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7 Apresentação e Discussão dos Resultados

7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal

7.1.1.2 Experiência Académica

Esta componente diz respeito à experiência académica das atletas e reúne 3 categorias.

Na primeira categoria identificamos a influência do CNT e do CAR no rendimento escolar das atletas durante o ensino secundário. Tendo em conta as opiniões expressadas pelas atletas, constatamos existirem opiniões muito diferentes sobre o papel que os centros de treino tiveram na sua formação académica.

Quatro atletas referiram que a influência no aproveitamento escolar foi negativa.

Paulo Carlos Ferreira da Silva Página79

“- …a nível escolar já não posso dizer o mesmo… torna-se bastante difícil conciliar ambos e muitas vezes damos a indevida atenção à escola, deixando-a para segundo plano.” (Atl5)

“- Sim... A nível académico tive que duplicar o meu esforço para alcançar os meus objetivos, pois o tempo era menos e o cansaço era maior.” (Atl8)

“-…sempre que fazemos duas coisas ao mesmo tempo há sempre uma que não corre tão bem, foi o que aconteceu com os estudos, as notas não eram más mas também não eram das melhores.” (Atl9) “- A nível escolar… a influência foi marcante, na medida em que o tempo para me dedicar à escola era menor, a fadiga física e psicológica também se fazia sentir nas aulas, e tive que colmatar esse impacto negativo com mais organização e mais empenho nas alturas habituais de descanso, como ao fim de semana.” (Atl10)

Encontramos, por outo lado, três atletas que manifestaram que a experiência vivida nos centros de treino foi muito importante na promoção do seu sucesso escolar.

“- Eu digo isto muitas vezes que eu entrando no CNT, tive uma preparação para a vida… tive que cumprir regras, tive que ser organizada, responsável e isso introduz-se na minha vida académica, mesmo na minha vida.” (Atl1)

Duas indicaram que o rendimento escolar ficou dentro das capacidades delas.

“- A nível escolar, o rendimento ficou dentro das minhas capacidades mas poderia ter sido melhor se tivesse tido mais apoio por parte das entidades competentes, no entanto aprendi a ser mais organizada com… o meu tempo e a aplicar-me mais para manter as notas.” (Atl4) “- Em relação à escola penso que tive o mesmo rendimento, sempre fui uma aluna com notas medianas. Não influenciou… muito na escola porque sempre tive o objetivo de estudar e acabar os estudos.” (Atl7)

Uma atleta assumiu que o seu aproveitamento escolar foi pior por culpa própria, embora em ambiente de Centro de Alto Rendimento.

“- Na verdade, desci as notas num ano, por falta de estudo sim, mas por culpa própria e não por não ter absolutamente… tempo para estudar.” (Atl6)

Tal indicação vai em sentido contrário ao que aconteceu em relação ao desenvolvimento desportivo, em que as atletas foram unanimes em reconhecer a importância da influência do CNT e do CAR no seu rendimento, classificando a experiência como decisiva no seu crescimento como jogadoras de basquetebol.

Paulo Carlos Ferreira da Silva Página80

díspares. Este resultado impõe alguma estranheza dado que o primeiro objetivo destes projetos é a compatibilização do rendimento académico com o desportivo. Castro (2012) aportava no estudo que realizou com doze atletas de centro de alto rendimento, que a atividade desportiva de alto rendimento, bem supervisionada, tem influência positiva na formação escolar. Fundamentou este seu parecer, na opinião das atletas que defendiam que tinham melhor aproveitamento escolar por estarem inseridas num projeto com as características do CAR. Os resultados que obtivemos no nosso estudo, possivelmente, são o reflexo da saturação que as atletas presentemente apresentam, depois de muitos anos a viver a exigência inerente à conciliação da prática desportiva com a formação académica.

A segunda categoria corresponde à influência que o desporto teve na escolha do curso universitário. As respostas são muito claras, sete das atletas analisadas indicaram que o desporto que praticam não teve qualquer influência na hora de escolher o curso universitário.

“- … mas o Curso não teve nada a ver com a vertente desportiva.” (Atl2)

“- Foi a minha primeira opção … curiosamente, não há qualquer tipo de relação entre o desporto que pratico e a escolha do meu curso.” (Atl3)

“- Sim, foi a minha primeira escolha, e estranhamente… diriam alguns, não tem nada que ver com desporto.” (Atl6)

“- Sim eu sempre quis tirar Gestão de Recursos Humanos, foi a minha primeira escolha e não tem nada a ver com… desporto.” (Atl7)

“- Estou no Curso que queria e foi a minha primeira opção quando me candidatei ao ensino superior. A escolha nada teve a ver com o Basket.” (Atl8)

Das restantes três atletas houve uma que escolheu um curso ligado à prática desportiva e que, mais tarde, pretende profissionalmente exercer uma atividade relacionada com o treino de atletas de alto rendimento. Outra está a estudar fisioterapia e que pretende vir a exercer a sua profissão na área desportiva.

“- Sim, sempre quis o curso de Fisioterapia e além disso este curso tem tudo a ver com desporto.” (Atl9)

E uma última que entrou numa segunda opção e pretende vir a tirar um curso relacionado com o Desporto.

Paulo Carlos Ferreira da Silva Página81

“- Não… Apercebi-me ao longo deste ano que não estava no Curso que queria, fui para este Curso um pouco perdida, visto que não tinha possibilidades de me inscrever no Curso que tinha em mente, relacionado com o desporto.” (Atl10)

No mesmo sentido, Zenha (2010) e Castro (2012) aludem que o desporto não exerce qualquer influência na escolha do curso. Pérez & Aguillar (2012) concluíram que a eleição da área de estudos, feita pelos atletas de alto rendimento, não está relacionada com o desporto que praticam. Estes resultados vêm de encontro aos obtidos por nós, onde a maioria das atletas escolheu áreas nada relacionadas com o desporto, onde só uma se encontra a estudar diretamente na área desportiva. Sendo, assim, torna-se evidente a ausência de influência (positiva ou negativa) do desporto na escolha do curso universitário, mesmo para atletas de alta competição. Várias razões podiam, porventura, ser avançadas para explicar esta situação. Parece-nos, no entanto, que a principal razão poderá estar relacionada com o facto de as atletas gostarem, essencialmente, é de jogar basquetebol e não do treino, do ensino, da gestão ou de estudar qualquer outro assunto relacionado com o fenómeno desportivo.

Em relação à terceira categoria, influência do desporto na escolha da universidade, podemos considerar que das dez atletas que pesquisámos sete afirmaram que tinham escolhido a universidade mais perto do clube onde já jogavam ou iam jogar nessa época.

-…Porque são as mais perto de onde eu moro e, também, estando a jogar no Vagos, era juntar as duas coisas.” (Atl1)

“- Eu quando me candidatei à Universidade… tinha recebido o convite do Olivais, por isso candidatei-me à Universidade de Coimbra.” (Atl2) “- Era a que ficava mais perto do meu local de residência, muito perto da minha casa e do Clube onde jogo.” (Atl4)

“- Escolhi por ser a Faculdade mais próxima da minha residência… ou seja, como estava a jogar Basket no Barreiro e… a viver no Barreiro, escolhi Setúbal para estudar.” (Atl7)

“- Outro motivo é o facto de jogar no Vagos, o que acaba por ser perto… é a Universidade que fica mais perto.” (Atl8)

As restantes atletas referiram que a escolha da universidade não esteve relacionada com o desporto que praticam, ou com o clube onde jogam.

“- Eu quis ficar na escola com melhor reputação, com mais prestígio, porque seria, em princípio, a escola onde a educação seria mais exigente.” (Atl6)

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“- Penso que a única razão… relacionava-se com o facto de ser em Coimbra, local onde a minha irmã mais velha se encontra a trabalhar.” (Atl10)

“- Só pude concorrer à segunda chamada… mas ai …as médias subiram e como esta Universidade tinha boas referências optei por ela.”

Estes resultados indicam que no momento da escolha da universidade a maioria das atletas tenta conciliar a formação académica com a prática desportiva. Convém sublinhar que, no nosso estudo, o que as levou a optar por determinada universidade não foi o apoio que o estabelecimento de ensino presta aos atletas de alto rendimento, não foi o seu projeto educativo, mas a proximidade em relação ao clube onde elas se encontravam a jogar ou para o qual tinham sido convidadas. Estes dados poderão levar-nos a pensar que as universidades que conseguirem congregar diferentes valências: apoios ao atleta de alto rendimento; projeto educativo e a competição desportiva, dentro da sua orgânica ou através de parcerias, poderão vir a ter sucesso na captação de alunos- atletas internacionais.

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