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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2007011135114-0 Apelante Distrito Federal

No documento 180rdj089 (páginas 196-200)

Apelado - Ernesto Gomes Caruso Relator - Des. Dácio Vieira Quinta Turma Cível

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL INDENIZAÇÃO POR DANOS MO- RAIS - EXECUÇÃO DE DÍVIDA INEXISTENTE - CULPA EVIDENCIADA - FIXAÇÃO DO DANO MORAL - RAZO- ABILIDADE.

- O CONSTRANGIMENTO DECORRENTE DE CITAÇÃO PARA EXECUÇÃO DE DÍVIDA PAGA CONSTITUI, POR SI SÓ, CAUSA BASTANTE PARA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

- O VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DEVE SE PAUTAR PELO CRITÉRIO DA RAZOABILI- DADE, OBSERVADAS A POSIÇÃO SOCIAL E A CA- PACIDADE ECONÔMICA DAS PARTES ENVOLVIDAS, SOB PENA DE PROPICIAR O ENRIQUECIMENTO INDEVIDO DO OFENDIDO OU O ESTÍMULO À PRÁ- TICA DE NOVA CONDUTA IRREGULAR POR PARTE DO OFENSOR.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Dácio Vieira - Relator, Romeu Gonzaga Neiva - Revisor, Haydevalda Sampaio - Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Romeu Gonzaga Neiva, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Dar parcial provimento unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 12 de novembro de 2008. RELATÓRIO

O relatório é, em parte o constante da sentença de fls. 132/136, que agora leio, verbis:

“ERNESTO GOMES CARUSO, qualificado na inicial, ingressou com ação de conhecimento pelo rito comum ordinário em face do DISTRITO FEDERAL, no escopo de obter condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais no importe equivalente a 60 (sessenta) salários mínimos. Em abono à formulação em apreço, o autor afirma que aos 13.03.2001 o réu, indevidamente, ajuizou Ação de Execução Fiscal contra sua pessoa, por suposta existência de débito de IPVA pertinente ao ano de 1996, no valor de R$ 398,39 (trezentos e noventa e oito reais e trinta e nove centavos), pertinente ao veículo de placa BS 9859. Reconhece que já foi proprietário do veículo, mas no ano de 1992 mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde o veículo foi licenciado e obteve nova placa. Discorre sobre a surpresa e constrangimento que passou quando soube do ajuizamento de Ação de Execução Fiscal contra sua pessoa, mormente pelo fato de ocupar o cargo de Coronel do Exército. Diz que foi procurado pelo Chefe de Portaria do condomínio onde reside, o qual lhe informou sobre a presença de Oficial de Justiça à sua procura e no escopo de executar a cobrança de uma dívida e no intento de providenciar penhora de bens de sua propriedade. E ainda, que outras diligências foram feitas em local diverso de sua residência, tornando pública a “pecha de mau pagador” imposta injustamente. Que no endereço primitivo residem outros militares, o que o colocou em situação ainda mais constrange- dora. Noticia o reconhecimento do erro por parte do réu após oposta exceção de pré-executividade nos autos daquele processo. Discorre sobre o conceito de dano moral e ilicitude da conduta do réu. Alude ao artigo 22, do Código de Defesa do Consumidor e artigo 186, do Código Civil. Carreia farta jurisprudência e roga pela procedência do pedido. Petição inicial e documentos que a acompanham constituem fls. 16/93. Emenda à petição inicial quanto ao pedido e valor da causa, nos termos de fl. 99. Citado regularmente, o DISTRITO FEDERAL ofertou contestação e documentos de fls. 107/116. Diz que a inscrição não foi indevida, pois o autor não comunicou à Secretaria de Fazenda do Distrito Federal a transferência do veículo para outra unidade federada. Que mesmo tendo procurado o DETRAN/RJ, tal medida não se revelou suficiente, pois, em 1992 os DETRANs não possuíam sistema integrado, fazendo com que o veículo permanecesse no cadas- tro da Secretaria da Fazenda. Atribui ao autor a culpa exclusiva pela inscrição indevida, rompendo assim o nexo de causalidade. Alude a orientações doutrinárias e jurisprudenciais. Impugna o montante

postulado o finaliza deduzindo pela improcedência do pedido. Réplica às fls. 120/126. Instados a especificarem suas provas, as partes nada postularam.”

Acrescento que o juiz sentenciante julgou procedente os pedidos do autor para condenar o réu ao pagamento da quantia de R$ 8.000,00(oito mil reais), a título de indenização por danos morais, custas e honorários advocatícios, fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais).

Irresignado, apela o Distrito Federal, às fls. 139/150 ao argumento de que “ao contrário do que consignado na sentença, o deferimento da transferência do veículo junto

ao DETRAN do Rio de Janeiro NÃO pressupões a inexistência desse mesmo cadastro no DETRAN”, bem como que “a simples presença de um oficial de justiça na procura de alguém não denota a impressão de ser essa pessoa um mau pagador”ressaltando que, “a circunstância de o autor ter respondido a uma execução fiscal não enseja a caracterização de danos morais, até porque o Distrito Federal, ao propor a execução, atuou no exercício regular de um direito, pouco importando o desfecho da ação”. Alega outrossim, “que afigura-se exarcebado o valor deferido de R$ 8.000,00(oito mil anos).” Ao final, pugna pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTOS

Des. Dácio Vieira (Relator) - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço de ambos os recursos, bem como da remessa oficial.

Trata-se de ação indenizatória por danos morais, ajuizada por Ernesto Gomes Caruso contra o Distrito Federal, decorrente do ajuizamento de execução fiscal para cobrança de imposto inexistente.

O pleito do autor foi acolhido, com esta fundamentação (fls. 132/137),

verbis:

“O autor atribui ao réu os danos morais que alega ter sofrido em razão de inscrição indevida de seu nome em dívida ativa, pertinente a débito de IPVA, exercício 1996, transferido para o Estado do Rio de Janeiro desde o ano de 1992. Em contrapartida, o réu realça culpa exclusiva do autor, haja vista ausência de comunicação quanto à transferência à Secretaria de Fazenda. Nesse contexto, conquanto não se resuma a demanda a matéria unicamente de direito, comporta julgamento antecipado, pois o acervo probatório carreado mostra-se suficiente a amparar a convicção desta magistrada, aliado à satisfação das partes com o mesmo, nos termos do artigo 330, inciso I, do Código de Pro-

cesso Civil. O tema não comporta maiores delongas, pois a moldura fática restou confessada pelo DISTRITO FEDERAL ao afirmar que “... em momento algum, o autor comunicou à Secretaria de Fazenda do Distrito Federal a transferência de seu veículo a outra Unidade Federada, tampouco o fez ao DETRAN distrital... É certo que, no mesmo ano da transferência, procurou o DETRAN do Rio de Janeiro. Porém, essa medida não se revelou suficiente, porquanto, à época da transferência - 1992 , os DETRANS do Brasil não possuíam sistema integrado... Isso fez com que o veículo do Autor continuasse a constar no cadastro da Secretaria de Fazenda, o que deu ensejo, por conseguinte à cobrança de IPVA, dada a aparente existência de fato gerador.”, fl. 109. Ora, de todo pertinente realçar que, indiscutivelmente, o simples pedido e consequente deferimento da transferência do cadastro do veículo junto ao Detran/RJ, isto em 1992, pressupõe a inexistência desse mesmo cadastro no Detran/DF, não mais subsistindo qualquer razão para lançamento e inscrição de dívida de IPVA pertinente ao exercício de 1996. Portanto, não se cogita, como quer entender o réu, na obrigação do autor quanto à comunicação de transferência junto à Secretaria de Fazenda. Também é incontroverso que a omissão do Poder Público em providenciar a baixa rendeu ensejo à suposta situa- ção de inadimplência do autor e consequente ajuizamento de ação de execução, conforme se denota de fl. 119. Até que se poderia admitir como transtorno comum, como quer entender o réu, acaso providen- ciada a correção a tempo de evitar consequência maior, como no caso vertente. Contudo, a inexistência do débito só foi reconhecida depois de ajuizada ação de execução. A despeito da inexistência de inclusão do nome do autor no SERASA, não há dúvidas de que a conduta do réu causou ao demandante evidentes danos, com desgastes de ordem emocional, tempo e diligências a fim de resolver a situação. A isso se agrega inevitável abalo ao patrimônio moral emergente da inscrição do débito em dívida ativa, mormente por se tratar de pessoa ocupante do cargo de Coronel do Exército. Sobreleva aqui realçar que antes de expedida a carta precatória, o mandado de citação foi endereçado à antiga residência do autor nesta capital federal e, lá, o Sr. Meirinho recebeu informação de que o mesmo ali não mais residia. Logo, indiscu- tivelmente, o fato veio a conhecimento de terceiros, presume-se a ofensa à sua dignidade. O dano moral deve pautar-se no princípio da lógica do razoável, reputando-se como dano moral a dor, o vexame, sofrimento e humilhação que fugindo à normalidade, interfira intensamente no

comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflição, an- gústia e desequilíbrio em seu bem-estar, não bastando mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada (APC 8.215/95, 2ª Câmara Cível do TJRJ). Efetivamente é o que se verifica no caso vertente, posto que impôs ao autor verdadeira maratona no escopo de ver seu nome excluído do cadastro fiscal, chegando inclusive a nomear advogado, o qual manejou objeção de não executividade, resultando no cancelamento do débito, fls. 40/44 e 66/68. De outra parte, a indenização a título de danos morais não deve constituir em condenável e repudiado enriquecimento sem causa da vítima, em equivocada concepção. Deve-se guardar certa razoabilidade entre o dano causado e a finalidade pedagógica inserida na medida, não como mera punição. Bem é verdade que a ilicitude em seara cível não se reveste da mesma natureza da criminal, aqui abarcando conceito mais elástico, comportando a hipótese de erro ou falha incorridos por agentes administrativos, a exemplo do sucedido. Assim, deve ser tomado por referencial não o montante, mas a ofensa à dignidade produzida. Por isso, e tendo em consideração a patente ocupada pelo autor, fazendo com que o acontecido tenha maior repercussão, tenho por prudente fixar o quantum indenizatório em R$ 8.000,00 (oito mil reais). Ante o exposto, nos termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, julgo procedente o pedido para condenar o réu a pagar ao autor a importância arbitrada em R$ 8.000,00 (oito mil reais), a título de indenização por danos morais, com incidência de juros legais no percentual de 1% (um por cento) e atualização monetária, a contar da data desta sentença.”

Em que pese a argumentação desenvolvida pelo recorrente nesta fase recursal, a meu ver, não merece reforma a decisão recorrida.

Restou demonstrado nos autos que a inclusão do nome do autor na dívida ativa decorreu claramente, da incúria da Fazenda Pública, pois, através de execução fiscal, procedeu à cobrança de valores indevidos, não se certificando acerca da real existência do débito, nem tampouco, quanto aos dados cadastrais do veículo o que veio a ocasionar ao autor os constrangimentos descritos na exordial.

Sem razão, dessarte, o DISTRITO FEDERAL, quando pretende eximir-se do dever de indenizar os danos morais experimentados pelo autor, em razão do ajuizamento de execução fiscal tendo por objeto dívida inexistente.

Como se vê, em que pesem os aspectos salientados na decisão monocrática quanto à ocorrência do dano moral, presentes mostram-se, in casu, os requisitos

No documento 180rdj089 (páginas 196-200)