntada às fls. 147/148, não elide a tese sustentada pelo demandante no sentido de que referida declaração fora prestada a pedido da referida publicação, não se cuidando em si de elemento definitivo para a apuração da autoria do projeto.

Nesse ponto, bem asseverou a sentença que “cabe destacar que a defesa do réu

se apega ao documento de fls. 260, uma declaração subscrita pelo autor na qual ele mesmo figura como colaborador do projeto. Ao contrário do que alega a defesa, essa declaração não constitui ato jurídico perfeito imutável. Trata-se de uma declaração que pode ter questionada a sua validade, tal como se faz nesta demanda. A versão do autor de que o documento foi assinado apenas para esclarecer a uma revista especializada que o réu também era autor do projeto é absolutamente verossímil, considerando-se o documento de fls. 148, o qual refere ser o projeto de ‘MIGUEL ALVES PEREIRA E OUTROS’. Na verdade, a intenção do autor ao subscrever a declaração foi informar que o réu também era co-autor do projeto e como tal deveria ter sido mencionado na matéria. Não obstante, o réu, de posse dessa declaração, acabou por se apoderar da autoria exclusivamente, relegando o autor e os demais arquitetos à condição de colaboradores” (fls. 534/535).

Alia-se a esses fundamentos e à constatação de que a reconhecida condição de coordenador do grupo de trabalho não garante ao réu-apelante proeminência sobre os demais arquitetos designados, a corroborar o decreto de procedência do pedido declaratório formulado na inicial, um aspecto que, conforme anotado no decisum,

“evidencia de forma clara a participação efetiva do autor na elaboração do projeto, que é o fato de a idéia central ter sido derivada de um projeto anterior realizado pelo autor para uma biblioteca na Bahia. (...) Trata-se de um dado técnico de grande relevância, pois indica que o trabalho do grupo se desenvolveu a partir de uma matriz gerada pelo autor, o que torna inegável a participação essencial dele na concepção do projeto” (fl. 534).

Por último, tenho que não restou configurada a litigância de má-fé irrogada à parte requerida, a quem se atribui o intento de alterar a verdade dos fatos (Art. 17, inciso II, do CPC), cingindo-se a sua atuação processual ao exercício do contraditório e do direito de recorrer.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso, para manter íntegra a sentença guerreada.

É como voto.

Des. Teófilo Caetano (Revisor) - Cabível, tempestivo, preparado e subscrito por advogado devidamente constituído, satisfazendo, pois, os pressupostos objetivos e subjetivos de recorribilidade que lhe são próprios, conheço do apelo.

Cuida-se de ação declaratória aviada por Miguel Alves Pereira em desfavor de José Galbinski objetivando a declaração de que é coautor do projeto arquitetônico da Biblioteca Central da Universidade de Brasília - BCE-UnB ao estofo de que, conquanto o projeto tenha derivado da criação e participação dos integrantes da comissão criada com esse desiderato, contando com sua participação efetiva e determinante por ter derivado de projeto que anteriormente havia elaborado, o réu, de forma ilegítima,

passara a se apresentar como único autor, efetuando, inclusive, o registro de Atestado de Responsabilidade Técnica - ART pertinente ao projeto junto ao CREA-DF.

Aperfeiçoada a relação processual e cumprido o itinerário procedimental, durante o qual fora, inclusive, produzida prova pericial e colhida prova oral, o pedido fora acolhido, tendo sido o autor declarado coautor do projeto individualizado. Irresignado, o réu apelara almejando a reforma da sentença e a consequente rejeição do pedido, sustentando, em suma, que teria sido o único e efetivo autor do projeto, consoante, inclusive, reconhecido pelo autor, o que obsta que seja ele reconhecido como criador, ainda que em coautoria, da produção arquitetônica. O autor contrariara o apelo, defendendo seu improvimento e, inclusive, a condenação do réu como litigante de má-fé, acentuando que teria subvertido a verdade dos fatos.

Depreende-se do aduzido que a controvérsia estabelecida entre os litigantes reside exclusivamente na aferição da autoria do projeto da Biblioteca Central da Universidade de Brasília - BCE-UnB, vez que o apelado sustenta que participara ativa e decisivamente da criação, perseguindo, pois, o reconhecimento judicial da sua qualidade de coautor do projeto, que, inclusive, segundo sustentara, teria derivado de um outro projeto da sua autoria, e o apelante, fiando-se em declaração que exibira, defende que teria sido o único criador do projeto, devendo ser ratificada essa circunstância mediante a rejeição do pedido.

Delimitado o objeto da lide, o cotejo dos elementos de convicção que guarnecem os autos asseguram, de modo irreversível, que o apelante efetivamente não fora o único autor do projeto da edificação apontada. Asseguram os elementos coligidos, ao invés, que o projeto derivara de criação coletiva, tendo como inspiração inicial projeto de edificação de idêntica destinação anteriormente confeccionado pelo apelado, que, de seu turno, deve ser reconhecido como coautor da criação intelectual. Com efeito, é incontroverso que à época da confecção do projeto fora constituída, pelo reitor da Universidade de Brasília - UnB, comissão de arquitetos com o objetivo de ser elaborado o projeto. Essa comissão fora composta pelos litigantes e pelos arquitetos Jodette Rios Sócrates e Walmir Santos Aguiar1. Aludida comissão cumprira o objetivo que ensejara sua constituição, vez que o projeto arquitetônico fora confeccionado e a obra concluída.

Essa assertiva encontra ressonância nos elementos que ilustram a inicial e fora corroborada pela prova pericial produzida durante o itinerário procedimental. O apelado, ao aviar sua pretensão, ilustrara seus argumentos com substanciosa documentação, deixando patente que, ao invés do sugerido pelo apelante, tinha, à época da constituição da comissão e elaboração do projeto do qual arvorara-se indevidamente único criador, capacidade e competência para elaborá-lo. Tanto é assim que, de acordo com o apurado pelo perito a quem fora confiada a confecção da prova pericial, o projeto debatido derivara de uma outra criação do apelado, qual seja, a Biblioteca do Estado da Bahia,

consoante se afere do anotado de forma textual pelo experto, consoante assegura o excerto adiante reproduzido:

“11 - Os dois projetos utilizam a primazia de uma estrutura modulada; um acesso principal ligado a um espaço central arti- culador que permite o acesso aos demais espaços da biblioteca; a diminuição da área quadrada a partir do pavimento térreo; a existência de nichos (Imagens 1 e 2) na borda dos pavimentos: semi-enterrado e térreo.

12 e 13 - São evidentes as semelhanças entre os partidos ado- tados nos dois projetos, principalmente, no que diz respeito à volumetria. Há semelhanças também na forma da organização dos espaços, como por exemplo, a entrada principal ligada a um espaço central que articula e permite o acesso aos demais espaços da biblioteca; e a existência do nichos (Imagens 1 e 2) posicio- nados na borda dos pavimentos: térreo e semi-enterrado. Posto isso, é possível creditar ao projeto de arquitetura da Biblioteca da Bahia a qualidade de referência, utilizada para o partido adotado na concepção do projeto de arquitetura da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.”2

O apurado e atestado pelo perito oficial, a par de se compatibilizar com a capacidade criativa demonstrada pelo apelado e com as inferências que emergem da documentação com a qual ilustrara a inicial no sentido de ter participado de forma ativa e determinante na confecção do projeto, fora inteiramente ratificado pela prova oral colhida. Dos depoimentos colhidos por ocasião da audiência de instrução e julgamento sobreleva as declarações originárias do arquiteto Walmir Santos Aguiar, que, consoante apontado, também integrara a comissão constituída para a elaboração do projeto debatido. Esse arquiteto, despindo-se de qualquer resquício de vaidade, reconhecera que, conquanto tenha integrado aludido grupo de trabalho, apelante e apelado foram os membros mais atuantes e acentuara que o projeto derivara de “partido arquitetônico” originário do projeto elaborado pelo apelado para a Biblioteca do Estado da Bahia. Ante sua relevância, devem ser transcritos das declarações dessa testemunha os excertos adiante reproduzidos:

“[...] Às perguntas do MM. Juiz respondeu que: ‘integrou com o autor e o réu e ainda a arquiteta JODETTE SÓCRATES o grupo de trabalho formado para elaboração do projeto da BCE- UnB; que o projeto não teve um único autor; que foi discutido

entre todos os integrantes do grupo; que a participação maior foi do autor e do réu, especialmente no que diz respeito ao partido arquitetônico adotado; que o partido foi levado pelo autor a partir de um projeto que ele havia elaborado para uma biblioteca na Bahia e que serviu de base para o projeto da UnB; que o partido consiste na ideia central do projeto, a partir da qual ele se desen- volve; que o depoente participou das discussões sobre o desen- volvimento do partido e também na realização do organograma e na execução do projeto, acompanhado a obra como fiscal; que tomou conhecimento de que o réu registrou uma RT no CREA incluindo-se como autor do projeto e os demais integrantes do grupo como colaboradores; que achou ‘estranho tal fato’, pois ele não corresponde à verdade; que o projeto foi fruto de trabalho em equipe e a atitude do réu em se apoderar dele foi ‘mesquinha’; que não tomou conhecimento da existência do documento de fls. 260; que esse documento não corresponde à verdade.’[...]”3

As assertivas contidas no depoimento do arquiteto Walmir Santos Aguiar foram inteiramente ratificadas pelas declarações provenientes do também arquiteto e à época professor da Universidade de Brasília - UnB Antônio Carlos Moraes de Castro. Essa testemunha, aliado ao fato de que reconhecera que o projeto da Biblioteca Central da Universidade de Brasília emergira de trabalho coletivo, acentuara, também, que derivara do projeto originalmente elaborado pelo apelado para a Biblioteca do Estado da Bahia, conforme testificam os excertos adiante reproduzidos:

“[...] Às perguntas do MM. Juiz respondeu que: ‘na época em que foi desenvolvido o projeto da BCE, o depoente atuava no CEPLAN, na Coordenadoria de Projetos responsável pela or- ganização da produção de parte dos projetos; que os trabalhos do CEPLAN na época eram todos realizados em equipe; que, no grupo do projeto da BCE, o réu foi nomeado coordenador; que, em regra, o coordenador de uma equipe acaba tendo uma atenção maior aos trabalhos, porque tem para si a maior responsabilidade, mas ressalva que, na prática, é difícil mensurar efetivamente quem foi o autor de uma idéia ou não; que no projeto em ques- tão, a idéia central foi tomada a partir de um projeto realizado pelo autor para uma biblioteca na Bahia; que o resultado final apresentou bastante conteúdo dessa ideia original; que as ideias preliminares foram debatidas por todos os integrantes do grupo;

que, pelo que se recorda, o projeto foi resultado do trabalho da equipe como um todo; que já tinha conhecimento do documento

No documento 180rdj089 (páginas 121-133)