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Em recente levantamento da atividade legislativa119, destinado ao meio jurídico, apurou-se que diariamente são aprovadas cerca de 17 normas, considerando apenas leis ordinárias, leis complementares e emendas constitucionais.

Como visto, normas não faltam para assegurar que a pessoa com deficiência consiga utilizar produtos de primeira necessidade como é o caso de alimentos industrializados e medicamentos sem se sujeitar a riscos desnecessários, aí se revelando o primado da dignidade, bem como a igualdade mínima de condições em face do restante da sociedade.

O desafio, dessa forma, é viabilizar a necessária mudança por parte da indústria, para que as normas saiam do papel e para que não se dependa do longo e                                                                                                                          

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BRASIL. Câmara dos Deputados. Pl 4748/2012. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=560522>. Acesso em: 22 nov. 2014.

119

MIGALHAS. Brasil aprova aproximadamente 17 normas por dia. 23 out. 2013. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI188318,41046-

tortuoso caminho do Congresso, que só contribuirá com a fúria legiferante que assola o nosso país, sem que a sociedade sinta seus efeitos práticos.

A propósito, vale apontar a experiência do órgão público mais antigo do país e tantas vezes protagonista de mudanças históricas, a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do Estado de São Paulo (“Procon-SP”), ao proporcionar grandes avanços em situações complexas120, viabilizadas pela via do compromisso de ajustamento de conduta, previsto no § 6º do art. 5º da Lei n. 7.347/1985, conhecida como Lei da Ação Civil Pública.

Por intermédio dessa importante ferramenta, os órgãos pelos quais o Estado administra o interesse público, destinados à defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, podem “evitar ou reparar a lesão a bem de natureza transindividual, o que deverá ser feito pelo alcance da melhor solução entre o poder público e o administrado”121, tomando deste o compromisso de ajustar a conduta.

Dado o escopo deste estudo, não serão apresentadas aqui as diversas correntes que cuidam de debater a natureza jurídica do instituto, sendo bem apropriada a posição de Ana Luiza de Andrade Nery122, em obra dedicada ao tema:

Compromisso de ajustamento de conduta é transação híbrida, lavrado por instrumento público ou privado, celebrado entre o                                                                                                                          

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Cita-se como exemplo o episódio da suspensão abrupta da distribuição gratuita das “sacolinhas plásticas” por parte dos supermercados do Estado de São Paulo vinculados à Associação Paulista de Supermercados (APAS), a partir de 25 de janeiro de 2012. Em que pese ter sido discutido inicialmente com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, a conduta, no bojo da campanha “Vamos tirar o Planeta do sufoco”, não obteve o êxito inicialmente pretendido por não ter sido precedida de uma campanha educativa adequada e acabou pegando de surpresa os consumidores, que ficaram extremamente insatisfeitos e se sentindo lesados. Ao entenderem que essa mudança de hábito - introduzida pelo próprio setor supermercadista, frise-se - demandaria período maior de adaptação, o Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio das Promotorias do Consumidor e do Meio Ambiente, e o Procon-SP firmaram Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC) com a APAS para que esta e seus associados implementassem ampla e efetiva campanha educativa sobre o tema destinada aos consumidores; oferecessem, por sessenta dias, embalagens gratuitas e adequadas para o transporte dos produtos adquiridos pelos consumidores; disponibilizasse, a preço de custo, sacolas reutilizáveis para aquisição pelos consumidores; entre outras obrigações pontuais. O mencionado TAC pode ser visualizado em: SÃO PAULO. Ministério Público Estadual. Promotorias de Justiça do Consumidor e do Meio Ambiente de São Paulo. Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta. São Paulo-SP, 03 fev. 2012.

Disponível em:

<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/publicacao_noticias/2012/fevereiro_2012/2012%2 002%2003%20tac%20apas%20mp%20procon.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2014.

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NERY, Ana Luiza de Andrade. Compromisso de ajustamento de conduta. Teoria e análise de casos práticos. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 195.

122

NERY, Ana Luiza de Andrade. Compromisso de ajustamento de conduta. Teoria e análise de casos práticos, p. 216-217.

interessado e o poder público, por seus órgãos públicos, ou por seus agentes políticos, legitimados à propositura da ação civil pública, por cuja forma se encontra a melhor solução para evitar-se ou para pôr fim à demanda judicial, que verse sobre ameaça ou lesão a bem de natureza metaindividual.

Assim, uma vez presente o requisito da lesão ao bem de natureza transindividual, qual seja, o direito à informação da pessoa com deficiência visual, cabe aos legitimados pela lei atuarem.

Os atores mais adequados para enfrentar esse problema e evitar a multiplicidade de inquéritos civis (Ministério Público) ou investigações preliminares sobre o mesmo tema, cujo resultado sempre é catastrófico e compromete a segurança jurídica tão necessária para que a sociedade “funcione”, são o Ministério Público Federal, a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a Secretaria Nacional do Consumidor.

Como se trata de lesão a direito do consumidor, a disciplina geral da Lei n. 7.347/1985 é complementada com a específica disciplina para a elaboração de um compromisso de ajustamento de conduta prevista no Decreto n. 2.181/1997, tão bem resumidas por Vitor Morais de Andrade123:

a) a celebração de termo de ajustamento de conduta não impede que outro, desde que mais vantajoso para o consumidor, seja lavrado por quaisquer das pessoas jurídicas de direito público integrantes do SNDC;

b) a qualquer tempo, o órgão subscritor de um TAC poderá, diante de novas informações ou se as circunstâncias o exigirem, retificar ou complementar o acordo firmado, determinando outras providências que se fizerem necessárias, sob pena de invalidade imediata do ato, dando-se seguimento ao procedimento administrativo eventualmente arquivado;

c) o TAC deve conter cláusula estabelecendo a obrigação do fornecedor de adequar sua conduta às exigências legais em determinado prazo;

d) o TAC deve prever a estipulação de pena pecuniária diária, pelo descumprimento do ajustado;

e) o TAC deve comportar as despesas de investigação da infração e instrução do procedimento que devem ser ressarcidas.

Superada a discussão a respeito da legitimidade do poder público para a celebração do TAC, com relação aos obrigados no compromisso, não há dúvida que

                                                                                                                          123

ANDRADE, Vitor Morais de. Sanções administrativas no Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2008, p. 153-154.

a responsabilidade recairá sobre aqueles que colocam o produto no mercado de consumo, os responsáveis pela rotulagem (fabricante ou importador).

É forçoso reconhecer, igualmente, que as bases nas quais será celebrado o compromisso devem levar em consideração um prazo para a adaptação dos fornecedores, ainda que a obrigação de disponibilizar informações essenciais mínimas em braile com vistas à proteção da saúde e à segurança do consumidor com deficiência visual já exista, segundo a linha de raciocínio desenvolvida até agora.

Essa prática, contudo, prolongaria o sofrimento e a indignidade das pessoas com deficiência no mercado de consumo, expondo-as diariamente ao risco de consumir um produto impróprio.

A convocação do setor varejista para participar do compromisso se revela como estratégia para minimizar esses riscos, na medida em que este ator da cadeia de relações de consumo poderia suprir a lacuna durante o período de adaptação da indústria por meio da colocação de informações essenciais mínimas em braile na embalagem dos produtos, no ato da finalização das compras, de modo que o consumidor com deficiência visual consiga utilizar, sozinho e de forma segura, o produto adquirido em casa.

Ainda que essa solução possa ser alvo de críticas, especialmente diante do incorreto manuseio do rotulador em braile por parte de profissionais mal preparados ou com má vontade, o que não é incomum, já seria um avanço se considerada a situação atual.

Nessa direção, mas sem que houvesse qualquer movimento contrário digno de nota nem que ganhasse repercussão mundial por parte do setor, Portugal adotou a iniciativa por meio de lei, a saber:

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Lei n. 33/2008, de 22 de Julho

Estabelece medidas de promoção da acessibilidade à informação sobre determinados bens de venda ao público para pessoas com deficiências e incapacidades visuais

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161 da Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I Objecto e âmbito Artigo 1º

Objecto

1 - A presente lei estabelece o regime de promoção e de garantia de acesso à informação, pelas pessoas com deficiências e incapacidades visuais, das características dos produtos disponibilizados nos estabelecimentos de comércio misto.

2 - Para efeitos da presente lei, entende-se por esta- belecimento de comércio misto o local onde se exercem, em simultâneo, actividades de comércio alimentar e não alimentar, sem que cada uma delas, individualmente considerada, ultrapasse 90% do respectivo volume total de vendas.

Artigo 2º Âmbito

Estão sujeitas ao regime estabelecido na presente lei as sociedades que detenham mais de cinco estabelecimentos de comércio misto, funcionando sob insígnia comum, com área superior a 300 m2 cada um.

CAPÍTULO II

Deveres das sociedades de distribuição Artigo 3º

Acompanhamento personalizado e sistema de informação

1 - As sociedades previstas no artigo anterior devem, nos estabelecimentos seleccionados de acordo com o artigo 6.o, dispor de serviços de acompanhamento persona- lizado para as pessoas com deficiências e incapacidades visuais, no acesso aos produtos que se encontrem expostos.

2 - O acompanhamento personalizado previsto no número anterior pode ser complementado por um sistema de informação adequado a pessoas com deficiências e incapacidades visuais.

Artigo 4º

Informação em braille

Nos estabelecimentos seleccionados nos termos do artigo 6º é assegurada, no acto da compra, a impressão em braille, numa etiqueta por produto, da informação tida como necessária, nomeadamente a relativa a:

a) Denominação e características principais; b) Data de validade. Artigo 5º

Compras por via electrónica

As sociedades previstas no artigo 2º que forneçam o serviço de vendas por via electrónica devem, no respectivo sítio, incluir opção que garanta que os produtos adquiridos por esta via sejam entregues com a etiqueta prevista no artigo anterior.

Artigo 6º

Critérios para selecção dos estabelecimentos

1 - As sociedades previstas no artigo 2º devem, em pelo menos um dos seus estabelecimentos localizados em cada concelho, assegurar os serviços previstos nos artigos 3º e 4º

2 - As sociedades previstas no artigo 2º podem concertar-se entre si e com as associações que promovem e defendem os direitos das

pessoas com deficiências e incapacidades visuais de forma a assegurar a distribuição geográfica mais adequada.

Artigo 7º

Publicitação dos estabelecimentos

1 - Uma lista actualizada dos estabelecimentos seleccionados deve ser disponibilizada nas organizações públicas ou privadas de defesa do consumidor e nas associações de pessoas com deficiências e incapacidades visuais.

2 - As sociedades previstas no artigo 2º devem, para efeitos do número anterior, comunicar à Direcção-Geral do Consumidor qualquer alteração à lista dos estabelecimentos seleccionados da sua responsabilidade, com uma antecedência mínima de oito dias. Artigo 8º

Princípio da não discriminação

A prestação dos serviços previstos na presente lei não pode implicar qualquer custo financeiro para os seus beneficiários.

CAPÍTULO III

Fiscalização e regime contra-ordenacional Artigo 9º

Entidade fiscalizadora

Compete à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica fiscalizar a aplicação do disposto na presente lei.

Artigo 10

Contra-ordenações

1 - A violação do disposto no artigo 3º constitui contra-ordenação punível com a aplicação de uma coima de € 5000 a € 15 000.

2 - A violação do disposto no n. 2 do artigo 7º constitui contra- ordenação punível com a aplicação de uma coima de € 1000 a € 5000.

Artigo 11

Instrução dos processos e coimas

1 - Compete à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica a instrução dos processos de contra-ordenação, cabendo à Comissão de Aplicação de Coimas em Matéria Económica e de Publicidade a aplicação das respectivas coimas.

2 - O produto das coimas aplicadas reverte: a) 50 % para o Estado;

b) 25% para a entidade que procedeu à instrução do processo; c) 25 % para apoio financeiro, nos termos definidos pelo Governo, a programas e projectos destinados a pessoas com deficiência.

CAPÍTULO IV Disposições finais Artigo 12

Aplicação às regiões autónomas

1 - A aplicação da presente lei às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira faz-se sem prejuízo das com- petências cometidas aos respectivos órgãos de governo próprio.

2 - O produto das coimas aplicadas nas regiões autónomas constitui receita própria destas.

Artigo 13 Avaliação

O Governo promove uma avaliação da execução e eficácia das medidas previstas na presente lei dois anos após a sua entrada em vigor.

Artigo 14

Disposição transitória

As sociedades previstas no artigo 2º devem, no prazo de seis meses após a entrada em vigor da presente lei, concluir a selecção e adaptação dos estabelecimentos comerciais e efectuar a respectiva comunicação para efeitos do artigo 7º

Aprovada em 16 de Maio de 2008.

O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama. Promulgada em 18 de Junho de 2008.

Publique-se.

O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA. Referendada em 19 de Junho de 2008.

O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.124 Em resumo, somente com a séria e profunda discussão do tema, com a participação do poder público, da sociedade civil organizada e do setor produtivo, é que será possível viabilizar essa construção, a qual deverá vir no bojo de uma política pública mais abrangente, amparada por incentivos fiscais para a aquisição do que for necessário para que embalagens de gêneros alimentícios e de medicamentos passem a contemplar informação essencial mínima em braile, em atenção aos princípios da dignidade e igualdade a serem observados também às pessoas portadoras de deficiência visual, justamente em função da sua condição de desigualdade.

                                                                                                                          124

PORTUGAL. Assembleia da República. Lei n. 33/2008, de 22 de julho. Estabelece medidas de promoção da acessibilidade à informação sobre determinados bens de venda ao público para pessoas com deficiências e incapacidades visuais. Diário da República, 1.ª série, n. 140, 22 de Julho

de 2008, p. 4.539. Disponível em:

http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f33 4e7a67774c336470626e526c654852766331396863484a76646d466b62334d764d6a41774f43394d58 7a4d7a587a49774d4467756347526d&fich=L_33_2008.pdf&Inline=true>. Acesso em: 22 nov. 2014.

CONCLUSÃO

A linha de investigação trazida no presente estudo procurou demonstrar que a evolução em matéria de proteção à pessoa com deficiência, ainda que inegável se observada a realidade anterior ao século XX, situação abordada logo no início destes escritos, não conseguiu resolver satisfatoriamente todos os problemas enfrentados por essa população.

O diploma de maior expoente desse cenário é a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, a qual, em que pese estruturar todos os direitos até então conquistados na evolução da proteção à pessoa com deficiência, enfrenta sérios problemas de efetividade ao ser internalizada pelos Estados-Partes.

O primeiro passo para que um país possa amenizar esse grave problema já foi dado pelo Brasil: a internalização da Convenção com força de texto constitucional, em patamar superior da hierarquia normativa, e ao lado dos valores mais relevantes para a sociedade brasileira.

Na Constituição Cidadã de 1988, igualmente, encontram-se princípios que consagram a histórica luta pela afirmação dos direitos humanos e que se alinham perfeitamente à luta diária enfrentada pelas pessoas com deficiência para a sua adequada inserção na sociedade: dignidade da pessoa humana e igualdade.

Especificamente quanto ao problema abordado neste estudo, qual seja, a inexistência de informação adequada na rotulagem dos produtos da mais básica necessidade de sobrevivência do ser humano, como são os alimentos e os medicamentos, especialmente para a pessoa com deficiência visual, uma das que enfrenta maior obstáculo quanto à inserção plena na sociedade, uma grande arma está à disposição para enfrentá-lo: o plexo de normas disponíveis para a defesa do consumidor.

Consagrada como verdadeiro direito fundamental, a defesa do consumidor, também fruto de históricas batalhas pela afirmação de uma camada da sociedade que sempre se encontrou em desvantagem no jogo de forças, passa a ser um dos maiores exemplos de efetividade na aplicação de normas em defesa dos mais vulneráveis. Tanto é assim que grande parte dos apontamentos apresentados

no terceiro capítulo foi dedicada ao seu estudo e contribuição para o tema foco desta dissertação, na medida em que estabelece que todos os consumidores, sem exceção, devem ser tratados de forma digna, a fim de que possam ter suas necessidades atendidas no mercado de consumo, sempre com respeito a direitos básicos, como à informação adequada e clara e à necessária proteção à vida, à saúde e à segurança.

É justamente esse fio condutor trazido pelo Código de Defesa do Consumidor que joga luz sobre o problema apresentado: se os comandos normativos são tão evidentes, por que a pessoa com deficiência visual continua necessitando o socorro de outras pessoas videntes para exercer atividades tão simples – e não pouco importantes – do cotidiano, como verificar se determinado alimento ou medicamento está vencido, o que lhe pode trazer sérias consequências para a saúde.

Chega-se, aqui, ao famigerado campo da efetividade das normas, que de tão problemático em nosso país é “tranquilamente” discutido fora do meio jurídico sob a máxima de que “há leis que não pegam”, como se isso devesse acontecer em um Estado Democrático de Direito.

Contudo, como tristemente é a realidade brasileira, no último capítulo, foram analisadas as redundantes normas existentes que obrigam, ainda que de forma insuficiente, a colocação de algumas informações em braile na rotulagem de medicamentos, assim como as propostas legislativas no mesmo sentido, que, de legislatura em legislatura, não avançam no Congresso.

Os poucos fornecedores que se aventuram nesse campo, ao invés de gastar recurso para impedir que as referidas propostas avancem no campo legislativo, fazem-no muitas vezes pautados por alguma experiência pessoal do gestor ou de algum colaborador, mas sempre de forma insuficiente, pois informações essenciais, como o prazo de validade, continuam inacessíveis ao deficiente visual, sem o auxílio de outra pessoa vidente, situação – frise-se – nada digna.

Qual é a solução, então? Diante da existência de normas que garantem a proteção à pessoa com deficiência visual em matéria de ausência de informação adequada para que possa ter uma experiência de consumo minimamente segura para o atendimento das necessidades mais básicas, o problema da efetividade

depende do engajamento da sociedade civil organizada e dos órgãos responsáveis por zelar pela defesa dos direitos destas pessoas e dos consumidores em geral, enfim, tão acostumados ao jogo de forças desigual com os fornecedores, inúmeras vezes vencidos, como na própria oportunidade da inserção do prazo de validade nos produtos, algo impensável para o setor produtivo no início da década de 1990 e que só foi alterado graças à incansável atuação destes órgãos.

A esperança que fica é que, quiçá, essa batalha seja vencida pela tecnologia, com seus smartphones dotados de softwares leitores de qualquer tipo de informação e outros inventos “vestíveis”, atual coqueluche do ramo de tecnologia. Até lá, porém, não se pode olvidar o contingente imenso e plural de pessoas com deficiência visual, diariamente expostas a acidentes de consumo que muito bem poderiam ser evitados se houvesse o simples cumprimento de uma lei que o Brasil considera que “pegou”: o Código de Defesa do Consumidor.

REFERÊNCIAS

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<http://www.ache.com.br/PressRoom/News.aspx?NewsId=371>. Acesso em: 30 nov. 2014.

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<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/9c1b1480474592119a6fde3fbc4c6735/ Cidadao+-+Novas+regras.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 22 nov. 2014.

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Traduzido por Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

ANDRADE, Vander Ferreira de. A dignidade da pessoa humana como valor-fonte da ordem jurídica. Dissertação (Mestrado em Direito)-Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo. São Paulo-SP, 2002.

ANDRADE, Vitor Morais de. Sanções administrativas no Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2008.

ARAÚJO, José Carlos Evangelista de. O Estado Democrático Social de Direito em face do princípio da igualdade e as ações afirmativas. Dissertação (Mestrado em Direito)-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo-SP, 2007.

ARAUJO, Luiz Alberto David. Proteção constitucional das pessoas com deficiência. 4. ed. Brasília: CORDE, 2011.

ARBEX, Fabricio Cobra. A informação nas relações consumeristas: direito do