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7 Apresentação e Discussão dos Resultados

7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal

7.1.3.1 Apoios

A oitava componente recai sobre os apoios que são dados a estas jovens pelas entidades que participam na sua vida e engloba quatro categorias.

A primeira categoria aborda o apoio proporcionado pelas escolas. Nesta categoria, três das entrevistadas referiram que a universidade não tem conhecimento que elas são atletas e que não tem qualquer “programa” de apoio aos atletas de alto rendimento.

“…na Universidade não senti… qualquer tipo de apoio, nem da escola nem dos colegas nem dos professores. Só senti que estes não tinham a noção do que é estar comprometida com o desporto e estar ligada, no meu caso, à seleção e estar a jogar na liga profissional.” (Atl7)

Três também sublinharam não ter qualquer apoio “oficial” por parte da universidade, ressalvaram, no entanto sentirem alguma compreensão dos professores.

“-… Os meus professores sabiam desde o início da minha condição de atleta e sempre me ajudaram a conciliar frequências/exames com a minha disponibilidade.” (Atl5)

Uma, para além de referir não usufruir de qualquer apoio, refletiu a importância da atribuição do Estatuto de Atleta de Alto Rendimento para que

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seja possível à universidade agir, não em benefício do aluno-atleta, mas no sentido de lhe proporcionar as mesmas possibilidades de sucesso que os outros alunos.

Três das participantes não fizeram qualquer menção a apoios dados pela escola.

Estes resultados reforçam a ideia já exposta, de que estas alunas, por não terem Estatuto de Alto Rendimento, não usufruem de qualquer tipo de apoio dentro do sistema de ensino. Neste contexto é importante sublinhar que as referidas alunas estudam em diferentes universidades, de diferentes pontos do país.

A segunda categoria remete para apoio dado pelo clube. Neste capítulo, cinco das participantes não fizeram qualquer referência em relação ao clube quando questionadas sobre os apoios que recebiam. Três mencionaram receber algum apoio; destas, duas referiram que o clube lhes facultava casa, uma indicou que o clube tem compreensão pelas dificuldades que tem na compatibilização entre os estudos e a prática desportiva.

“- Clube, o único apoio que o Clube me deu foi a casa, já foi uma coisa boa mas… pronto, não sei… às vezes … sinto que poderia … poderiam dar mais apoios.” (Atl2)

“-…ajudou o facto de ir para a Faculdade e os meus pais não pagarem casa, porque o meu clube dá às atletas de fora do Barreiro casa.” (Atl7)

“- Os próprios treinadores compreendem a situação e facilitam o horário de treino de maneira a não prejudicar o treino nem os estudos.” (Atl9)

Uma atleta referiu não ter qualquer apoio do clube.

“- Não, o Clube apenas faz o papel dele e … não …não… imagine eu não falto às aulas para ir treinar, isso para mim é completamente impossível e o Clube sabe. Não me pode exigir mais do que eu posso dar. Muito menos prejudicar a minha vida académica pelo… pelo desporto.” (Atl1)

Os resultados de Santos (2010), Zenha e Castro (2012) apontavam para uma opinião mais favorável dos atletas em relação aos seus clubes. Os dados que recolhemos não evidenciam uma má relação entre os atletas e os clubes, mas algum distanciamento (cinco não tecem qualquer comentário). Estamos em crer que esta situação se deve ao facto de se tratar de Clubes da Liga Feminina de Basquetebol, muito focados no rendimento. Esta vontade de obtenção de

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resultados desportivos obriga a muitas horas de treino e colide muitas vezes com as obrigações da vida académica. Esta incompatibilidade leva a situações de

stress e de difícil gestão por parte das atletas.

A terceira categoria é o apoio dado pela Federação. No que concerne à colaboração da federação, cinco atletas não fizeram qualquer referência a ajudas recebidas. Duas referiram que, em situações pontuais, a FPB ajuda na mudança das datas de exame ou proporciona a possibilidade de realizar os exames em época especial às atletas que participam nos campeonatos da Europa. Duas consideram que a federação tem um papel pouco ativo, que pouco ou nada contribui para a articulação entre a vertente desportiva e a escolar.

“- Parece que… não têm noção que, para existir uma maior ajuda por parte das Escolas e Universidades… se calhar, deviam de dar a conhecer a estas os programas dos Clubes e Seleções. Pois …no final de contas estamos muitas de nós a representar Portugal, devia de existir algum tipo de ajudas.” (Atl7)

“-… a Federação não se preocupa o suficiente com a nossa vida académica.” (Atl8)

Uma refere que não vê de que forma a federação pode ajudar no seu percurso académico.

“- Federação não sei… não vejo a Federação a intervir diretamente com os meus estudos Universitários.” (Atl2)

Os resultados obtidos no nosso estudo espelham, também, algum afastamento entre as atletas e a FPB. A alteração das condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento será, porventura, a principal razão das críticas das atletas, que dizem que a FPB tem sido pouco ativa no seu apoio. A mudança das regras de acesso ao referido estatuto apanhou esta geração de atletas numa fase de transição entre o ensino secundário e o ensino superior, com consequências muito negativas nas suas possibilidades de sucesso desportivo e escolar.

Pérez & Aguillar (2012) sublinham a importância de acompanhar os momentos de transição destes atletas. Quanto maior for o conhecimento das dificuldades inerentes a estas fases de “desequilíbrio”, mais aptos estaremos para ajudar os atletas a conseguirem melhores resultados.

Na quarta categoria, pedimos às atletas sugestões para melhorar a compatibilização dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento.

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Cinco das dez atletas, quando foram questionadas sobre que mudanças gostariam que fossem implementadas para melhorar a “vida” dos estudantes- atletas referiram, de imediato, a alteração das condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento como a mais urgente e importante.

“- Uma das coisas que era muito boa de voltar a ser reestabelecida era o Estatuto de Atleta de… Alto Rendimento.” (Atl2)

“-… o acesso ao estatuto de alta competição deveria ser retificado pois…pois tenho inúmeros exemplos de atletas que dão tantas horas, todos os dias à sua modalidade e não conseguem o ….referido estatuto.” (Atl3)

“- Em primeiro lugar todos os atletas terem direito …de novo, ao Estatuto de Alta Competição. Também a possibilidade de realização de exames em época especial de forma a conciliar os treino e jogos com os exames…é fundamental.”(Atl5)

“-…devia ser mais fácil ter acesso ao Estatuto de Alta Competição. Não é o facto de se atingir ou não certo resultado, que muda todo o trabalho que se empregou até ali.” (Atl6)

Duas atletas sugeriram que fosse criado um estatuto dentro da universidade igual ao estatuto de “Trabalhador-Estudante”.

“- Acho que, e como já disse… a par do trabalhar-estudante, também o atleta-estudante devia ter algum apoio para poder conciliar os estudos e o seu desporto, para…que não se tenha que optar por uma ou outra atividade.” (Atl6)

No âmbito de criação de mecanismos de apoio dentro da própria universidade, uma atleta sugeriu um estatuto de atleta para quem participasse nos campeonatos universitários. Neste sentido propõe uma atenção especial à marcação de momentos de avaliação após os jogos, reposição de aulas e a existência de um horário de atendimento.

“- Deveria haver um maior cuidado na marcação de avaliações em dias posteriores a jogos, quando o atleta falta as aulas devido a prática desportiva deveria ter essas aulas repostas…o aluno deveria ter uma hora de atendimento adequada ao seu horário de modo a esclarecer dúvidas com o professor quando necessário. Achava importante que todos os atletas que participem em campeonatos universitários deveriam ter estatuto… dentro da Universidade.” (Atl4)

Para melhorar os apoios concedidos pela universidade, as atletas fizeram algumas propostas.

“- Poderia haver um apoio diferente no caso de ausência das atletas… principalmente em ausências prolongadas… podendo existir um apoio posterior como compensação da matéria desenvolvida durante esse tempo.” (Atl8)

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“- Poderia… também, haver um facilitismo maior na entrega de trabalhos, visto que o tempo que temos não é o mesmo que um estudante normal.” (Atl8)

“- Na minha opinião, as escolas poderiam ajudar os atletas com a criação de apoios só para atletas.” (Atl9)

“- Devia de haver uma maior atenção ao serem feitos os horários … e devia de haver uma maior flexibilidade e compreensão pela parte dos professores para o caso de ser necessário alguma alteração de data de frequência ou exame.” (Atl10)

Uma atleta também propôs a existência de uma parceria entre a FPB e a(s) Universidade(s).

“- Pois, eu acho que se calhar devia de haver uma parceria entre a Universidade e alguém da Federação que se responsabilizasse por isso…principalmente as atletas que frequentam a seleção nacional.” (Atl1)

Neste contexto, duas atletas sugerem que as Universidades sejam informadas pelas Federações sobre os alunos que são praticantes de desporto de alto rendimento.

“- As Universidades deviam estar informadas sobre os alunos que são de alta competição…ter um acordo com as várias federações.” (Atl7)

Uma das atletas propôs uma alteração de fundo ao modelo competitivo português, colocando o alto rendimento desportivo e a competição desportiva, até mais ou menos vinte e dois anos, no âmbito do desporto universitário, dando como exemplo o modelo vigente nos Estados Unidos da América.

“- Mas o que eu gostava realmente de ver era uma grande mudança nas Universidades, uma que permitisse conciliar desporto e escola como um, tal como acontece nos Estados Unidos…os horários de treinos e de aulas estão feitos para que se enquadrem perfeitamente…” (Atl6)

“- Isto seria quase impossível de implementar cá, pois a alta competição em Portugal dá-se… ou a nível de seleções nacionais ou de um número mínimo de clubes, e não à imagem dos Estados Unidos, onde se compete pela Faculdade… sendo essa liga uma das mais competitivas do mundo para a faixa etária que compreende.” (Atl6)

Segundo Pérez & Aguillar (2012), muitos jovens com excelentes condições para a prática desportiva e que consideram importante a formação académica para o seu futuro profissional optaram por emigrar para países como os Estados Unidos para poderem harmonizar estudos e desporto, e assim, continuarem a sua formação enquanto treinam e competem ao mais alto nível.

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Em Portugal, são conhecidos alguns casos de jovens atletas que optaram por ir para os Estados Unidos para continuar a evoluir nas suas carreiras. Acreditamos que, provavelmente, as que deram verdadeira prioridade à prática desportiva já interromperam os estudos ou foram para Estados Unidos, onde a articulação entre estudos e prática desportiva de alto rendimento está mais bem organizada, está regulada para ser possível dentro de um nível alto de exigência, na procura da excelência.

Ter conhecimento destas situações que ocorreram com atletas que fizeram um percurso semelhante às deste estudo pode levar ao “sonho” de também querer emigrar ou, como aconteceu, de gostar da ideia de alterar o modelo competitivo vigente no nosso país. Os Estados Unidos continua a ser o paradigma da articulação entre estudos e desporto de competição para os nossos jovens atletas.

Neste contexto, Marques (1999, p.153) refere que “os programas desportivos de alguns países têm vindo a desenvolver modelos de organização pedagógica baseados em parcerias com escolas, sendo que escolas, clubes e federações, assumem compromissos bem definidos nesses programas”.

Ao nível do ensino secundário, estes programas, com mais ou menos sucesso, têm vindo a ser implantados nas diferentes modalidades desportivas. No ensino superior, até porque o nível de exigência é maior, é urgente conseguir operar algumas mudanças estruturantes e estabelecer as sinergias necessárias para articular a formação desportiva com a formação académica. A melhoria na comunicação entre a FPB e as Universidades, como foi sugerido por algumas atletas, é uma das muitas coisas - simples- que se podem realizar tendentes a melhorar a vida dos estudantes-atleta.

Brettschneider (1999) refere que os jovens atletas são capazes de suportar a enorme pressão decorrente da conciliação desporto-escola, se forem disponibilizados os recursos e se forem potencializados os respetivos apoios. É fundamental permitir que os jovens atletas adquiram habilitações académicas sem terem de negligenciar os seus compromissos com o desporto de alto rendimento. Esta deve ser uma das tarefas mais importantes para aqueles que se sentem responsáveis pelo desenvolvimento dos jovens.

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