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2 Desporto

2.2 A Dimensão Social do Desporto

O desporto, como fenómeno caraterizador da estrutura social em que está inserido, acompanha e reflete as suas constantes metamorfoses. Bento (1993, p.113) afirma que “cada época tem o seu Desporto…”

As diferenças que encontramos, ao compararmos o Desporto da Antiguidade Clássica e o da Era Moderna, são um exemplo claro das transformações que se vão operando no conceito e valores do desporto em função da evolução das diferentes sociedades (Esteves, 1999). Reforçando esta ideia, Costa (1993) defende que, no desporto da antiguidade, o aspeto lúdico e o culto do corpo eram as caraterísticas mais relevantes, enquanto no desporto moderno a ideia de progresso, a orientação para a superação e a constante procura de recordes, associa o corpo a uma ideia de máquina focada no rendimento. O referido autor (1993, p.43) ao afirmar que “ a sociedade industrial é fundada sobre o tríplice princípio fundamental: eficácia, rendimento, progresso”, estende este axioma ao contexto do aparecimento do sistema desportivo moderno.

De facto, o desporto moderno encontra a sua génese associada à conjuntura existente na sociedade inglesa durante a revolução industrial. Valores que norteiam esta sociedade – eficácia, rendimento, progresso - são os que ainda hoje reconhecemos como importantes vetores do desenvolvimento do desporto (Garcia, 2002).

Este autor, em 2005, identifica, ainda, o desporto como uma instituição criada pela sociedade atual para exprimir os ideais do lúdico, do rendimento e da superação. Estando estes presentes em todos os modelos de prática desportiva.

Calvo (2001) indica que a ideia de desporto associado ao lúdico aparece desde os primeiros eventos desportivos. Quanto ao rendimento, vários autores defendem tratar-se de um ideal marcadamente ligado ao desporto e à sociedade contemporânea (Bento, 1993; Esteves 1999; Garcia, 2005).

Valores como ir mais além, ser mais rápido, ser mais forte, são desenvolvidos pelo desporto com o intuito de transmitir a grandiosidade de uma sociedade (Marquez, 1994).

Podemos afirmar que razões de ordem política, económica e cultural têm importância fulcral na transformação da realidade social do desporto. Uma

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atividade, no início ligada essencialmente ao lúdico e ao culto do corpo, evoluiu para um fenómeno onde o rendimento surge como fator fundamental.

Contudo, Constantino (1990) defende que na base de todas estas mudanças está o próprio fenómeno desportivo, principalmente na sua evolução enquanto espetáculo de massas.

Efetivamente, o desporto ao assumir-se como espetáculo, enquadra o seu desenvolvimento numa perspetiva de produto cujo objetivo principal é a satisfação dos seus consumidores. Neste contexto os atletas têm um papel fundamental na divulgação do fenómeno desportivo. A sua ação, para além de objetivos estritamente ligados ao desporto, tem uma responsabilidade acrescida na construção de uma imagem apelativa dentro dos ideais de beleza e sedução (Calvo 2001).

Para Bento (1993), o desporto cria o local e o espaço onde o corpo consubstancia uma presença intensa e arrebatadora. Onde a sua promoção eleva o espírito, corporizando valores de ordem espiritual. Deste modo, o desporto possibilita a submissão da natureza animal do Homem à espiritualidade moral, ética, cultural e estética caraterística da condição humana.

Em 2004, o mesmo autor sublinha o valor do ato desportivo na construção e revelação do ser humano. Ao considerar que este permite a mobilização e empenho da Pessoa, tal como ela é, no seu corpo e alma.

Santos (2008) releva a importância do desporto na melhoria do autoconceito e na valorização social do homem. Refere-se à aprendizagem de uma modalidade desportiva como uma das mais reveladoras experiências que um indivíduo pode viver com o seu corpo. Considerando a prática desportiva como um contributo positivo na educação e formação pessoal de um ser humano.

O desporto é, assim, um “espaço de socialização e integração social, onde a partilha de interesses comuns e a sua consequente mediatização, conferem-lhe um símbolo de distinção social” (Calvo, 2001, p.22).

Para Meyer (2007), o desporto desenvolve, nos indivíduos, competências sociais importantes: o trabalho de equipa, a pontualidade, a responsabilidade, a capacidade de interpretar, planear e executar ações. Promove a consciência corporal, para além de evitar o sedentarismo tão presente nos dias de hoje.

O desporto adquiriu o estatuto de fenómeno cultural à escala planetária. Porventura o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo (Carneiro, 1997), transformando-se, assim, num fenómeno cuja dimensão é de perceção difícil aos olhos do cidadão comum. A sua prática generalizada, os

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diferentes contextos e propósitos elegem-no como uma manifestação social e cultural profundamente humana (Calvo, 2001).

Uma rápida análise do desporto como fenómeno social da atualidade, leva-nos a pensar sobre o peso que este adquiriu no dia-a-dia de grande parte da população, ao nível de recreação, do espetáculo, bem como na procura de um bem-estar e saúde melhores (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín, 2004).

Zenha (2010) refere-se ao desporto como uma das mais marcantes realidades socioculturais da atualidade. Um dos fenómenos humanos mais discutidos e estudados, realçando a sua capacidade de gerar mitos e paixões.

O referido autor menciona a influência do desporto de alto rendimento como fator de desenvolvimento e como paradigma da excelência da prática desportiva. Afirma a importância do papel do desporto de alto rendimento na generalização da sua prática, mesmo enquanto atividade lúdica, particularmente entre a juventude.

Araújo (2002) defende que a dimensão social do desporto de alto rendimento se manifesta através de aspetos culturais, pedagógicos, científicos e estéticos. A sua popularidade tornou o desporto de alto rendimento num grande espetáculo, num fenómeno de multidões com a sua expressão máxima a ser alcançada com a realização de eventos de grande importância e dimensão, como os jogos Olímpicos ou os Campeonatos Europeus e Mundiais das diferentes modalidades.

Para Vasconcelos (2003), presentemente, as grandes competições são momentos privilegiados de divulgação das diferentes modalidades desportivas. Para que esta ação de propaganda realmente surta efeito é determinante que o evento desportivo tenha qualidade. É necessário que os atletas reúnam condições técnicas e de rendimento ímpares, capazes de atrair o público aos espetáculos desportivos. Para isso, além da qualidade dos atletas, é importante garantir um bom enquadramento da competição, em termos de emoção e quanto ao desfecho do vencedor.

Carvalho (2002) diz que é incontestável que, em qualquer parte do mundo, a alta competição das modalidades rainhas de cada cultura é presentemente um espetáculo de massas e uma manifestação cultural de grande atratividade.

Alves (2002) afirma que o desporto de alto rendimento, quando bem orientado no plano social e pedagógico, representa um importante meio educativo e formativo dos cidadãos, podendo exercer influência positiva no

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âmbito da ocupação dos tempos livres e entretenimento, na promoção de hábitos de vida saudável e da qualidade de vida, ou como fator de desenvolvimento sociocultural e turístico.

Araújo (2002) defende que o desporto de alto rendimento só aporta contributos positivos quando promove o desenvolvimento das capacidades globais do ser humano e é orientado segundo perspetivas formativas e educativas. Nas sociedades em que o desporto é considerado um instrumento ao serviço dos cidadãos e da sua formação cultural, certamente que, também, o desporto de alto rendimento é dimensionado segundo os mesmos valores e desempenha, assim, uma função social positiva. Nas sociedades em que o desporto é encarado somente como um meio de distração dos cidadãos, é evidente que o desporto de alto rendimento também cumprirá essa disfunção.

Gonçalves (2006) afirma que no desporto profissional, sob a influência de interesses económicos, prevalece uma lógica de mercado com o objetivo de maximizar os ganhos em detrimento das regras desportivas.

O desporto de alto nível, onde se encontra o desporto-espetáculo, é sempre orientado para satisfazer um verdadeiro mercado de consumidores. Com efeito, de acordo com Lima (1974), o desenvolvimento desta prática desportiva contribui para a origem de um movimento financeiro suscetível de o sustentar, de o promover e de o rentabilizar. Nasce então aquilo que o autor classifica como o “desporto-indústria” e o “desporto-comércio”.

Os órgãos de comunicação social também desempenham um papel crucial na divulgação do fenómeno desportivo. Ao colocarem os atletas em grande destaque, transformam-nos em personalidades públicas rapidamente assimiladas como modelos de comportamento social (Vasconcelos, 2003).

Pataco (1997) refere que a concorrência entre nações conduz a um investimento significativo no desporto vocacionado para o elevado rendimento desportivo. Afirma, ainda, ser indiscutível que a exigência presente neste nível de prática desportiva tem contribuído para importantes progressos em vários ramos do conhecimento científico. Razão suficiente para se atribuir à alta competição uma importância social significativa no mundo contemporâneo.

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Alto Rendimento Desportivo

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