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2 Desporto

3.2 Enquadramento Normativo

Com o fenómeno desportivo a crescer em diversidade e importância na sua dimensão social, tornou-se necessária a sua regulamentação do modo a organizar e regimentar a sua atividade. A constante evolução da sociedade manifesta-se também no desporto. A sua volatilidade obriga a um acompanhamento exaustivo. No desporto todos os dias aparecem novos praticantes, são referidas novas modalidades, surgem novas instituições envolvidas, organizam-se novos eventos. Esta complexidade é um desafio permanente ao legislador. Manter um enquadramento normativo atualizado e funcional de uma atividade sempre em crescimento é um repto nem sempre fácil de se concretizar.

Carvalho (2004, p.318) refere que “foi com a Constituição da República Portuguesa que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua magnitude enquanto direito individual”

No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler: 1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.

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Carvalho (2004, p.318) referiu, ainda, que foi após abril de 1974, com a revolução, que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi assumida como matéria de interesse público”.

De acordo com a mesma autora (2000, p.98) em 1976, o I Governo Constitucional da República inicia a produção normativa respeitante ao subsistema da alta competição. Redigiu com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de julho, o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas internacionais”.

O desporto de alta competição, tendo em conta “as suas tremendas exigências de rendimento físico-desportivo” e “os crescentes interesses políticos e económicos e com o elevado nível de atracão que adquiriu junto do grande público” tornou-se, assim, “um espaço social a necessitar de um conjunto de normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento” (Carvalho, 2002, p.73).

A mesma autora (2002) refere que, em 1980, através da Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro, se dá um primeiro passo no reconhecimento da alta competição como fator importante de desenvolvimento desportivo, aprovando um regulamento onde vêm mencionados os apoios intrínsecos à prática desportiva de alta competição, nomeadamente uma primeira referência ao estatuto de atleta de alta competição.

Um ano depois é aprovada a portaria n.º1015/81, de 25 de novembro. Esta revoga a Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro e confirma novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e o Estatuto do Atleta de Alta Competição em Representação Nacional. Esta portaria determina a cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de instalações.

Volvidos três anos é publicada a Portaria n.º 809/84, de 15 de outubro, aprovando novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e ainda o Estatuto do Atleta de Alta Competição.

A entrada em vigor da Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei n.º 1/90, de 13 de janeiro de 1990, constitui um momento importante no enquadramento do desporto em Portugal. Neste documento normativo, revisto em 25 de junho de 1996 pela Lei n.º 19/96, foram instituídas as linhas político- jurídicas do sistema desportivo português respeitantes a três setores: atividade desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. No artigo 15º do Capítulo II, referente à “Atividade desportiva”, aparece referenciada

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a alta competição, mencionando o apoio financeiro à preparação dos atletas como uma das medidas de incentivo ao fomento da alta competição (Dias, 2013).

A 7 de agosto surge o Decreto-Lei n.º 257/90, que vem introduzir um conjunto de medidas de apoio ao recém-criado subsistema de alta competição. Este diploma consagra, aos atletas e agentes desportivos envolvidos na sua preparação, a possibilidade de se poderem dedicar à sua carreira desportiva sem, de alguma forma, prejudicar a sua formação académica ou vida profissional (Dias, 2013).

Cinco anos depois, é publicado o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio, onde as medidas de apoio adotadas em 1990 aparecem aperfeiçoadas. Este diploma implementa medidas específicas de apoio à alta competição. Posteriormente o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio é também alterado pelo Decreto-Lei n.º 123/96, de 10 de Agosto (Carvalho, 2002).

Este último Decreto-Lei nasce da vontade de operar alguns ajustes no seu predecessor, no que diz respeito: ao acesso ao ensino superior dos atletas com estatuto de alta competição; à hipótese de ser concedida mais de uma licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público; à deliberação de dar a respetiva dispensa; à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A - N.º 185, 10 de agosto de 1996).

Não obstante, após a LBSD outros normativos foram surgindo para regulamentar matérias intrínsecas à alta competição, tais como: medidas de apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013).

Passamos assim a elencar alguns dos diplomas mais importantes:

– concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição, para que estes possam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva - Portaria n.º 737/91, de 1 de agosto;

– instituição de formas específicas de apoio aos que desempenham funções no âmbito do subsistema de alta competição - Portaria n.º 738/91, de 1 de agosto;

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– definição do regime de requisição de técnicos e dirigentes que se dedicam especificamente ao subsistema de alta competição - Portaria n.º 739/91, de 1 de agosto;

– determinação do montante dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos - Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto;

– regulamentação do seguro desportivo para os praticantes de alta competição não profissionais - Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de abril;

– definição dos critérios técnicos para a qualificação como praticante desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta competição - Portaria n.º 947/95, de 1 de agosto;

– definição dos critérios para a concessão de prémios em reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto - Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto;

– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta competição - Portaria n.º 317-B/96, de 29 de julho;

– criação, pelo governo, do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas (CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro de Alto Rendimento (CAR) - Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de março;

– instituição de normas relativas à concessão de bolsas académicas aos atletas de alta competição - Portaria n.º 205/98, de 28 de março;

– fixação do valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos Campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto - Portaria n.º 211/98, de 3 de abril;

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– regulamentação do seguro desportivo especial dos praticantes em regime de alta competição - Portaria n.º 392/98, de 11 de julho;

– regulação das condições especiais de acesso e ingresso no ensino superior, permitindo aos atletas, com estatuto e integrados no percurso de alta competição, beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de satisfazer as condições há menos de dois anos, contados a partir da data de apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º) - Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de outubro;

– aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior (referido no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro) - Portaria n.º 854-B/99, de 4 de outubro.

Em 2004 é publicada a Lei n.º 30/2004, 21 de Julho - Lei de Bases do Desporto (LBD). Esta última veio revogar a LBSD (Lei nº1/90) e introduzir algumas nuances na sua conceptualização. Classifica a atividade desportiva como: profissional e não profissional. E, ainda, em função dos resultados internacionais serem obtidos por praticantes desportivos ou seleções nacionais, classifica-a, respetivamente, como “alta competição” ou “seleção nacional” (capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º).

A referida Lei (LBD) entende que “o desenvolvimento da alta competição é objeto de medidas de apoio específicas, atentas às especiais exigências de preparação dos respetivos praticantes”. As medidas destinam-se “ao praticante desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem como aos técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua preparação desportiva”. As medidas de apoio são as anteriormente descritas na LBSD.

Decorridos três anos é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto - Lei nº5/2007, de 16 de janeiro - que na sua secção IV faz referência ao alto rendimento. Nesta secção podemos encontrar o artigo 44º com as medidas de apoio, e o artigo 45º que se refere à participação em seleções ou em outras representações de âmbito nacional, como missões de interesse público e, assim, objeto de apoio e garantia especial do Estado.

Em 12 de janeiro de 2009, através do Decreto-Lei n.º10/2009, foi instituído um novo sistema de seguro com cobertura extensível aos especiais riscos a que estão sujeitos os atletas de alto rendimento.

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Nesse mesmo ano é publicado o Decreto-Lei n.º 272/2009, de 1 de outubro, com o objetivo de melhorar a operacionalização da regulamentação então vigente (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei n.º123/96). Este novo normativo considerava a definição de desporto de alto

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