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Articulação entre formação académica e desporto de alto rendimento: estudo realizado com atletas de basquetebol

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Academic year: 2021

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Articulação Entre Formação Académica e Desporto

de Alto Rendimento

Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol

Dissertação de Mestrado em

Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário

PAULO CARLOS FERREIRA DA SILVA

Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

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Articulação Entre Formação Académica e Desporto

de Alto Rendimento

Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol

Dissertação de Mestrado em

Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário

Paulo Carlos Ferreira da Silva

Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaI

Dissertação apresentada à UTAD, no DEP- ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2º Ciclos de Estudos de Estudo em Ensino da UTAD, sob orientação do Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira.

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaIII

Agradecimentos

Para a consecução deste trabalho de investigação foi determinante

o apoio de um conjunto de pessoas às quais gostaria de agradecer e

demonstrar o meu apreço.

Agradeço à minha família pela compreensão que tiveram e pelas

palavras de incentivo.

À minha mulher, Paula, e ao meu filho, Bernardo, por estarem

sempre presentes e serem a minha fonte de motivação.

Aos meus amigos pelo carinho, apoio e solidariedade que me

dedicaram.

Aos meus colegas, Mário Castro, Jorge Arede e Luís Oliveira pela

colaboração na realização deste trabalho.

Aos clubes onde treinei, ao Colégio onde ensino, por contribuírem

em muito para aquilo que sou hoje.

Às atletas, treinadores e selecionadores que possibilitaram a

execução deste trabalho, que por razões de sigilo mantenho em

anonimato, que partilharam as suas experiências, os seus conhecimentos

e objetivos.

Um agradecimento especial:

Ao Professor Doutor Antonino Pereira pela valiosa orientação deste

estudo. Agradeço a sua dedicação, interesse, paciência e total

disponibilidade, sem a qual não teria sido possível a realização do

mesmo.

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaV

Resumo

Conhecendo a exigência intrínseca à prática de desporto de alto rendimento e à formação académica, importa investigar quais as principais contingências que decorrem do seu exercício em simultâneo.

Este trabalho de investigação pretendeu aquilatar junto das alunas-atletas quais as dificuldades que estas vivenciam no seu dia-a-dia, que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação académica com a prática de desporto de alto rendimento.

O presente estudo teve o seu enfoque em dez atletas em percurso de alto rendimento, do género feminino, com presença regular nas seleções nacionais de basquetebol. As referidas atletas, durante o ensino secundário, frequentaram os Centros de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Basquetebol e, neste momento, são simultaneamente estudantes do ensino superior e jogadoras da Liga Feminina. As suas idades estão compreendidas entre os 18 e os 23 anos.

O estudo desenvolvido é de carater qualitativo, sendo a recolha de dados efetuada através de entrevistas semiestruturadas. A técnica de análise de dados utilizada foi a análise de conteúdo.

As principais conclusões mostram que: i) a frequência durante o ensino secundário de um Centro de Alto Rendimento foi crucial para a sua formação e performance desportiva; ii) as medidas de apoio mais usadas durante o ensino secundário foram a justificação de faltas, a alteração de exames e as aulas de compensação; iii) as maiores dificuldades de conciliação do desporto de alto rendimento e a formação académica foram a falta de tempo, o cansaço, a fadiga e o desgaste provocado pelas deslocações diárias; iv) consideram que seriam melhores atletas se não estudassem; v) as principais medidas de apoio solicitadas para o ensino superior foram: alteração dos critérios de atribuição do Estatuto de Atleta de Alto Rendimento, melhoria da comunicação entre a federação e a universidade e introdução nas universidades de regimes de tutoria; vi) elaboram estratégias de articulação dos estudos com o desporto focadas, principalmente, na resolução nos problemas do dia-a-dia e vii) avaliam a conciliação do desporto de alto rendimento com a formação académica como possível.

Palavras-chave: Formação académica, alto rendimento, articulação, medidas de

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaVII

Abstract

Being aware of the demands of high performance sports and academic education at the same time, it’s essential to address the main contingencies derived from doing both simultaneously.

The objective of this research was to determine the difficulties that these students-athletes face on a day-to-day basis, how they cope and what strategies they use to successfully juggle their classes with the practice of a high performance sport.

This study was focused on ten high performance athletes, all females, who are regularly called upon to represent the national basketball teams. During high-school, these athletes attended Portuguese Basketball Federation’s High Performance Centres and, at the moment, are, simultaneously, university students and basketball players in the Women’s League (Liga Feminina). Their ages range from 18 to 23 years old.

This is a qualitative study and the data were gathered through semi structured interviews. The data analysis technique used was content analysis.

The main conclusions are: i) attending a High Performance Centre during high-school was essential to their sport performance; ii) the strategies more commonly used during high-school were justification of their absence from classes, postponing exams and make-up classes; iii) the biggest problems in juggling the high performance sport with high-school were lack of time, fatigue, tiredness and weariness from the daily travels; iv) they think they would be better athletes if they didn’t have to attend classes; v) the main support measures requested for them to attend University were: changing the criteria for the Legal Status as High Performance Athlete (Estatuto de Atleta de Alto Rendimento), improving the communication between the Federation and the University and having tutorial systems in the University; vi) they create strategies to juggle their academic education with practicing the sport which mainly focused in day-to-day problems, and vii) they consider that it is possible to practice a high performance sport and study at the same time.

Keywords: Academic education, high performance, juggling, institutional support

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaIX

Índice Geral

Agradecimentos ……….. III

Resumo ……….... V

Abstract ……….... VII

Índice Geral ………. IX

Índice de Quadros ……….. XI

Índice de Figuras ……… XIII

Índice de Anexos ……… XV

Abreviaturas ………..

XVII

1

Introdução ………. 1

2

Desporto ……… 7

2.1

Conceitos ……… 8

2.2 A Dimensão Social do Desporto ……….… 11

3

Alto Rendimento Desportivo ……… 15

3.1 Conceitos de Desporto de Alto Rendimento ……… 16

3.2 Enquadramento Normativo ………. 18

3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto

Rendimento ………..

23

3.4 Medidas de Apoio à Prática Desportiva de Alto

Rendimento ………

29

4

Alto Rendimento e Sucesso Escolar ………. 33

4.1 Articulação entre Alto Rendimento e Sucesso Escolar... 34

(12)

Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaX

6

Metodologia ……….. 55

6.1

Introdução.………..……… 56

6.2

Campo de Estudo ………. 57

6.3

Instrumento de Pesquisa ………. 61

6.4

Procedimentos ……….. 63

6.5 Técnica de Tratamento de Dados ……….. 64

7

Apresentação e Discussão dos Resultados ……… 71

7.1

Introdução ………….………. 72

7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal ……… 73

7.1.1.1

Experiência Desportiva …….………. 73

7.1.1.2

Experiência Académica …….……… 78

7.1.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho ……….. 82

7.1.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades ……… 85

A – No Ensino Secundário

7.1.2.1

Usufruto de Medidas de Apoio ………. 85

B – No Ensino Superior

7.1.2.2 Principais Dificuldades ………... 88

7.1.2.3 Usufruto de Medidas de Apoio …….……… 91

7.1.2.4 Alterações de Comportamento na Escola …….. 92

7.1.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades.. 94

7.1.3.1 Apoios ……….. 94

7.1.3.2 Perceção da Articulação …….……….. 99

7.1.3.3

Condicionamento do Alto Rendimento ………... 108

8

Conclusões ………... 113

9

Bibliografia ……… 123

10

Anexos ………... XIX

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaXI

Índice de Quadros

Quadro 1 – Caracterização Geral das Atletas ……… 58

Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva das Atletas …….. 59

Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva das Atletas… 60

Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica das Atletas …. 61

Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes ……….……… 72

Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaXIII

Índice de Figuras

Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal ……….. 66

Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Secundário 67

Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior … 68

Figura 4 – Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades ……... 69

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaXV

Índice de Anexos

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaXVII

Abreviaturas

Atl – Atleta

CNT – Centro Nacional de Treino

CAR – Centro de Alto Rendimento

FPB – Federação Portuguesa de Basquetebol

IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude

LBD – Lei de Bases do Desporto

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Paulo Carlos Ferreira da Silva PáginaXVIII

Os pássaros

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página1

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página2

1 Introdução

“A excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades” (Maia, 2010, p.2).

Coelho (2007, p.243) afirma que, para se atingirem resultados de exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento”

Neste sentido, Vasconcelos (2003, p.8) declara “não haver dúvidas quanto à incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta competição e a formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”.

Reforçando esta ideia, Lima (2002, p.12) expressa que para se poder ser atleta de alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela subsistência económica, assim como na sua vida familiar”.

“As exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criam-lhes diversas dificuldades, sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades educativas e a prática desportiva” (Zenha et al., 2009, p.1).

Neste sentido o que pretendemos aquilatar é qual a relação existente entre rendimento escolar e o rendimento desportivo. Numa relação dialética que tipos de influência estabelecem entre si. Quais os aspetos positivos e negativos que podemos retirar duma vivência em simultâneo de duas atividades tão exigentes.

Dias (2013, p.56) alude que “o sucesso desportivo e sucesso escolar possuem um caráter ambivalente, que marca presença na maioria das vezes, ao longo do trajeto desportivo dos atletas de alta competição, pois a prática da modalidade inicia-se em idades jovens e abrange a idade escolar.”

Neste contexto, Pérez & Aguilar (2012, p.203) atestam que “ao esforço que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página3

formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade desportiva, o que compromete as possibilidades de obterem um rendimento académico excelente.”

Todas as contingências enunciadas tomam uma dimensão de exigência mais elevada quando os alunos-atletas se encontram a frequentar o ensino superior.

Sobre este assunto, Vasconcelos (2003, p.9) menciona que “continuamos a assistir a abandonos precoces, precisamente nos períodos críticos de uma carreira desportiva, ou seja, no início da fase da obtenção dos grandes resultados de expressão internacional, que acabam por coincidir com a transição para o ensino superior, com os prejuízos de vária ordem daí decorrentes.”

“Compatibilizar estas duas atividades, contudo, não é uma tarefa fácil devido ao alto grau de exigência que para estes estudantes implica competir ao mais alto nível e, ainda, cumprir com as exigências do ensino universitário” (Pérez & Aguilar, 2012, p.202).

Ruiz et al. (2008) afirmam que existe uma correlação negativa entre os estudos e o rendimento desportivo, dado que o processo formativo dificulta de forma significativa a prática desportiva.

Pérez & Aguilar (2012) relevam que a vida de desportista de alto rendimento é curta e são poucos os que, depois de se retirarem de competição, conseguem manter atividades profissionais ligadas ao desporto. Daí a importância de ajudar os estudantes desportistas de alto nível a definir, de forma progressiva e continua, um projeto de vida onde seja possível compatibilizar a atividade desportiva e a formação académica. O desenvolvimento desse plano permitiria que, no fim da prática desportiva ativa, cada um pudesse progredir no campo profissional para o qual se tivesse preparado.

Neste sentido, Vilanova & Puig (2013, p.65) afirmam “que a compaginação da carreira desportiva com a carreira académica é uma questão de estratégia. Se se desenvolve uma estratégia é possível compaginar os estudos com o desporto; se não, a conciliação não é possível.”

Assim, Pérez & Aguilar (2012, p.211) afirmam que “a melhoria dos processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por todos”. Defendem que estas alterações devem começar “pela instituição universitária, que tem de agir de forma determinada a favor da igualdade de

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página4

oportunidades, aprovando normativos e ações específicas para estes estudantes”. Passando depois para “os orientadores, professores e tutores, que devem facilitar o acesso à informação, adaptar o ensino à realidade de cada aluno e disponibilizar os recursos necessários para compensar as dificuldades que decorrem desta vida dupla.” Acrescentam ainda que “ a desatenção perante estas situações pode influenciar a consecução dos objetivos pessoais dos alunos e conduzir a situações de fracasso ou abandono dos estudos ou do desporto”.

É neste contexto que projetos universitários sensíveis a esta temática assumem grande importância na implementação de mudanças, na disponibilização de recursos que promovam uma melhor coabitação entre as exigências do estudo com as do desporto.

“O estudo e o desporto complementam-se e potencializam-se

reciprocamente na formação do indivíduo. A prática desportiva de alto rendimento constitui um importante fator de desenvolvimento desportivo. Com efeito, é incontroverso que o alto rendimento desportivo, como paradigma da excelência da prática desportiva, fomenta a sua generalização, mesmo enquanto atividade de recreação, e particularmente entre a juventude. Por outro lado, o desenvolvimento da sociedade não pode ignorar a atividade desportiva que é cada vez mais um fator cultural indispensável na formação integral da pessoa humana. Daí que a prática desportiva de alto rendimento deva ser objeto de medidas de apoio específicas, em virtude das particulares exigências de preparação dos respetivos praticantes” (Universidade do Minho, 2005).

O desporto mudou e se quisermos competir a nível internacional com os outros países, temos de encontrar mais tempo para os nossos jovens poderem treinar, seja através da modificação dos horários escolares, seja com a criação de escolas especializadas em desporto, facilitando a entrada em universidades, desenvolvendo academias de treino tanto regionais como nacionais (Campbell, 1998).

Percorrendo os estudos que se têm realizado no âmbito da relação existente entre a formação académica e a prática desportiva de alto rendimento, encontramos diferentes perspetivas de abordagem a esta temática. O nosso trabalho de investigação pretende entender melhor a simbiose existente entre estas duas atividades no nosso país. Tem o intuito de perceber a complexidade desta vivência em comum, a compreensão do que é exigido ao aluno-atleta na consecução do seu projeto de vida e, ainda, apontar itinerários catalisadores

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página5

deste processo de formação, com o objetivo de promover a obtenção do sucesso (possível) tanto na escola como no desporto.

Reforçando a pertinência do nosso estudo, vários autores (Lavallee, 2000; Pallarés, et al., 2011) “creem ser necessário continuar a investigar as transições que enfrentam os desportistas incorporando a análise das estratégias já que são um aporte para aprofundar a compreensão multidimensional destas. Assim, contribuir-se-á para a melhoria do bem-estar global do desportista” (Vilanova & Puig, 2013, p.66).

De acordo com Zenha et al. (2009) a possibilidade de obtenção de um Estatuto de Atleta de Alto Rendimento não resolve as dificuldades inerentes a esta “vida-dupla” de desportistas e, na maior parte dos casos, de estudante. Reconhece-se, assim, que um praticante desportivo, para se “transformar” num atleta de alto rendimento, deve ser integrado num processo de treino e de prestações competitivas que nem sempre é compatível com as atividades educativas e sociais próprias do cidadão comum.

É nesta dimensão que pretendemos realizar o nosso estudo. Trabalhar com um grupo de atletas em percurso de alto rendimento, com presença regular nas seleções nacionais, estudantes do ensino superior e a competir na Liga Feminina de Basquetebol. Tentar perceber quais as dificuldades que vivenciam, que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. De uma forma mais específica os objetivos da investigação são:

1. identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento durante o ensino secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e desportivo;

2. identificar os constrangimentos que vivem os alunos praticantes de desporto de alto rendimento na sua adaptação e integração ao ensino superior;

3. identificar que apoios e que recursos consideram os alunos do ensino superior praticantes de desporto de alto rendimento fundamentais para articular a formação académica com a prática desportiva;

4. perceber se os desportistas de alto rendimento desenvolvem estratégias para compatibilizar a formação académica e prática desportiva de alto nível.

Considera-se que o conjunto das ilações que sobrevenham deste trabalho de investigação possa ser um contributo importante para uma melhor compreensão das contingências vividas pelos jovens estudantes.

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página6

A primeira parte deste trabalho é de natureza concetual e teórica, efetuando-se uma revisão de literatura sobre o Desporto, o Alto Rendimento Desportivo, seu Enquadramento Normativo, as Medidas de Apoio existentes e, por fim, a Conciliação do Desporto de Alto Rendimento com o Sucesso Escolar.

Na parte experimental encontra-se a metodologia utilizada, a apresentação e discussão dos resultados, assim como as conclusões a retirar do estudo e respetivos contributos para a construção de futuras medidas de apoio a implementar.

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página7

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página8

2 Desporto

2.1 Conceitos

De acordo com Carvalho (2000, p.17), “o desporto transformou-se num fenómeno cultural à escala planetária”.

“Há mais de dois mil anos que os gregos o inventaram. À luz de princípios, valores e finalidades de divinização do homem e de humanização da vida. E em nome de uma política e de uma ideologia da harmonia do corpo e da alma. Era uma prática e um símbolo de homens livres, que através dela se transcendiam e visavam o sonho de dobrar o portal de entrada no Olimpo” (Bento, 2004, p.25).

Presentemente, o desporto tem um lugar de relevo na vida de qualquer comunidade. Praticado por uma reduzida minoria há uma geração atrás, é, nos dias de hoje, uma atividade pretendida por todas as classes sociais (Carvalho, 1994).

Sendo evidente o impacto que o desporto tem na sociedade atual, quando tentamos descobrir um conceito comum, confrontamo-nos com uma pluralidade de definições muitas vezes contraditórias entre si. Assim, é nosso objetivo elencar e analisar diversas definições de desporto, para perceber a sua evolução e as perspetivas dadas pelos diferentes autores.

Começamos pela definição de Pierre de Coubertin (1934) onde o autor descreve desporto como “um culto voluntário e habitual do exercício muscular intenso suscitado pelo desejo do progresso e não hesitando em ir até ao risco”. (Coubertin, 1934)

Para Hébert (1946, p.7), “desporto é todo o género de exercícios ou de atividades físicas tendo como meta a realização de uma performance e cuja execução repousa essencialmente sobre um elemento definido: uma distância, um tempo, um obstáculo, uma dificuldade material, um perigo, um animal, um adversário e, por extensão, o próprio desportista”.

Mais tarde Gillet (1949, citado por Pires, 2007, p.115) define desporto como uma “atividade física intensa, submetida a regras precisas e preparada por um treino físico metódico”.

Magname (1964, p.81) afirma que o “desporto é uma atividade de lazer cuja dominante é o esforço físico, praticada por alternativa ao jogo e ao trabalho,

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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página9

de uma forma competitiva, comportando regras e instituições específicas, e suscetível de se transformar em atividades profissionais".

Bouet (1968) define desporto como uma procura competitiva, e associa à competição e à performance, a necessidade de competir intencionalmente, enfrentando as dificuldades. O autor refere ainda que é necessário investir energia para se alcançar o melhor desempenho.

Mais tarde, Brohm (1978, p.45) descreve o desporto como “um sistema institucionalizado de práticas competitivas predominantemente físicas, delineadas, codificadas, e estabelecidas convencionalmente, cujo objetivo é basicamente comparar performances, execuções, demonstrações de desempenho físico, para designar o melhor concorrente (o campeão) ou registrar o melhor desempenho (record). O desporto é um sistema de competições físicas generalizadas, universais e em princípio, abertas a todos”.

Parlebas (1981) entende o desporto como um evento que compreende diversas atividades, todas elas sujeitas a regras rígidas, códigos precisos, estruturas análogas e dinâmicas organizadas de forma universal, independentemente da situação ou do espaço geográfico em que se realizam.

Em 1988, Pires fez uma síntese das diferentes abordagens realizadas ao conceito de desporto. Seguindo uma perspetiva multidimensional e dinâmica das definições apresentadas pelos diversos autores, identificou a presença de quatro elementos: jogo; movimento; agonística; instituição. Cada um com as suas componentes. Aos quais acrescenta um quinto elemento: o projeto. Também este composto por vários elementos, designadamente: objetivos, estratégias, programas, execução e correções. Assim, o referido autor procurou acrescentar aquilo que ele considerava estar em falta, transformar o desporto numa atividade em constante evolução. Este modelo defende que cada elemento apresentado tem o seu peso, sublinhando ser importante que todos interajam de acordo com os objetivos, as metodologias e os destinatários a considerar. Pois, “só assim o desporto está ao serviço das pessoas e não estas ao serviço do desporto” (Pires, 1994, p.60).

Na Carta Europeia do Desporto (1992, p.3), podemos encontrar o conceito de desporto definido como “todas as formas de atividades físicas que, através de uma participação organizada ou não, têm por objetivo a expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis”.

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Neto (1994) refere que o desporto é uma atividade que nos seus pressupostos deve contemplar a promoção dos valores humanos, os princípios de solidariedade e a cooperação social e cultural entre os seus intervenientes.

Em 1998, Lima menciona a importância do desporto como uma forma de compensação social para além dos ganhos no âmbito da saúde e bem-estar, uma vez que sublinha que a sua prática possibilita ao indivíduo a melhoria da sua autoestima através da afirmação da sua personalidade e da sua corporalidade.

Para Calvo (2001) o desporto assume-se como uma forma de ocupar o tempo livre, oferecendo a quem o pratica uma fuga ao stress do dia-a-dia, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida.

Fica, assim, tangível a dimensão do fenómeno desportivo. Torna-se evidente que este não se encerra numa vertente somente competitiva, pois apesar de esta estar sempre presente, devido à existência de adversários, de records a bater, de metas a atingir, são desenvolvidos outros valores igualmente importantes. Na Declaração de Nice (2000, p.1) podemos ver reforçada esta ideia quando, no ponto “práticas amadoras e desporto para todos”, lemos que “o desporto é uma atividade humana que assenta em valores sociais, educativos e culturais essenciais. Constitui um fator de inserção, de participação na vida social, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras”.

No Livro Branco sobre o Desporto (2007, p.6), é utilizado o conceito de “desporto” estabelecido pelo Conselho da Europa, definindo-o como “todas as formas de atividade física que, através da participação ocasional ou organizada, visam exprimir ou melhorar a condição física e o bem-estar mental, constituindo relações sociais ou obtendo resultados nas competições a todos os níveis”.

Em resumo, após fazermos referência e analisar muitos dos conceitos existentes sobre desporto, podemos concluir que na sua diversidade há denominadores-comum para todas as definições descritas, tais como: atividade física, esforço físico, competição, performance. Contudo, parece-nos importante realçar o caráter universal do desporto, o seu contributo na união dos povos, no encontro das diferentes culturas e crenças e, principalmente, o seu papel fundamental na educação integral do ser humano.

O desporto exige o esforço persistente do indivíduo em aumentar as fronteiras das suas forças, das suas capacidades e das suas habilidades. Inclui todas as emoções que são intrínsecas às situações de perigo, de experimentação, de prova, de superação, e ainda, do equilíbrio físico e psicológico. Apresenta-se, assim, como um fator determinante de educação

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corporal e de preparação do homem para a vida (Homem, 1998, citado por Moreira, 2006).

2.2 A Dimensão Social do Desporto

O desporto, como fenómeno caraterizador da estrutura social em que está inserido, acompanha e reflete as suas constantes metamorfoses. Bento (1993, p.113) afirma que “cada época tem o seu Desporto…”

As diferenças que encontramos, ao compararmos o Desporto da Antiguidade Clássica e o da Era Moderna, são um exemplo claro das transformações que se vão operando no conceito e valores do desporto em função da evolução das diferentes sociedades (Esteves, 1999). Reforçando esta ideia, Costa (1993) defende que, no desporto da antiguidade, o aspeto lúdico e o culto do corpo eram as caraterísticas mais relevantes, enquanto no desporto moderno a ideia de progresso, a orientação para a superação e a constante procura de recordes, associa o corpo a uma ideia de máquina focada no rendimento. O referido autor (1993, p.43) ao afirmar que “ a sociedade industrial é fundada sobre o tríplice princípio fundamental: eficácia, rendimento, progresso”, estende este axioma ao contexto do aparecimento do sistema desportivo moderno.

De facto, o desporto moderno encontra a sua génese associada à conjuntura existente na sociedade inglesa durante a revolução industrial. Valores que norteiam esta sociedade – eficácia, rendimento, progresso - são os que ainda hoje reconhecemos como importantes vetores do desenvolvimento do desporto (Garcia, 2002).

Este autor, em 2005, identifica, ainda, o desporto como uma instituição criada pela sociedade atual para exprimir os ideais do lúdico, do rendimento e da superação. Estando estes presentes em todos os modelos de prática desportiva.

Calvo (2001) indica que a ideia de desporto associado ao lúdico aparece desde os primeiros eventos desportivos. Quanto ao rendimento, vários autores defendem tratar-se de um ideal marcadamente ligado ao desporto e à sociedade contemporânea (Bento, 1993; Esteves 1999; Garcia, 2005).

Valores como ir mais além, ser mais rápido, ser mais forte, são desenvolvidos pelo desporto com o intuito de transmitir a grandiosidade de uma sociedade (Marquez, 1994).

Podemos afirmar que razões de ordem política, económica e cultural têm importância fulcral na transformação da realidade social do desporto. Uma

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atividade, no início ligada essencialmente ao lúdico e ao culto do corpo, evoluiu para um fenómeno onde o rendimento surge como fator fundamental.

Contudo, Constantino (1990) defende que na base de todas estas mudanças está o próprio fenómeno desportivo, principalmente na sua evolução enquanto espetáculo de massas.

Efetivamente, o desporto ao assumir-se como espetáculo, enquadra o seu desenvolvimento numa perspetiva de produto cujo objetivo principal é a satisfação dos seus consumidores. Neste contexto os atletas têm um papel fundamental na divulgação do fenómeno desportivo. A sua ação, para além de objetivos estritamente ligados ao desporto, tem uma responsabilidade acrescida na construção de uma imagem apelativa dentro dos ideais de beleza e sedução (Calvo 2001).

Para Bento (1993), o desporto cria o local e o espaço onde o corpo consubstancia uma presença intensa e arrebatadora. Onde a sua promoção eleva o espírito, corporizando valores de ordem espiritual. Deste modo, o desporto possibilita a submissão da natureza animal do Homem à espiritualidade moral, ética, cultural e estética caraterística da condição humana.

Em 2004, o mesmo autor sublinha o valor do ato desportivo na construção e revelação do ser humano. Ao considerar que este permite a mobilização e empenho da Pessoa, tal como ela é, no seu corpo e alma.

Santos (2008) releva a importância do desporto na melhoria do autoconceito e na valorização social do homem. Refere-se à aprendizagem de uma modalidade desportiva como uma das mais reveladoras experiências que um indivíduo pode viver com o seu corpo. Considerando a prática desportiva como um contributo positivo na educação e formação pessoal de um ser humano.

O desporto é, assim, um “espaço de socialização e integração social, onde a partilha de interesses comuns e a sua consequente mediatização, conferem-lhe um símbolo de distinção social” (Calvo, 2001, p.22).

Para Meyer (2007), o desporto desenvolve, nos indivíduos, competências sociais importantes: o trabalho de equipa, a pontualidade, a responsabilidade, a capacidade de interpretar, planear e executar ações. Promove a consciência corporal, para além de evitar o sedentarismo tão presente nos dias de hoje.

O desporto adquiriu o estatuto de fenómeno cultural à escala planetária. Porventura o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo (Carneiro, 1997), transformando-se, assim, num fenómeno cuja dimensão é de perceção difícil aos olhos do cidadão comum. A sua prática generalizada, os

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diferentes contextos e propósitos elegem-no como uma manifestação social e cultural profundamente humana (Calvo, 2001).

Uma rápida análise do desporto como fenómeno social da atualidade, leva-nos a pensar sobre o peso que este adquiriu no dia-a-dia de grande parte da população, ao nível de recreação, do espetáculo, bem como na procura de um bem-estar e saúde melhores (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín, 2004).

Zenha (2010) refere-se ao desporto como uma das mais marcantes realidades socioculturais da atualidade. Um dos fenómenos humanos mais discutidos e estudados, realçando a sua capacidade de gerar mitos e paixões.

O referido autor menciona a influência do desporto de alto rendimento como fator de desenvolvimento e como paradigma da excelência da prática desportiva. Afirma a importância do papel do desporto de alto rendimento na generalização da sua prática, mesmo enquanto atividade lúdica, particularmente entre a juventude.

Araújo (2002) defende que a dimensão social do desporto de alto rendimento se manifesta através de aspetos culturais, pedagógicos, científicos e estéticos. A sua popularidade tornou o desporto de alto rendimento num grande espetáculo, num fenómeno de multidões com a sua expressão máxima a ser alcançada com a realização de eventos de grande importância e dimensão, como os jogos Olímpicos ou os Campeonatos Europeus e Mundiais das diferentes modalidades.

Para Vasconcelos (2003), presentemente, as grandes competições são momentos privilegiados de divulgação das diferentes modalidades desportivas. Para que esta ação de propaganda realmente surta efeito é determinante que o evento desportivo tenha qualidade. É necessário que os atletas reúnam condições técnicas e de rendimento ímpares, capazes de atrair o público aos espetáculos desportivos. Para isso, além da qualidade dos atletas, é importante garantir um bom enquadramento da competição, em termos de emoção e quanto ao desfecho do vencedor.

Carvalho (2002) diz que é incontestável que, em qualquer parte do mundo, a alta competição das modalidades rainhas de cada cultura é presentemente um espetáculo de massas e uma manifestação cultural de grande atratividade.

Alves (2002) afirma que o desporto de alto rendimento, quando bem orientado no plano social e pedagógico, representa um importante meio educativo e formativo dos cidadãos, podendo exercer influência positiva no

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âmbito da ocupação dos tempos livres e entretenimento, na promoção de hábitos de vida saudável e da qualidade de vida, ou como fator de desenvolvimento sociocultural e turístico.

Araújo (2002) defende que o desporto de alto rendimento só aporta contributos positivos quando promove o desenvolvimento das capacidades globais do ser humano e é orientado segundo perspetivas formativas e educativas. Nas sociedades em que o desporto é considerado um instrumento ao serviço dos cidadãos e da sua formação cultural, certamente que, também, o desporto de alto rendimento é dimensionado segundo os mesmos valores e desempenha, assim, uma função social positiva. Nas sociedades em que o desporto é encarado somente como um meio de distração dos cidadãos, é evidente que o desporto de alto rendimento também cumprirá essa disfunção.

Gonçalves (2006) afirma que no desporto profissional, sob a influência de interesses económicos, prevalece uma lógica de mercado com o objetivo de maximizar os ganhos em detrimento das regras desportivas.

O desporto de alto nível, onde se encontra o desporto-espetáculo, é sempre orientado para satisfazer um verdadeiro mercado de consumidores. Com efeito, de acordo com Lima (1974), o desenvolvimento desta prática desportiva contribui para a origem de um movimento financeiro suscetível de o sustentar, de o promover e de o rentabilizar. Nasce então aquilo que o autor classifica como o “desporto-indústria” e o “desporto-comércio”.

Os órgãos de comunicação social também desempenham um papel crucial na divulgação do fenómeno desportivo. Ao colocarem os atletas em grande destaque, transformam-nos em personalidades públicas rapidamente assimiladas como modelos de comportamento social (Vasconcelos, 2003).

Pataco (1997) refere que a concorrência entre nações conduz a um investimento significativo no desporto vocacionado para o elevado rendimento desportivo. Afirma, ainda, ser indiscutível que a exigência presente neste nível de prática desportiva tem contribuído para importantes progressos em vários ramos do conhecimento científico. Razão suficiente para se atribuir à alta competição uma importância social significativa no mundo contemporâneo.

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3

Alto Rendimento Desportivo

3.1

Conceitos de Desporto de Alto Rendimento

Milan Kundera (1990, p.52) fala da procura da imortalidade. Refere- “uma outra imortalidade, profana, para os que permanecem depois da morte na memória da posteridade.” O mesmo autor afirma que “perante a imortalidade, as pessoas não são iguais. Temos que distinguir a pequena imortalidade, recordação de um homem no espírito dos que o conheceram, (…), e a grande imortalidade, recordação de um homem no espírito dos que não o conheceram. Há carreiras que confrontam, imediatamente, um homem com a grande imortalidade, (...): são as carreiras de artista e de homem de Estado.” (Kundera, 1990, p.52)

Dada a dimensão social que o desporto detém no presente, parece-nos indubitável que a carreira de desportista de alto rendimento também se pode inserir naquelas que permitem atingir a grande imortalidade.

Coelho (2007, p.254) corrobora esta ideia ao defender que “o desporto em geral e a participação Olímpica, em particular, são apenas um meio através do qual o ser humano procura alcançar a sua imortalidade”.

Importa, então, entender o que é o alto rendimento desportivo. Em Portugal, podemos encontrar na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º 5/2007) e no artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 272/2009 de 1 de Outubro, definido alto rendimento como “a prática desportiva em que os praticantes obtêm classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função dos padrões desportivos internacionais”.

Muitos autores, quando se referem ao “alto rendimento”, preferem utilizar o termo “alta competição” (Castro, 2010).

Dias (2013,p.17) menciona “ muitas vezes o termo alta competição aparece referenciado como alto rendimento, isto porque, como pode depreender-se da Lei nº 1/90, de 13 de janeiro, Lei de Badepreender-ses do Sistema Desportivo, (…), a alta competição enquadra-se no âmbito do desporto-rendimento.”

A mesma autora (2013) fez alusão à variedade de termos que podemos encontrar quando analisamos os normativos que regulamentam a alta competição: praticantes desportivos de alto rendimento, desporto de rendimento, prática desportiva de alta competição.

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De acordo com o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a noção de alto rendimento está associado a um elevado nível de seleção, rigor e exigência. Assim, apenas alguns dos melhores desportistas portugueses conseguem atingir este patamar de prática desportiva (Zenha et al., 2009).

Sublinha Carvalho (2002, p.76) “poderá não bastar ser campeão nacional, integrar a seleção nacional, ou ser um profissional do desporto prestigiado local ou nacional, caso estes factos não se repercutam na obtenção de resultados internacionais”.

Atualmente são definições jurídicas muito seletivas que enquadram o alto rendimento desportivo. O Decreto-lei nº 272/2009 faz referência à obtenção de classificações específicas em Campeonatos do Europa e do Mundo, o que leva a que só “ alguns dos melhores atletas portugueses estejam abrangidos por este regime” (Dias, 2013).

Conseguir resultados internacionais de excelência torna-se o objetivo principal destes atletas. Ficar classificado num dos três primeiros lugares em competições de alto nível, como os Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa, é o resultado de um percurso exigente, pautado pelo rigor, empenhamento, racionalidade e equilíbrio e transmite ao atleta, treinador e restante equipa técnica, o sentimento de missão cumprida (Decreto-Lei n.º272/2009).

Constantino (1991) entende a alta competição como a “anormalidade”, o “ extremo” do desporto, onde tudo é permitido para se atingir o objetivo final. Outros autores sublinham a ação educativa, a representação de um país, a identificação com os desportistas, como fatores geradores de patriotismo e de consciência nacional.

Lima (1987, p.4) defende que “os condicionalismos sociais que impulsionam o homem a afirmar-se como um ser individualizado e único, levam tanto no desporto como noutras atividades a tentativas de superação dos resultados obtidos através do aperfeiçoamento e do desenvolvimento das suas capacidades que desencadeiam um processo criador de novas experiências, novos conhecimentos e novas etapas”.

Carvalho (2004, p.325) lembra que “os atletas que alcançam distinção à escala internacional através dos seus feitos desportivos, ultrapassando os mais elevados níveis de exigência técnica e social na sua carreira desportiva, conquistam um novo estatuto, passam a ser figuras públicas, um referencial e um modelo para os mais jovens e um orgulho para os adultos, aos quais o Estado confere determinados direitos e deveres”.

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De acordo com Lima (1997) grande parte das críticas que têm sido feitas ao desporto de alto rendimento devem-se ao facto de ele aparecer demasiadas vezes associado à política, à economia, à medicina e à farmacologia. Considera que o rendimento desportivo não está na origem deste sentimento negativo. O incentivo à obtenção de um rendimento desportivo excecional é condição necessária à reabilitação da dimensão cultural do desporto.

Coelho (2007, p.243) afirma que para se atingirem estes resultados de exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento”

O aumento de dificuldades no atingir o estatuto de alto rendimento repercute-se na vida do atleta. Enquanto não conseguir o nível, os resultados necessários à obtenção do referido estatuto, o atleta não usufrui das medidas de apoio instituídas pela Lei (Dias, 2013).

3.2

Enquadramento Normativo

Com o fenómeno desportivo a crescer em diversidade e importância na sua dimensão social, tornou-se necessária a sua regulamentação do modo a organizar e regimentar a sua atividade. A constante evolução da sociedade manifesta-se também no desporto. A sua volatilidade obriga a um acompanhamento exaustivo. No desporto todos os dias aparecem novos praticantes, são referidas novas modalidades, surgem novas instituições envolvidas, organizam-se novos eventos. Esta complexidade é um desafio permanente ao legislador. Manter um enquadramento normativo atualizado e funcional de uma atividade sempre em crescimento é um repto nem sempre fácil de se concretizar.

Carvalho (2004, p.318) refere que “foi com a Constituição da República Portuguesa que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua magnitude enquanto direito individual”

No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler: 1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.

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Carvalho (2004, p.318) referiu, ainda, que foi após abril de 1974, com a revolução, que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi assumida como matéria de interesse público”.

De acordo com a mesma autora (2000, p.98) em 1976, o I Governo Constitucional da República inicia a produção normativa respeitante ao subsistema da alta competição. Redigiu com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de julho, o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas internacionais”.

O desporto de alta competição, tendo em conta “as suas tremendas exigências de rendimento físico-desportivo” e “os crescentes interesses políticos e económicos e com o elevado nível de atracão que adquiriu junto do grande público” tornou-se, assim, “um espaço social a necessitar de um conjunto de normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento” (Carvalho, 2002, p.73).

A mesma autora (2002) refere que, em 1980, através da Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro, se dá um primeiro passo no reconhecimento da alta competição como fator importante de desenvolvimento desportivo, aprovando um regulamento onde vêm mencionados os apoios intrínsecos à prática desportiva de alta competição, nomeadamente uma primeira referência ao estatuto de atleta de alta competição.

Um ano depois é aprovada a portaria n.º1015/81, de 25 de novembro. Esta revoga a Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro e confirma novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e o Estatuto do Atleta de Alta Competição em Representação Nacional. Esta portaria determina a cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de instalações.

Volvidos três anos é publicada a Portaria n.º 809/84, de 15 de outubro, aprovando novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e ainda o Estatuto do Atleta de Alta Competição.

A entrada em vigor da Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei n.º 1/90, de 13 de janeiro de 1990, constitui um momento importante no enquadramento do desporto em Portugal. Neste documento normativo, revisto em 25 de junho de 1996 pela Lei n.º 19/96, foram instituídas as linhas político-jurídicas do sistema desportivo português respeitantes a três setores: atividade desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. No artigo 15º do Capítulo II, referente à “Atividade desportiva”, aparece referenciada

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a alta competição, mencionando o apoio financeiro à preparação dos atletas como uma das medidas de incentivo ao fomento da alta competição (Dias, 2013).

A 7 de agosto surge o Decreto-Lei n.º 257/90, que vem introduzir um conjunto de medidas de apoio ao recém-criado subsistema de alta competição. Este diploma consagra, aos atletas e agentes desportivos envolvidos na sua preparação, a possibilidade de se poderem dedicar à sua carreira desportiva sem, de alguma forma, prejudicar a sua formação académica ou vida profissional (Dias, 2013).

Cinco anos depois, é publicado o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio, onde as medidas de apoio adotadas em 1990 aparecem aperfeiçoadas. Este diploma implementa medidas específicas de apoio à alta competição. Posteriormente o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio é também alterado pelo Decreto-Lei n.º 123/96, de 10 de Agosto (Carvalho, 2002).

Este último Decreto-Lei nasce da vontade de operar alguns ajustes no seu predecessor, no que diz respeito: ao acesso ao ensino superior dos atletas com estatuto de alta competição; à hipótese de ser concedida mais de uma licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público; à deliberação de dar a respetiva dispensa; à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A - N.º 185, 10 de agosto de 1996).

Não obstante, após a LBSD outros normativos foram surgindo para regulamentar matérias intrínsecas à alta competição, tais como: medidas de apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013).

Passamos assim a elencar alguns dos diplomas mais importantes:

– concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição, para que estes possam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva - Portaria n.º 737/91, de 1 de agosto;

– instituição de formas específicas de apoio aos que desempenham funções no âmbito do subsistema de alta competição - Portaria n.º 738/91, de 1 de agosto;

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– definição do regime de requisição de técnicos e dirigentes que se dedicam especificamente ao subsistema de alta competição - Portaria n.º 739/91, de 1 de agosto;

– determinação do montante dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos - Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto;

– regulamentação do seguro desportivo para os praticantes de alta competição não profissionais - Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de abril;

– definição dos critérios técnicos para a qualificação como praticante desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta competição - Portaria n.º 947/95, de 1 de agosto;

– definição dos critérios para a concessão de prémios em reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto - Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto;

– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta competição - Portaria n.º 317-B/96, de 29 de julho;

– criação, pelo governo, do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas (CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro de Alto Rendimento (CAR) - Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de março;

– instituição de normas relativas à concessão de bolsas académicas aos atletas de alta competição - Portaria n.º 205/98, de 28 de março;

– fixação do valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos Campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto - Portaria n.º 211/98, de 3 de abril;

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– regulamentação do seguro desportivo especial dos praticantes em regime de alta competição - Portaria n.º 392/98, de 11 de julho;

– regulação das condições especiais de acesso e ingresso no ensino superior, permitindo aos atletas, com estatuto e integrados no percurso de alta competição, beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de satisfazer as condições há menos de dois anos, contados a partir da data de apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º) - Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de outubro;

– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior (referido no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro) - Portaria n.º 854-B/99, de 4 de outubro.

Em 2004 é publicada a Lei n.º 30/2004, 21 de Julho - Lei de Bases do Desporto (LBD). Esta última veio revogar a LBSD (Lei nº1/90) e introduzir algumas nuances na sua conceptualização. Classifica a atividade desportiva como: profissional e não profissional. E, ainda, em função dos resultados internacionais serem obtidos por praticantes desportivos ou seleções nacionais, classifica-a, respetivamente, como “alta competição” ou “seleção nacional” (capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º).

A referida Lei (LBD) entende que “o desenvolvimento da alta competição é objeto de medidas de apoio específicas, atentas às especiais exigências de preparação dos respetivos praticantes”. As medidas destinam-se “ao praticante desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem como aos técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua preparação desportiva”. As medidas de apoio são as anteriormente descritas na LBSD.

Decorridos três anos é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto - Lei nº5/2007, de 16 de janeiro - que na sua secção IV faz referência ao alto rendimento. Nesta secção podemos encontrar o artigo 44º com as medidas de apoio, e o artigo 45º que se refere à participação em seleções ou em outras representações de âmbito nacional, como missões de interesse público e, assim, objeto de apoio e garantia especial do Estado.

Em 12 de janeiro de 2009, através do Decreto-Lei n.º10/2009, foi instituído um novo sistema de seguro com cobertura extensível aos especiais riscos a que estão sujeitos os atletas de alto rendimento.

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Nesse mesmo ano é publicado o Decreto-Lei n.º 272/2009, de 1 de outubro, com o objetivo de melhorar a operacionalização da regulamentação então vigente (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei n.º123/96). Este novo normativo considerava a definição de desporto de alto rendimento estabelecida no diploma anterior como muito permissiva. Entendia, assim, que os apoios concedidos pelo Estado ao abrigo deste estavam a favorecer atletas cujos resultados dificilmente mereceriam os referidos benefícios (Dias, 2013).

Este novo regime divide as modalidades desportivas em as que integram e as que não integram o Programa Olímpico. Subdivide, ainda, cada uma delas em modalidades coletivas e individuais (artigo 6.º e artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 272/2009).

No atual diploma os atletas de alto rendimento são divididos por três níveis conforme os resultados obtidos: Nível A, Nível B, Nível C. Com esta distinção o Estado pretende atribuir melhores apoios aos “praticantes desportivos que tenham obtido resultados efetivos em competições desportivas de grande seletividade” (in Diário da República, 1.ª série - N.º 191,1 de outubro de 2009).

Posteriormente, é publicada a portaria n.º 325/2010, de 16 de junho, para instituir os critérios gerais de classificação de determinadas competições desportivas como sendo de alto nível, para efeitos da integração dos respetivos praticantes no regime de apoio ao alto rendimento.

Os referidos critérios são aferidos pela presença em competição de um número mínimo de países, equipas ou praticantes desportivos, com determinada classificação no ranking de cada modalidade (in Diário da República, 1.ª série - N.º 115, 16 de Junho de 2010).

3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto

Rendimento

"Nenhum vencedor acredita no acaso."

FriedrichNietzsche

(Filósofo alemão 1844 -1900) Maia (2010, p.2) refere que a “a excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos

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correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades”.

Bento (1991, p.11) refere que “para que o deporto de alto rendimento possa constituir um modelo válido de referência e de inspiração para crianças e jovens não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito. É preciso torná-lo mais humano!”.

O mesmo autor, em 1991 (p.11), destaca “ que o atleta apenas merece interesse ao desporto de alto rendimento na qualidade de produtor de resultados, perdendo todo o interesse quando esta qualidade desaparece.”

Zenha (2010, p.15) defende que o desporto de alto rendimento deverá ser organizado de uma forma mais pragmática para que “respeite aquilo que tem de ser a preparação de um atleta de alto rendimento”.

Vasconcelos (2003, p.8) afirma “não haver dúvidas quanto à incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta competição e a formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”.

“A dedicação exclusiva e a tempo inteiro, atrás referenciada, constitui condição e exigência feita atualmente a atletas que praticam desporto de alto rendimento, e obriga, as instituições desportivas, clubes e federações, a encontrar soluções adequadas à satisfação plena daquelas necessidades” (Zenha 2010, p.17).

O mesmo autor (2010) refere que, atualmente, um atleta para se tornar num atleta de alto rendimento tem de fazer parte dum processo de treino e de competição que são incompatíveis com as atividades profissionais e sociais de um cidadão comum. Na realidade, para se ser atleta de alto rendimento é necessário assumir uma dedicação exclusiva e um regime de vida só entendível dentro de um universo próprio do desporto de alta competição.

As exigências impostas aos atletas de alta competição levam a que estes participem num processo de preparação que lhes possibilite superar, com a máxima segurança possível, todos os constrangimentos criados pelas instituições desportivas que têm a seu cargo a organização e a definição dos critérios de participação em eventos desportivos de alto nível (Zenha, 2010).

Os referidos constrangimentos “refletem-se, de uma forma global ou cumulativa, naquilo que se podia denominar como a ordenação da vida pessoal, familiar, escolar, profissional e social” (Lima, 2002, p. 11).

Este mesmo autor (2002) refere-se à preparação de um atleta de alta competição como um processo onde existe um controlo rigoroso de todos

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parâmetros que o influenciam. Afirma, ainda, que a este nível os atletas têm um regime de vida tão exigente que leva a que seja imprescindível defendê-los de todo o tipo de “agressões” para lhes proporcionar o ambiente, de estabilidade e confiança, necessário à obtenção de um rendimento de excelência.

O referido autor (2002, p.12) expressa que para se poder ser atleta de alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela subsistência económica, assim como na sua vida familiar”

Em continuação, Lima (2002, p.14) defende que o êxito dessa preparação depende do rigor da elaboração de um “plano a longo prazo, concebido por especialistas, de dificuldades evolutivas, dinâmico e flexível”. Refere que quanto mais exigente e rigoroso for o plano e a sua execução, mais elevado é o rendimento dos atletas e, consequentemente, maiores são as probabilidades de sucesso nas respetivas competições.

Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín (2004) defendem que a realização de um trabalho sistemático e metódico nos escalões de formação permite, no futuro, uma melhoria significativa do desporto de competição, ao nível do número e da qualidade dos seus praticantes.

Referem, ainda, que o desenvolvimento do carácter, da liderança, do desportivismo, não acontece somente com a participação em atividades desportivas de alta exigência e rendimento. Essas qualidades são, geralmente, fruto de um trabalho realizado por técnicos competentes, capazes de elaborar programas que proporcionem aos jovens experiencias positivas de aprendizagem.

A competição desportiva é exigente com todos os seus atores, incluindo os mais jovens. Um programa de trabalho ao nível psicológico, sério e rigoroso, melhoraria as condições de treino e a qualidade de vida do atleta, assim como o seu rendimento académico e desportivo (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín, 2004).

Para termos atletas de alto rendimento é indispensável que todos os agentes que estão associados à sua preparação sejam também de elevado valor. Este é um tema estratégico, a que todos países têm dedicado uma especial atenção, atribuindo-lhe um papel de relevo no seu plano de desenvolvimento desportivo (Zenha, 2010).

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Para transformar um atleta num atleta de alta competição, é necessário que o treinador seja competente e tenha conhecimentos específicos da modalidade, que seja ele um especialista capaz de promover a melhoria das capacidades do atleta. Um treinador que ao assumir um compromisso, se dedique sem reservas à sua profissão, na procura do sucesso, de resultados desportivos, criando nos atletas hábitos de superação conducentes à excelência (Baker, & Côté, 2003; Maia, 2010).

“Os excelentes profissionais do desporto devem ainda possuir um prazer, uma alegria e uma paixão que os ajudem na perseguição do seu sonho de excelência, respeitando sempre princípios éticos e morais. A disponibilidade e capacidade para continuadamente aperfeiçoar os seus desempenhos, perseguindo a perfeição, poderão conduzi-los à excelência, partindo do pressuposto que as coisas excelentes são raras mas existem, por isso pensamos nunca ser de mais a sua procura” (Maia, 2010, p.18)

Baker & Côté (2003) referem, ainda, a existência de fatores ambientais e motivacionais que também concorrem para a consecução de um desempenho de excelência. Sublinham ainda a influência dos pais e o papel do treinador.

Temos como certo que é impossível um atleta atingir o alto rendimento “se não o desejar, se não existir motivação que o motive a mobilizar as suas energias numa só direção, alcançar o topo na sua modalidade desportiva” (Ruiz et al., 2006, p.136).

Também Helsen et al. (1998 cit. por Smith, 2003)reforçam a importância da motivação na formação de um atleta de alto rendimento. Referindo que o mais difícil é conseguir que os atletas apresentem sempre um nível elevado de motivação e que se mantenham no ativo o tempo necessário para se tornarem atletas de excelência.

De acordo com Bompa & Haff (2009) para os atletas poderem atingir o mais alto nível têm que treinar afincadamente durante um longo período de tempo. Tendo o treino um papel fundamental no desenvolvimento e otimização das suas competências.

É através da repetição com correção dos exercícios que os atletas são capazes de automatizar a execução de “uma habilidade motora e a desenvolver funções estruturais e metabólicas que os levam ao aumento do desempenho, da performance física”(Smith, 2003, p.1104).

Bompa & Haff (2009) referem, ainda, a influência da capacidade de adaptação de um atleta às cargas de treino como um fator determinante no seu desenvolvimento. Assim, quanto maior for o grau de adaptação ao processo de

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Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal
Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior
Figura 4 – Domínio III – Conceção de Apoios e Dificuldades

Referências

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