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7 Apresentação e Discussão dos Resultados

7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal

7.1.1.1 Experiência Desportiva

Esta componente agrupa quatro categorias.

A primeira categoria diz respeito à Influência do CNT e do CAR no rendimento desportivo das atletas. Nesta categoria tentámos perceber qual foi o papel dos centros de treino no crescimento delas enquanto atletas de alto rendimento. Tendo as participantes neste estudo frequentado, durante o ensino secundário, os dois centros de treino da FPB, importava aquilatar que peso atribuíam elas à formação que lá usufruíram na consecução dos seus objetivos desportivos.

Durante as entrevistas entendemos a relevância que todas as atletas atribuem aos centros de treino na sua formação desportiva. Todas classificaram a experiência como decisiva e muito importante no seu crescimento como jogadoras de basquetebol. Responsabilizam a vivência em Centro de Alto Rendimento pela performance que hoje apresentam e pela atitude que têm para com a prática desportiva.

“- É assim, eu costumo dizer que só jogo Basket hoje porque fui para o Centro de Treino.” (Atl1)

“- Sim, ao frequentar os centros de treino notou-se uma melhoria clara na minha evolução enquanto atleta, para além de… ganhar maturidade na maneira como jogo, também evolui muito a nível técnico e ganhei espírito de sacrifício.” (Atl4)

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“- A nível desportivo não podia esperar melhores condições e apoio por parte de toda a equipa técnica. O nosso rendimento enquanto atletas melhorou com a nossa presença em CNT e CAR.” (Atl5) “- Relativamente ao rendimento desportivo, não há qualquer dúvida – sem a influência do CNT não seria nem metade da jogadora que sou hoje.” (Atl6)

“- No CNT…treina-se com mais qualidade a todos os níveis: fisicamente …o treino é muito mais intenso que em qualquer outro lugar no país… tática e tecnicamente… havia uma maior evolução nas duas vertentes por parte das todas as jogadoras.” (Atl6)

“- A nível de rendimento desportivo senti que foi bastante positivo para a minha carreira, aprendi bastante nos centros de treino e encontrei treinadores espetaculares.” (Atl8)

“- A nível desportivo…o meu rendimento foi aumentando a cada dia, inclusive quando, ao fim de semana vinha treinar no Clube… as minhas colegas de equipa notavam diferenças em mim.” (Atl9)

“- A influência que teve em mim… desportivamente… foi muito positiva, mudou por completo toda a minha postura em relação ao basquetebol.” (Atl10)

Uma das dez atletas fez ainda referência que não teria aceitado ir para o CNT caso as condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento na altura fossem iguais às presentemente vigentes. Entendemos dar relevância a este ponto de vista, porque este sentimento de desagrado para com as condições de acesso ao Estatuto de Atleta de Alto Rendimento é transversal a todas as atletas e, eventualmente reflete algum desajuste do regulamento à realidade do basquetebol português.

“- Se fosse hoje, com “as novas regras”, não voltaria a aceitar esta aventura. Por mais enriquecedor que tenha sido desportivamente”. (Atl10)

A segunda categoria especifica os objetivos desportivos que as atletas apontaram querer atingir a curto prazo. Todas as entrevistadas, neste momento, competem no Campeonato Nacional da Liga Feminina de Basquetebol e representam com regularidade as seleções nacionais. Constata-se assim, que nesta conjuntura seis das atletas apresentam objetivos claros dentro destas duas áreas de ação, com diferentes graus de ambição. As outras quatro associam os seus objetivos à conciliação da prática desportiva de alto rendimento com os estudos.

Dentro do primeiro grupo, uma das atletas apresenta metas, a nível individual, mais ambiciosas.

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“-…quero… mais que nada, alcançar um ritmo suficientemente competitivo para que me possa destacar a nível nacional.” (Atl6) “-…fazer parte dos estágios da seleção nacional sénior e conseguir manter médias estatísticas elevadas.” (Atl6)

Três das entrevistadas colocam objetivos de conquista de títulos a nível nacional associados à sua participação na equipa.

“- É assim, gostava muito de ser campeã nacional da Liga. E ter um papel importante na equipa, ter um papel, isto é, ter minutos, sentir- me útil como atleta” (Atl1)

“- A curto prazo… gostaria de ser campeã nacional sénior.” (Atl4) “-…pretendo preparar-me o melhor possível para a próxima época e ajudar o meu clube a ganhar títulos.” (Atl8)

A fechar este primeiro grupo, duas das atletas colocam o enfoque na participação nas competições.

“- Participar no Campeonato da Europa de Sub-20 Feminino deste ano e, também no do próximo ano. Conquistar tempo de jogo na Liga.” (Atl2)

“- A curto prazo… para a época 2014/2015 o meu objetivo é conseguir dar o meu contributo em todos os jogos do campeonato da Liga Feminina… ou seja, jogar todos os jogos.” (Atl7)

O facto de todas as participantes no estudo serem alunas do ensino superior em simultâneo com a sua prática desportiva, concorre para a posição assumida pelo segundo grupo, de quatro elementos, que identificámos. Este grupo ao colocar lado-a-lado o prosseguimento de estudos com os objetivos desportivos, indicia um equilíbrio nas suas prioridades, sublinhando assim o papel importante atribuído à formação académica, nesta fase da sua formação.

“- Por enquanto é …continuar a conciliar as duas coisas, estudos e desporto.” (Atl9)

“- Presentemente… pretendo continuar a jogar basquetebol e aliar o estudo aos treinos.” (Atl10)

Verificámos que apesar das dificuldades inerentes à compatibilização dos Estudos com a prática desportiva de alto rendimento, seis das atletas manifestaram objetivos claros e ambiciosos dentro do âmbito desportivo. Também os resultados obtidos por Santos (2010), Zenha (2010) e Castro (2012) indicavam que os atletas-estudantes, a curto prazo, privilegiam os objetivos desportivos.Os nossos resultados sugerem que a maioria das atletas mantém o

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seu enfoque no rendimento desportivo, organizando a sua vida de forma a ser possível a consecução dos seus “sonhos”.

A categoria seguinte identifica os objetivos a longo prazo. À semelhança dos resultados obtidos na categoria anterior, verificámos uma prevalência do desporto nos objetivos delineados pelas atletas. Quatro das inquiridas assumem vontade em ir para o estrangeiro e, assim, poderem ser jogadoras de basquetebol profissional.

“ - …anseio sair do país em busca de melhor basquetebol, melhores condições e melhores mentalidades. Espanha ou Estados Unidos da América são os meus destinos-alvo.” (Atl3)

“- …a longo prazo gostaria de jogar no estrangeiro.” (Atl4)

“-…gostava de ir jogar para o estrangeiro, onde o basquetebol é visto como uma referência.” (Atl5)

“- …espero poder fazer parte ou dar o salto para um nível competitivo mais elevado, ou seja, ir jogar para fora de Portugal, num estatuto… profissional.” (Atl6)

Esta atleta (Atl6), para além de querer jogar no estrangeiro como profissional revela, ainda, outros objetivos de grande ambição.

“- A longo prazo ambiciono chegar ao… topo do basquetebol mundial – estar entre as melhores. Embora saiba…reconheça que é uma meta bem difícil de alcançar, assumo-a e comprometo-me com ela, trabalhando diariamente para a atingir.” (Atl6)

Uma das atletas revela que já teve o objetivo de sair do país, mantém a vontade de continuar a jogar basquetebol com elevado nível de exigência e ambiciona chegar à seleção nacional sénior.

Gostava de… de estar na seleção nacional sénior… já tive a ambição de sair do país, mas… agora já…perdi um bocado…” (Atl1)

Duas das participantes indicam que pretendem continuar a conciliar os estudos e mais tarde a atividade laboral com o desporto.

“- Longo prazo é continuar a conseguir conciliar os estudos com o Basket.” (Atl2)

Das dez atletas entrevistadas apenas duas mencionaram a possibilidade de deixarem de jogar basquetebol e uma referiu ser difícil manter o alto nível quando tiver que conciliar trabalho e desporto de competição.

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“-…longo prazo… não tenho objetivos desportivos porque já trabalho (…) e tenho receio de ter de deixar de jogar por isso mesmo. Infelizmente, em Portugal nós jogadoras de basquetebol não somos profissionais.” (Atl7)

“- Para o ano e se tudo correr como … espero… termino o meu curso e logo penso e decido o meu futuro em relação à minha carreira desportiva.” (Atl8)

“-…no futuro é continuar a jogar mas vai ser difícil manter o nível tão alto quando tiver de conciliar trabalho com desporto.” (Atl9)

Estes resultados são apoiados por Zenha (2010) e Castro (2012), que verificaram que os objetivos a longo prazo passam, maioritariamente, por jogar num campeonato mais competitivo, nomeadamente no estrangeiro. Possivelmente esta ambição, revelada por quatro das atletas que estudámos, resulta da aposta na vertente desportiva que estas atletas têm feito nestes últimos anos em simultâneo com a sua formação académica e da vontade de, num futuro próximo, poderem “capitalizar esse investimento”.Na mesma linha de pensamento, o possível abandono das duas atletas, poderá estar ligado ao esforço hercúleo que têm vindo a realizar para ser possível compatibilizar as duas vertentes, aliado à perceção de que pouco mais podem ambicionar dentro do basquetebol.

A quarta categoria incide sobre a perceção da duração da carreira. Esta categoria está estritamente ligada à anterior. Assim, oito das entrevistadas consideram que vão ter uma carreira longa, fazendo referência que pretendem continuar a jogar enquanto tiverem aptidão física para o fazer.

“- Portanto, enquanto fisicamente … me sentir apta. Acho que… que vou jogar.” (Atl1)

“- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2)

“-…desde que tenha vontade e disponibilidade física, devo … continuar a praticar esta modalidade.” (Atl10)

“- Até me sentir bem…saudável e sentir que tenho as condições necessárias para jogar em alta competição, não há uma idade definida.” (Atl5)

Deste grupo, três indicam uma idade, ou data, até qual pensam ou gostariam de jogar e uma acrescenta ao fator saúde a importância de ser viável a conciliação da carreira desportiva com os estudos, ou com o emprego.

“-…até o meu físico e o meu salário me permitirem. Portanto penso… estimo jogar em alta competição até aos meus 30, 35 anos…” (Atl3) “- Gostava de jogar até aos quarenta anos.” (Atl4)

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“-...infelizmente, as lesões que vão aparecendo ao longo das duras épocas, resultado de intenso esforço físico, vão encurtando já a curta “vida” de um atleta. Mas …ainda assim acho…que devo jogar pelo menos mais dez a quinze anos.” (Atl6)

“-…até que a saúde e estudos/trabalho o permitirem.” (Atl9)

Assim, só duas consideram colocar um fim prematuro à sua carreira desportiva para dar prioridade à sua atividade profissional.

“-…até aos meus 25 anos, se conseguir conciliar com o meu trabalho profissional.” (Atl7)

“- Depois de terminar o curso pretendo trabalhar e tirar mestrado…simultaneamente. O Basket é algo que tenho que pensar, mas que passa para um plano secundário.” (Atl8)

Porventura, os resultados apresentados devem-se aos objetivos que as atletas afirmam ter ao nível desportivo e correspondem ao investimento que já fizeram na sua carreira desportiva.

No nosso entender é de relevar a vontade das atletas que participaram no estudo em ter uma carreira desportiva longa dentro do basquetebol. Tendo começado a competir ao mais alto nível tão cedo, algumas aos dezasseis anos, podia ser expectável que apresentassem, neste momento, alguma saturação. O elevado grau de exigência inerente à prática do desporto de competição e as privações que desde cedo tiveram na sua vida familiar e social, podia levar a que tivessem perspetivas de abandono da carreira desportiva a curto prazo. O desejo expresso pela maioria em continuar a jogar por muitos anos revela o compromisso e a ambição que têm e denuncia um enorme gosto pela modalidade: “- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2)

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